Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 27
A Fuga


Notas iniciais do capítulo

Reta final. Provavelmente esse será o penúltimo capítulo.

A negociação com as agências de segurança não estava evoluindo. Para evitar que Jane acabasse novamente presa só existia uma possibilidade: a fuga.

Boa leitura.



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Por alguns minutos, Patterson realmente achou que seria incapaz de controlar a situação. Roman andava pelo quarto como um tigre enjaulado e furioso. A ira que sentia podia ser visualizada em cada músculo tenso de seu tórax e na forma como ele torcia o pescoço para girar a cabeça. Sua respiração poderia ser ouvida à distância.

Como restabelecer o diálogo entre os dois para acalmá-lo? Ela não sabia...

— Onde Remi está? – a voz dele ressoou pelo cômodo como um rugido assustador.

Patterson viu ali a oportunidade para tentar uma via de diálogo.

— Ela está bem. Eu te garanto.

Mas Roman começou a falar sem estabelecer contato visual com ela. Era como se estivesse sozinho, preso às suas lembranças e reflexões.

— Não tem como ela estar bem! Você não entende. Ninguém entendo o que nós passamos naquele maldito orfanato. Preciso tirá-la de lá...

O desespero dele a tocou. Por mais que entendesse que Roman era perigoso quando estava nesse estado, ela não sentia medo. Tudo o que queria era romper com aquela redoma que o prendia nas atrocidades que viveu no passado e trazê-lo ao presente. Se aproximou calmamente e estendeu a mão:

— Não. Eu não sei dimensionar o quanto vocês dois sofreram lá, Ian... Também não imagino o caminho difícil que percorreram para serem fortes e sobreviver a tudo aquilo. Vocês eram apenas crianças. Mas eu sei que o que Remi está passando agora é diferente porque vocês dois não estão mais sozinhos. Sua família é bem maior agora e vocês podem contar conosco. Mais do que nunca, precisamos nos unir.

Os olhos dele se encheram de lágrimas, mas ainda não olhava para ela:

— Eu preciso da localização agora, Patterson! – sua voz agora estava mais carregada de preocupação do que de ira. – Por favor, cada minuto é importante.

— Vocês não estão sozinhos, Ian. Nós já conseguimos concessões. Nesse momento, ela está sendo tratada como uma paciente normal. A bebezinha é pequena, precisa ganhar peso antes de deixar o hospital. Só deixamos que as duas continuassem lá porque é o melhor para a pequena Alice. Temos que cuidar dela também. Assim que a bebê estiver forte o bastante, vamos garantir que Remi e ela sejam levadas a um local seguro e bem longe da prisão. Estamos cuidando dos detalhes. E precisamos de você.

— E se eu tirar Remi de lá e deixar a bebezinha? – ele parecia confuso.

— Você acha que ela suportaria isso?

— Remi sempre foi mais forte que eu... – e foi até a cama e se sentou começando a chorar. -  Porque as pessoas fazem isso conosco, Patterson? Por que não entendem que precisam parar de testar nossos limites!

— Eu entendo, Ian. Nossa família entende. É por isso que vamos tirar Remi de lá com a bebê. Porque Remi não merece ser separada de outra filha. Não vamos deixá-los fazer isso. Não vamos deixá-los usar a bebê pra fazer Remi se entregar.

Então ela se colocou de frente para ele e se abaixou buscando o contato visual:

— O que estamos construindo aqui, Ian, não é baseado apenas em lealdade. O amor é mais importante. E quem ama conhece o limite do outro e nunca, em hipótese alguma, deixa alguém da família para trás. Nós temos um plano. Preciso que você me escute.

Roman finalmente olhou para ela. Era tudo que Patterson precisava para dar o próximo passo: tocá-lo e puxá-lo para seus braços. Ali, conchegado contra ela, ouviu atentamente todo o plano que vinha organizando. Pouco depois, estavam abraçados em frente ao laptop dela, realizando correções de erros apontados por ele e acrescentando detalhes que se mostraram fundamentais.

A loura nunca se sentiu tão realizada e feliz. Conversar com Roman daquela forma era diferente de tudo que tinha vivido com outros homens. Ele compreendia sua linha de pensamento e interagia com ela de igual pra igual.

Cinco dias depois

Jane e a bebê se recuperaram rapidamente. Alice ganhou bastante peso e poderiam deixar o hospital.

Infelizmente as negociações com as agências de segurança não evoluíram de forma tão rápida e positiva. As concessões que conseguiram forma importantes, mas ainda insistiam que Jane deveria permanecer presa no SIOC para novas averiguações. A coisa toda tinha escapado da esfera de poder de Nas, Keaton e Weitz. Segundo os três, estavam usando seus contatos e rede de favores para retroceder, mas muita gente viu em Jane uma forma de “expiar seu pecados”, ou seja, usá-la como troféu para desviar a atenção da mídia e da opinião pública acerca de investigações sobre “pequenas” formas de corrupção que praticavam.

Diante da resistência das agências, o team de Weller não teve outra opção. Só restava-lhes por em prática seu plano de fuga.

O dia da transferência de Jane de volta para a prisão do SIOC seria o dia “D” para desencadear o plano. Fretaram uma avião que Jane mesma pilotaria. O aeroclube nos subúrbios de NYC seria o ponto de encontro. Era necessário que todos já estivessem lá quando Jane chegasse para partirem imediatamente. Seria impossível conter o alarme das agências depois que detectassem seu desaparecimento.

Para ampliar a margem de segurança, todos os seus telefones foram bloqueados por um sistema que Patterson criou. Ficariam incomunicáveis até se reencontrarem no aeroclube. Patterson providenciou novos aparelhos que estava guardados no avião.

No hospital, Weller exigiu o direito de acompanhar Jane na SVU que a levaria até o SIOC. Jane entregou Alice à Zapata, que ficou emocionada:

— Hola, mi amor! Meu Deus, como ela é pequena. – a latina disse.

— Você se acostumará rápido. – Jane disse terminando de ajeitar a filha no colo da amiga.

— Eu não sei do que estou com mais medo: de segurar Alice ou de ir até o aeroclube com Rich e Boston discutindo enquanto dirigem.

— Aqueles dois merecem um voto de confiança. Além do mais, eu vou me sentir melhor sabendo que é você quem está com Alice no banco de trás, Tash. Confio mais em você.

Os olhos da latina se encheram de lágrimas. Foi uma jornada longa e incerta que forjou a amizade das duas, mas chegaram até aqui e não decepcionariam uma a outra. Então, ela olhou para Jane com todo carinho que sentia pela amiga:

— Em menos de uma hora eu estarei colocando sua filha de volta nos seus braços em segurança e voaremos para longe de qualquer pessoa que ouse tentar separar vocês duas novamente.

Jane apertou com força os braços da latina envoltos ao redor da pequena Alice e, sem seguida,  beijou a filha. Em seguida foi a vez de Kurt fazê-lo. Então o casal se abraçou para suportar ver Tasha deixar o quarto levando seu pequeno pacote de felicidade com ela.

— Vai dar tudo certo. – ele repetiu para ela e para si mesmo.

Jane o abraçou mais forte:

— Sim, vai sim.

Vinte minutos depois, era a hora da fuga começar.

Desceram e entraram na SVU. Após o primeiro quarteirão, Kurt rendeu o motorista e pegou o caminho do aeroclube. Pouco quarteirões depois, outra SVU começou a segui-los discretamente. Acostumado a despistar perseguidores, Weller precisou fazer algumas manobras arriscadas para se ver livre daqueles que estavam em seu encalço. Dali em diante, era preciso acelerar o mais rápido que pudesse sem chamar a atenção dos policiais.

O resto do caminho até o aeroclube foi tenso. Jane e Kurt olhavam pelo redor a procura novos perseguidores. O carro suspeito desaparecia e depois cruzava o caminho deles novamente. As manobras de Kurt foram se tornando ainda mais arriscadas e ampliando a distância até o aeroclube.

De repente, ele ousou tudo que podia numa curva de 180 graus para a esquerda e entrou num beco que sabia desembocar na rua próxima ao cruzamento de três grandes avenidas e um túnel. Mesmo que seus perseguidores o seguissem, seria impossível definir seu destino a partir do local em que as vias se separavam.

A manobra pegou Jane desprevenida. Do banco traseiro, ela não tinha visibilidade pra antecipar as estratégias de Kurt. O cinto de segurança amortizou, mas não impediu que seu corpo fosse jogado contra a porta e sua cabeça batesse contra o vidro da janela. Muito pior foi a pressão do cinto sobre o abdômen e cesariana ainda muito recente.

Assim que pegou o túnel e conferiu que seus perseguidores finalmente os deixaram, Kurt fez a verificação:

— Jane, está tudo bem?

— Sim. – ela respondeu rápido para passar confiança para ele, mas sua respiração pesada e a falta de uma frase mais longa a denunciaram, ela sabia.

— Droga! Me descreva como você está agora.

— Bem... só apertou minha barriga. Siga para o aeroclube, Kurt, por favor...

Lógico que ele queria parar o carro, verificar com seus próprios olhos os danos, leva-la para um hospital para ter certeza que tudo estava bem. Mas eles não tinham tempo para isso. Se não escapassem agora, o estrago que fariam nela se a enviassem para outro black site seria muito maior do que esse, por isso continuou dirigindo.

Assim que estacionaram no aeroclube, Kurt garantiu que o motorista não seria um problema. O amordaçou e algemou ao carro. Depois arrancou todos os fios da parte elétrica para dificultar ainda mais o acesso à comunicação. Então abriu a porta de trás para ajudar Jane a sair. Seus olhos vasculhavam a esposa por inteiro, lendo qualquer sinal de dor. A mão dela ainda estava sobre o abdômen.

— Você consegue andar? Posso te carregar...

— Eu consigo. Se você me carregar, vamos chamar mais a atenção das pessoas. Só vamos devagar, por favor.

Devagar, atravessaram a pista, chegando até o avião.

A escada que levava para dentro da aeronave foi o um obstáculo vencido pelos dois degrau a degrau.

Jane mal passou pela porta e viu sufocada pelo abraço apertado de Roman que só a saltou para verificar seu estado:

— Como você está? Estavam realmente te tratando bem?

Jane chacoalhou a cabeça afirmativamente.

— Estou bem. Só preciso me sentar por um minuto.

Ao verem o quanto ela estava pálida, Rich se assustou e se aproximou:

— Essa palidez está um pouco exagerada até pra você, Branca de Neve. Boston, pegue um pouco de água pra ela. – e sussurrando de forma nada discreta continuou: - A senhorita mal humorada ali não me deixou por as mãos na nossa Alice.

Zapata interviu na conversa:

— Jane me pediu para que cuidasse da bebê e foi o que fiz. – e colocando Alice no colo de Jane, continuou: - Aqui está seu tesouro, mamãe. Ela se comportou muito bem. Uma verdadeira princesa!

Pegando a filha, Jane a aproximou do seu rosto para inalar seu cheirinho tão especial. Por ela, tudo valia a pena. Roman se abaixou ao seu lado para ver a sobrinha.

— Ela é tão linda! E ninguém vai tirar outro bebê de nós de novo, não é, Sis?!

— Nunca mais, Ian. Ela é nossa e vamos ficar todos juntos.

Rich, no entanto, não parecia querer encerrar o assunto anterior:

— Claro que não acreditei nesse papo que só ela podia ficar com a bebê. Sei que você confia plenamente em mim e sabe que o máximo que aquela ali conhece de canção de ninar é “Despacito”!

— Pelo amor de Deus, Rich! Eu estou do seu lado nesse avião que é bem pequeno. Estou ouvindo tudo! E é claro que eu sei muitas canções de ninar. Quer parar de me irritar? – Zapata tinha ampliado muito seus limites com relação a Rich, mas o cara parecia conseguir ultrapassar todos eles.

Jane não conseguiu conter o riso, mesmo que isso lhe causasse dor por causa da cirurgia. Era bom estar rodeada por sua estranha família novamente.

— É claro que eu confio em você, Rich. E você terá muitas oportunidades para pegar Alice e brincar com ela. Ficarei muito feliz com isso. Mas também pedi para Tasha cuidar dela por mim. Não tive a intenção de magoar você ou Boston. Acho que foi um tipo de cumplicidade feminina que me levou a isso.

Nesse momento, avaliando que Jane parecia mais recuperada da viagem agitada e da caminhada até o avião, Kurt falou:

— Fomos perseguidos por uma SVU durante o trajeto. Tive dificuldade em despistá-los. Precisamos partir já. Jane, você está em condições de decolar esse avião?

Mas antes que Jane respondesse, Roman interferiu:

— Não podemos ir ainda. Patterson não chegou.

— Reade também não. – Zapata completou.

— Droga! – Kurt bufou esfregando o pescoço com a mão. – Por que ainda não estão aqui?

— Patterson tinha que usar os computadores do SIOC para abrir os sinais de transito pra você e Jane fazerem o trajeto mais rápido. Ela também estava garantindo que nosso plano de voo não seria pego pelos radares. – Roman informou.

— Reade foi chamado para uma reunião com Weitz hoje bem cedo. Ele disse que se livraria disso o quanto antes. – Tasha completou.

— É arriscado demais esperarmos. Se uma SVU nos perseguiu, nosso plano pode ter sido descoberto. Podem chegar até nós a qualquer momento. Temos que partir. – Kurt compreendia completamente a dimensão do que estava dizendo. Essa decisão também não o agradava. Mas todos agora estavam tão comprometidos quanto Jane, se fossem pegos, seriam presos.

Zapata se contorceu descontente. Mesmo com a razão dizendo que Kurt estava certo, não era fácil aceitar deixar Reade e Patterson para trás. Jane segurou a mão da amiga e olhou para o marido suplicando:

— Não podemos deixá-los para trás, Kurt. Por favor, só mais alguns minutos de espera.

E a partir daí, os minutos pareceram voar. Os marcadores dos relógios pareciam numa macabra contagem regressiva acelerada. Ninguém dentro da aeronave respirava em compasso de normalidade.

A espera parecia não ter efeito algum. Nem sinal de Reade e Patterson.

Roman passou a mão pelos cabelos aflito após retornar da terceira ida até a porta na esperança de ver os amigos chegando.

Nada e nada.

Kurt rompeu o silencio:

— Pessoal, todos lutamos muito para chegarmos até aqui. Inclusive Patterson e Reade. Se foram pegos, tudo que querem nesse momento é nós possamos partir em segurança para um dia termos a chance de voltar e resgatá-los. Se ficarmos e também cairmos, nenhum de nós terá qualquer chance.

De olhos fechados, todos assentiram com as cabeças sem conter a tristeza pela decisão que tomavam. Jane entregou a filha para Kurt e rumou para a cabine de comando. Roman a acompanhou. Seria seu co-piloto. Todos tomaram seus lugares e apertaram os cintos de segurança.

A aeronave ainda não tinha começado a taxiar pela pista quando três SVU pretas apontaram no horizonte do aeroclube. Jane sabia o que aquilo significava. Teriam que decolar o mais rápido possível. Encaminhou o avião para a pista e começou a tomar distância. Os carros aceleraram em sua direção.

— Se você acelerar ao máximo, talvez tenhamos a velocidade necessária para decolar até alcançarmos o meio da pista, Sis. – Roman parecia calcular friamente.

— Foi o que planejei. Alerte o pessoal lá atrás para se segurarem. Vai ser brusco. Alice precisa estar segura.

Roman usou o rádio interno para avisar os amigos que já imaginavam que tinha algo errado. Kurt, Tasha, Rich e Boston não sabiam pilotar, mas conheciam manobras de decolagem e sabiam que estavam fazendo algumas fora do padrão.

 A torre de comando chamou pelo rádio avisando sobre os carros na pista. Roman ignorou.

— Vai com tudo, Sis. Você consegue!

Jane acelerou tudo que podia. De olho nos aparelhos, sua mente se dividia entre os números mostrados pelos marcadores a sua frente e o cumprimento da pista. Faltava pouco, muito pouco. Na sua mente, ela começou a contagem regressiva: 10, 9, 8, 7...

Uma SVU entrou bruscamente na pista bem na linha de decolagem do avião, forçando-a a manobrar para a direita e desistir de alçar voo. Outro três carros os cercaram forçando-a a frear.

Jane socou o manche decepcionada consigo mesma. Eles estavam tão perto. Quase conseguiram. Roman levou a mão ao ombro da irmã e deu um leve aperto em solidariedade. Ninguém melhor que ele sabia o turbilhão de coisas que se passavam na cabeça dela agora. Em seguida, ele se levantou disposto a se colocar na porta do avião e impedir que se aproximassem de sua irmã e sobrinha custe o que custasse. Mas Weller entrou na cabine.

— Vamos sair? – Jane perguntou tentando transparecer calma na voz.

— Melhor aguardarmos. – Kurt disse também tentando passar firmeza pra sua esposa.

— E daí nos entregamos? Se for isso, tô fora! Não vou deixar torturarem minha irmã de novo, Weller. Também não vou deixar separarem nossa família!

— Vê-los acabar com minha família, machucar Jane e a separarem de Alice também não é uma possibilidade que eu aceite, Roman! Mas sair desse avião matando agente federais não vai nos ajudar. Precisamos de uma estratégia...

— Kurt! Tem alguém descendo do carro. – Jane estava atônita.

Kurt e Roman olharam pelo vidro dianteiro do avião e viram Reade descendo da SVU, acompanhado de Weitz. Jane olhou para ele preocupada enquanto Reade ajeitava o terno e conversava com os homens que o cercaram.

— Talvez ele ainda esteja tentando um acordo... – Weller disse sem acreditar realmente nessa versão dos fatos.

— Ele parece muito calmo. Tem a situação sob controle. – Jane falou ainda sem coragem de abordar diretamente o que aquilo lhe parecia.

— Seu amigo engomadinho nos entregou, Weller! O quanto nós valemos? Uma promoção de cargo?

— Eu não consigo acreditar nisso. Reade sempre me criticou quanto a forma como agi com Jane, mas nunca achei que ele fosse capaz disso. Somos uma família...

Jane se levantou. Sentia-se sufocada por tudo aquilo. Tudo que ela queria era pegar a filha nos braços e estreitá-la num abraço sentindo seu cheirinho enquanto podia. Atravessou a cabine e foi para a parte de trás do avião.

Como a porta esteve aberta desde a entrada de Weller, todos ouviram sobre Reade. Lágrimas cobriam o rosto de Tasha quando Jane se aproximou e pediu que lhe entregasse Alice.

Assim que pegou a filha e beijou sua testinha:

— Eu te amo mais que tudo, Alice! E não vou desistir de nós, eu prometo. Não importa pra onde vão me levar, eu vou voltar, te encontrar e ficaremos juntas sempre. Não vou deixar acontecer como foi com Avery, por favor, confie em mim...

Kurt abraçou sua esposa e filha, depositando um beijo suave nos cabelos de Jane.

— Eu vou lá fora falar com Reade. – disse sentindo a fúria tomando conta de si rapidamente.

— Vou com você! – Zapata se prontificou. – Se ele nos traiu, preciso ver isso cara a cara.

Os dois se aproximaram da porta e acionaram sua abertura. Enquanto isso, Kurt olhou para Roman:

— Fique com elas.

Roman gesticulou em concordância e se colocou protetoramente na frente da irmã.

Assim que o processo de abertura da porta se concluiu, Kurt e Tasha saíram do avião. Reade e Weitz caminharam até ele.

Com o rosto endurecido e o olhar desafiador, Kurt deu início à difícil conversa:

— Espero que você tenha uma ótima justificativa para isso, Reade.

— Eu não podia deixá-los decolar, Weller. Tentei pará-los na cidade, antes de chegarem até aqui. Nossas carreiras seriam jogadas no lixo...

— Nossas carreiras???? É nossa família dentro daquele avião, Reade!

— Calma, Kurt. Eu sei disso. Somos amigos, lembra-se?

— Amigos não fazem esse tipo de coisa...

— Fazem sim! Amigos impedem amigos de cometer erros. Ainda mais quando conseguimos um acordo que retira todas as acusações de Jane. Ela está livre, Kurt. Todos vocês estão. Mas se esse avião decolasse violando as regras do espaço aéreo estadunidense, estariam encrencados.

O alívio que tomou conta de todos foi indescritível.

— Droga, Reade! Custava fazer uma ligação? – Tasha quase gritou deixando sair todo o desespero que estava sufocando.

— Vocês estavam com os celulares bloqueados...

Nesse instante, um outro carro chegou e Patterson desceu agitada:

— Graças a Deus vocês não decolaram! A forma de bloqueio que criei foi tão eficiente que sequer eu mesma consegui liberar. Eu preciso aprender um jeito de não ser tão boa no que faço.

Kurt se aproximou de Reade e estendeu a mão. Assim que firmaram o aperto, puxou o amigo para um abraço.

— Eu te devo desculpas. Por um instante pensei que perderia tudo...

— Não se desculpe. Eu teria reagido da mesma forma no seu lugar. Busque Jane e o resto do bando de malucos que está naquele avião. Precisamos levar sua esposa e filha para casa.

Kurt não esperou mais nada e correu para dentro da aeronave.

Zapata se jogou no pescoço de Reade e o abraçou chorando compulsivamente.

No avião, Jane ninava a filha cantarolando uma antiga canção da Africa do Sul. Ela parecia estar negando a si mesma a realidade querendo eternizar aquele momento no qual podia ter Alice em seus braços.

Kurt se aproximou e se abaixou ao lado dela. Então levou a mão até seus cabelos admirando como os olhos verdes da esposa brilhavam ainda mais enquanto olhavam para o fruto do amor dos dois. Então, os olhos dela alcançaram os dele:

— Eu sei que tenho que ir, Kurt. Não quero que pensem que farei qualquer coisa que possa colocar todos vocês em risco. Mas se eles me dessem mais cinco minutos... -  e fechou os olhos, sugando o ar para tentar controlar suas emoções.

A força, a resiliência e a empatia com a qual Jane enfrentava cada obstáculo de sua vida sempre o surpreenderiam e fariam com que seu amor por ela se fortalecesse mais e mais. Ela era a responsável por esse sorriso que se formava no seu rosto nos melhores e nos piores momentos porque tudo ao lado de Jane valia a pena.

— Você tem todo o tempo do mundo, meu amor. Eles aceitaram o acordo. Você está livre.

 Jane abriu os olhos imediatamente precisando confirmar com a visão o que ouvia. Não disse nada. Não haviam palavras que expressassem sua felicidade nesse momento. Kurt continuou:

— Nós vamos para casa. Todos nós vamos para casa.

Descendo do avião, Roman caminhou na direção de Patterson. Em seu rosto havia um sorriso pleno. Essa era a primeira vez na sua vida que ele via um horizonte de paz à sua frente. Sem batalhas, sem provas de lealdade. Sentia que poderia finalmente ser ele mesmo e ainda assim ser aceito e amado. Algo lá no fundo já gritava até que seria feliz, mas o medo ainda não lhe permitia admitir isso.

Quando estava a dois passos dela, a loura, numa reação que ela mesma não poderia explicar, estendeu a mão para ele tentando reduzir a aproximação a um cumprimento formal. Roman retribuiu, mas a puxou para um forte abraço:

— Nós vamos pra casa, Patterson, pra casa!

Ela não resistiu e o envolveu com todo carinho para demonstrar o amor que sentia. Teria que aprender a lidar com esse homem que podia ser tão carinhoso e sincero, quanto explodir em ira, ser um ótimo amante ou apenas um menino em busca de uma família como ela o sentia agora em seus braços:

— Sim, Ian, nós vamos para casa. – e balbuciou entre os dentes – Precisamos ser mais discretos.

Ele a soltou assumindo uma postura profissional, mas seu olhar continuou varrendo-a com amor e desejo:

— Eu sei. Mas está difícil segurar a vontade de te dar um beijo agora. – e apertou discretamente os olhos a provocando.

Deu certo. Ele já a tinha nas mãos. Então, ela disse:

— Logo estaremos em casa e poderemos comemorar daquele jeito que só nós sabemos fazer...

Ele respondeu com um aceno discreto de cabeça e provocou:

— Comemoraremos sim, mas você vai ser surpreendida, eu prometo! – olhar dele brincava com ela.

Com a respiração já descompassada, Patterson ganhou um pouco de distância para tentar manter tudo sob controle.

Zapata, que estava a uma curta distância dos dois, não podia perder essa oportunidade. Sorriu maliciosamente para a amiga que, após soltar Roman, veio em sua direção, e disse:

— Uau, vocês dois estão melhorando na interpretação. Mais um pouco e enganam o Reade. Mas você sabe que comigo será bem mais difícil, não é? Seu hóspede parece estar bem íntimo da anfitriã.

Patterson limpou a garganta, endireitou o corpo em busca de uma postura que reafirmasse a justificativa profissional que encontraria para tudo aquilo. Respirou fundo, gesticulou com a mão como quem ia negar qualquer insinuação de Tasha e desistiu:

— A verdade é que eu não quero mais ele como hóspede... Pode dizer que é um erro.

A latina explodiu numa risada e disse:

— É um erro, Patterson. Mas erros tornam a vida mais divertida. Evitá-los não tem dado certo. E você merece ser feliz. – E puxou a loura pra um abraço.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram desse capítulo? A leitura foi legal ou ficou cansativo? Adoraremos saber a opinião de vocês. Deixem nos comentários.
Partiu para o Happy End?
Estamos preparando algo bem diferente e super legal para nossos personagens favoritos.



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