Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 25
Escolhas e consequências


Notas iniciais do capítulo

Perdão pelo desaparecimento. De forma alguma desistiríamos dessa história, mas os compromissos não nos permitiram atualizar antes.
Esperamos não decepcioná-los após esse "hiatus" tão longo.

Dedicamos esse capítulo à Cíntia e Mara. Feliz aniversário adiantado, meninas!

E, Keissi, o diálogo entre Patterson e Roman foi escrito pensando em você.

Boa leitura.



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21:00 – Apartamento de Patterson – uma semana antes.

Patterson estava deitada no sofá escutando música no celular - ou qualquer outra coisa que distraísse sua mente.

Aquele dia em especial havia sido difícil. A pressão ia mais além do que fazer bem ou não o serviço que ela era encarregada. Agora eles atuariam nas brechas do sistema, navegando na linha tênue da ilegalidade para tentar livrar Remi da prisão. A situação que viveram nos últimos dias foi mais que suficiente para ela fazer essa escolha e consideraria impensável há alguns anos atrás. Simplesmente ser uma agente já não era tudo que ela queria para sua vida. O caso Jane Doe foi decisivo para a loura entender vidas vagam por caminhos sinuosos, às vezes até questionáveis, sem tirar o valor das pessoas. Remi e Roman – ah, Roman! – eram o exemplo vivo disso. Tantos erros por influência de Shepherd. Os irmãos não conheciam outra versão para os fatos, reagiam à tudo partindo do ódio que ela cultivou neles desde que os libertou do orfanato medonho do qual crescera. Hoje eram novas pessoas, ainda com dificuldades, mas jamais aceitariam realizar os mesmos erros do passado. Não era justo coloca-los pelo resto na vida numa prisão sob tortura, único destino dos irmãos se fossem entregues à CIA ou qualquer outra agência de segurança. Se as vias legais falhassem, eles precisariam arriscar coisas mais ousadas. Uma fuga, provavelmente. Inconfessavelmente, ela já tinha planos detalhados para isso. Weller concordaria, com certeza.

Nesse momento, só restava a espera. O celular era uma companhia, talvez a única que ela possuía no momento. A música em transcorria de forma romântica, lembrando um vazio enorme em sua vida, e tudo isso por escolha própria.

“Preciso ocupar minha mente com algo mais útil do que essas músicas...” – bufou irritada, se sentindo de mãos atadas no momento.

Na verdade tudo aquilo era uma válvula de escape para a proposta que tinha feito há alguns dias, mas que não tinha sido capaz de firmar.

“Eu deveria ter continuado com as visitas no hospital... porque ter medo de algo assim?”

Ela mal acabava de pensar nisso quando seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da campainha tocando. O que por si só era bem estranho.

“Quem será a essa hora? – pensou abrindo a porta - Não lembro de ter marcado nada com...”

Não deu tempo de concluir o raciocínio. A figura na porta ia além de qualquer uma que ela poderia esperar.

— Olá, Agente Patterson! – ele apoiou a mão no alto do batente da porta e olhou para era com uma mistura de malícia e súplica no rosto - Você não retornou para me visitar no hospital, mas tinha dito que eu poderia ficar no seu apartamento quando tivesse alta... Tomei a coragem e vim até aqui confirmar se a proposta ainda estava em pé. Espero não estar incomodando...

Sim. Era ele. O homem que lhe tirava o sono e dominava seus pensamentos: Roman.

— Bom, isso é uma surpresa... – começou e já se corrigiu - Eu não deveria estar, não é mesmo? Afinal eu realmente disse que você poderia ficar...

 - Tentei ligar pra Remi, mas ela parece que desapareceu. Achei melhor não arriscar bater na porta dela e encontrar o Weller. Você sabe que eu e ele não somos lá muito amigos... E como você também estava sumida do hospital, pensei que deviam estar envolvidos em algum caso importante. E como também senti muito a sua falta, agente Patterson, resolvi que te procurar era minha melhor opção. Eu posso entrar?

— Uma missão. Sim, é isso. Nós estávamos numa missão. – disse buscando uma forma de contornar a ausência dela e de Remi no hospital. Também pensou que era melhor não contar à ele sobre a prisão da irmã por enquanto. – Remi ainda está numa missão. Nossa, onde ficaram as minhas boas maneiras? Me desculpe. Entre. Vamos conversar um pouco. E comer alguma coisa... Você disse que sentiu a minha falta?

— Hum, quantas propostas irrecusáveis! Entrar, conversar, comer... Sim, eu disse exatamente isso: senti muito sua falta.

O que poderia resultar dessa explosiva combinação: Roman e Patterson dividindo o mesmo teto? Nem eles mesmos sabiam essa resposta.

Uma breve conversa definiu o cardápio e a loura fez o pedido. Não demorou até a comida chegar. Não que Patterson não fosse uma boa cozinheira, mas a ocasião pedia uma comida diferente. Na verdade, o turbilhão de emoções que borbulhavam dentro dela a fez considerar que o fogão poderia ter um resultado desastroso.

— Parece estar uma delícia. – ele disse olhando ela de alto a baixo enquanto colocava a comida sobre a mesa

Patterson concordou com um sorriso de canto de boca. Roman sabia muito bem como deixar uma frase sempre em duplo sentido.

— Eu escolhi um cardápio bem eclético. Massas, carnes, e peixe. – ela começou a rir. Nada fazia muito sentido naqueles pratos. Seu nervosismo com a presença dele resultou na escolha de comidas eram completamente diferentes.

— Bom, depois de duas semanas no hospital, eu estou disposto a comer de tudo um pouco. - Roman tentava quebrar o gelo, mas parecia só piorar o clima. Não que precisasse de muito para ser no mínimo constrangedor.

Patterson terminou de servir os pratos e sentou na frente dele.

— Enfim, vamos provar...

Ele não parava de observá-la. Teria errado ao vir procura-la? E agora estavam aqui, um de frente para o outro naquela mesa degustando pratos tão discrepantes, mas tudo parecia tão bom. Seria um sinal que o Universo conspirava a favor dos dois? Tão diferentes e tão perfeitos juntos. Impossível negar que suas mentes os levavam para situações muito além daquele simples jantar. O passado e as experiências que viveram. O futuro e se ainda seria possível algo entre os dois. O desejo que crescia rápido. A razão gritando que era para manter isso apenas como um simples jantar e só.

— Poxa, você esqueceu de pedir os molhos!

Patterson o encara:

— Se eu tivesse pedido seria um completo desastre.

Os dois riem. Exatamente a risada que precisavam para descontrair e mudar o rumo daquela conversa.

— Estou feliz que esteja aqui, Roman. É muito bom ter a sua companhia. Digo, depois de tudo... é bom poder conversar...

— Aconteceram muitas coisas, Patterson. Nem eu pensei que seria capaz de confiar mais em alguém novamente. Que bom que tentei outra vez... e que bom que foi você.

— Assim você me deixa sem jeito...

— É uma das minhas especialidades. Pode se acostumar.

— Não vou me esquecer disso. E quais são as outras?

— Sobre as mulheres... eu sei muito mais coisas, Patterson... – e a devorou com o olhar. Depois fixou os olhos na mesa para dizer - se um dia você quiser me conhecer melhor, podemos conversar sobre tudo.

Patterson, como por um instinto depois daquela direta, levanta da mesa.

— Esqueci a bebida. Vinho pra mim e para você eu trago... ?

— Só água está bom. Ainda não posso beber, além da recuperação, perder o controle seria um perigo para nós dois.

Roman acompanha ela com o olhar enquanto se dirige a pegar as bebidas. Seu coração pulsava forte no peito. Ele precisava se controlar. Ela tinha sido gentil ao oferecer o apartamento para ele ficar durante sua recuperação. Não podia assustá-la. Mais que ninguém, ele sabia a dor de ser traído por alguém que amou muito. Se existia uma chance para os dois, ele teria que ir devagar, conquistando a confiança dela.

Cela do SIOC – tempo atual

A trigésima primeira semana de gestação estava na metade naquela manhã de terça-feira. Ele apertou o botão liberando a fechadura da antessala da cela de Remi desejando de todo coração que ela estivesse melhor que na noite anterior quando a deixou.

Assim que a porta se abriu, pode vê-la. Ela estava com uma mão apoiada na parede de vidro da cela e a outra nas costas. Seu rosto estava muito pálido e coberto de suor. Seu olhar apavorada e suplicante para qualquer pessoa que adentrasse naquele momento. Kurt não precisava de palavras pra entender o que estava acontecendo.

— Há quanto tempo você está assim? – perguntou desesperado se aproximando do vidro e louco para poder abrir aquela porta, pegá-la nos braços e leva-la a um hospital o quanto antes.

Antes que Remi respondesse, foi obrigada a fechar os olhos e lutar contra a nova onda de dor que sentiu.

— Respire, honey, bem fundo. – ele disse tentando parecer calmo para ela.

Quando a contração recuou e ela recuperou o fôlego, disse:

— Parece que estou assim há uma eternidade. Mas eu não sei ao certo. Os intervalos estão bem irregulares.

— Eu preciso que você aguente mais um pouco sozinha. Vou conseguir a liberação para te levar ao hospital. Eu volto logo.

Nunca foi tão difícil para ele se afastar dela.

Mais difícil ainda foi suportar o que teriam pela frente. A liberação para levar Remi ao hospital saiu rápido, mas ela teria que ir algemada numa viatura oficial por ser considerada de alta periculosidade. Weitz sequer permitiu que Kurt a acompanhasse no carro.

Já no hospital, longas horas se seguiram numa verdadeira provação à Remi. As correntes que ligavam seus pés e mãos não foram liberadas e ainda foram presas à cama, restringindo a sua posição e movimentos. Nenhuma medicação foi capaz de interromper a dor para levar a gestação mais adiante. As repetidas vezes que ela se contorcia por causa das contrações foram machucando seus braços e pernas. O trabalho de parto, além de prematuro, não evoluía bem.

Kurt estava lá. A equipe também, mas fora do quarto.

Após mais de 14 horas, uma nova visita do médico informou que precisariam fazer uma cesariana. Tudo foi muito rápido. Em 20 minutos, o casal ouviu o choro da filha pela primeira vez. Não tiveram sequer um breve momento com ela. Por ser prematura, a garotinha precisou ser colocada numa estufa oxigenada para ajudá-la com a respiração. Remi teve uma hemorragia durante a cirurgia e precisou ser sedada. Kurt foi retirado da sala e teve que esperar no corredor com os amigos.

Poucos minuto depois, Remi estava de volta ao quarto, ainda adormecida.   Os amigos entraram para vê-la e apoiar Kurt. Ficaram horrorizados com os ferimentos em seus braços e pernas. A pior parte é que ela continuava usando restrições, agora na forma de faixas, que prendiam seus pés e mãos à cama hospitalar. Fotografaram tudo.

— Isso é desumano! – Tasha se revoltou sussurrando.

— Kurt, você precisa entrar com um advogado agora! – Reade disse concordando com ela.

Patterson deu sinal para que todos deixassem o quarto e conversassem no corredor. Assim que estavam do lado de fora, disse:

— Vamos cair no mesmo impasse de identidade: entrar com recurso a favor de quem? Jane Doe? Oficialmente ela não está presa. Na verdade, as agências alegam que ela sequer existe mais. E, se entrarmos com recurso favorável a Remi, temo que seja o que eles esperam de nós nesse momento tão delicado. Estaríamos assumindo que ela é uma terrorista da Sandstorm e dando carta branca para eles agirem. – Patterson falou enquanto esfregava a testa pensando numa saída.

— Eu sei que vocês odeiam isso, mas existem muito podres navegando pela dark web que poderíamos usar, se vocês concordarem, é claro. – Rich falou.

A equipe se entreolhou. Nenhum deles concordavam com a extrapolação ética que a dark web representava, mas a vida de Remi e da bebê estava em risco.

— Faça! – Kurt disse.

— Eu sabia que você diria isso, Stubble. É a nossa deusa lá dentro, mesmo nessa versão evil. Na verdade, eu já fiz. Está tudo aqui. – e apresentou um pen drive. – Vamos mexer com fogo. A Iron Lady usa como provas áudios que colheu ilegalmente no apartamento do meu casal favorito. Alguns amigos... quer dizer, ex-amigos, conseguiram, de forma parecida, conversas telefônicas entre ela e Weitz. Entregar a cabeça da nossa Malévola Remi parece que vai render um cargo na diretoria da ASN para ela e a candidatura à presidência dos EUA para ele.

— Droga, Rich. Não podemos usar áudios obtidos ilegalmente num recurso jurídico formal. – Reade argumento perdendo a esperança nessa estratégia.

— E não vamos! – Kurt disse firme. – A estratégia de Rich corre por fora da legalidade.

— Isso! Eu sabia que toda essa tensão sexual entre nós dois não era à toa, Stubble. – Rich ficou eufórico.

— Eu ligo para a Nas. – Kurt disse já discando o número e se distanciando dos amigos.

— Deixem Weitz e Keaton comigo. Sei bem como abordá-los. Fiz escola na CIA para isso. – Zapata se mobilizou.

Os amigos voltaram ao SIOC, pedindo que Kurt os mantivesse informados.

Mensagem de Kurt no telefone

“Você não precisa retornar essa ligação, Nas. Mas, para seu bem, é melhor você vir até o hospital onde estou agora ou terá grandes surpresas nos maiores noticiários desse país.”

Remi não demorou a acordar. Assim que despertou, seus olhos pousaram sobre Kurt e logo fugiram dele. Ele, que estava numa cadeira ao seu lado, se levantou e lhe deu um beijo na testa:

— Você acordou. Como está se sentindo.

— Bem. – ela respondeu com a voz oscilante. – Como ela está?

— Ela está bem. Eles me deixaram vê-la. É pequena, mas forte e determinada como você, está bem ativa, olhando por tudo. Os médicos disseram que a respiração deve se normalizar em torno de 72 horas. Assim que você estiver bem, poderá vê-la.

Remi escutou tudo com muita atenção sentindo-se aliviada por saber que a filha estava bem. Quando ouviu sobre a possibilidade de vê-la, tentou se levantar e percebeu as restrições que a prendiam a cama. Isso a fez lembrar de sua condição. Ela era uma terrorista. Para ir até sua filha teria que usar aquelas algemas. Isso fez a bile subir em seu estômago causando náuseas. O destino parecia brincar com ela. Como ver sua filhinha tão pequena e frágil usando algemas? E se isso a machucasse? A bebezinha já tinha pago um preço alto demais por seus erros nascendo antes do tempo certo. Ela não permitiria que mais nenhum mal chegasse até ela.

—  Eu não quero vê-la, Kurt. – disse – Se ela está bem, é tudo que importa pra mim. – insistiu e tentou mudar a posição na cama, mas era inútil.

Kurt tentou ajuda-la ajeitando o travesseiro.

— Vai ficar tudo bem, eu prometo. Vamos resolver isso.

Remi balançou a cabeça desacreditada:

— Kurt, chega. Ela está aqui e bem. Chega de lutar contra tudo isso. A minha luta contra a corrupção nas agências governamentais só trouxe problemas pra você. Agora é o momento de não deixar que isso seja um problema pra ela também. – sua respiração começou a ficar ofegante. – Quer dizer, mais problemas para ela, já que eu não fui capaz nem de trazê-la ao mundo no momento certo. – as lágrimas brilhavam em seus olhos, mas não se permitiam cair.

Ele puxou delicadamente o queixo dela em direção ao olhar dele. Seu toque mais suave era ainda assim tão firme e cheio de segurança. Ela se deixou conduzir.

— Remi, eu sei que as últimas semana foram difíceis, mas você não pode se sentir culpada por esse parto prematuro. Você fez tudo que podia por ela. Eu estava lá e acompanhei isso, lembra-se?

— Eu vou assumir tudo que fiz, Kurt. Já me decidi. Essa é a minha escolha. Assim, todos os problemas que me acompanham se afastam de vocês. Eu sei que você será um ótimo pai. É tudo que ela precisa pra crescer feliz, como uma criança normal.

Ele colocou suavemente o dedo sobre os lábios dela, silenciando-a:

— Não existe a menor possibilidade de aceitarmos viver sem você, entendeu? Nós vamos ser felizes juntos. Nós três. – ele foi firme. – Não fuja de novo, Remi. Não fuja de nós.

Ela fechou os olhos, sua cabeça latejava. Então sentiu o calor do polegar de Kurt fazendo suaves movimentos em sua testa. Em sua cabeça, uma verdadeira guerra se formou. A vontade de acreditar na proposta dele, aquele velho sonho que a perseguia: ser feliz; ou manter sua difícil decisão de se entregar à justiça afastando-se deles e levando consigo todos os problemas. De repente, ela se viu sacudida por uma forte onda de vômito que não foi capaz de conter.

Kurt chamou a equipe de enfermagem. A avaliação mostrou o quanto Remi estava nervosa. Então acharam melhor sedá-la novamente. Ela sentiu tudo se apagando enquanto ainda era capaz de perceber o quente toque dele acariciando suavemente sua testa e prometendo que tudo acabaria bem.

Subconsciente de Remi

Em seu sono sedado, Remi corria uma pista de obstáculos que parecia não ter fim. Assim que superava um, outro aparecia. Algumas vezes, ela tentou escapar pelas laterais. Não haviam muros ou grades. Mas sempre era jogada de volta. Shepherd, Crawford, Blake, Nas, Keaton, pessoas do orfanato e os assassinos de seus pais a empurravam de volta.

Exausta, ela decidiu parar. Deixou seu corpo cair na lama e sentiu o frio a envolvendo lentamente, cobrando como preço sua vida e ela estava disposta a pagar. Já estava fechando os olhos para se entregar a total escuridão quando ouviu sua própria voz:

— Não! Não desista. Venha comigo. Vamos fazer isso juntas.

Ao focar a visão, Jane estava a sua frente, vestida de branco com o mesmo olhar empático das fotos e vídeos, com a mão estendida para que ela a segurasse. Sem entender porque, uma força maior que ela fez Remi aceitar a proposta. Segurando forte na mão quente de Jane, ela se colocou em pé.

A jornada pela frente foi longa. Cada obstáculo foi sendo ultrapassando com a ajuda de um dos amigos. Patterson, Reade, Zapata, Rich, Mayfair. Juntas, ela e Jane foram somando suas lembranças, remontando o mosaico de memórias numa grande mandala de diferentes tons e cores. Não havia só felicidade lá. Mas também não havia só dor.

Uma hora depois

Kurt ouviu a leve batida na porta do quarto e viu Nas entrar com seu habitual olhar piedoso. Imediatamente gesticulou para ela se retirar. Ele não permitiria que ela se aproximasse de Remi que dormia pesado.

No corredor, Nas tentou assumir a direção da conversa:

— Fiquei tão preocupada com sua mensagem, Kurt. Tenho estado muito ocupada com um sério caso que coloca em risco a segurança nacional, mas não poderia ignorar o tom preocupado na sua voz.

Kurt percebeu que a dissimulação era a regra para aquela conversa e aceitou prosseguir dessa forma enquanto fosse possível:

— Nas, nós sempre tivemos nossas diferenças, mas também sempre nos unimos quando haviam questões importantes em jogo.

— Claro, sempre.

— Você sabe que fui grato por você assumir a responsabilidade sobre as decisões quando queriam me afastar do FBI. Inclusive, eu e minha equipe demonstramos isso te ajudando a conseguir aquele vírus tecnológico de volta e, com ele, sua posição dentro da ASN. Acho que não vem ao caso lembrarmos que você tenha ficado com todo o mérito por isso.

— Kurt, você sabe o quanto sou grata. Inclusive consegui as informações sobre o pai adotivo que Avery que você precisava...

— Eu sei, Nas. Mas agora tem algo que preciso que você faça. Algo extremamente importante. Jane, Remi, eu e minha equipe vamos ficar fora de sua escalada profissional. O caso Jane Doe se encerra com a prisão de Shepherd e a queda da HCI Global.  A ASN vai voltar atrás quanto às acusações que tem feito a minha esposa.

— Kurt, eu entendo que seja difícil pra você. Eu já fiz tudo que podia para convencê-los. Mas basta um interrogatório confiável na CIA ou na ASN para tudo isso se esclarecer. Não depende de mim, mas dela. – era incrível a capacidade de Nas em ser persuasiva na argumentação com olhares determinantes.

— Você vai conseguir dessa vez. Porque existe uma rede de hackers que dispararão informações detalhadas sobre Omaha na imprensa se você falhar. Aliás, seu nome verdadeiro nome, pseudônimos e fotos fazem parte da documentação que será divulgada.

— Kurt! – a expressão dela era de surpresa e vitimismo. – Vamos fazer o seguinte, sei que você teve momentos difíceis nas última horas, então vou relevar e fingir que essa nossa conversa nunca aconteceu. Por que você já conheceu o peso de quem está no comando. Só não continua lá por uma opção sua, assim como foi uma opção sua casar-se com Jane mesmo sabendo que ela é... – e calculando melhor o efeito de suas palavras, se corriu – que ela foi... enfim, você conhecia o passado dela. Nossa vida pessoal não pode estar acima da segurança nacional, Kurt. Tenho certeza que, depois que você se acalmar, vai considerar as consequências do que está me pedindo e ver que estou certa. Jane será interrogada apenas como garantia. Ela não é mais Remi e, se fosse, até mesmo você concordaria em mantê-la longe de qualquer coisa que represente um risco ao resto do país.

A postura que ela insistia em manter, negando a verdade por trás de Omaha e ainda insinuando que Remi deveria continuar presa, ver a cólera se apoderar de Kurt e ele quase gritou:

— Que risco, Nas? Tudo que vocês fizeram foi manipular provas incriminando minha esposa e usando-a como escada para você e Weitz escalarem. – percebendo seu tom de voz inadequado ao ambiente, o medo de acordar Remi e se lembrando que não devia se deixar cair nas estratégias de Nas o fez voltar a um tom falsamente controlado – Eu sei que, quando se trata de jogos políticos, falsos perigos são divulgados para garantir a ascensão ao poder. Como mesma disse: eu já estive no comando, conheço o lado escuso do poder e mesmo assim nunca aceitei participar disso. Não me faça acreditar que você perdeu a noção da realidade dentro do universo de mentiras que você mesma criou! Sempre acreditei que sua sensatez se sobreporia às aspirações profissionais. Realmente eu não esperava chegar nesse ponto.  – ele se virou para voltar ao quarto, mas voltou – Eu não devia, mas vou te estender a mão uma última vez. Existem coisas na vida, Nas, que valem mais do que carreira e dinheiro. E eu tenho isso ali dentro daquele quarto. Você conquistou algo parecido com isso, amigos, quando minha equipe te aceitou como parte dela. Agora está sozinha novamente. Aprenda e fique bem longe da minha família! Ou tem meia hora, além de sozinha, você não terá sequer a carreira que tanto adora. Isso era tudo que eu tinha para te dizer. – deu as costas à ela e entrou no quarto.

Nas saiu andando pelo corredor com a mesma postura de sempre, como se nada tivesse acontecido. Ela não conseguia compreender que o poder que Jane ou Remi tinham sobre Kurt. Como pode uma terrorista ser capaz de controlar tão habilmente um homem que sempre se mostrou tão dedicado à defesa desse país? Uma coisa era certa: aquela mulher o tinha nas mãos e ele não recuaria. Ainda no elevador, ela fez a primeira ligação para encerrar o Caso Jane Doe nos arquivos da ASN. Fim de jogo.


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Notas finais do capítulo

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