O team se reuniu no SIOC no horário habitual. Deram início aos seus trabalhos cotidianos até serem interrompidos por uma chamada de emergência. Suspeita de invasão à uma empresa tecnológica que desenvolvia projetos bélicos ultrassecretos para o governo estadunidense.

A equipe se preparou para ir à campo. Dessa vez, não houve discussão. Remi aceitou ficar na van dando apoio remoto.

Chegando ao local, Weller e Reade lideraram equipes diferentes para iniciar a invasão do prédio em duas frentes diferentes: leste e oeste. A primeira troca de tiros ocorreu no segundo andar. Sem baixas e sem avanços, os dois lados tomaram suas posições.

A partir do SIOC, Patterson e Rich tentavam acessar as câmeras de segurança da empresa que tinham sido bloqueadas. Assim poderiam oferecer maior apoio as equipes em campo. Não demorou muito até as habilidades dos dois superarem o bloqueio interno e fornecerem as imagens desejadas. Uma a uma, as câmeras foram sendo vasculhadas ajudando as equipes a avançar diante dos invasores e fazê-los recuar.

Remi também recebia as imagens na van e auxiliava a equipe como podia. Apesar da tensão do momento, tudo corria bem e, a cada passo, o FBI tinha mais certeza do êxito nessa missão.

Após alguns minutos, finalmente conseguiram acesso às câmeras que monitoravam o servidor central, objetivo principal do ataque e onde estavam as informações que o FBI tentava impedir de cair nas mãos erradas.

— Merda!  - a voz de Patterson ecoou nos comunicadores.

— Não! – a voz de Jane estava carregada de preocupação e ansiedade. – Weller, vocês precisam retardar o avanço das equipes agora!

— Retardar o avanço? Remi, o que está acontecendo? – ele questionou já sinalizando para a equipe e procurando uma posição que lhe permitisse monitorar o caminho de acesso até onde desejavam chegar, mas também garantir uma certa privacidade para as informações que estava trocando com sua esposa pelos comunicadores. Ele conhecia aquele tom de voz e sabia que, seja lá qual fosse a informação captada por ela nas câmeras de segurança, havia algo bem complicado à frente.

— Precisamos de mais detalhes. – a voz de Reade exigiu para que pudesse tomar uma decisão.

Só ouviram o chiado interrompendo a comunicação. No escuro, Reade e Weller optaram por manter a posição das equipes até entenderem melhor a situação.

Laboratório de Patterson, no SIOC

— Por Eros, deus grego da beleza, o que você está fazendo, Patterson? Deixá-los sem comunicação lá é muito perigoso! – Rich tentou entender

— Eu sei! Mas não podemos discutir isso em aberto. Estou fechando os links para essa conversa ficar apenas entre Weller, Reade, Remi, Zapata e nós.

Conversa via comunicadores em canal fechado apenas para o team:

— Pessoal, criei um canal fechado apenas para nossa equipe de elite. Temos uma emergência. – Patterson informou.

 - Por Deus, Patterson, já percebemos isso. Informe logo o que está acontecendo. – Reade estava aflito.

Antes de Patterson iniciasse o relato, uma nova situação trouxe ainda mais preocupação à todos:

— Já estou dentro do prédio. Logo alcanço você, Weller. – Remi disse, com a voz ofegante de quem avançava em velocidade acelerada.

Uma infinidade de palavrões teriam povoado a cabeça de Weller e ele adoraria também poder proferi-los, mas conhecendo Remi, sabia que não havia tempo para isso. Era melhor agir o quanto antes se quisesse impedi-la. E, nesse caso, agir era apenas dizer para ela recuar através dos comunicadores. Foi o que ele fez:

— Remi, recue agora! Você tem ordens expressar pra permanecer na van. – Kurt odiava ter que relembrá-la do plano e da hierarquia que deveriam seguir. E odiava mais ainda a forma como ela insistia em ignorar tudo isso, rompendo com as determinações e colocando sua própria vida em risco.

— Que zona é essa aqui, pessoal? Alguém quer explicar logo o que está acontecendo? – Zapata tentou chamar a atenção de todos com mais uma de suas falas peculiares. Afinal tudo de repente parecia fora dos eixos e, em campo, nenhum deles sabia ainda o real motivo de tudo aquilo.

— Roman está no prédio. Não podemos avançar. – Remi informou com voz baixa e ainda ofegante demonstrando que não tinha atendido as determinações de Kurt.

— E não é só isso, o Deus Grego está liderando o ataque. – Rich completou.

— Reade, você precisam encontrar uma forma dele não ser ferido nem detido nessa operação. – Patterson exigiu.

— De forma alguma podemos correr o risco de deixar que esses projetos bélicos caíam nas mãos da HCI Global. É bom que ele saiba se cuidar sozinho. – resposta de Reade não foi exatamente o que a loura esperava.

— Mas isso colocará em risco toda a operação. – ela insistiu.

— Essa operação não está acima da segurança nacional, Patterson. _ Reade finalizou utilizando o tom decisivo para que todos compreendessem que o team não recuaria nem permitiria esse tipo de vazamento de informações, nem mesmo pelo bem de Roman ou pela missão secreta que desenvolviam.

— Remi, volte para van. – Kurt insistiu usando um tom de voz menos imperativo como estratégia – Estamos sob fogo intenso aqui. Sua presença não vai ajudar. Pense no bebê.

 - Sem chance, Weller. Não vou deixar ninguém matar meu irmão! – Remi parecia feroz – já estou a duas salas de distância de você. – e parou para puxar o ar, deixando Weller ainda mais preocupado com sua condição. –  Precisamos dar tempo para Roman sair do prédio. – ela voltou a insistir como quem não tivesse ouvido Reade.

— Ele só poderá sair se não estiver levando o que veio buscar, Remi – Weller foi firme, apoiando a decisão de seu chefe.

— Pra atirar no meu irmão, terá que atirar em mim primeiro. – a voz de Remi soou rouca, ofegante e baixa, bem atrás de Kurt.

Ele respirou fundo. Fazê-la retornar a partir daqui seria tão arriscado quanto prosseguir. Ela fez de novo! Colocou seus propósitos acima daquela equipe. Isso exigiria mais do que apenas uma conversa mais tarde, outras atitudes seriam necessária. Por agora, ao lado dele, talvez houvesse alguma forma de protegê-la. Kurt sentiu um certo alívio ao verificar que, pelo menos, ela estava usando um colete à prova de balas.

Sem a estabilidade emocional e a certeza de desfecho que tinham anteriormente, as equipes prosseguiram. As trocas de tiros foram ferozes, mas conseguiram avançar.

— Pessoal, Roman está deixando a sala quatro homens caras armados até os dentes. Tem um outro sujeito ao lado dele. Esse não parece um simples soldado. Estão descendo pelas escadas do lado leste. – a voz de Patterson não escondia sua tristeza.

A equipe liderada por Weller avançava também por esse lado do prédio, então rumaram para as escadas.

Não demorou muito até os dois grupos se cruzarem. A troca de tiros foi imediata e não pouparam munição. Feridos caíram dos dois lados. De repente, Weller e Remi se viram frente a frente com Roman e o homem que o acompanhava.

─ Olá, Sis. – ele disse com um sorriso irônico no canto da boca. Em seguida, disparou diversos tiros em direção ao casal.

Weller agiu rápido se jogando sobre Remi numa tentativa de protegê-la, mas ela já havia recuado instintivamente. As balas acertaram um painel à centímetros de distância dos dois. Estilhaços voaram por todo lado atingindo os braços deles.

Roman e o outro homem aproveitaram para fugir por dentro do prédio. Os ferimentos pareciam superficiais, mas Remi estava visivelmente abalada pela agressividade do irmão.

─ Reade, eles cruzaram o prédio na sua direção. Estou com Remi, não posso alcança-los. – Weller gritou pelos comunicadores.

─ Ok, cuide dela. Eu assumo daqui.

A equipe de Reade fez uma detalhada varredura do local sem sucesso. Roman fugiu.

Vasculhando o local da troca de tiros, Zapata localizou um dispositivo que, pouco depois confirmaram ser conter os dados roubados. Roman deixou cair durante o fogo cruzado com Weller. Apesar da vitória, retornaram ao SIOC esmagados pelo desfecho inesperado daquela missão.

De volta ao SIOC

Todos entram em silêncio. Seus rostos estão marcados pela insatisfação com a missão e evitavam falar porque cada um deles segurava a vontade enorme de deixar transbordar palavras carregadas de sentimentos negativos diante das decisões do outro.

Reade foi para sua sala, Zapata se dirigiu para o laboratório de Patterson, Remi e Kurt rumaram para o vestiário.

Tasha entrou no laboratório e Patterson imediatamente virou o rosto para ela, focando numa das telas à sua frente.

— Não perdemos a informações sobre o novo armamento nuclear por um triz. Sorte nossa Hirst ter colocado Reade como Diretor Assistente do NYO. Sem a neutralidade emocional que ele tem diante todos os casos que envolvem as tatuagens e suas consequências, estaríamos fracassando uma missão após outra. – a latina tinha um tom profissional, mas deixou nas entrelinhas o envolvimento emocional do resto da equipe.

— O envolvimento emocional dessa equipe nas questões relacionadas as tatuagens nunca nos impediu de fazer um ótimo trabalho. – Patterson respondeu, deixando o terminal onde trabalhava e pegando seu tablete para iniciar novas tarefas. Enquanto se afastava de Zapata, de costas pra amiga, completou: - os instintos de Kurt sobre Jane sempre estiveram certos e foi a confiança que ele depositou nela que a trouxe para o nosso lado. O elo emocional entre eles é tão forte que mantém Remi aqui, mesmo sem que ela se lembre de nada do que viveu enquanto foi Jane.

— Todos nós aprendemos essa lição, mas também precisamos estar preparados para a possibilidade dessa estratégia falhar. Eu confiei em Roman ao dar à ele a oportunidade de se infiltrar e conseguir o perdão por seus crimes. Mas também tenho consciência da importância do meu trabalho e de quantas vidas dependem de nós, por isso sou capaz de enxergar meu erro.

A loira se virou para Zapata e a encarou:

— Talvez você esteja olhando o “erro” da forma errada. Confiar em Roman não é o erro. Colocá-lo numa missão suicida para afastá-lo de mim foi!

— Por Deus, Patterson, você não pode continuar negando o quanto ele é perigoso depois de tudo que aconteceu hoje! Ele estava agindo deliberadamente contra nós!

— Ele estava tentando ganhar a confiança da HCI Global novamente. Devia ter tudo sob controle. Tanto que não levou as informações copiadas.

— Perderam o driver por esbarrarem em nossa equipe, isso ficou claro! Além disso, ele atirou em Remi. Em Remi! Você tem noção do que isso significa?

— Ele atirou na direção da Remi, não nela. Isso é muito diferente. Roman não erra um tiro quando não quer errar. Nem mesmo quando estavam em lados opostos ele fez algo que machucasse sua irmã.

— Você não estava lá, Patterson!

— Eu acompanhei tudo pelas câmeras de segurança, Tasha, esqueceu? E calculei a trajetória do tiro disparado por Roman. Não havia o menor risco de acertar Remi.

— A mira dele pode não ser tão perfeita quando se trata de matar em campo. Queria que ele não tivesse sido tão perspicaz em acertar outro alvo: o seu coração.

— Já fomos tão amigas, Tasha, e agora parece que não te reconheço mais. – o olhar da loura demonstrava uma decepção dilacerante.

— Eu ainda sou a mesma. Não desisto da minha família. Fiz tudo que podia para te afastar de um outro relacionamento sem futuro com um terrorista. – Tasha se manteve firme com a cabeça erguida numa tentativa final de fazer a amiga enxergar a situação por outro ângulo. Ela tinha perfeita noção da dor que suas palavras causariam, mas não via outra forma de impedir que Patterson terminasse ainda mais machucada.

— Ele não é um terrorista! Foi você quem o colocou nessa missão como infiltrado. Ele só está sendo convincente. – a nerd insistiu.

 Zapata balançou a cabeça como quem está prestes a desistir daquilo, mas resolveu dar uma última cartada:

— Quando ofereci essa “oportunidade” à Roman, tudo que eu queria era que a distancia te levasse a considerar melhor seu envolvimento com ele. Você é minha melhor amiga. Por favor, não se faça de cega depois de tudo que aconteceu hoje. Roman não faz mais parte dessa missão. O único objetivo dele era se infiltrar no meio das pernas de Blake Crawford, onde ele encontra o poder e o dinheiro que precisa.

As palavras de Zapata ferveram o sangue de Patterson de uma forma incontrolável. Sua mãos se apertaram nas bordas do tablet numa tentativa desesperada de conter o impulso de agredir a latina. Mas tudo continuava borbulhando dentro dela e exigindo uma atitude. Explodir para fora impedindo uma implosão interna era a única saída.

Zapata ficou petrificada enquanto os estilhaços do tablet de Patterson voavam pelo laboratório após o aparelho se chocar contra o chão.