Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 19
Labirinto de fúria e fogo! - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Voltamos! Bem, o capítulo ficou tão longo que precisou ser divido em duas partes. E não podia ser diferente porque esse capítulo foi escrito com um motivo muito especial: dedicamos ele a Cil que acompanha nossa história e já nos deu tantas dicas. Também aproveitamos para pedir desculpas por que a intenção era torná-lo um presente de aniversário, agora já está com um mês de atraso.
Nessa primeira parte, veremos o quanto o Tigrão (Roman) e suas atitudes continua afetando a vida de todos.
Boa leitura!



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Os pedaços de vidro do tablet ainda eram visíveis no chão. Era notório que nem Patterson dimensionou a força que tinha lançado sobre o aparelho. Zapata não poderia deixar essa situação terminar assim:

— Você acha que isso resolve tudo? – e olhou de forma cínica para a loura _ Só fez os dados que aqui estavam se perderem. – E aponta com a cabeça para o tablet no chão.

— Eu sei muito bem o que faço, Natasha. Não preciso de você me falando o que eu fiz ou deixei de fazer. – Patterson sabia muito bem que chamar a latina assim iria demonstrar o quanto a coisa entre as duas estava por um fio.

— Quer saber? Esqueça, Patterson. Não dá para ter uma mínima conversa normal e civilizada com você hoje. É só tocar no seu calcanhar de Aquiles que é assim: você surta! Precisa aprender a separar o emocional do profissional. Tá parecendo uma adolescente apaixonada. Vê se cresce!

O som do riso debochado de Patterson encheu o ambiente:

— Natasha Zapata falando em ser civilizada. É tão ridículo que é até engraçado. – e se virou para o monitor – Se isso era tudo o que tinha a dizer, por favor, agradeço se você sair. Não tenho tempo para desperdiçar com o que não é importante. – e então diz entre os dentes quase sussurrando, mas com muita raiva – E também estou farta de olhar pra sua cara.

Tasha fica perplexa. Ela nunca imaginou essa reação de Patterson. Seu primeiro impulso foi levantar a cabeça, se virar e sair. Se fosse qualquer outra pessoa ali, ela teria feito. Mas tinha que ser justamente Patterson e ela não desistia fácil das pessoas que amava. Uma força impetuosa exigia que ela fizesse algo para minimizar os danos como se nada mais importasse naquele momento, o que era verdade. Então, se aproximou ficando ao lado da loura e a encarou.

— Achei que nada seria mais forte que a nossa amizade. Mas eu estava enganada. Muito e incrivelmente enganada. Ele está te destruindo e levando junto tudo que você cultivou, Patterson! Olha para você... irreconhecível por causa dele, falando que eu não tenho nada a ver com a sua vida. Você sempre foi quase uma irmã pra mim, Patterson, sou eu quem está aqui quando tudo seu desaba, não ele... Pois bem, eu estou cansada de lutar por alguém que claramente não me enxerga sequer como amiga. Não mais.

Aquelas palavras penetraram como uma lâmina afinada na alma de Patterson. Ela nunca imaginou que sua amizade com Zapata enfrentaria um dilema tão profundo. Doía essa separação. Ela não queria que fosse assim. Mas estava mergulhada numa dor ainda maior: ver a vida de Roman em risco. E foi isso que falou mais alto:

— Apenas saia, Tasha. Por favor. – balbuciou com a voz firme, mas quase a traindo –  Não há mais o que ser dito.

— Engano seu. Se você não quer falar, não me importo. Mas terá que me escutar, eu estou farta! Se essa é sua escolha, de agora em diante você estará como seu queridinho: sozinha e sem ninguém! Não conte mais comigo para nada, você está me ouvindo? Para nada! Esqueça que eu existo! – O olhar de desaprovação e tristeza na face de Tasha demonstrava que a conversa tinha ido ao extremo. No fundo do seu coração só ficava a dor por pensar que não teria volta. Um longa e linda amizada jogada fora por um homem... Ela respirou e abanou a cabeça inconformada.

— Veremos quem fará mais falta à outra. Mas fique sossegada que não vou te procurar e nunca mais terá que carregar o peso da nossa amizade. Se é que um dia eu fui sua amiga de verdade.

— Você não precisa me mandar embora repetidas vezes. Está mais que claro que é hora de sair  daqui e também da sua vida. Adeus, Patterson! Eu queria não estar lá quando tudo desabar, mas eu não posso deixar essa força tarefa, então você verá no meu olhar que te avisei sobre tudo isso!

Patterson nem podia discordar. Sua vida tinha enfrentado desafios extremos e seus instintos apontavam que assumir seus sentimentos por Roman era se deixar à merce de experimentar isso novamente. Ela aguardou de costas para a porta esperando a latina se retirar. As palavras de Zapata ainda vagavam como fantasmas ao seu redor. Mas ela se sentia distante de tudo aquilo, como se nada a afetasse ou preocupasse, o que era pior. Era como se ela soubesse que a amizade de fato tinha terminado de vez.

Disposta a lidar apenas com o que tinha de concreto e mobilizar todos os seus esforços em ajudar Roman, ela se abaixa para recolher os restos de vidro da tela do tablet. Apenas alguns segundos depois ela notou a mancha vermelha se formando e o sangue escorrendo entre seus dedos. Pareceu inútil focar na dor para verificar o exato local da ferida. Tudo doía: corpo e alma. Será que era assim que Roman e Remi se sentiam após o orfanato e a vida com Shepherd? Quando tudo o que há é dor, o melhor é manter o foco naquilo que está fora de você:

— Hoje só pode ser um teste para ver qual é o limite da minha paciência. – sussurra para si mesmo jogando os pedaços de vidro que tinha pego no lixo. Então vai a procura de algo para estancar o sangramento. – Foco, Patterson! Tenho que ser forte. Esqueça a dor. Esse dedo não dói mais do que...seu coração. Já chega de partidas por hora. Você tem um trabalho a fazer!

Ela sugou o ar e expirou lentamente tentando se acalmar. Não. Ela não era como Roman ou Remi. Não tinha como negar que todos os seus pensamentos lançavam de volta pra ela cada palavra de Tasha, a pessoa que até então era uma das mais importantes da sua vida e agora se resumia a esse nebuloso emaranhado de sentimentos que ela era incapaz de classificar ou encarar.

“O tablet eu conserto. O que eu decidi para a minha vida não.” – Seus pensamentos são interrompidos com uma mensagem Reade no celular:

“Reunião na minha sala. Agora.”

Paralelamente à isso, com Remi e Weller

Após o confronto com Roman em campo, Weller exigiu que Remi passasse pela avaliação dos paramédicos. Depois disso se calou. Ela não ouviu uma só palavra dele durante o trajeto de retorno ao SIOC ou enquanto se dirigiam para o vestiário.

O silêncio era um território já bem conhecido por ele, cultivado ao longo da vida solitária que teve. As decepções com seus pais fez com que ele erguesse as muralhas que o mantinham afastado daquelas formas de amor que podiam machucar tanto. As pessoas transitavam por sua vida a uma distância segura. Estava adequado para ele, pois tinha tudo sob controle.

Foi assim até Jane aparecer. Ela parecia tão frágil e violada, mas reagia a tudo com tanta coragem e determinação. E aquela força interior que a impelia a olhar para o outro mesmo em situações nas quais  qualquer pessoa só conseguiria ver a si mesma? Ele sorriu enquanto vagueava pelas lembranças das inúmeras vezes que ela o arrancou do silêncio para dialogar. Pode ter demorado para Kurt admitir, mas desde o primeiro dia em que a conheceu ele já sabia que precisava dela tanto quanto ela precisava dele.

Foi bom... Não! Foi ótimo. Foi a melhor coisa que ele viveu. Foi tão bom que ele se negou a aceitar que Remi poderia voltar. E agora ela estava aqui, com tantas semelhanças e tantas diferenças de Jane. Até o momento, ele insistiu em falar, em estabelecer todo tipo de conexão com ela para tentar consertar toda essa bagunça. Mas depois de hoje, isso parecia inútil. Ela nunca ouvia. Só restava o silêncio a partir daqui.

Remi notou o silêncio de Kurt antes mesmo de deixarem o prédio onde confrontaram Roman.  Pensou que teria que ouvi─lo rezar a já habitual ladainha sobre auto─cuidado por conta da gravidez durante todo o trajeto até o SIOC.  Mas ele ficou calado. E ela agradeceu de forma debochada no seu interior. Havia muito que pensar para organizar justificativas em defesa do irmão. Sem contar o quanto o fato de Roman ter atirado contra ela a afligia.

O silêncio teria sido perfeito para isso, mas é claro que Kurt conseguiu estragar isso também. Por mais que ela tentasse focar nos seus objetivos, a ausência do sermão dele se fazia presente roubando sua atenção. Algumas vezes, ela desferiu olhares rápidos pelo canto dos olhos tentando verificar suas reações enquanto dirigia. Estava muito irritado, era fato. Então, porque não vomitava logo tudo o que queria dizer? Assim os dois discutiriam e pronto! Ela poderia manter seu foco novamente sobre Roman.

No elevador do NYO, o silêncio continuou. Ela manteve a cabeça erguida numa postura desafiadora. Droga! Isso a irritava mais do que o blá blá blá de sempre. As portas se abriram e ela tomou o caminho do vestiário imediatamente buscando distância e isolamento. Shepherd sempre lhe ensinou isso como sendo a melhor estratégia. Demorou alguns passos para perceber que ele fazia o mesmo trajeto um pouco a sua frente.

“Se é assim que você quer jogar, Weller, vai se arrepender.” – pensou decidindo manter seu plano de ir ao vestiário, mas agora disposta a mostrar a Kurt que não venceria usando essa estratégia.

Vestiário do SIOC

Kurt se sentou no banco, apoiou os cotovelos nos joelhos e abaixou a cabeça até poder coçar os cabelos com as mãos. Remi parou brevemente ao passar pela porta, respirou fundo, reforçou a postura altiva e passou por ele com pisadas fortes até chegar à pia. Ela precisava se refrescar e através do espelho poderia observar as reações dele que permaneceu calado e olhando para o chão. Irritada, ela se virou de frente para ele esperando que isso atraísse seu olhar. Como isso não aconteceu, resolveu falar:

─ Se sua estratégia é me sensibilizar com esse silêncio, esqueça! Melhor você dizer logo seu bom e velho sermão.

─ Não há estratégia e não há sermão. – ele disse recostando contra a parede e fechando os olhos ainda em busca de calma e paz.

Remi estava preparada para reagir a qualquer uma das frases que esperava ouvir sobre seu bem estar ou sobre o bebê. Tinha argumentos na ponta da língua até para uma resistência dele baseada no silêncio. Mas nunca estaria preparada para o tom que Kurt usou ao dizer aquelas palavras. Ele parecia tão ferido.

Ela puxou o ar e se esforçou em tentar isolar qualquer forma de sentimento naquele momento. Apoiando as mãos na borda da pia atrás de si, disse:

─ Deveriam preparar melhor os agentes do FBI para enfrentar as situações de risco sem envolvimento emocional.

Kurt suspirou buscando encontrar uma forma de evitar o jogo dela:

─ Remi, eu não vou discutir isso agora.

─ Mas deveria. Vocês se abalam por pouco. Nada de mais grave aconteceu.

Kurt estava disposto a permanecer recostado na parede com os olhos fechados, mas era impossível ignorar isso. Então, abriu os olhos, voltou a se inclinar para frente e olhou para ela:

─ Ele atirou em você, Remi!

─ Mas não acertou. Não aconteceu nada. Eu estou bem, já disse! Você precisa de um acompanhamento psicológico para superar sua mania de super proteção, Weller. Eu não sou Jane e não preciso que cuide de mim o tempo todo!

Ouvir o nome de Jane causou um misto de revolta e dor em Kurt.

─ Não, você não é Jane. Ela era totalmente altruísta e capaz de amar nas situações mais adversar. Ela jamais colocaria a vida desse bebê em risco. – a última frase saiu carregada com toda a raiva que ele sentia.

Remi sorriu de forma irônica com o canto da boca.

─ Então eu não me importo com esse bebê? Agora estamos finalmente voltando à ladainha de sempre. Eu não sou capaz de amar? Aqui você inovou, Weller. Se acaso você foi incapaz de juntar os pontos, vou esclarecer: eu amo Roman e foi só porque você não ordenou que a missão fosse suspensa que eu fui obrigada a entrar no prédio!

Weller balançou a cabeça completamente decepcionado com as palavras dela.

─ Você não consegue deixar ser o soldadinho de Shepherd, não é mesmo? Sempre tentando manipular as pessoas a sua volta. Deixe─me adivinhar: tem muita coisa em ebulição dentro de você: dúvidas sobre Roman, medo, decepção, raiva. Você quer encontrar uma forma de justificá─lo, mas não consegue. Então, é mais fácil fazer com que eu me sinta culpado por tudo que aconteceu. Chega, Remi, chega... Você pode repetir isso quantas vezes quiser para si mesma, mas não pra mim.

Ele finalmente se levanta e faz menção de sair. Remi ainda processava tudo que ouviu sem reações, ela sequer foi capaz de pedir para ele ficar por mais que as palavras quisessem saltar de sua boca. Inesperadamente ele parou e voltou.

— Se, às vezes, fui protetor demais, me desculpe. Eu vou monitorar melhor minhas ações e manter distância. Ainda me assombra a lembrança de você naquela cama do hospital entre a vida e a morte. Só te peço uma coisa: não me afaste desse bebê. Ele é tudo que me restou de Jane e era nosso maior sonho...

— Kurt... – ela começou sem saber bem o que dizer. As palavras dele colocaram em cheque as certezas dela.

Nesse instante, o celular dos dois vibrou. Era Reade convocando todos para uma reunião em sua sala.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Adoraríamos saber.
Não deixem de ler a segunda parte do capítulo.
Muito obrigada pela leitura.



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