Equinox escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 40
Capítulo 120


Notas iniciais do capítulo

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Capítulo 120

08 de outubro de 2008

Cheguei da escola e fui direto ao escritório de papai, pois já fazia dias que eu queria conversar com ele, mas nunca conseguia, pois ele estava trabalhando e eu estava dormindo ou na escola. Nossos horários não combinavam e dificilmente nos encontrávamos, mas felizmente hoje ele está em casa – eu vi a Mercedes estacionada na frente do portão.

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[Eu queria saber sobre os meus avós – logo eu serei uma vampira também e eles serão minha família, então nada mais justo do que conhecer os pais de meus pais. Eu tenho esse direito e essa necessidade. Claro que eu também poderia falar com mamãe sobre isso, mas eu quero saber principalmente sobre os pais de papai.

Eu consegui convencer meus pais a vir a pé sozinha para casa ao menos agora que o ano está acabando, como um presente de aniversário antecipado. Apenas um deles, pois o principal será eles me tornarem praticamente imortal. (Ao contrário da minha irmã eu aceito presentes sem problema nenhum. Acho que porque eu passei muitos anos sem ganhar nenhum.) Para mim o ano irá acabar um pouco mais cedo e como eu sou uma aluna estudiosa eu tenho nota suficiente para me formar.

Bom, exceto em Física e Matemática. Em Educação Física eu também não vou muito bem, sou um horror, mas vou melhor do que nas duas matérias anteriores. Fico na média tirando a nota suficiente para não manchar o boletim. Até em Química eu consegui ir um pouco melhor do que eu esperava. O que me surpreendeu, pois tem quase tanta matemática na matéria quanto na própria disciplina de Matemática.

Já em Biologia eu vou bem porque eu adoro a matéria (Bem, meu pai é meu professor particular. Ai se eu fosse mal... Eu iria deixá-lo muito decepcionado. Ele não ficaria bravo como meu pai humano ficava, mas eu que não quero deixá-lo triste comigo.), mas eu gosto de estudar a natureza, botânica, e a parte sobre genética. Eu adoro fazer os cruzamentos entre Azão e azinho.

Também gosto das outras matérias, Geografia, História, Português, Sociologia, Filosofia e Artes. Embora eu não tenha ido muito bem nessa última, até ano passado, porque esse ano não tem mais a matéria. Minha arte não é lá essas coisas, algo que se diga ‘Oh!’, eu gosto de desenhar, mas gosto mesmo é de escrever.

Eu sempre gostei de aprender Inglês e agora me dedico ainda mais na disciplina para aprender o idioma porque eu vou me mudar para os Estados Unidos daqui alguns meses – primeiro vamos esperar passar meu período de recém-criada e eu puder me controlar o suficiente para ser mais discreta e viver oculta e sem chamar a atenção como fazem os Cullen. Apesar de que o que é ensinado na escola é bem básico, só o essencial; não para quem vai morar em outro país, apenas para turistas poderem se comunicar enquanto estiverem no estrangeiro; e mamãe me ajuda a aprender ainda mais e me tornar fluente na língua inglesa.]

Quando eu entrei em casa, Esme estava na sala assistindo a um programa de culinária e variedades que estava passando na televisão, mas com o volume tão baixo que eu não ouvia nada do que a apresentadora dizia. Porém, mamãe com certeza podia compreender tudo perfeitamente se estivesse prestando atenção na TV.

Eles me disseram que vampiros se distraem com muita facilidade e para mim isso será muito pior, porque eu já me disperso facilmente agora que sou humana ainda, imagina quando puder ouvir qualquer ruído e ver muito mais do que eu enxergo agora!

E para confirmar o que eu estava pensando Esme vira a cabeça na direção da porta para olhar para mim no exato momento que eu entro – ela deve ter percebido antes mesmo que eu chegasse até a porta. Ela me cumprimentou sorrindo:

— Oi filha!

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— Oi mamãe. Papai está?

— Sim ele está no escritório... Por quê? – Esme fica preocupada imediatamente e pensa que eu esteja me sentindo mal.

— Eu estou bem, mamãe. Só quero conversar com ele – respondo para acalmá-la enquanto subo as escadas correndo.

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Estou andando acima da velocidade máxima que geralmente eu caminho, mas com cuidado, porque eu sou muito desastrada e posso tropeçar. Seguro firme no corrimão, pois não quero me machucar se eu cair da escada. Isso não vai ser nada bom! Tenho medo de escadas, mas pior do que subir é descer. Porque para baixo a gravidade ajuda, para cima tem de se fazer força contrária para subir. Porém, quando eu for vampira isso não será mais problema, pois terei uma excelente coordenação motora e um perfeito senso de equilíbrio. 

Chego ao segundo andar e paro na frente da porta do escritório de papai. Fico ali alguns instantes indecisa se eu entro ou não. Todo meu ímpeto de antes parece ter se esvanecido como se fosse fumaça assoprada pelo vento. Com certeza Carlisle já deve ter percebido que eu estou aqui.

Finalmente eu decido bater, mas antes que eu levante meu braço, papai me chama do outro lado:

— Carol, pode entrar filha - Ele decide por mim ao me ver hesitante e agradeço mentalmente sua ajuda.

Abro a porta lentamente e me desculpando:

— Papai... Eu já iria bater na porta. Com licença, não quero incomodar – digo ainda acanhada – se você estiver muito ocupado volto outra hora...

Sei que foi difícil conseguir esse tempo, mas eu posso esperar não é um assunto urgente, questão de vida ou morte. Só estou curiosa e posso lidar com a minha curiosidade. Não vou morrer de ansiedade para saber. Posso esperar até depois da transformação se for necessário.

— Tudo bem criança – ele diz colocando um marca páginas em um livro grosso que parece tão novo como se tivesse acabado de ser comprado, mas que tenho certeza que ele já leu diversas vezes. Ele é muito cuidadoso e claro que suas coisas são bem preservadas apesar de usadas. – O que você quer saber?

O jeito com que ele me recebe me dando prioridade é tão emocionante que faz meu coração vibrar. Meu pai humano não tinha tempo para mim. Eu não era uma de suas prioridades. Ele pode nunca ter dito, mas o modo como me tratava me fazia sentir rejeitada. Carlisle, ao contrário, me acolhe como se eu fosse de seu sangue, uma filha de verdade. Eu sei que é assim mesmo, pois ele me escolheu. E eu só posso retribuir sendo grata.

— Eu queria perguntar sobre meus avós. Eu queria saber, pois logo serei uma Cullen também...

— Você já é uma Cullen desde que eu e sua mãe adotamos você, querida.

— Obrigada papai – sento no braço da poltrona em que ele está sentado.

— Vou te mostrar – ele procura na estante atrás de nós um álbum de fotografias que abre exatamente na página em que dois casais austeros nos observam.

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— Meus pais e os pais de sua mãe – ele diz.

Eu evidentemente já percebi que havia muita semelhança entre a mulher loira e papai.

— Mas a vovó não morreu quando você nasceu, papai?

— Sim, é verdade. Mas eu imagino que ela era mais parecida comigo. Você pode ver que eu não pareço muito com meu pai – ele indica o homem de braços cruzados e cabelos e barba grisalhos.

— Sim papai. Eu acho que meu avô pai da minha mãe humana também parecia com você.

— Parecia?

— Ele faleceu há dois anos. Eu ajudava a cuidar dele, dava até comida na boca para ele, porque ele estava muito doente, coitado! Eu olhava nos olhos dele, o jeito que ele olhava para mim... Era tão bom. Acho que eu tenho essa vocação de cuidar das pessoas - os olhos azuis dele me fazem imaginar como eram os de Carlisle. A cor da paz e da serenidade.

— Filha, você é ainda mais incrível e linda do que nós imaginávamos. Não sabíamos que você era tão altruísta e sensível – Carlisle me olha com outros olhos como se me visse pela primeira vez. – Mas o que ele tinha, querida?

— Era Parkinson, ele estava tão magro e fraquinho!  - lembro que uma vez eu vi seus ossos tão aparentes que me assustou, ele parecia um esqueleto ambulante. Na verdade todos nós humanos somos, mas nossos ossos não costumam ficar tão aparentes. Eu lembro que chorei, era um sinal da morte iminente. Todos nós humanos sabemos que vamos morrer um dia, mas assim tão evidente foi horrível de ver. Não que ele tenha culpa, claro que não fez por querer. Se ele pudesse com certeza teria evitado. Mas coitado!

Lembro-me que um dia antes de morrer ele quis colocar uma calça para sair, mas a cinta não conseguia segurar a roupa e a calça caia de tão magro que ele estava. Bem diferente de uma foto mais antiga de quando eu era criança em que ele aparece mais saudável e robusto. Mas não deixávamos ele sair do portão. Porém, um dia ele escapou e caiu no meio da rua. Sorte que não era movimentada.

 - Ele não conseguia andar, mal podia ficar de pé; mas insistia em sair de casa. Eu lembro que o ajudava a lavar os pés. Diversas vezes eu ajudei a levantá-lo também. Mas o pai da minha mãe não foi o primeiro avô que eu ajudei a cuidar. Eu também cuidei do pai do meu pai – apesar de tudo que meu pai fez comigo, meu avô não tinha culpa. Bem, ter ele tinha, porque do jeito que criou meu pai ele tem culpa sim, mas eu não deixei isso me influenciar na decisão. – Eu tinha 14 anos quando morei com ele numa cidade vizinha por dois meses. Eu vinha para a escola todos os dias de ônibus e acordava às 5:45.

— Carol, você é uma menina maravilhosa! – papai exclama deslumbrado e orgulhoso.

Eu enrubesço e agradeço.

— Obrigada. Obrigada também por ter me aceitado. Confesso que eu tinha mais receio de você não me aceitar porque você não me conhecia tanto como mamãe.

— Ela sempre me falou sobre você, eu sei que não deveria dizer por causa do sigilo profissional, mas eu também sei guardar segredo e ninguém mais sabe, só nossa família, você sabe que Edward é um telepata e não dá para esconder algo por muito tempo dele. - eu faço um gesto de concordância que o compreendo e desculpo, sei que ele não fez por mal. Ele jamais faria algo com má intenção. - E mesmo que não tivesse dito nada, eu acredito nela. Como eu não iria gostar de você se ela te amava tanto? Impossível.

— Obrigada papai. É um orgulho e uma honra que você tenha me acolhido, não vou decepcioná-lo. Vou me esforçar para não fazer nada que desagrade nem você nem mamãe.

— Tenho certeza que você vai se esforçar, filha. Eu também fico cada dia mais orgulhoso de você. Como seus pais não enxergavam a joia rara que eles tiveram a sorte de ter? Você é uma benção, criança.

— Oh papai! – eu choro emocionada pelo reconhecimento.

— Ah filha, não chore!

— Ah papai, desculpe.

— Não precisa pedir desculpas por ser sensível.

— Mas... como você tem uma foto da vovó se ela morreu quando você nasceu?

— Não é uma foto, filha. É um desenho que eu pedi para sua mãe fazer com base em minha aparência e ela transformou em uma mulher. Eu tenho alguns traços mais femininos do que masculinos. Acho que a única coisa que eu herdei do meu pai foi o cromossomo Y, o resto é tudo da minha mãe.

— Ainda bem que você não tem o temperamento do vovô. Eu lembro que você e mamãe me contaram que ele era bem irritável. Como meu pai. Como eu imagino que Charles também era.

Falar o nome do ex-marido da mamãe provocou um leve sobressalto em papai, mas ele disfarçou. Esse nome não é proibido falar aqui em casa, mas não se tocava muito nesse assunto. Sabe como é: ferida que se coça é mais difícil fica de sarar.

Mas mamãe já superou e agora não tem mais problema falar nele. É apenas falar, nada mais do que isso. Sei que ela ainda lembra de Collin toda vez que ouve o nome do ex-marido (o menino foi a única coisa boa que Charles fez; mas se tornou ruim, pois o bebê morreu pouco depois de nascer – nem isso ele fez direito, ele provocou a morte do próprio filho por ter espancado tanto a esposa. Agora não importa muito a culpa de quem é, mas foi ele, o que aconteceu, aconteceu, independente do culpado - , isso deixou Esme arrasada e a levou a cometer suicídio), mas sei também que ela nunca vai esquecer o primeiro filho.

Eu nem quero que ela esqueça, nem poderia pedir-lhe isso. Nenhuma mãe jamais esquece o filho (será que minha mãe humana ainda pensa em mim?). Eu gosto do meu irmãozinho mesmo sem nunca tê-lo conhecido. Ele poderia ser meu avô se estivesse vivo agora (o que me lembra que mamãe teria morrido talvez vinte anos antes de eu nascer se fosse humana), ele não seria mais tão pequeno. Mas como a mãe dele é também minha mãe, seríamos irmãos.

— Eu acho que meu pai via a minha mãe quando olhava para mim. Ele me culpava por ter matado-a, por isso ele me odiava – explica Carlisle.

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— Quantos anos sua mãe tinha quando teve você papai?

— Acho que tinha vinte anos aproximadamente.

— Você não matou a vovó, pai. Acho que o vovô era muito mais velho do que ela. Não sou médica, não faço ideia o que aconteceu; mas a culpa não foi sua.

— Foi por isso também que eu quis ser médico. Para ver se eu descobria qual foi a provável causa da morte de minha mãe.

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— E você descobriu?

— Não. Só tenho uma suspeita, mas algumas mulheres sempre morrem quando os filhos nascem ou pouco tempo depois. Isso é natural, a natureza é assim. Mas qual o motivo? Eu queria saber. Eu não posso fazer um exame de DNA em mim para saber se eu tinha algo errado que matou minha mãe. Agora eu não sou mais humano. Não sei se  havia algo com ela ou com meu pai. Não saber é muito ruim.

— De qualquer maneira papai, não se culpe. O vovô poderia pensar que a culpa era sua, mas e se foi por causa dele? Ou nenhum de vocês? Foi o destino? Ou, sei lá, as condições da época que não eram muito boas? Ele poderia culpá-lo mas não considere que a culpa é sua, pai.

— Talvez você tenha razão... A época não era muito favorável. Não apenas minha mãe morreu durante o parto, mas diversas mulheres também morreram ao dar à luz durante o século XVII.

— Mas o retrato do vovô parece diferente, por quê?

— Fui eu quem desenhei baseado em minhas memórias turvas. Você pode perceber que ele é bem mais velho do que minha mãe, pois eu desenhei a minha última lembrança dele quando ele já estava idoso.

— Eu sei, foi quando ele mandou você caçar os monstros no lugar dele.

— Na verdade foi um pouco antes. Não era a primeira vez que eu fazia aquilo. Eu era esperto. Muito, muito, até demais para meu próprio bem. Talvez foi por isso que eu encontrei vampiros de verdade nos esgotos da cidade... E acabei me tornando um também.

[Papai é tão inteligente como eu. Mamãe também é, pois ela é professora e sabe muitas coisas.]

— E assim começou nossa família.

— Sim, querida. Apesar do ataque que eu sofri, não deixei que isso me tornasse ruim. Eu percebi no que tinha me transformado, eu era um vampiro, mas isso não queria dizer que eu teria que ser mau.

— Que bom que você pensou assim.

Penso que isso é muito por causa da formação religiosa de Carlisle. Uma pessoa com menos fé não teria se preocupado com o que faria.

— Eu me escondi para não atacar as pessoas. Até que um dia em frente duma caverna em que eu estava escondido passou um rebanho de cervos e eu os ataquei, pois estava sedento. Assim eu percebi que poderia sobreviver com o sangue de animais e não matar seres humanos.

— Papai, você é incrível! Admiro você muito, cada dia mais.

— Então eu estudei e me tornei um médico para salvar vidas ao invés de tirá-las.

— Papai, você é muito modesto. Você não é apenas um médico. É um excelente médico. E um pai maravilhoso também – eu lhe dou um beijo na bochecha.

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Nesse momento Esme entra no escritório sem bater na porta antes, ela nem precisa, e o aroma da comida entra na sala. Ela preparou o almoço enquanto eu conversava com Carlisle e vem me chamar:

— O almoço está pronto, filha.

Meu estômago ronca como se tivesse ouvido e nós três sorrimos.

...XXX...


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