Equinox escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 16
Capítulo 96


Notas iniciais do capítulo

fotos do capítulo 96:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1700113020023974&set=pcb.1700121276689815&type=3&theater



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753346/chapter/16

8 de janeiro de 2008

Hoje eu acordei me sentindo muito desconfortável com uma sensação característica e quando eu fui ao banheiro percebi do que se tratava. Acordei bem na hora antes de o sangue sujar a minha calcinha. Foi por um triz. Estou cada vez mais alerta com isso, já que é inevitável vou tentando me adaptar, mas ainda detesto isso! Só Deus sabe o quanto.

Pego então um pacote de absorventes no armário que foram comprados exatamente para mim caso eu precisasse, pois só eu poderia precisar disso mesmo. Apesar de estarmos em duas mulheres aqui na ilha, na verdade uma, porque eu ainda sou uma menina, é claro que Esme não teria que usar e comprou só por minha causa.

Eu gostaria que não fosse necessário, mas eu não posso evitar mesmo que eu não goste disso; eu ainda sou humana e é normal ocorrer.

Quero me tornar uma vampira logo também por causa disso, para me livrar desse incomodo mensal que vem sem pedir. Sim, é claro que nós mulheres sabemos que vem sem falha, e se falha há algo diferente, mas não sabemos quando. A não ser aquelas sortudas que tem o ciclo regular. Mas saber para que não faz com que deixe de ser desconfortável essa situação.

Termino de me limpar e troco de roupa. Depois vou ate a cozinha ao encontro de Esme. O aroma de pão quentinho inunda a atmosfera e eu sigo o cheiro quase instintivamente. Fico com água na boca só de imaginar o que ela está fazendo para mim.

— Bom dia, querida! – mamãe me saúda. – Dormiu bem?

Image 1

— Sim, mãe. Na medida do possível, apenas agora que eu acordei com isso. Você sabe o que está acontecendo comigo... – tento ser mais esperta e dizer que sei que ela sabe.

— Mas eu não queria falar disso com você porque eu sei que você não gosta de falar sobre esse assunto – ela se mostra ainda mais adiantada do que eu pensava.

Image 2

— Está sentindo dor, querida? – ela interpreta minha quase rispidez como sofrimento.

— Não; ainda não, mãe – eu sinto um leve desconforto, mas não digo.

— Tudo bem, querida, não há nada errado admitir que precisa de medicamentos. Não precisa mentir para mim.

— Não estou mentindo, mãe – tento a melhor expressão de verdade que eu consigo. Não sou boa atriz, ela sabe que eu não estou bem, mas mesmo assim não insiste.

— Eu trouxe alguns analgésicos da farmácia para quando você precisar. Se quiser é só pedir - Esme foi ao continente caçar antes de ontem à noite enquanto eu dormia e aproveitou a viagem para comprar algumas coisas que ela sabia que eu iria precisar logo. – Seu desjejum está quase pronto, sweetie.

O cheiro do sanduíche preenche toda a cozinha, abre completamente meu apetite e me deixa salivando. Meu estômago ronca e ambas sorrimos.

— Ah! Quanto tempo que eu não como bauru. Obrigado, mãe!

Image 3

— De nada, querida! Fico realmente feliz ao vê-la contente.

Ela coloca o pão em um prato na minha frente da bancada. O queijo está exatamente do jeito que puxa quando nós mordemos:

— Delicioso! – digo ao engolir o primeiro bocado.

— Obrigada sweetie! - Ela toca meu queixo com a ponta dos dedos roçando bem delicadamente a minha pele.

Image 4

Sorrio ao sentir o arrepio provocado pelo gesto de afeto e ela também sorri ao ver meus olhos brilhando de contentamento.

Image 5

...XXX...

 

Depois do almoço voltamos para o meu quarto e Esme deita na minha cama. Ela sabe que com isso eu não tenho disposição de ficar andando por aí, fico cansada e quero só ficar em paz. Mamãe abre os braços me chamando para me aconchegar em seu colo:

— Vem, filha!

— Já vou, mãe. Só um instante – digo e me viro para ir ao banheiro.

Levo apenas alguns minutos para me ajeitar e, claro que eu lavo muito bem as mãos depois de usar o vaso sanitário, pois não quero que ela sinta qualquer vestígio do cheiro de sangue. Lavo os pulsos até, para ter certeza de que fiz uma boa higiene.

Escovo os dentes até meu hálito ficar refrescante com sabor de hortelã. E me sinto segura para voltar ao quarto e encontrar mamãe.

Quando eu chego ao cômodo encontro Esme ainda na mesma posição que a deixei me esperando. É como se ela estivesse brincando de estátua. Se fosse o caso, ela com certeza não teria qualquer problema e se sairia bem melhor do que eu quando tentava ficar imóvel. Eu sempre perdia nesse jogo.

Ela parece tão petrificada, a única coisa que demonstra que ela não está paralisada são seus olhos de um dourado intenso que me acompanham assim que eu entro em seu campo de visão. Talvez ela já sabia bem antes que eu estava chegando por causa do meu cheiro ou por causa do abrir e fechar da porta do banheiro, mas eu não vi a sua reação antes porque eu não estava presente ali no quarto.

— Você está bastante perfumada, filha.

— Não quero que você tenha problemas com o cheiro, caso eu não lave a mão direito.

— Oh querida! Obrigada pela preocupação comigo.

Fico constrangida e olho para o chão.

Image 6

— Você não está com medo de mim, está, filha?

— Eu não estou – sei que eu poderia mesmo estar porque ela quase me atacou mês passado, mas não estou. Talvez... Talvez eu esteja sim com um pouco. – Eu sei que antes de ser vampira você é mãe.

Oh my baby girl!— Esme me abraça e me puxa para cima, para mais perto de si.

— Mamãe... posso fazer uma pergunta?

— Claro que sim, filha. Se eu puder, respondo.

— Se papai transformou você com 26 anos em 1921, então foi no final do ano?!

— Exato.

— Que dia? – Eu sei que é uma lembrança triste também por causa da morte de meu irmãozinho Collin. – Não quero que fique triste por lembrar.

Eu fico triste quando ela está triste da mesma forma que fico feliz se ela está feliz. De maneira geral eu sinto o que ela sente, tristeza, alegria ou preocupação. Nossa ligação é sobrenatural. Inexplicável.

— Carlisle me transformou na manhã do dia 24 de outubro e eu acordei na noite do dia 26 de outubro de 1921.

— Então meu irmão nasceu...

Olho para cima e a encaro. Ficamos nos entreolhando por alguns instantes assim até que eu consigo terminar a frase que eu deixei suspensa:

— Ele nasceu dia 21 de outubro como eu?

Image 7

— Sim, querida. Foi muita coincidência quando ouvi você dizer, eu não fazia ideia e quando soube fiquei tão feliz que guardei esse segredo para mim. Nem Carlisle pareceu desconfiar. Ele pensava que meu filho havia nascido morto ou que morreu apenas poucas horas depois de seu nascimento. Mas Collin viveu quase dois dias. Talvez ele não tenha podido sobreviver fora de mim, ele não podia respirar bem sozinho, pobrezinho!

Eu sinto muito e sinto uma ligação com ele, pois eu também nasci prematura e tive que ter ajuda para respirar. Meus pulmões não estavam totalmente desenvolvidos que me permitissem viver sozinha. Eu quase morri. Fico emocionada ao compreender que eu poderia ter o mesmo destino que ele. E Esme sabe que eu fui uma recém-nascida prematura, foi um milagre que eu tenha sobrevivido – por isso admiro tanto os médicos, eles salvaram minha vida! E por esse motivo também sou fascinada por papai. Embora eu não tenha sido o que os médicos chamam de prematuro extremo. Mas ainda assim eu nasci antes do previsto então eu sou prematura.

Por um instante eu sinto uma leve compaixão pela minha mãe humana. Ela passou pelo mesmo que Esme de certa maneira. Só que ela não cuidou de mim como Esme cuida de mim e cuidou e aposto que teria cuidado de seu filho, se ele tivesse sobrevivido. Se minha mãe humana cuidou de mim foi apenas durante os primeiros meses em que eu era mais frágil e não me lembro de nada. Sei que se estou viva hoje é muito por causa dela, mas ela deixou de cuidar de mim depois que cresci. Como se eu não precisasse mais de atenção ela me deixou de lado. Não é assim que se faz com uma criança, filho é para a vida toda. Quando se tem um bebê não se pode descartá-lo como se nada fosse.

— Você poderia ter me contado, mãe! – não fiquei realmente zangada com ela, só um pouco decepcionada talvez. Como ela pensava que eu iria reagir? Ela tinha receio que eu não fosse gostar? – Claro que eu iria gostar de saber. Oh meu Deus!

— Não pensei que precisava te contar antes da mudança. Eu iria contar para você um dia, talvez quando fossemos ao túmulo dele. Você iria ver por si mesma se não tivesse chegado à essa conclusão. Você sabe que é muito inteligente filha! – diz mamãe transbordando com orgulho materno.

— Eu pensava que nossa única ligação era que nós duas somos librianas, mas é muito mais do que apenas isso. Fico feliz em saber que vai muito mais além. Saber que meu irmãozinho nasceu no mesmo dia que eu, é muito emocionante. Dentre as milhares de pessoas que nasceram nesse dia, eu fui a escolhida. Por quê?

— Você gosta de nós mesmo sabendo o que nós somos realmente. Poucas pessoas nos compreenderiam dessa maneira – diz Esme.

— Vocês são vampiros, mas não é diferente de nenhuma outra pessoa. Vocês são humanos mais do que muitos e ainda lutam para se manter assim. Muitas pessoas se fossem vampiras não se dariam esse trabalho e deixariam seus instintos as dominarem. Vocês são as pessoas que eram antes de serem vampiros, a única diferença é que não morrem mais tão facilmente como nós humanos.

— E nos alimentamos de sangue para sobreviver.

— Mas sangue animal. Vocês são vampiros corretos, vampiros bons.

— Obrigada sweetie. Você é tão condescendente conosco.

— Er... essa data não a deixa triste, mãe?

— Na verdade não. Não se preocupe comigo, querida; eu estou bem. O dia triste para mim é dia 23 de outubro e não dia 21. Esse foi o dia em que meu filho nasceu e foi um dos dias mais felizes da minha vida. Esse, o dia em que conheci Carlisle, o dia em que acordei para revê-lo e o dia do nosso casamento.

‘Eu só descobri que meu filho tinha morrido na manhã seguinte, dia 24 de outubro de 1921. Foi desolador. Por isso eu pulei do penhasco e Carlisle me salvou me transformando em vampira também assim como ele e depois nós dois nos casamos. Isso me deixou muito feliz, eu sempre quis reencontrar com ele e ser sua esposa. Eu pensava que ele já estaria casado a essa altura, mas por sorte ele não estava.

‘Eu não fiquei muito contrariada por ter me tornado uma vampira, eu sei que eu não poderia ter sobrevivido de outra maneira, eu queria me matar naquela época, foi minha escolha e acho que por isso que é diferente dos outros, principalmente de minha filha Rosalie. Eu não esperava viver mais, queria acabar com a minha vida e sabia o que estava fazendo, por isso não tive grande dificuldade em aceitar minha nova condição como vampira.

‘É claro que seria ainda melhor se meu filho Collin estivesse conosco, se Carlisle pudesse tê-lo salvo de alguma maneira. Mas acredito que foi melhor assim, ele não poderia fazer nada para salvar meu bebê e seria muita crueldade transformar uma criança em imortal. Se a dor é quase insuportável para nós, imagine submeter um bebê a isso! Seria muito cruel.

‘No entanto, infelizmente Collin já estava morto quando o encontrei ainda no berço. Eu pensei que estivesse dormindo, mas ele não acordou quando toquei nele. Então peguei ele no colo e aproximei seu rosto do meu. Ele estava gelado e não havia respiração e nem batimentos cardíacos. Ele estava morto! Quando eu entendi isso foi como se meu peito tivesse sido rasgado ao meio e um grito pungente de dor irrompeu por minha garganta:

“Collin! – caí de joelhos- Não, Meu Deus! Não, não pode ser. Collin!”

‘Então tive uma ideia.

‘Levei meu pequeno bebezinho comigo até a borda do precipício e antes de saltar dei um beijo na sua testa pela última vez e o coloquei no chão. A princípio a sensação foi como voar, acho que os pássaros devem se sentir assim. Eu estava livre, finalmente livre. Mesmo que minha vida tivesse que acabar, eu não me importava, não havia mais razão que me prendesse a terra então eu buscava o céu. Eu queria reencontrar meu filho e ir para onde ele foi, pois ele era minha razão de viver desde que soube que estava grávida.

Image 8

 ‘Até que, não demorou muito e a gravidade começou a fazer seu papel e me puxar para o centro da terra, eu parei de subir e comecei a cair. O impacto não demorou muito, os meus dois joelhos se abriram devido á força da queda e eu desmaiei de dor. Não sei se acordei alguns minutos ou horas depois, eu estava agonizando.

‘Por que a morte estava demorando tanto para me levar? É assim, quando se anseia por ela, ela demora, e quando não se espera, ela vem a galope. Eu sabia que era apenas questão de tempo até a Morte chegar e só me restava esperar pacientemente. Eu não queria ter de esperar e por isso decidi morrer logo dessa maneira e não por fome, eu queria ser rápida, não queria ficar longe de meu filho nem mais um minuto.

‘A extensão das lesões no meu corpo e a gravidade delas não demoraria a me dar o que eu queria, o tão almejado descanso eterno. Eu podia ver a luz se aproximando. Tudo era branco ao meu redor...

...XXX...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Equinox" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.