Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 8
Capítulo 8 - She's a Rebel




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Ela é um problema

Como eu sou um problema?

(She's a Rebel, Green Day)

 

Miranda chegou à casa de Christopher depois da meia noite. Esperou o porteiro interfonar para o apartamento do homem com medo. Ele era amigo de seu pai. Será que ele iria contar para ele? Se isso acontecesse, Miranda se sentiria traída e enganada. Seu pai iria mandar alguém buscá-la e a fuga teria acabado em menos de seis horas. O porteiro disse para Miranda subir no apartamento. Ela subiu pelo elevador se olhando no espelho. Estava acabada: as roupas amassadas e o cabelo completamente bagunçado, mas seu olhar estava até mais brilhante que o normal. O elevador parou na frente de um apartamento com a porta branca e uma mesinha de madeira com uma vela decorada ao lado. Ela bateu na porta e esperou. A mulher de Christopher, Marissa, abriu-a com um sorriso.

—Olá, Miranda. É ótimo revê-la.

Ela a cumprimentou com um beijinho e abriu espaço para Miranda entrar. Era uma casa bonita e não muito espaçosa, com as paredes pintadas de tons escuros e a mesa de jantar grande, além de um lindo tapete estampado no chão. Christopher estava vestindo um pijama listrado e pantufas, lendo um jornal no sofá da sala. Não havia sinal de Thomas no recinto.

—Oi Miranda. Fiquei muito surpreso quando o porteiro de anunciou. –Christopher disse, se levantando para cumprimentá-la.

—Oi. –Ela disse. Estava incrivelmente cansada. –Eu... Fugi.

—Fugiu do hotel? -Marissa perguntou surpresa.

—Era horrível ficar presa naquele lugar. –Miranda disse estremecendo.

—Imagino. –Christopher disse.

—Escute, não tenho lugar para ficar. Será que poderia ficar aqui por um tempo? –Ela perguntou. Ela não sabia o que iria fazer depois desse ‘tempo’. Não tinha nenhum lugar para ir, e não pretendia voltar para o hotel do pai tão cedo.

—Claro. –Ele disse coçando a cabeça. -Mas Thomas não mora aqui.

—Não? –Ela perguntou surpresa.

—Não, ele mora com a mãe, um pouco longe daqui. Marissa, querida, anote o endereço para ela. Você pode ir até lá. Eles te acolherão bem também.

—Obrigada. Por favor, não conte nada ao meu pai. Ele não sabe onde estou.

—Ele vai ficar preocupado.

—Eu sei. Vou ligar depois para dizer que estou bem. –Não era mentira. Miranda planejava ligar em breve, apenas não iria dizer onde estava. Marissa voltou com um pedaço de papel. Lembrando-se de Tati, perguntou: -Posso utilizar o telefone?

—Claro. –Marissa disse e indicou um telefone vermelho brilhante com uma rodinha com números em volta em uma mesa no corredor. Miranda demorou a entender como funcionava, mas conseguiu ligar para Tati depois de um pouco de esforço. -Alô?

—Quem fala?

—Tati? Sou eu, Miranda.

Silêncio por alguns segundos. Tati sussurrou. –Tive que sair da recepção. Todos já perceberam que você sumiu. Seu pai está prestes a explodir. Ele ordenou que todos saíssem à sua procura imediatamente.

—Ai meu Deus. Você vai ficar bem?

—Vou dar um jeito. Você conseguiu chegar até a casa de Christopher?

—Sim. Vou atrás de Thomas agora. Obrigada por tudo novamente.

—Não foi nada, querida. Tenho que desligar agora. Ligue mais tarde para me dar notícias. –Tati deu um beijo estalado no telefone antes de desligar. Miranda colocou o fone no gancho e correu de volta até a sala.

—Já fiz minha ligação. Obrigada. Obrigada por isso também. –Miranda disse pegando o pedaço de papel como o endereço da casa da mãe de Thomas. Ela pegou a mala afobada e se despediu do casal.

—Você pode dormir aqui hoje se quiser. –Marissa disse. –Já está bem tarde.

—Não precisa.

—Quer uma carona? –Christopher perguntou quando Miranda estava quase na saída.

—Não. Mas eu agradeceria se vocês chamassem um táxi.

 

Miranda chegou na casa de Thomas depois de um trem, dois ônibus e um táxi. Estava morta quando tocou a campainha da casa simples e baixa, com um carro estacionado na garagem aberta. Thomas abriu a porta e, assim que seus olhos registraram o que ele estava vendo, seu queixo caiu. Miranda o empurrou de leve para poder entrar na casa com sua mala de rodinhas. Ainda não estava totalmente crente no que havia acabado de fazer, mas não ligava. A única coisa que ela queria era algum lugar para se deitar e dormir por várias horas a fio. Um garoto que ela não conhecia, mas que Thomas tinha descrito como sendo seu melhor amigo, estava sentado no sofá da sala, tomando uma latinha de cerveja. Ele se chamava Alex, ela sabia, pela alta estatura e o moicano preto na cabeça. Ele olhou surpreso para Miranda.

—O que é isso? –Thomas perguntou, fechando a porta com um estrondo e correndo para a sala.

—Quem é você? –Alex perguntou.

—Quem é você? –Miranda perguntou de volta, para perceber depois que já sabia quem ele era.

—Eu perguntei primeiro. 

—Esse é Alex. Eu falei dele pra você. –Thomas disse. –O que você está fazendo aqui, Miranda? 

—Como assim? Eu vim para a festa de amanhã.

—Opa. Eu também vou. –Alex disse.  

—Garota, você é completamente louca. Como você chegou aqui? –Thomas perguntou.

—Dei um jeito. Estou cansada. Quero dormir. Quando eu acordar, quero comida. E o ingresso da festa de amanhã. Boa noite. –Miranda disse, jogando-se no sofá comprido da sala, do lado oposto ao de Alex. Thomas olhou para o céu, rezando para que nada desse errado e a polícia não aparecesse durante a noite para interrogá-lo.

 

Quando Miranda acordou, uma mulher bonita, com cabelos castanhos avermelhados presos em um coque e vestindo um short velho e uma camisa social estava andando para lá e para cá na sala, limpando os móveis com um espanador.

—Olá. –Miranda disse, olhando para a mulher com seus grandes olhos azuis. Ela não sabia por quanto tempo havia dormido, nem que horas eram, mas se sentia totalmente recuperada da viagem.

—Bom dia, querida! –A mulher desconhecida disse e sorriu. Ela parecia nova. –Sou a mãe de Thomas, Laís. É um prazer conhecê-la. –Ela foi até Miranda e a cumprimentou.

—Desculpe por ter dormido no seu sofá. –Miranda disse levemente envergonhada.

—Não foi nada. Thomas levou suas coisas para o quarto. Ele já saiu, mas deve voltar até a hora do almoço. Você pode dormir no quarto dele a partir de agora. Thomas se contenta com o sofá. –Ela disse dando uma risadinha. –Ah! Eu fiz pudim de leite. Quer?

—Eu adoraria. –Miranda disse, se levantando. Estava morrendo de fome. Entretanto, assim que se levantou, percebeu como suas roupas estavam sujas e amassadas. –Mas acho que prefiro tomar um banho e colocar roupas limpas primeiro.

—Claro. Pode usar o meu banheiro, ali, virando o corredor na segunda porta à direta.

—Obrigada. –Miranda agradeceu sorridente e correu até o quarto de Thomas para pegar uma muda de roupas. O quarto era pequeno, mas aconchegante. As paredes tinham cores neutras e a cama era de casal. Havia uma mesa com alguns materiais escolares jogados e um armário com um espelho na frente. Thomas e a mãe pareciam ser pessoas simples. A casa de Christopher não era gigante nem luxuosa, mas era bem moderna e futurista. Miranda gostara das duas. Sua casa era apenas um quarto de hotel antiquado e rose. Não que ela não gostasse dos tons de rosa que decoravam tudo dentro do quarto em que ela dormia, mas... Queria experimentar coisas novas. Ela foi até sua mala apoiada na mesa e tirou de lá um vestido lilás e meias brancas compridas. Percebeu que havia se esquecido de pegar seus xampus e condicionadores caríssimos, mas não se importou. Ela conseguiria se virar, mesmo sem sua empregada para limpar seus cabelos.

 

Max chegou em casa às cinco da manhã. Não estava bêbado, mas cheirava a cigarro e a garotas. Havia saído do trabalho às onze da noite e seguido direto até o bar que costumava encontrar os amigos. Lagarto tinha se metido em uma briga por causa de uma garrafa de cerveja supostamente trocada e todos tiveram que dar alguns socos em o que parecia ser uma gangue de caras fortes e sem cérebro. Quando os amigos resolveram abortar a missão e bater em retirada, Nik chamou Max de canto e entregou para ele um ingresso para uma festa que aconteceria no outro dia.

—Cheguei em casa. –Max disse prendendo o telefone entre o ouvido e o ombro enquanto trancava a porta do apartamento.

—Ainda bem. Sério, Lagarto é um pé no saco. –Pedro reclamou do outro lado da linha.

—É, mas ele é um pé no saco maneiro. Você vai na festa de hoje?

—Que festa?

—Daquela garota amiga do Nik, uma tal de Vanessa.

—Aquela gostosa que deu a outra festa que a gente encontrou Luke?

—É.

—Eu não fui convidado.

—É aniversário dela, acho.

—Nik foi chamado?

—Ele disse que ela pediu para me chamar. Achei que tivesse chamado você e Lagarto também.

—No caso, não. Acho que ela te achou gostosinho.

—Cala a boca, cara. –Max foi até a cozinha e fez um café.

—Eu não vou não, mano. Mas vai você e Nik. Vou ficar jogando.

—Achei que você tivesse prova na segunda.

—Eu tenho. E eu não ligo. Ei, Nik não disse que iria com o pai para o Maranhão esse fim de semana?

—Puta merda, é verdade. Tinha me esquecido completamente. –Max pegou o copo térmico com café e o levou até seu quarto.

—Vai você sozinho na festa, então. Quem sabe você não pega aquele pitel?

—Cara, fica quieto. –Max disse rindo. Apesar de tudo, ele não achava que curtiria ficar com Vanessa. Era uma loira fútil, que vivia correndo atrás de Thomas quando ele ainda não namorava com Isa.

—Hoje à tarde eu vou passar no Lagarto pra ver como ele tá, ok? –Pedro disse. Lagarto era o que mais tinha apanhado, afinal, fora ele quem começara a briga toda. Mesmo com todas as brigas, Pedro ainda se importava com o amigo.

—Tá bom. Mande notícias. Vou desligar. Falou.

—Tchau. –Pedro desligou e Max jogou o celular na cama. Colocou o copo em cima da mesa ao lado de uma luminária acesa e um maço de papéis. O chefe havia viajado para São Paulo para cuidar de negócios e deixara Max no comando do restaurante por um tempo. O que era ótimo, pois assim ele conseguiria impressionar e chamar mais a atenção dos caras importantes. O restaurante no qual Max trabalhava era um bem conhecido, com várias unidades ao redor do país, e Max sonhava em conseguir um posto melhor e ser transferido para outra unidade, principalmente se fosse em uma cidade grande. Max trabalhava no restaurante desde que este inaugurara, e já era responsável por coisas mais importantes no estabelecimento. Além disso, o chefe o adorava. Deixando os pensamentos grandiosos sobre o futuro, Max pegou sua caneta e começou a escrever relatórios e planejamentos. Hora de trabalhar.


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