Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 9
Capítulo 9 - Blue Jeans




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Você era meio punk rock

Eu cresci no hip hop

Mas você combina mais comigo do que meu suéter favorito

E eu sei, esse amor é malvado, e o amor machuca

Mas eu ainda me lembro daquele dia

Em que nos conhecemos em dezembro, oh, querido

(Blue Jeans, Lana del Rey)

 

Max estava apoiado em um balcão dentro do salão onde a festa de Vanessa estava acontecendo. Era um salão grande, com sofás confortáveis, uma pista de dança cheia e dois balcões que serviam bebidas sem parar. Max tinha chegado cedo com seu carro, e pegara um lugar privilegiado perto do balcão, apesar de que ele não podia abusar da bebida aquela noite. Como estava sozinho e voltaria dirigindo, teria que se contentar com copos de água e de refrigerante gelado. Mas Max estava achando um porre. As únicas músicas que tocavam eram funks que o deixavam entediado, ele não conhecia ninguém daquele lugar, e não podia beber. Há muito tempo Max não conseguia se divertir sem bebida. Ele pensou em ficar por mais quinze minutos para ver se pelo menos conseguia cantar alguma garota para leva-la para cama e depois iria embora, ficar bêbado em casa. Viu Vanessa parar perto dele para pegar uma bebida no balcão e se inclinou para falar com ela.

—Festa maneira. –Ele disse em voz baixa. Vanessa o olhou. Ela estava com um shorts preto curto e uma espécie de top de couro, além de saltos vermelhos.

—Oi Max. –Ela disse sorrindo. –Não sabia se você vinha. Que bom que recebeu meu convite.

—Pois é. Nik me entregou. Mas ele não veio, foi viajar com o pai.

—Ah, ele me disse. Bem, de qualquer forma, aproveite a festa. –Ela jogou um beijo para ele e saiu de perto dele com a bebida em mãos. Ainda não estava bêbada o suficiente para dar mole para Max. Ele voltou a se recostar no balcão, entediado. Então viu alguém conhecido passando pela porta do salão. Thomas, que era mais alto que a maioria das pessoas, entrou com as mãos nos bolsos da calça jeans. Estava parecendo relaxado com sua camiseta verde musgo. Ele avistou Max e começou a andar até ele.

—E aí Thomas? –Max disse quando o garoto chegou perto, cumprimentando-o com um aperto de mão. Max então viu uma garota atrás de Thomas, como se eles estivessem juntos. Ela era pequena, com volumosos cabelos loiros e olhos azuis escuros. Estava com um vestido preto justo e bonito. Max franziu o cenho e se sentiu impelido a observar todos os detalhes dela. A forma como ela sorria como se não conseguisse parar e como ela parecia animada, olhando para os lados e saltitando de leve enquanto andava, a maneira como ela andava com as costas eretas e o modo que os dedos tocavam o vestido continuamente, como se estivesse procurando por algo que não estava ali. –Quem é essa? –Perguntou para Thomas.

—Eu sou Miranda. Prazer. –A garota se adiantou em dizer, passando na frente de Thomas, com um sorriso no rosto e a mão estendida.

—Oi. Eu sou Max. –Ele disse, apertando a mão de Miranda de leve, como se tivesse medo de quebrar algo tão delicado.

—Max é amigo de Isa. –Thomas explicou.

Miranda estava achando tudo uma grande novidade. O ambiente estava escuro, mas luzes coloridas permitiam que ela visse tudo claramente, desde as pessoas dançando fervorosamente no centro do salão, até os mínimos detalhes do rosto e das roupas de Max. O novo amigo de Thomas era tão diferente de tudo o que ela já vira antes. Ficou encantada com os piercings que ele tinha no rosto, dois espinhos pretos, em cima e embaixo da sobrancelha grossa, uma argola prateada que passava por uma das narinas, e um no meio dos lábios inferiores. Ele estava vestindo uma camiseta preta de gola redonda com a estampa de algo que Miranda supunha se tratar de uma banda que ela não conhecia, uma bermuda militar larga, que ia até a altura dos joelhos, e tênis marrons de trilha, além de uma jaqueta de couro pendurada no ombro. Com os braços desnudos, dezenas de tatuagens coloridas ficavam a mostra nos braços musculosos de Max. Miranda nunca tinha visto alguém usar um piercing na vida real, e raramente via tatuagens tão bonitas quanto as que ele tinha, desde o pescoço até os nós dos dedos. Miranda tentou desviar o olhar, ciente e que deveria parecer uma aberração encarando-o dessa forma, mas não conseguiu. Queria registrar todos os detalhes. Max tinha três furos na orelha direita, onde três brincos pretos idênticos estavam pendurados, o maxilar era quadrado, os cabelos muito curtos, raspados próximos ao couro cabeludo e os olhos eram os mais escuros que Miranda já vira.  Quando ele se movia, correntes de prata faziam barulhos, penduradas na bermuda, e ele usava uma pulseira com espinhos no pulso esquerdo como único acessório. Sem conseguir controlar a própria mão, Miranda estendeu o braço em direção ao rosto de Max. –Isso é um piercing? –Ela perguntou, quase tocando a argola no lábio dele, mas pareceu se dar conta do que estava fazendo e recolheu a mão, envergonhada. Sorriu para tentar amenizar o clima estranho, mas Max não parecia incomodado. Ele sorriu de volta e levantou uma sobrancelha.

—Miranda é de Belho Horizonte. É a primeira vez que ela saiu de lá. –Thomas disse, também estranhando a atitude da garota. 

—Na moral? Da hora. –Ele disse. Max também nunca tinha saído de sua cidade natal até fugir de casa, e achara tudo uma grande aventura.

—É. Mas isso não quer dizer que eu nunca tenha namorado. Tipo, não. Não mesmo. –Miranda disse, como se sentisse na obrigação de dizer a Max que não era uma amadora, apesar de claramente ser uma. Thomas revirou os olhos. Max apenas sorriu.

—Legal. Quer uma bebida?

—Ela tem 16. –Thomas disse.

—Não tem problema. –Miranda falou rapidamente. –É quase 17. Tipo quase. E eu já estou acostumada a beber. –Era uma mentira.

—Certo. Nada de bebidas. –Max falou, observando a reação de Thomas. Ele mesmo não poderia beber naquela noite.

—Ah, não! Thomas, saia daqui! Você vai estragar minha noite. –Miranda disse e Thomas olhou para ela, indignado.

—É assim que você me agradece, sua ingrata? Tudo bem. Fique aí então. Mas eu não gosto de levar bêbado pra casa. Ele disse e ela lhe deu língua. Max deu uma risada e Thomas foi embora. Miranda mal percebeu. Ela continuou, o mais discretamente possível, examinando cada centímetro de Max. Então Miranda percebeu que Thomas se foi e olhou ao redor, confusa. Emitiu um gemido.

—Espero que ele não fique bravo comigo de verdade. –Ela disse baixinho. Miranda iria dormir na casa de Thomas nos próximos dias, e não podia deixar que o garoto se irritasse com ela.

Max deu um gole de algo que estava tomando e olhou para Miranda. –Está gostando daqui?

—Cheguei ontem. Ainda não conheci a cidade, mas ela parece ser legal. –Miranda falou corando de leve. Ela não costumava corar. No entanto, ela não costumava falar com garotos como Max. Ela nunca tinha conhecido alguém como ele, com aquele senso de moda, as tatuagens, os piercings e, principalmente, que fazia o coração dela bater descontroladamente.

—Ela é maneira. –Max disse, observando Miranda prender o cabelo em um coque bagunçado, como se estivesse com muito calor. Ele ficou inebriado com o cheiro do perfume dela. Era algo doce, com pontadas de baunilha e de flores. Resistiu ao impulso de se inclinar para chegar mais perto dela e se obrigou a continuar falando. –Posso te mostrar a cidade algum dia, se quiser. Quer dizer, quanto tempo você pretende ficar?

—Tempo indeterminado. –Ela disse após uma pausa.

—Por quê? –Ele perguntou. Max desviou o olhar de Miranda para pedir um copo de água para o homem que servia as bebidas no balcão. Entregou o copo para Miranda, que sorriu agradecida. Os dedos deles se tocaram rapidamente, e ele sentiu que ela tremia de leve.

—Eu fugi de casa. Não vou voltar por um tempo. –Ela respondeu, bebendo um grande gole de água.

—Fugiu? –Max perguntou surpreso. Ela era que nem ele. –Eu também fugi de casa.

—Sério?

—É. Quatro anos atrás.

—E você já voltou?

—Apenas para o Natal. Não pertenço àquele lugar. Prefiro cidades grandes.

—Eu também. Acho. Nunca visitei uma cidade grande, mas tenho vontade. –Ela falou, terminando de tomar o copo de água. Max queria tocar em seus dedos novamente. As mãos de Miranda eram lisas e macias, sem nenhum calo ou machucado, ao contrário das mãos ásperas e grandes de Max.

—Quer mais água? –Max perguntou. Ela negou com a cabeça e colocou o copo no balcão. Vendo-a alternar o peso do corpo de um pé para o outro, sentiu-se estúpido. –Quer se sentar?

—Pode ser.

—Tem um sofá vazio ali. –Max disse, apontando para um sofá no outro lado do salão, depois da massa de pessoas que dançava no meio da pista. Miranda olhou na direção que ele apontava e estreitou os olhos.

—Não enxergo. –Ela disse por fim. Miranda era bem mais baixa que Max, mais de vinte centímetros. Max não pensou antes de segurar a mão dela e a guiar pela multidão até o sofá. Miranda não protestou e não disse nada. Gostava da sensação da mão de Max na sua. A mão dele envolvia completamente a dela, fazendo-a se sentir segura. Assim que eles chegaram no sofá, Max soltou a mão de Miranda e indicou que ela deveria se sentar. Ela sentiu-se vazia por um segundo.

—Você tem alguma tatuagem? –Max perguntou, observando os braços nus e lisos de Miranda.

—Não. –Ela disse lentamente. –Quantas você tem?

—Parei de contar. –Max disse. –Mas tenho várias.

—Gosto delas. –Miranda disse, indicando com a cabeça os desenhos coloridos nos braços dele. Max aproximou-se da garota e estendeu os braços.

—Quer tocá-las? –Perguntou.

—Posso?

—À vontade. –Ele disse baixinho. Prendeu a respiração quando o dedo fino de Miranda tocou o ombro dele, onde um dragão chinês vermelho descia, contornando os bíceps definidos de Max. No antebraço, uma pequena galáxia, com alguns planetas, luas e estrelas, foi contornada por Miranda. Ela passou pela caveira, pelas espadas de samurai, pelas armas cruzadas no pulso e pela estrela negra partida ao meio. Max estremeceu de leve. Ela passou os dedos pelas costas da mão dele até chegar nos dedos, onde em cada nó havia uma letra preta estilizada, que formava a palavra ‘Chaos’ quando unidas. Quando Miranda terminou de examinar a última letra, do dedo mínimo, Max virou a mão e pegou a mão dela. Ela levantou os olhos para o rosto dele. Max estava acostumado a fazer esse tipo de coisa com as garotas que conhecia, mas o dedo de Miranda carregava uma eletricidade que o deixava arrepiado. Para Miranda, a pele de Max era quente como um forno. Um forno agradável em um terrível dia de frio. Essa era a sensação de tocá-lo. Ele segurou a mão de Miranda com cuidado e examinou os dedos compridos e finos da garota. A pele dela era alva como porcelana, e ela parecia frágil demais, como se fosse quebrar a qualquer movimento que Max fizesse. Ela não tentou recolher a mão.

—Você é muito diferente de todo mundo que eu já conheci. –Miranda disse baixinho. Tão baixo que ele teve que se inclinar para ouvi-la.

—Você também. –Ele respondeu, sentindo o coração bater mais rápido no peito. Era uma sensação desconhecida para ambos.

—Quantos anos você tem? –Miranda perguntou.

—Vinte. –Ele disse, ainda segurando a mão dela. Não queria soltar. Ela não se importou.

—Você é velho. –Ela disse como uma forma de provocação.

—Eu não sou velho. –Ele respondeu com um sorriso. Miranda achava o sorriso de Max intrigante. Os dentes eram muito brancos, e tinha uma espécie de selvageria naquele sorriso. –Você que é nova.

—Talvez. –Ela falou, vendo a tatuagem que aparecia no pescoço de Max. Era uma cauda verde-musgo. –O que é? –Ela perguntou, tocando as escamadas da cauda com o dedo da mão que Max não segurava. Ela sentiu ele estremecer de leve novamente.

—Um crocodilo.

—Você tem mais tatuagens?

—Tenho um morcego no peito e chamas na costela. –Ele apoiou uma perna na outra, encostando a canela de uma no joelho da outra. –Tem um navio pirata aqui. E um dinossauro aqui.

Miranda riu. –Por que o dinossauro?

Ele deu de ombros. –Gosto deles.

Miranda levantou o olhar para o rosto de Max. Ele tinha alguns pelos curtos no rosto, como se tivesse se barbeado, mas os pelos já estavam começado a crescer novamente, os lábios eram grossos e um pouco rachados. Ela ficou vermelha. –Suas tatuagens são muito bonitas.

—Você é muito bonita. –Ele disse, observando as unhas pintadas de rosa de Miranda.

—Obrigada. –Ela gaguejou de volta. Estava agindo de maneira estranha. Outros garotos já tinham dito a mesma coisa, entre eles Daniel e Victor, mas ouvir aquilo de Max era diferente. Ele estava sendo sincero.

—Você tem namorado? –Ele perguntou. Max não se importava. Mesmo se ela tivesse, não mudaria o que ele estava sentindo naquele momento.

—Hum... Não. –Ela disse, pensando no noivado que ela se recusara a aceitar.

—Por que a hesitação?

—Não hesitei. –Ela disse com firmeza.

—Gosta de alguém?

—De... você? –Ela disse baixinho, ficando vermelha. Max adorou. –Ai meu Deus. –Ela sussurrou, como se não conseguisse acreditar que realmente havia falado que gostava dele.

Max riu. –O que você está fazendo aqui? Não parece ser o tipo de garota que vai a festas.

—Eu normalmente não vou. É a primeira vez que venho em uma. Convenci Thomas a me trazer. Mas ele não estava muito animado para vir. Por causa de Isa e tudo mais.

—Como você e Thomas se conheceram? Você disse que era de BH né?

—É. Thomas e o pai se hospedaram no meu hotel.

—Seu hotel? –Max perguntou levantando uma sobrancelha.

—O hotel do meu pai, na verdade.

—Seu pai é dono de um hotel?

—Mais de um. É uma rede. –Ela disse. Max estalou a língua.

—Não devia falar tão abertamente assim sobre isso.

—Por quê? –Ela perguntou. –Por que eu fugi?

—Também. Mas principalmente porque se seu pai é dono de uma rede de hotéis, ele deve ser muito rico. Alguém pode querer te sequestrar e pedir um resgate.

—Ah. Certo. Vou me lembrar disso. –Ela disse, pensativa. Max a achou muito ingênua. Ela olhou para a mão de Max que ainda envolvia a dela.

—Mas não eu, claro. –Ele acrescentou. –Posso ser várias coisas, mas sequestrador não é uma delas.

—Ah é? Tipo o que?

—Sou garçom. –Ele disse. –Em um restaurante do shopping.

—Sério? –Miranda estava gostando de conhecer mais sobre Max. –Quantos anos você tinha quando fugiu?

—Sua idade. Porque você fugiu?

—Porque meu pai não me deixava sair do hotel.

Max franziu a testa. –Que merda. Tipo, nunca?

Ela pensou um pouco. –Talvez uma vez por ano, em ocasiões especiais.

—Que horrível. Isso é um bom motivo para fugir.

—É, mas não foi só isso. Sabe, meu pai tentava controlar tudo em minha vida. Controlava minhas saídas, as pessoas com quem eu falava, quanto eu podia gastar e todo o resto. Era bem chato.

—Parece péssimo. –Max disse, apertando de leve a mão dela. –Sinto muito.

—Bem, mas eu consegui fugir. –Ela sorriu e o coração de Max derreteu por completo. Mesmo com a vida que tinha levado durante os dezesseis anos de vida, ela parecia a pessoa mais feliz e pura que ele já vira.


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