Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 7
Capítulo 7 - Love Today


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Eu gostaria de fazer alguns avisos importantes. Bem, amanhã (dia 15) eu vou viajar e só vou voltar dia 30. Não vou levar meu computador, então não vou conseguir postar de lá, mas vou tentar agendar alguns capítulos para serem postados enquanto eu estiver fora. Vou tentar responder os comentários enquanto estiver viajando, então não se esqueçam de comentar.
É isso. Boa leitura e beijinhos.



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Estive chorando por muito tempo

Lutando contra minhas lágrimas apenas para seguir em frente

(Love Today, Mika)

 

Miranda prendeu a respiração e colocou a cabeça embaixo da água. Fechou os olhos quando eles começaram a arder por causa do sabão e tentou ficar ali o máximo possível. Não ouvia nada, não sentia nada, mas aquilo não bloqueava seus pensamentos. Ela tinha duas horas até o jantar. Daniel estaria lá, com um terno e um anel e a pediria em casamento. E ela teria que aceitar, na frente de todos os convidados, de todos os hóspedes, na frente de Júlio, Alicia e seu pai. Seu pai. Ela tirou a cabeça da água morna e encarou a parede com azulejos cor de rosa. A porta do banheiro se abriu com um estalo e Miranda viu Alicia entrar com uma toalha branca limpa nas mãos. Ela deu um gritinho.

—Você molhou o cabelo? –Alicia perguntou exasperada. Miranda olhou para ela.

—Desculpe. –Disse.

—Não era para molhar. Bom, já foi. Saia da banheira. Vou te secar.

Miranda balançou a cabeça negativamente. Não queria sair. Não podia sair.

—Qual é o problema? –Ela perguntou, sentando-se na beirada da banheira, tomando cuidado para não molhar o uniforme preto que usava. –Não está se sentindo bem?

—Não sei. –Miranda respondeu. Não sentia dor em nenhum lugar, apenas uma pontada no coração.

—Quer que eu chame o médico? –Alicia se inclinou para colocar as costas da mão na testa de Miranda, medindo sua temperatura. –Parece que não está com febre. Está enjoada? –Miranda costumava ficar doente com frequência.

Miranda se levantou lentamente da banheira e Alicia a enrolou com a toalha. Sem esperar, a garota enfiou os pés, ainda molhados, em pantufas brancas de ursinhos e saiu do banheiro. Jogou-se na cama e ficou em posição fetal. Queria chorar, mas ao mesmo tempo, sabia que teria que ser forte. Ela não tinha muitas opções no momento. Ou obedecia ao pai, como fizera desde que tinha nascido, e aceitava se casar com um garoto que ela mal conhecia, ou dava um jeito de se livrar de tudo aquilo. Ela tinha menos de duas horas agora. Alicia saiu do banheiro e olhou para Miranda. –Tem certeza que está tudo bem?

—Sim. –Ela respondeu. Miranda piscou uma vez. –Pode deixar que eu me arrumo sozinha hoje.

Alicia a olhou surpresa. –Oh.

—Quero ficar bonita para o jantar de hoje. Mas ainda não me decidi o que vou vestir. Pode ser que eu me demore. Posso te chamar depois.

—Tudo bem. Quer escolher sozinha?

—Sim.

—Por causa de Daniel? –Ela perguntou delicadamente. Miranda respirou fundo.

—Sim.

Alicia sorriu. Como sempre, animada com romances. –Vou sair. Se precisar, toque a campainha.

Assim que a governanta fechou a porta do quarto, Miranda se enrolou mais na toalha e se levantou. Tentou pensar. Ela poderia fugir. Considerara essa opção um milhão de vezes, mas nunca tinha parado para pensar nela de verdade. O pai nunca a deixaria cruzar o salão até a porta de saída sozinha. Mas ela tinha que fazer isso. Ela não iria se casar. Definitivamente. Ainda tinha muito o que fazer e lugares para conhecer. Queria se apaixonar e viver aventuras, como as que via nos filmes e livros de ficção. Ela nunca conseguiria se apaixonar por Daniel. Ele era raso e gostava apenas de comer. Fuga. Essa seria a solução. Ela teria que dar um jeito de passar pelos seguranças e pelas câmeras. Teria que fazer uma mala e conseguir suprimentos. Precisaria de um lugar para ficar. E depois? Entraria em contato com o pai? Ou ficaria sumida para sempre? Ela não sabia, mas teria de pensar.

Miranda abriu o guarda roupa rapidamente e colocou um vestido vermelho de veludo, com uma grande abertura nas costas e relativamente longo, indo até seus tornozelos. Ela não costumava usar cores escuras, mas daquela vez, tinha que estar vestida para a ocasião. Para o noivado e para a fuga. Colocou sapatilhas pretas e prendeu o cabelo em um coque bagunçado. Ela gostaria de usar tênis ou botas, mas absolutamente todos perceberiam algo de estranho se ela estivesse usando esse tipo de coisa. Pegou uma mala preta de rodinhas que pertencera à mãe e a abriu na cama. Não era muito grande, mas teria de servir. Miranda jogou lá dentro algumas mudas de roupa, dois pares de sapatos e uma escova de dente. Fechou a mala com pressa e discou o número da recepção. Iria precisar de ajuda.

Duas batidas na porta. Miranda prendeu a respiração por um segundo antes de abri-la. Tati, uma das recepcionistas, sorriu para ela.

—Sim, senhorita?

—Você pode me ajudar?

—No que eu puder. –Ela disse, olhando surpresa para Miranda. Tati era uma das pessoas que Miranda sabia que achava problemática a vida que a garota tinha estando presa naquele hotel. Deixava isso claro pelas perguntas que fazia e pela forma que olhava para Miranda.

—Quero fugir. –Miranda disse sem rodeios. Estava confiando em Tati. Confiando inteiramente.

—Fugir? –Ela perguntou, chocada.

—Fale baixo, por favor. Eu... não quero mais ficar nesse hotel.

—Senhorita, eu sei que deve ser muito difícil vive aqui, mas...

—Hoje eu vou ser pedida em casamento. O jantar de hoje. Será meu noivado.

—Com Daniel?

—É. Com ele. Você entende? –Miranda estava tão triste que achou que fosse chorar novamente. Mas se segurou. –Eu não o amo. Não consigo mais ficar aqui. Se eu ficar noiva hoje, serei uma prisioneira para sempre. Quero viver minha vida, e não a vida que meu pai quer que eu viva.

Tati franziu os lábios, analisando a situação. Miranda estava colocando suas chances na mão daquela recepcionista. Se ela negasse e a dedurasse para o pai, tudo estaria perdido. Seguranças apareceriam na frente do quarto dela e em todo o corredor. Talvez nunca mais visse Victor e Thomas novamente.

—Para onde você vai? –Tati perguntou. Miranda entrelaçou os dedos, nervosa.

—Não tenho muito para onde ir. Mas sei que Thomas me acolherá. –Ela esperava que sim, pelo menos.

—Thomas Parker?

—Sim. –Miranda havia considerado a possibilidade de ir atrás de Victor, mas achou que fosse muito mais arriscado. Para chegar até ele, teria que pegar um avião. E o pai de Victor era muito próximo do próprio pai dela para acoberta-la. Christopher Parker, no entanto... era um novo-rico. Não tinha laços diretos com o pai de Miranda. E Thomas estava disposto a ceder sua casa por algum tempo, ela sabia.

—Posso te ajudar a sair do hotel. Mas depois, estará por conta própria. –Tati disse. O rosto de Miranda e iluminou e seu coração se encheu de esperança. Dessa vez, tentou acreditar que seus desejos se tornariam realidade, pelo menos uma vez.

—Tudo bem! –Miranda exclamou. Correu até a cama e tirou de baixo dela a mala preta cheia. –Fiz essa mala. Tem roupas e uma escova de dente.

—Certo. –Tati parecia estar calculando algo. –Falarei com o senhor Júlio. Acho que ele pode me ajudar.

—Qual é o plano? –Miranda perguntou. Torcia para que Júlio realmente a ajudasse a fugir. Ele odiava a forma como Miranda era criada, mas certamente perderia o emprego se o pai descobrisse tudo.

—Vou criar um conflito no salão. Mudarei o foco das câmeras. Júlio chamará os seguranças. Você deve aproveitar esse momento e sair pela frente. –Tati foi até a escrivaninha de Miranda e escreveu algo em um papel. Ela era uma mulher alta e magra, com cabelos escuros presos em um alto rabo de cavalo impecável. Usava o uniforme usual das recepcionistas, a saia preta e o casaquinho combinando, mas sempre colocava um lenço colorido diferente no pescoço. Ela entregou o papel para Miranda. –Esse é meu celular. Você deve me ligar assim que chegar na estação de trem.

—Eu não sei onde ela fica. –Miranda disse, colocando o papel no busto do vestido. Ela não sabia nada da cidade onde morava.

—Certo. Chamarei um táxi para você. Ele te deixará na porta da estação. Não responda as perguntas claramente, fale de maneira genérica. Eu levarei sua mala e darei um jeito de colocá-la do lado de fora, entre as moitas da entrada. Você tem dinheiro?

Miranda foi até algumas gavetas perto da cama e abriu a última. Pegou algumas notas e um cartão de débito que o pai dera a ela para emergências. –Um pouco.

—Deve ser o suficiente. Não temos muito tempo para o início do jantar. Você deve ter partido quando ele começar.

—Você não vai se encrencar por causa disso? –Miranda perguntou. Queria muito conseguir fugir, mas não queria que Tati ou Júlio fossem punidos por causa disso. A recepcionista olhou para Miranda e piscou.

—Só se me pegarem.

—Obrigada por isso. –Miranda disse. Tati pegou a mala dela nas mãos.

—Não me agradeça. Não sou a única que faria isso por você. Muitos aqui sabem como sua vida é infeliz aqui, criança.

—Espero conseguir fugir. Ir para um lugar legal. Conhecer pessoas.

Tati sorriu e se apoiou na mala por um instante. –O que você vai fazer com seu pai depois?

—Não sei. Ainda não sei.

Tati acusou um homem de tentar abusar dela quando ela passou pelo salão, poucos minutos antes do jantar começar. Ela deu um grito e Júlio foi ver o que tinha acontecido. Um escândalo foi armado e os seguranças foram chamados para tirar o homem dali. Pelo menos, foi o que ela tinha contado que iria acontecer minutos antes pelo telefone. Miranda entrou no elevador e saiu no saguão vazio. Apenas outra recepcionista, uma mulher baixinha um pouco mais velha que Miranda olhou para ela e apontou para o lado de fora. Miranda sorriu agradecida e olhou para o salão, onde várias pessoas falavam alto. Ouviu a voz de Tati. Miranda segurou a barra do vestido e saiu de mãos vazias para o lado de fora pela porta automática. Também não havia ninguém lá. Os dois seguranças que costumavam ficar por ali provavelmente estavam do lado de dentro, como estava previsto no plano. Sentiu o ar bater em seu rosto e bagunçar as mechas de cabelo soltas perto do ouvido. Estava bem escuro, mas Miranda conseguiu ver claramente o táxi parado na frente do hotel, esperando por ela. Ela colocou as mãos nas plantas ao redor da porta, e no escuro, demorou um pouco para encontrar sua mala preta, que se camuflava bem no ambiente. Fechou os olhos e abaixou a cabeça de leve, para que ninguém a reconhecesse no aparente longínquo caminho que a levava até o táxi parado. A mala de rodinhas parecia fazer um barulho muito alto na noite silenciosa, e os passos de Miranda pareciam durar uma eternidade. Mas ela entrou, sentindo o coração pulsar com força. O motorista ligou o carro sem dizer uma palavra e começou a dirigir para fora dos domínios do hotel. Miranda manteve os olhos fixos na grande estrutura branca com detalhes dourados que fora seu lar durante longos dezesseis anos diminuir gradativamente até ser substituída por o que parecia ser um caminho de árvores magras e compridas, até elas rarearem e darem espaço para casas e alguns prédios. A cidade era mais iluminada, e pessoas andavam de um lado para o outro carregando pastas, rindo, segurando mãos de seus parceiros. Miranda apertou a mão com força. Queria fazer aquelas coisas. Coisas de pessoas normais. Passear em uma sexta feira à noite com alguém que ela realmente gostasse, comprar um sorvete e dar sorrisos enquanto andava nas ruas iluminadas com um vestido bonito. Era por isso que estava indo embora. A esperança de que um dia pudesse fazer esse tipo de coisa.

O caminho até a estação durou meia hora. Ela deu uma nota de dinheiro para o motorista e ele a ajudou com a mala. Desejou boa viajem à Miranda e foi embora, deixando-a sozinha na frente da estação, relativamente vazia àquela hora da noite. Miranda entrou e procurou um guichê para comprar uma passagem. Tati havia lhe falado onde eles estavam e o que ela deveria fazer. Ela também tinha anotado o endereço de Christopher Parker para Miranda. Miranda não sabia o que teria feito sem a ajuda de Tati e de Júlio. Esperava reencontrá-los algum dia para agradecer esse imenso favor. Miranda comprou o bilhete com as mãos tremendo e suspirou. Estava pronta para partir.


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