Na manhã seguinte, Kara se viu admirando o filho que dormia no sofá. Apesar da notícia dolorosa de que poderia morrer em alguns dias, seu coração estava menos aflito de ver que Caleb crescera feliz. Fora amado e havia se tornado um homem de bem. Ela transbordou de orgulho quando, na noite passada, o jovem contou que seguira a tradição da família e usava uma capa para proteger National City e seus habitantes. Mesmo depois de tantos anos, seu legado permanecia no filho, e isso era um alívio em meio aquela tempestade. Entretanto, ao pensar que poderia nunca segurar seu bebê, vê-lo crescer e se tornar o rapaz que estava ali, o coração dela voltou a pesar. Tinha medo da morte, com certeza. Mas tinha mais medo de deixar todos ao seu redor. Isso a fez pensar em Alex. A irmã já sabia há alguns dias o que estava previsto. Kara notou que ela estava diferente, a pegava encarando o nada com um olhar distante, mas pensou ser sobre o término com Maggie que já fazia alguns meses. Decidiu ir vê-la. Na noite passada, ela tinha ficado chateada pela irmã ter escondido o que estava acontecendo. Mas, agora, pensando melhor, elas não tinham tempo para isso. Kara deixou um bilhete para Mon El e o filho e seguiu para o apartamento de Alex.

Ao chegar, seu coração acelerou ao ver que a porta estava destrancada, um sentimento ruim a invadiu e sua primeira reação foi correr para o quarto da irmã. Não pôde conter um grito quando se deparou com a cena:

—Oh meu Deus!—Kara colocou a mão na boca enquanto os olhos estavam arregalados.

Alex acordou atordoada e a primeiro momento não entendeu a expressão da irmã. Só ao olhar para o lado e ver Lena a encarando também surpresa, ela se deu conta do que havia acontecido. Kara saiu rindo do quarto, dizendo que as esperaria na sala. Alguns minutos depois, as duas saíram meio sem jeito:

—Kara, me desculpe...— Começou Lena.—Por favor, não pense que estávamos tão bem com os acontecimentos que decidimos nos divertir. Foi totalmente ao contrário, nós saímos do seu apartamento e … Eu me desesperei, ela desabafou também, começamos a beber e… bom, você viu...—Ela mordeu o lábio totalmente sem graça.

Kara ia começar falar quando Alex a interrompeu:

—Sim… eu sei que foi totalmente inapropriado, mas foi tão difícil guardar isso comigo por todos esses dias. Tudo o que eu queria era te abraçar e nunca mais soltar, Kara. Eu só menti porque pensei que as chances de te salvar aumentariam se você não soubesse de nada e ….

—Alex.— Kara colocou as mãos nos ombros dela gentilmente.— Eu entendo. Você é minha irmã e eu faria a mesma coisa para te proteger. O que eu menos quero é perder tempo ficando chateada com as pessoas que eu amo. Ainda mais se esse tempo for tão curto quanto está previsto.— Ela abaixou a cabeça e Alex desabou em seus braços.

—Isso não vai acontecer, Kara. Não vamos deixar. — Lena se juntou ao abraço. Elas ficaram assim por alguns minutos, até Kara se afastar:

—Eu não quero pensar no pior.— Ela começou.— Mas é inevitável. Por favor, se o destino se cumprir, cuidem do meu bebê. Eu sei que é isso que aconteceu no futuro dele, mas vou ficar mais tranquila ouvindo de vocês.

—Se isso te ajuda de alguma forma, nós prometemos, Kara. Não é Alex?— A agente se limitou a acenar com a cabeça enquanto as lágrimas desciam.

—E o que quer que esteja acontecendo entre vocês, saibam que tem meu total apoio. —Ela sorriu.— Minha irmã e minha melhor amiga, isso é demais!

Ambas coraram com as palavras de Kara.

—Eu… vou no quarto pegar minhas coisas.—Lena saiu apressada.

—Como você está? Mon El, Caleb?—Alex perguntou, um pouco mais calma.

—Ainda não consegui assimilar tudo. Mon El parece estar se fazendo de forte mas eu percebi que ele conseguiu dormir só de manhã. —Kara suspirou.— Eu não sei, Alex. Eu farei de tudo para alterar as coisas, mas não sabemos o que vai acontecer e quero estar preparada, caso…Você sabe…—A irmã assentiu.

—Eu falei com J’onn ontem...Marquei uma reunião com a equipe no DEO, hoje, mais tarde. Agora que todos sabem, vamos nos preparar de todas as formas. Vai dar certo, Kara. —Alex tentou dar seu melhor sorriso.

—Eu não vou desistir.—Kara assegurou.

—Eu quero estar nessa reunião.—Lena voltou para o cômodo com a bolsa pronta.

—Claro, Lena. Obrigada.—Kara a abraçou.—Obrigada por sempre estar comigo.

—Vou passar na L-Corp e encontro vocês no DEO? —Lena disse enxugando os olhos. Kara confirmou. —Certo. Até daqui a pouco meninas.—Deu mais um abraço em Kara. Na hora de se despedir de Alex, superou a vergonha, lhe deu um selinho rápido e saiu. A agente ficou encarando a porta com um sorriso tímido. Enquanto Kara soltou um gritinho animado.

No apartamento, Mon El preparava o café da manhã com a ajuda do filho. Tentava transparecer uma imagem de confiança e positividade, mas por dentro, estava quebrado. Não dormira a noite inteira repassando as palavras que Caleb dissera na noite anterior. Cada vez que fechava os olhos, pensava em Kara e no que poderia acontecer. Somente de manhã o cansaço venceu e ele conseguiu cochilar. Apesar de tudo, quando Kara retornou, ele a recebeu com um sorriso, ela e o filho precisavam que ele estivesse assim, que passasse esperança.

Kara contou sobre a reunião mais tarde e sobre Alex e Lena, e como a situação fora engraçada. Enquanto ela relatava o quão fofas as duas eram juntas, Mon El notou que o filho empalideceu. Quando Kara anunciou que iria para o banho, ele tratou de se aproximar:

—Ei, o que houve? Que cara é essa?

—As coisas… continuam acontecendo...—O rapaz disse desolado.

—Como assim, filho ?

—Minhas tias… Na minha versão, ontem também foi a primeira noite delas. Tia Alex me contou que já havia um clima antes, mas só no meu chá de bebê que elas realmente ficaram juntas. Parece que a festa tinha acabado tarde e a tia Alex estava sem a moto, então tia Lena ofereceu uma carona até o apartamento dela e...Enfim... Como o chá de bebê não acabou tarde ontem, pelo contrário, foi mais cedo que o previsto, achei que as coisas seriam alteradas. Que essa noite delas demoraria mais para acontecer, se é que aconteceria.

—Então…—Mon El entendeu.— Mudamos algumas partes, mas o fato principal não deixou de acontecer…

—É… e é isso que eu tenho medo que aconteça com a mamãe.