Junho de 2017

— Acorda, mamãe – senti mãozinhas me chacoalhando - Mamãe acorda!

— Hmmm – gemi – Mel, vai dormir! – ainda de olhos fechados tateei seu corpinho pela cama e a puxei para junto de mim.

— Mamãe – falou baixinho – Sabe que dia é hoje?

Não, eu não sabia... Ai meu Deus! Eu esqueci o dia do aniversário da minha filha? Era só o que me faltava!

Levantei assustada e a peguei no colo dando vários beijos no seu rosto.

— Me desculpa, meu amor!

— Tudo bem! Não tem poblema! – revirou os olhos, aqueles olhos tão iguais ao do... Sacudi a cabeça para dispersar a lembrança – Te desculpo. – se sacudiu para ir ao chão – Mas você vai me levar, não vai?

Se tinha uma coisa que Melanie puxou de mim foi a insistência – e sorriso, só. O resto era tudo do... -, ela lutava pelo que ela queria e nesse momento eu não fazia à mínima ideia do que ela queria.

— Meu amor? – ela me olhou esperando eu continuar – Hoje é seu aniversário e a mamãe esqueceu?

Ela tombou a cabeça pra trás e deu uma gargalhada gostosa me fazendo rir junto.

— Não mamãe. – respirei aliviada - Hoje é verão. – bateu palmas com os olhinhos brilhando.

Joguei Melanie na cama e fiz cócegas em sua barriga a fazendo dar outra gargalhada gostosa.

— Então significa que hoje é dia de...?

— PRAIAAAAAA – se livrou das minhas mãos e saiu correndo pela porta.

De onde eu tirei que era o aniversário dela? Estávamos em Junho ainda, ela fazia aniversário apenas em Setembro. Ri de mim mesma e segui minha filha pelo corredor.

Melanie e eu tínhamos um ritual, íamos à praia no primeiro dia de verão do ano. Melanie amava praia, tão igual ao... Enfim... Suspirei me forçando pra não pensar nele e me foquei no barulho que uma certa mocinha fazia no quarto dela.

Digamos que a minha vida tenha mudado muito – muito mesmo - depois daquele Natal desastroso de 2010. Me mudei pra Ivy Town, me formei na faculdade, sou diretora de uma grande empresa,  a Palmer Tech, conheci pessoas maravilhosas que me ajudaram e me apoiaram. Pode-se dizer que eu era uma mulher realizada financeiramente. Todo que eu corri atrás eu consegui, mais pra minha filha do que pra mim.

Minha gestação foi tranquila, eles me aceitaram mesmo grávida, fiquei no campus da Universidade Ivy  no início do meu estágio e depois aluguei um pequeno apartamento, era de um quarto mas foi o suficiente para mim e meu bebê no inicio – Hoje morávamos em um imóvel que comprei com o suor do meu trabalho. Assim que entrei na Palmer Tech fiquei amiga de Ray Palmer, o futuro herdeiro daquele império. Quando me formei em 2014 Julius Palmer (o dono da porra toda) me deu um cargo na gerência no setor de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Porém cresci na empresa, por mérito próprio, e hoje sou a diretora ao lado do CEO Ray Palmer.

Hoje eu e Ray tínhamos um relacionamento sério, mas no início eu tentei a todo custo afastá-lo de mim, mas não deu, quando Melanie fez 2 anos nós começamos o namoro. Ele trata a minha filha como se fosse dele e isso aquece meu coração, porém Melanie morre de ciúmes de Ray e quando ele tenta se aproximar ela faz aquela cara de “Não é o papai” e se afasta.

O pai dela não fazia ideia da sua existência, se ele não acreditou quando contei, preferi deixar assim. Ninguém ia me deixar vir para Ivy Town, e eu ficaria presa em Starling.

Hoje minha filha tinha quase 6 anos e eu nunca falei do pai para ela. Toda vez que ela vinha me questionar eu dizia que ele viajou e não tinha data para voltar.

Quando ganhei Melanie minha mãe ficou comigo aqui em Ivy, ela se recusou a sair de perto da neta. De todos em Starling City apenas a minha mãe sabia da existência da minha filha. Do jeito que meu pai é conservador, bem capaz de ele ter me obrigado a voltar ou contado tudo para o pai dela. Era o que eu menos queria.

Todas as férias de verão a minha mãe vinha nos visitar, ela dizia ao meu pai que ia para um SPA de verão e ficava duas semanas aqui. Acho que o verão era a época preferida do ano de Mel, digamos que seja a minha também.

— Mel o que você ta fazendo? – falei entrando no quarto dela e vendo que ela estava dentro do guarda roupa

— Pocurando meu biquininho – falou animada – Você não chamou o Ray né? – perguntou vindo me pedir colo

Suspirei cansada. Minha filha não ia mesmo com a cara do meu namorado, isso me quebrava por dentro. Por mais que Ray a tratasse como uma princesa, não adiantava.

— Não – beijei sua testa e peguei-a no colo – Seremos eu e você!

Tratei de procurar seu biquíni da Ladybug— não suporto esse desenho, mas Melanie tem fixação – e arrumei sua bolsinha de praia.

— Mamãe? – perguntou enquanto eu passava protetor na sua barriguinha

— Sim, meu amor?

— Você e Ray vai me dar irmãos? – fez careta

Engasguei e comecei a tossir me levantando.

— De onde você tirou isso Melanie?

— Então... – sorriu sem graça gesticulando com as mãos. Parecia uma adulta. Segurei o riso a deixando continuar – Eu vi em uma filme na casa da tia Sara que a menina não tinha pai – olhou pro nada provavelmente lembrando – Aí a mãe dela tinha um namorado, e a mãe dela e o namorado da mão dela tinham um bebê. Mas um bebê só era filho da mãe da menina, não era filho do pai da menina também – começou a devagar e eu sorri. Ela puxou isso de mim também – E eu não quero.

— Não quer o que, princesa?

— Não quero irmãos que o Ray vai me dar com você – fez beicinho – Só quero irmãos que você vai me dar com o papai – olhei seus olhos enchendo de lágrimas.

— Oh, Melanie... – senti meus olhos ficarem úmidos e abracei a minha filha – Não vou te dar irmãos, filha – segurei seu rostinho em minhas mãos – Nem com Ray e nem com ninguém, ok? – ela assentiu passando as mãos nos olhos pra secar as lágrimas que não caíram e saiu, de biquíni mesmo, em direção a cozinha.

Eu sabia da falta que ela sentia de uma figura paterna. Tentei colocá-la nos escoteiros, mas ela não quis porque tinham eventos que precisava do pai para montar fogueira, vender árvores e etc... Me ofereci mas ela disse que eu não era o pai. Eu sabia que eu não era o pai, e nunca ninguém supriria essa falta no coraçãozinho dela.

Respirei fundo limpando as minhas lágrimas e sai do quarto carregando a bolsa de praia. Fui à cozinha e coloquei o café da manhã dela - que já estava muito animada vendo desenho, Miraculous - para comer enquanto me arrumava.

— Querida, espera a mamãe na porta enquanto eu pego o guarda sol e as cadeiras –  ela prontamente fez o que mandei

Fui até a dispensa que ficava na área de serviço e abri a porta, entrei lá procurando o que eu queria e um cooler pra levar uns suqinhos para Mel. Tirei o guarda sol e as cadeiras e voltei para pegar o pequeno cooler, com ele já em mãos me dirigi à cozinha para lavá-lo e colocar os sucos.

Mas quando abri o bendito eu estagnei, o que era aquilo? Aquela caixinha preta de veludo pequenina. Peguei-a com as mãos tremulas. Eu sabia o que era... Meu coração palpitou e abri a caixa.

Aquele anel custava muito mais que o meu salário, com certeza. Ela tinha uma grande pedra verde e em volta diversos diamentes. Mas o que aquele anel...

— Ele vai propor... – arregalei os olhos e olhei em direção a porta da cozinha querendo ver se Melanie estava vendo – Ray vai propor casamento.

(...)

O dia na praia na praia com a minha pequena foi divertido. Nadamos, corremos, brincamos, Melanie pegou umas “corzinha” e eu estou vermelha feito um camarão.

Prometi a ela que almoçaríamos no Mc Donald’s e cá estávamos nós na fila desse inferno.

— Já decidiu seu brinde? – perguntei passando a mão nos seus cabelos loiros. – É o My Little Pony

— Quero a Light. – falou convicta

— O que é isso? – franzi o cenho

— É um Pony, mamãe

— Twilight?

— E o que foi que eu disse? – fez uma cara de esperta. Sorri ao lembrar de Thea Queen e meu coração se apertou por isso. Que saudade eu sentia da minha baixinha intrometida.  Melanie tinha muito dela.

— Nada, você está certíssima – falei indo até o balcão e fazendo nossos pedidos.

— Posso ir no banheiro lavar as mãos mamãe?

— Sozinha?

— Já sou mocinha, você fica me olhando da porta. - fez aquela carinha de gato de botas - Ta bem?

— Ta bem! Vai lá! - beijei sua testa 

Me sentei na mesa perto do banheiro para que ela não se desesperasse ao sair e não me encontrar. Me sentia inútil quando Melanie decidia que já era independente, mas pra frente não precisará de mim pra nada.

Comia uma batata quando estagnei ao ver Ray na porta da lanchonete sorridente. Prendo a respiração ao lembrar do anel de noivado que ele escondeu na minha casa.

— Como vão as mulheres da minha vida? – fala se aproximando e beijando a minha testa - Falta uma aqui. - sorri

— Oi amor! – roubo um selinho e ele se senta no lugar que seria de Melanie

E assim que ele se senta ela sai do banheiro sorrindo, mas ao vê-lo fecha a cara e lança seu melhor olhar de assassina, ele se encolhe mas sorri.

— Você tá no meu lugar – fala colocando as mãos na cintura. Seguro um riso.

— Queria cumprimente o seu tio Ray, amor

— Ele não é meu tio – revira os olhos se sentando no meu colo – Ele é seu namorado só

Suspiro desistindo e lanço a ele um olhar cheio de desculpas, que ele me devolve um de “Tudo bem”.

— Como nos achou aqui? – perguntei comendo uma batata

— Na verdade foi meio obvio, essa é a rotina de vocês a 6 anos, a mesma praia e o mesmo Mc Donald's – sorriu. E que sorriso... Ray era lindo, um sonho, saiu no jornal local que ele era o mais cobiçado da cidade, porém já tinha dona. Sorrio feito boba ao pensar que essa dona sou eu. – Quero convidar vocês duas para um jantar naquele restaurante que Melanie adora porque tem parquinho.

— Eu quero ir, mamãe - ela sorri batendo palmas

— Claro, fale a hora e estaremos prontas - sorri abobalhada

Ele estava querendo largar a minha filha nos brinquedos para me pedir em casamento. Que gênio, Ray!, pensei sarcástica.

E então a ficha caiu como um tapa na cara... Eu já era casada!