A sereia e o pescador escrita por Widowmaker


Capítulo 2
Capítulo II – Cria da lua


Notas iniciais do capítulo

https://www.youtube.com/watch?v=t--9_w-vG10



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II - Moonchild

Focava-se em suas feições delicadas. O rosto da misteriosa criatura não possuía uma falha sequer. A face o encarava, curiosa e encantada. Ambos se encararam por alguns instantes até que o pescador engoliu sua própria saliva, e, sem quebrar o contato visual entre os dois, perguntou-lhe:

— Como te chamas? – Apertou os olhos, esperando uma resposta. Sem sucesso.

Ela se afastou, sem dizer nada. Não podia. Qualquer som que emitisse desencadearia uma paixão obsessiva e irracional no pescador, fazendo-o mergulhar no oceano com ela, afogando-se.

Ele assentiu. Sentou-se à beira do convés, com os pés na água, e tirou seu chapéu – Meu nome é Benjamin – disse, apontando para si mesmo, esperando que ela o entendesse.

Benjamin.... O nome ecoou em sua cabeça, como repetido por mil vozes. Jamais o esqueceria. Ela sorriu, mordendo os lábios e se aproximando de Benjamin, acomodando-se entre suas pernas. Seu corpo molhado encharcava as calças do homem, mas ele não parecia se importar. Encarou-a mais uma vez, se esforçando para decorar todas as suas feições. Delicadas.

— Você tem um nome? – Benjamin perguntou e ela permaneceu em silêncio. – Não? – Questionou mais uma vez, recebendo uma resposta negativa com a cabeça desta vez.

Ele parou por uns instantes, como se estivesse pensando em algo. No meio tempo, ela continuava a admirá-lo. Enquanto Benjamin estava perdido em pensamentos profundos, ela se aproximou, estendendo seu braço esquerdo e movendo lentamente sua mão em direção ao rosto do homem que, ao perceber o gesto, recuou. Já havia ouvido falar dos contos dos marinheiros e, entre os mais populares, os das sereias, lindas jovens que seduziam os homens do mar e os puxava para as profundezas. Mas algo o encorajou a permitir. Por mais que demonstrasse medo, aproximou seu rosto dela, permitindo-a que o tocasse. Seu toque era frio e molhado, causando arrepios ao sentir os dedos passearem pelo seu maxilar e queixo, depois voltando até as maçãs de seu rosto. Ela tornou seu toque mais profundo, acariciando o rosto com ambas as mãos, em movimentos leves e gentis. Em resposta, o pescador segurou seu antebraço e fechou os olhos, respirando fundo.

De repente, o sino que se prendia às cordas da rede de pesca começou a tocar e tanto o barulho quanto o susto causaram um grande espanto na criatura, que se afastou instantaneamente do pescador e mergulhou novamente na água, desaparecendo.

Havia tido sequer tempo de processar o que aconteceu e, ainda perdido, o pescador procurou-a, mas via apenas bolhas e espuma subindo para a superfície de onde ela estava. Suspirou, sentindo como se uma parte de si estivesse faltando, mas não entendia o porquê. Levantou-se e começou a puxar a rede, mas não conseguia parar de pensar no que havia acontecido.

 

A maré estava abaixando, acompanhando o sol que desaparecia no horizonte. O clima estava ameno e ele sabia que a era hora de voltar para casa. Conduzia seu barco pesqueiro, Argos, de volta à cabana, porém, fez questão de navegar mais devagar que o normal, na esperança de que ela aparecesse novamente. E ela não apareceu. Após uma hora e meia de viagem, finalmente atracou, descarregando a carga no armazém. Assim que escureceu, ele entrou na cabana, sempre olhando para o mar, esperando que ela aparecesse.

Preparou um chá quente para que o aquecesse durante a noite. Usou o cobertor como se fosse um casaco e caminhou até a janela, olhando através. A lua cheia brilhava, iluminando as ondas pequenas que dançavam até a praia, mantendo a areia úmida. O cheiro de maresia preenchia o local. Tranquilizante. De repente, ele viu algo surgir na água. Redondo. Uma cabeça? Não perdeu por esperar, abriu a porta imediatamente e caminhou até a praia, ainda com a caneca de chá. A areia entrava em seus sapatos e sujava suas calças, mas não o incomodava, sua mente estava em outro lugar.

Em dia comuns, ela apenas o olharia pela janela, mas após ter sido descoberta, pensava que já não adiantava mais se esconder, ele já sabia que estaria o vigiando, mas isso já não importava, estava satisfeita com a decisão que havia tomado. Assim que o viu chegar à praia, nadou em sua direção e, quando a água ficou rasa demais para nadar, usou seus braços para chegar próximo a ele, mantendo metade de sua cauda ainda submersa.

— Pensei num nome para você – disse o pescador, com um sorriso de canto. – Io.

Io sorrio. Gostou do nome que havia recebido, principalmente porque Benjamin havia escolhido. Mexeu a cabeça num sinal de aprovação, fazendo com que os olhos do pescador brilhassem, mas o sorriso se desfez ao lançar um olhar curioso para a grande cauda de Io. Se aproximou e, sem hesitar, tocou os dedos com delicadeza em uma das cicatrizes, onde lhe faltavam escamas e a área estava esbranquiçada, rodeada por escamas vibrantes e saudáveis.

— O que aconteceu com você, Io? – Perguntou com uma expressão séria. – Alguém te machucou?

Não respondeu, cortando o contato visual. Insatisfeito com a resposta, Benjamin se sentou ao seu lado, ignorando suas roupas e seu cobertor encharcado e tomando outro gole do chá. Certo de que Io não lhe responderia, procurou se acomodar ao seu lado. Olhou para o céu, assim como fazia todas as noites, procurando saber sobre como o clima estaria na manhã seguinte quando sentiu algo pesar em seu ombro. Ela apoiou a cabeça no ombro de Benjamin, encolhendo-se perto dele, e ele a respondeu cobrindo-a com seu cobertor meio molhado. Io não procurava aquecer-se, apenas sentir o calor do corpo do pescador, então, ao se acomodar ao seu lado, fechou os olhos. Seu cabelo estava jogado para trás, liso e úmido, o corpo ainda meio molhado parecia ter um tom azulado mesmo por baixo do tecido e suas escamas roçavam na perna do homem. Ele então passou um de seus braços por trás dos ombros de Io, abraçando-a.

Aeternum.


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