— Não é possível. Não tem como! Minha filha... Minha princesinha, ela nunca soube... Nunca soube quem eu sou? Ela não faz ideia de quem eu seja agora mesmo?? —posso ouvir a voz dele do corredor. Ele nunca falou baixo.

Suspiro na sala de espera. A doutora já me dissera o diagnóstico. Não acreditei de primeira, mas não é como se fizesse muita diferença. Eu pouco ficava com alguém por tempo o suficiente pra decorar seu rosto, com ou sem a doença. Meus pais provavelmente são as únicas pessoas no mundo que perceberiam essa condição. Mas para o homem gritando, faz toda a diferença.

— Precisa ter um jeito. Remédios, terapia, a porra de uma trepanação, qualquer coisa! Digam que podem fazer ela se lembrar de mim.

Acho que ele não entendeu minha condição. Eu não tenho Alzheimer. Ainda me lembro claramente do dia que ele me dera dinheiro escondido para comprar um vaso novo para minha mãe, muitos e muitos anos atrás. Só que o rosto dele nesse dia podia ser o de qualquer pessoa.

Deito-me sobre os meus braços fingindo não ouvir a gritaria. Quero ir para casa e ver Tristan. Sua negação da minha existência seria até bem-vinda agora.