“Registro de sessão.

Melanie Mörgenstern, 28, internada sob queixa de amnésia pelo pai. Precisou ser traga à força. Lúcida, responde bem às questões pessoais, afirma não fazer ideia do que o pai pretende.

Reprodução de diálogo.

‘Acho que está havendo algum engano. Eu só cheguei cansada e não o reconheci. Não o vejo há alguns anos.’

‘É o que parece. Nada sugere amnésia.’

‘Eu posso ir agora?’

‘Logo. Temos que fazer alguns testes. É padrão.’

‘Claro. Mas preciso ir logo. Trabalho cedo.’

‘Certo. Pode me dizer quem é essa pessoa?’

‘Não conheço.’

‘E essa aqui?’

‘Também não conheço.’

‘Tudo bem. Esta?’

‘Nem ideia.’

‘Mesmo? Nenhuma pista?’

‘Por que eu mentiria?’

‘Esta é você, Melanie. É uma foto sua.’”

A mulher ajeitou os óculos sobre o rosto com um suspiro. Pousou a caneta sobre a mesa de trabalho, afastando-se até a janela. Derrubou um pouco de tabaco importado sobre a mortalha, selando-a com a expressão pensativa. Melanie Mörgenstern era um caso como nada que jamais vira como psiquiatra. Sua condição peculiar moldou todo seu estilo de vida no que ela era hoje. A doutora fumou o cigarro calmamente antes de voltar aos papéis.

“Diagnóstico provável: Prosopagnosia. Tratamento recomendado: Não há.”