Uma vez em casa, tinha um pouco de tempo para matar até ter de ir trabalhar. Tomei um longo banho para me livrar do frio da chuva, e ainda em meu roupão, deitei-me para ler minhas mensagens.

Não importa a hora do dia ou da noite, sempre há algumas mensagens novas. Eu troco de número sempre que mudo de cidade, mas ele rapidamente fica conhecido, e às vezes até pessoas das cidades anteriores conseguem o novo de alguma forma. Não me lembro do rosto de nenhuma delas, e se eu já as quebrei, não tenho mais o menor interesse, então apago sem ler.

O homem da noite anterior já tinha mandado algo. Dizia que trair sua esposa daquele jeito lhe causava um enorme excruciar, que estava dividido, pensava em acabar tudo. Mal precisei de cinco minutos para fazê-lo mudar de ideia e marcar um encontro já naquele fim de semana.

Estava prestes a deixar o celular de lado e pegar algum livro para ler quando vi a última mensagem.

“Você vem para o Natal esse ano? Sentimos sua falta.”

O número não estava salvo com um nome, mas eu conheço aquela sequência. Era meu pai. Apaguei a mensagem sem responder.