Estrela da Alva escrita por Princesa Dia


Capítulo 18
Seleção


Notas iniciais do capítulo

Hey, gente, Feliz natal para vocês, espero que vocês estejam se divertindo no dia de hoje. Para aquelas pessoas que, por algum motivo pessoal, não comemoram esse data (nunca conheci ninguém, mas sei que deve ter), espero que esse capítulo te anime.

Antes de começarmos, que esclarecer algumas coisas. Nunca assistir, Animais fantásticos e onde habitam, eu apenas li e sei que não aparece muito sobre isso, e nem vi muito dos outros em que possa ter aparecido; tudo que sei sobre a escola de magia e bruxaria de Ilvermorny, eu sei através de algumas pesquisas que eu fiz, e isso já tem muito tempo, então desconsidere qualquer erro que vocês possam ter encontrado.

Sem mais enrolação, aproveitem. ❤️



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POV. Bella Stewart (Chicago, 1911)

Encarei as pessoas ao meu redor com os olhos arregalados, eu não podia dizer que a minha vida era normal antes de tudo, mas ela tomara um rumo totalmente inesperado e assustador para mim; uma bruxa, era o que dizia a carta que chegou até a mim em uma manhã de segunda-feira, eu era uma bruxa; eu estava eufórica, é claro, pela primeira vez eu estava sendo motivo de orgulho para a minha mãe, mas ainda sim eu estava com medo, não tinha certeza do que eu poderia encontrar nessa nova vida.

—Anda logo, Mary. -Mamãe falou me empurrando pelo amontoado de crianças e adultos. Caminhei com graciosidade entre as pessoas, me espremendo ao máximo para não esbarrar em ninguém; parei assim que cheguei ao expresso, eu estava nervosa e com muito medo, era a primeira vez que eu me afastava dela, a primeira que eu a deixaria. -Chegou o momento. -Sua voz cortante chegou até mim me arrancando do torpor, me virei para ela percebendo que sorria, isso me tranquilizou e os meus ombros relaxaram. -Não me decepcione, Mary. -Assenti firmemente esperando que isso a deixasse mais feliz. -Agora vá, o expresso já está quase saindo. -Não me movi. -O que está esperando? Vá logo. -Suspirei triste.

—Tudo bem mamãe, eu... eu vou sentir sua falta.

—Hurum... ok, agora vá logo. -Resmungou fazendo um gesto impaciente com a mão, eu simplesmente girei nos calcanhares e segui em direção ao expresso me esforçando para arrastar a droga daquele malão; senti meus olhos arderem com as lágrimas, mas eu não estava disposta a chorar, pelo menos não enquanto eu não estivesse sozinha. Eu sabia que minha mãe não demonstrava afeto, então o que eu estava esperando? Deveria já está acostumada, mas eu não estava, queria que pelo menos dessa vez ela abandonasse a fachada fria e me envolvesse em seus braços, que chorasse dizendo que sentiria saudades, que tudo ficaria bem, que eu não precisava ter medo e que ela estaria ali quando eu voltasse; eu passaria meses afastada, eu precisava disso, mas eu não o teria. Olhei para fora a tempo de vê-la se afastando, ela nem esperou o expresso partir; antes que eu pudesse voltar a me focar ao que eu fazia algo sólido se chocou contra mim me lançando no chão com malão e tudo, praguejei baixinho.

—Por Morrigan, mil perdões senhorita. -Era a voz de um garoto, uma mão branca apareceu em meu campo de visão e à muito contra gosto eu a segurei me levantando.

—Não olha por onde anda? -Perguntei de forma rude, certamente eu não teria sido tão grosseira se estivéssemos em um outro momento, mas neste exato segundo eu estava frustrada demais para ser educada.

—Eu já pedi desculpas. -Revirei os olhos ao abaixar e erguer o malão.

—Muito elegante da sua parte. -Me virei para ele o encarando pela primeira vez, o garoto era vários centímetros mais alto, seus cabelos eram desalinhados e de um tom de cobre estranho, seus olhos verdes brilhavam de irritação. -Você me joga no chão e depois vem me pedir desculpas?

—Não foi proposital. -Algumas crianças passaram nos lançando olhares curiosos.

—Eu não quero saber. Será que você poderia me dar licença? Eu tenho que encontrar uma cabine logo. -Falei batendo o pé irritada, eu sabia que estava sendo deselegante e até mesmo um pouco infantil, mas eu não conseguia agir de uma outra maneira.

O garoto se afastou para o lado me dando espaço, passei por ele sem encará-lo, tudo que eu queria naquele momento era encontrar uma cabine e chorar sem que ninguém pudesse me ver.

—"Mimada".—Eu o ouvi murmurar baixo e me virei com o corpo tremendo de raiva.

—Arrogante. -Gritei furiosa, ele me encarou irritado.

—Arrogante, eu!? -Indagou deixando escapar uma risada debochada. -Acho que você se enganou, desde o momento em que nos esbarramos eu tenho sido educado, você é que está sendo arrogante e mal educada. -As pessoas pararam.

—Você não é ninguém para me julgar, você nem me conhece. -Apertei as mãos em punhos, ele estreitou os olhos.

—E acho que prefiro continuar sem te conhecer. -Aquela afirmação me atingiu como um tapa na cara, mas o que eu queria? Não fui eu a iniciar?

—Ótimo, eu também não estou afim de conhecer você. Com licença. -Falei dando as costas para ele e me afastando com passos apressados, ele resmungou alguma coisa que eu não fiz questão de prestar atenção, eu já estava abalada demais, precisava me afastar o quanto antes.

Saí de cabine em cabine, mas elas ou estavam lotadas ou já tinham alguém; eu já começava a duvidar que eu conseguiria ficar sozinha quando finalmente encontrei uma vazia, soltei um suspiro aliviado e entrei fechando a porta atrás de mim, deixei o malão em qualquer lugar e me sentei na janela olhando para fora, havia ainda muitas pessoas se despedindo, os pais abraçando os filhos, crianças sorrindo alegremente, enquanto os menores pulavam animados, uma família, era o que eles eram. As primeiras lágrimas vieram sem esforço nenhum, eu estava me sentindo horrível naquele momento, e principalmente, me sentia sozinha.

As crianças começaram a se afastar dos adultos e a entrarem, o expresso logo estava em movimento, as pessoas permaneceram na plataforma acenando, uns com sorrisos outros com lágrimas, vendo seus filhos partirem, diferente da minha mãe.

Não sei quanto tempo se passou até que eu tivesse novamente o controle das minhas emoções, mas sabia que era tempo suficiente para me causar uma dor de cabeça horrível; estiquei as pernas no estofado macio e encostei as costas na parede do expresso e a cabeça na janela de forma que eu pudesse ver as árvores passando rapidamente, eu estava decidida a esquecer tudo e descansar, pelo que eu sabia a viagem seria longa, então fechei meus olhos e respirei profundamente pronta para mergulhar em um sono que com certeza seria intranquilo; antes que eu pudesse mergulhar na inconsciência três batidas rápida na porta me fizera arregalar os olhos, desde que eu entrara na cabine, por incrível que possa parecer, ninguém tinha me incomodado, até aquele momento, todos tinham amigos, nenhum deles precisavam de cabines vazias para se esconder; antes que eu pudesse abrir a boca e dizer que estava ocupado a porta se abriu em um rompante revelando uma garota, a primeira coisa que eu registrei foram os seus olhos cor de “chocolate derretido”, as lágrimas se acumularam novamente quando eu me recordei que esse era a cor dos olhos da minha mãe, seus lábios se abriram levemente quando ela percebeu a minha presença, mas o choque não durou mais do que alguns segundos, a garota se virou para a porta e a fechou com um baque alto, a porta tremeu levemente, alguém queria entrar.

—Cassy, por favor, vamos conversar. -A voz do garoto do outro lado foi acompanhada por socos na porta.

—Não. Vai embora. -Ela falou parecendo bastante irritada.

—Me perdoa, eu não pensei que você tivesse se ofendido. -A garota, Cassy, bufou contrariada.

—Você é um idiota ou o quê? Aquela vaca praticamente me chamou de cortesã na sua frente e você acha que eu não ficaria ofendida? -Gritou dando um soco na porta, o garoto tentou novamente abri-la. -Não ouse abrir essa porta Johnny.

—Por favor Cassy, você entendeu mal, ela jamais te ofenderia assim, e não a chame de vaca.

—Vai pro inferno você e ela, Jonathan. Quero vocês dois bem longe de mim.

—Não complique as coisas, Cassandra. Volte para a nossa cabine. -A voz agora era autoritária.

—Prefiro uma maldição imperdoável.

—Não brinque com uma coisa dessas, saia logo daí, eu estou ficando sem paciência. -Falou voltando a esmurrar a porta.

—Eu não vou sair, vou terminar a viagem aqui, volte para a sua namorada nojentinha.

—Mamãe mandou eu cuidar de você. -Ele respondeu mais calmo.

—Isso foi no início e de qualquer forma você nem se importa mesmo, volte para lá.

—Clara...

—Por favor, Johnny, vai. -Ela suspirou.

—Tudo bem, conversamos quando chegarmos à Ilvermorny. -Ele falou e logo depois pude ouvir os passos dele se afastando, Cassandra encostou a testa na porta respirando fundo, de onde eu estava eu podia ver as suas lágrimas e eu desviei os olhos para fora envergonhada, ela precisava de um tempo para se recompor assim como eu precisei do meu tempo.

—Me perdoe por isso. -Voltei a encará-la, seus olhos ainda estavam úmidos, mas ela já não chorava mais; balancei a cabeça enquanto ela me observava. -Meu irmão às vezes se esquece que prometeu me proteger de tudo. -Ela estava triste, fiquei apenas calada enquanto a observava se sentar na outra poltrona da mesma forma que eu estava, mas de frente para a janela. O que eu poderia lhe dizer? Nem tinha irmãos. -Me chamo Cassandra Annie Swan, mas você pode me chamar de Cassy, é como todos me chamam. -Franzi a testa confusa.

—Mas seu irmão não te chamou de Clara? -Meu rosto esquentou imediatamente ao perceber que havia expressado a minha curiosidade em voz alta. -Perdão. -Murmurei abaixando a cabeça envergonhada, a garota soltou uma risada melodiosa e eu levantei a cabeça para encará-la.

—Não se preocupe por isso. Na verdade, Johnny me chama assim por causa do quebra nozes. -Encarei ela ainda mais confusa. -É uma peça de No-maj’s de um ballet russo. -Eu não sabia bem do que ela estava falando, mas eu já havia lido o suficiente para saber que os No-maj’s tinham costumes diferente dos bruxos. -E você, como se chama? -Corei envergonhada.

—Perdão. Meu nome é Isabella Mary Stewart, mas eu realmente prefiro que me chame de Bella.

—É um prazer te conhecer, Bella. -Seu sorriso brilhante me deixou fascinada por um momento, puxei os lábios levemente em resposta. -É seu primeiro ano em Ilvermorny? -Assenti minimamente. -Você vai gostar de lá. -Ela se inclinou para mais perto como se fosse confidenciar um segredo. -Principalmente da comida.—Gargalhei alto sem conseguir me conter, minhas bochechas novamente esquentaram.

—Perdão. -Cassy fez um gesto de indiferença com a mão.

—Não se desculpe tanto, vai perceber que Ilvermorny não exige tanta etiqueta.

—Já está em qual ano? -Perguntei curiosa, tive depois que reprimir o impulso de me desculpar novamente.

—Quarto, não é tão interessante quanto os primeiros anos, mas é legal.

—Como é em Ilvermorny? -Ela sorriu começando um relato fantástico sobre a escola e tudo que eu poderia aprender e explorar, eu estava em êxtase, é claro, ansiosa para já começar a aprender; prestei atenção em tudo que foi dito e principalmente em Cassandra, ela gesticulava muito enquanto conversávamos, além de falar muito rápido, quase não consegui acompanhar o fluxo das suas palavras; Cassy era uma garota muito bonita, além dos olhos que lembravam minha mãe, seus cabelos era negros como a noite, enrolados nas pontas e tão longos que chegavam ao quadril, eles estavam soltos quando ela entrara aqui, mas em algum momento da nossa conversa Cassandra tinha o prendido em um coque frouxo.

—Eu preciso voltar à minha cabine. -Anunciou depois de algum tempo, seus lábios se torceram de desgosto.

—Por quê? -Perguntei chateada, eu não queria ficar sozinha.

—Minhas coisas ficaram lá e eu preciso trocar de roupa. -Meneei a cabeça dizendo que compreendia, mas ainda assim eu estava triste por ter que ficar novamente só. -Eu vou rapidinho, enquanto isso você aproveita e se arruma também. -Assenti, Cassy sorriu se levantando e dando um beijo em minha bochecha, fiquei surpresa com a atitude dela, mas também emocionada, era a primeira vez que eu recebia algum tipo de carinho; Cassy saiu me deixando para trás ainda atônita, me troquei com extrema rapidez e logo eu estava sentada junto a janela, minutos depois ela já estava de volta, trajava o uniforme da escola nas cores azul e cranberry, o tão famoso nó górdio preso em sua blusa e o chapéu estava em suas mãos, ela ficava melhor naquele uniforme do que eu. A viagem demorou mais meia hora, mas quando o expresso finalmente parou Cassy me chamou para que a seguisse, ela ficaria comigo pelo tempo que eu levaria para me adaptar, isso me deixou aliviada. Quando deixamos o expresso fomos recebidos por uma mulher magra e baixinha, tinha olhos castanhos e pequenos e seu cabelo castanho estava preso em um coque elegante, ela sorria animada.

—Olá, crianças. Para os que já me conhecem, estou feliz em revê-los, para os que estão iniciando hoje, sejam bem-vindos. Meu nome é Meredith Lyons, serei a professora de transfiguração de vocês este ano e também estou responsável por levá-los até o Castelo, então, por favor, mantenham-se próximos uns dos outros. -Todos meneavam a cabeça à medida que ela ia falando. -Agora venham comigo. -Nós a seguimos para fora da estação. -Quatro em cada carruagem. -Meu queixo caiu ao ver dezenas e dezenas de carruagens, todas prontas para receber os passageiros.

—Vamos, eu vou com você. -Cassandra falou segurando em meu cotovelo e me conduzindo em direção à uma das carruagens, não tínhamos nenhuma bagagem no exato momento para nos atrapalhar, todas as coisas haviam ficado para trás, eu ficara preocupada, mas Cassy me garantira que elas estariam em meu quarto quando eu fosse dormir, mas como isso aconteceria ela não soube me dizer.

—Olá, garotas. -Cassandra falou me puxando para sentar ao seu lado; a primeira das duas garotas, a que parecia ser a mais velha, nos lançou um olhar de indiferença antes de simplesmente desviar o rosto com o nariz empinado, ela era linda, tinha as feições delicada e o rosto levemente corado, seus olhos pareciam a transição entre o verde e o azul, os cabelos eram dourados e pareciam longos e sedosos, mas eu não tinha como ter certeza já que eles estavam presos em um coque elegante e antiquado; a segunda garota era ainda mais adorável e parecia mais simpática, seu rosto era um pouco mais redondo que a da outra, mas ainda assim era delicado, seus olhos eram de um verde oliva bem bonito, seus cabelos eram também dourados, talvez um pouco mais claros que a outra e mais volumoso, a garota sorria.

—Oi.

—Eu me chamo Cassandra Swan, mas podem me chamar de Cassy, como preferirem; essa é a minha amiga, Bella Stewart, bem... é Isabella na verdade, mas ela prefere que a chamem de Bella. -Cumprimentei com um leve gesto de cabeça e um sorriso que foi prontamente ignorado pela primeira e retribuído pela segunda.

—É um prazer conhecê-las. -Nesse momento a porta da carruagem fechou com um baque surdo e as rodas começaram a girar, encarei aquilo assustada, não havia um condutor; a primeira garota me encarou com curiosidade. -Eu me chamo Kathleen Johnson, mas podem me chamar de Katy e essa é minha irmã Margaret, a chame de Margô. -Katy falou sorrindo ela se inclinou para a frente como se quisesse confidenciar um segredo. -Não se preocupem, Margô tem essa cara azeda, mas é um amor de pessoa.—Falou dando uma risadinha.

—Ninguém te perguntou nada, Kathleen. -Falou irritada com a irmã, ela tinha voz de sinos.

—Sabe que não preciso que me perguntem. -Margaret revirou os olhos.

—Mexeriqueira como sempre. -Katy deu de ombros.

—Vocês são da Horned Serpent, não são? -Cassy perguntou curiosa.

—Sim. -A mais nova falou.

—Vocês são bastante comentadas em Ilvermorny, as irmãs mais bonitas e inteligentes da Horned Serpent. -Katy riu enquanto Margaret revirava os olhos.

—Esse povo é um bando de desocupado. -Mais uma vez eu me peguei admirando sua voz de sinos.

—E vocês? São de que casa?

—Pukwudgie, Bella ainda não tem uma casa, é o seu primeiro ano. -Explicou, eu realmente não me importava que ela tomasse a frente.

—Está com medo? -Encarei Margaret surpresa tanto por sua pergunta como pelo fato de que ela estava falando comigo.

—Acho que... um pouco. -Ela abriu um sorriso tão bonito que eu pisquei novamente surpresa.

—Não precisa ficar preocupada, eles têm maneiras de ajudar pessoas como você. -Pisquei confusa, eu tinha a leve impressão de que havia um segundo significado para o que ela acabara de falar.

—Eu não entendi. -As irmãs Johnson sorriram.

—Você vai entender. -Margaret falou desviando seus olhos para fora, não precisava ser nenhum gênio para entender que o assunto havia terminado por ali.

Cassy decidiu simplesmente ignorar a minha estranha conversa com a Johnson mais velha, conversa essa que nem eu tinha entendido, e mergulhou em um diálogo animado com Kathleen, as duas pareciam se conhecer a anos e não apenas a alguns minutos, para Cassy era fácil fazer amigos, ela era espontânea, alegre e sabia conversar sobre tudo, Cassy deixava as pessoas à vontade ao seu redor, me questionei se algum dia eu teria tantos amigos quanto ela deveria ter, mas logo eu descartei a ideia, eu não era bonita como ela, na verdade eu chegava a ser sem graça, sempre em roupas apertadas ou curtas demais porque inexplicavelmente elas se perdiam de um dia para outro, isso quando mamãe não as compravam largas demais, eu era muito magra, meus cabelos eram castanhos, mas ficavam avermelhados na luz do sol e meus olhos eram a única coisa que eu realmente gostava em mim porque eram os olhos da minha mãe, chocolate derretido, ao contrário de Cassy eu não sabia conversar sobre nada, nunca tive contato com ninguém além, é claro, da minha mãe, eu estava com medo que as outras crianças me achassem esquisita.

A viagem na carruagem foi ainda mais longa e mais cansativa que o expresso, isso porque de acordo com Cassy o castelo de Ilvermorny ficava no topo do monte Greylock e a trilha até lá era íngreme e pedregosa, sem falar na forte neblina que dificultava a nossa visão.

A carruagem parou, estávamos em uma enorme campina rodeado por enormes pinheiros, um imponente castelo de granito se erguia por trás de um alto muro de pedra e de um portão de ferro com o símbolo da Ilvermorny, eu estava de boca aberta, tudo parecia mais um sonho e eu tinha medo de acordar a qualquer momento, Cassy e as irmãs Johnson começaram a rir da minha cara deslumbrada e eu corei envergonhada.

—Você ainda não viu nada, querida. -Cassy falou com um sorriso de orelha a orelha, ela se debruçou abrindo a porta e passando por cima de mim saiu para fora, as irmãs a seguiram e eu fui logo atrás. Os alunos estavam todos amontoados ao redor da nossa professora de transfiguração.

—Sejam muito bem vindos a Ilvermorny, primeiro teremos a seleção das casas, depois temos a escolha das varinhas e por fim teremos o jantar, então não precisam ficar ansiosos que a comida vai ser servida. -Algumas pessoas deram risadinhas. -Fiquem juntos, por favor. -A mulher falou nos dando as costas e seguindo em direção ao portão, sua varinha já estava na mão e só foi preciso um pequeno movimento para que os portões se abrissem, é claro que meus olhos se arregalavam cada vez mais e Cassandra não perdia a oportunidade de rir do meu deslumbramento. Assim que chegamos a entrada do castelo percebi duas grandes esculturas de mármore ladeando as portas principais, era um casal.

—É Isolt Sayre e James Steward, eles são os fundadores de Ilvermorny. -Cassy murmurou próximo ao meu ouvido quando percebeu que eu os observava, assenti dizendo que compreendia, eu já havia lido sobre eles.

—Vocês já sabem como funcionam, os calouros fiquem comigo, os demais podem entrar. -Os alunos começaram a se afastar em direção às portas de madeira, Cassandra segurou em minhas mãos e eu a encarei assustada, eu não queria ficar sozinha.

—Não tenha medo, eu estarei com você. -Sua voz era suave, meus olhos já estavam marejados. -Vai dar tudo certo, Bella. Eu vou estar lá dentro torcendo por você. -Seu sorriso acalmou o medo dentro de mim, assenti levemente. -Eu preciso ir, não se preocupe, você ficará bem. -Murmurou me apertando em seus braço, Cassy se afastou depositando um beijo em minha testa, suspirei mais relaxada. -Não tenha medo. -Reafirmou e eu assenti vendo ela seguir na mesma direção em que as irmãs Johnson foram, as portas se fecharam e o pânico me dominou outra vez.

—O que vai acontecer agora é o que vai definir a vida de vocês em Ilvermorny. -A mulher falou chamando a atenção de todos que ficaram. -A casa que será escolhida será como um segundo lar pra vocês, onde vocês passaram boa parte do tempo quando não estiverem em aula, vocês farão amigos e até mesmo formarão famílias, mas vocês não precisam se preocupar, as casas são escolhidas de acordo com a personalidade de cada aluno, então vocês ficarão bem. -Comecei a me sentir nervosa com as palavras da mulher em nossa frente e se eu não me desse bem com os outros? E se eu não conseguisse me adaptar? A escolha era para toda a minha vida, então será se realmente eu ficaria bem? -Eu peço que vocês formem uma fila e quando entrarem na sala fiquem em pé próximo às paredes, o aluno que eu chamar se aproxime do centro e fique sobre o nó górdio, não falem nada até que a estátua lhe diga para que casa você vai, quando a casa estiver decidida volte para o seu lugar, entenderam? -Os alunos assentiram, encarei aquilo confusa, era só eu que não tinha entendido? Como assim a estátua diria? -Podem se organizarem. -Todos começaram a correr apressados para formarem a fila, duas garotas se chocaram e foram direto para o chão, corri para ajuda-las, um garoto teve a mesma ideia e quando eu levantei os olhos para identificar quem era, reconheci o garoto do expresso, ele me lançou um olhar irritado e eu baixei meus olhos envergonhada.

—Vocês estão bem? -Perguntei ajudando uma das garotas a levantar, ela era baixa, tinha olhos verdes e cabelos longos e escuros que se enrolavam em delicados cachos.

—Você não olha para onde anda? -A outra perguntou irritada, ela tinha cabelos castanhos lisos e olhos caramelos; franzi a testa em desgosto, não havia sido culpa da outra se as duas esbarraram.

—Pelo que eu me lembre você também não estava olhando. -A de cabelos escuros falou calmamente, a outra ficou vermelha.

—Mas a culpa não foi minha, foi sua. -Antes que ela pudesse rebater a professora se aproximou preocupada.

—Vocês estão bem?

—Sim professora, nós não nos machucamos. -A que estava ao meu lado falou, a mulher sorriu.

—Que bom, tomem cuidado por favor, não queremos ninguém machucado, ok? -Todos nós assentimos, por mais que eu e o garoto não tivéssemos nada a ver com isso. -Agora tomem seus lugares. -Corremos para o fim da fila, só estava faltando nós.

—Obrigada. -A garota murmurou baixinho, franzi a testa confusa.

—Pelo quê? -Ela sorriu.

—Por ter me ajudado. -Sorri de volta.

—Não precisa me agradecer.

—Eu me chamo Alice. -Falou estendendo a mão que apertei sem pensar duas vezes.

—Bella.

—Está com febre? -Perguntou franzindo as sobrancelhas, balancei a cabeça confusa. -Deve ser só impressão.

A fila começou a andar nos conduzindo para o interior do castelo, encarei o salão impressionada, havia uma cúpula de vidro sobre as nossas cabeças, o cômodo era circular e estava praticamente vazio, com exceção de quatro estátuas enormes, elas eram diferentes entre si, a primeira da direita era um felino, parecido com uma pantera, ao lado dela estava um pássaro muito bonito e que eu nunca tinha visto, logo depois uma serpente parecida mais com um dragão de chifres e dentes longos e a quarta estátua era a mais estranha de todas, tinha a aparência humanoide com nariz, orelhas e dedos maiores; no andar superior havia um balcão de madeira que rodeava o salão e era onde os alunos estavam, localizei as irmãs Johnson em meio a todas aquelas pessoas, Kathleen acenou me lançando um beijo logo em seguida, Margaret fez apenas um gesto com a cabeça que eu retribui prontamente, Cassy estava em um canto mais afastado, ela fez um sinal positivo para mim me incentivando e eu sorri aliviada, havia também a presença de outros adultos além, é claro, da mulher no centro do salão, eles nos observavam com curiosidade, talvez fossem mais professores.

—Adams, Bryan Ulysses. -A professora começou a chamar com um pergaminho em suas mãos, um garoto se aproximou parando sobre o nó górdio, assim como ela instruíram, ele era baixo e um pouco gordinho e tudo que eu conseguia ver dele era os cabelos loiros. Percebi Alice um pouco agitada ao meu lado e eu desviei os olhos rapidamente para ver se estava tudo bem. -Pukwudgie. -O recinto explodiu em vivas e eu encarei o garoto que já voltava para seu lugar, meus lábios se apertaram em frustração ao perceber que eu havia perdido a seleção dele. -Andrews, Irene. -Uma garota se aproximou, era magra, tinha altura mediana e os cabelos loiros estavam trançados, como o garoto, Irene parou sobre o nó górdio e esperou, fixei meus olhos ao que acontecia ao redor dela e eu percebi o exato momento em que ela foi selecionada, a quarta estátua, a que eu achara mais estranha, se moveu erguendo o arco que carregava no ar. -Pukwudgie. -A professora anunciou e todos aplaudiram e gritaram, sorri entendendo agora o que ela quisera dizer com relação às estátuas. -Armstrong, Adam Robert. -Um garoto alto, magricela, de cabelos escuros se aproximou, a segunda estátua, a do pássaro, tremeu e bateu as asas. -Thunderbird. -A professora gritou e a sala novamente explodiu em gritos e aplausos. -Barker, Oliver.

—Ai meu Deus, tá chegando a minha vez. -Alice murmurou segurando em meu braço, suas mãos estavam geladas com o nervosismo.

—Fique calma. -Sussurrei vendo Oliver avançar até o nó górdio, diferente dos outros dois Oliver não era nem gordinho e nem magricela, eu podia dizer que estava na média, ele era alto, tinha cabelos castanhos e usava óculos redondos, o que não afetava em nada em sua beleza; pulei assustada quando a estátua da puma rugiu. -Wampus. -Mais aplausos e gritos. -Brandon, Mary Alice.

—Ai, meu Deus! É eu, é eu. -Alice falou pulando nervosa, sorri apertando levemente sua mão.

—Vai lá. -Ela assentiu.

—Me deseje sorte.

—Boa sorte. -Falei antes que ela pudesse se afastar totalmente, assim que Alice parou o cristal incrustado na testa da serpente brilhou, foi quase imediato.

—Horned Serpent. -Alice voltou para onde eu estava correndo e se jogou em meu braços.

—Eu consegui Bella, estou na Horned Serpent. -Ela gritou em meu ouvido, me encolhi um pouco enquanto ela me apertava em seus braços e pulava que nem uma louca.

—Que legal, Alice. Agora dá pra soltar, tá todo mundo olhando. -Ela se afastou corando envergonhada, eu não devia está diferente.

—Me desculpe, eu me empolguei. -Sorri.

—Tudo bem, acontece às vezes.

Alice ficou do meu lado enquanto a seleção prosseguia animadamente, as pessoas comemoravam todas as vezes, alguns alunos tiveram que decidir em que casa ficariam já que foram escolhido por duas estátuas, algumas ficaram felizes em escolher, outras escolheram qualquer uma, eu só esperava não ter essa sorte ou azar, essa era uma responsabilidade muito grande, era uma escolha para uma vida inteira, não era algo que deveria ser decidido assim, até agora uma pessoa havia sido escolhida por três, pelo que Alice me falara era difícil isso acontecer e mais difícil ainda era ser escolhido pelas quatros, ao que tudo indicava era raro e só acontecia uma vez a cada década.

—Mason, Edward Anthony. -Um movimento próximo de mim chamou minha atenção, era o garoto do expresso; ele parou sobre o nó górdio, o cristal da Horned Serpent brilhou e logo em seguida a da Wampus rugiu, assobios ecoaram antes mesmo que ele pudesse decidir e eu olhei para cima em direção aos professores, havia uma mulher inclinada sobre a bancada, seus olhos verdes brilhavam e os cabelos ruivos estranhamente familiares estava caído por sobre o ombro direito. Novos gritos e exclamações, encarei Edward voltando para o seu lugar e fiquei decepcionada, eu não ouvira ele decidir. -Mcdonald, Dana Christina. -A garota que havia esbarrado em Alice se aproximou, não levou mais do que alguns segundos para que a estátua da Wampus rugisse e a seleção continuou novamente, à medida que os alunos iam sendo selecionados eu ia ficando ainda mais nervosa, a minha vez estava chegando e eu não tinha a mínima noção do que aconteceria, e se nenhuma delas me escolhesse, é claro que isso não aconteceu até agora, mas se fosse depender da minha sorte eu não duvidava nada que acontecesse comigo. -Stewart, Isabella Mary. -Engoli em seco, enquanto obrigava as minhas pernas a se moverem.

—Boa sorte. -Alice sussurrou quando eu dei o primeiro passo, não respondi, minha mente estava focada em chegar até o nó górdio, a mulher ao meu lado me deu um sorriso tranquilo e eu relaxei. A estátua da Wampus rugiu e eu olhei para a professora esperando uma confirmação, sorri aliviada, pelo menos eu não teria que decidir, a professora abriu os lábios para anunciar a minha casa quando o bater de asas preencheu o recinto.

—Não é possível. -Uma pessoa exclamou de cima, murmúrios percorreram todo o salão e a professora ao meu lado assobiou baixo.

—Por Morrigan. -Me virei percebendo de olhos arregalados que não havia sido apenas duas estátuas que me escolhera, mas todas as quatro. -Bem... agora é com você senhorita Stewart, qual casa escolhe? -Engoli em seco meus olhos já marejados.

—Eu... eu não sei. -Murmurei de cabeça baixa, minha voz estava embargada.

—Só pense em qual casa você gostaria de ficar. -Ela falou pacientemente, tentei fazer o que ela me pediu, mas os murmúrios ao nosso redor se tornaram mais pronunciados com a minha demora e isso me desconcentrou, meu rosto estava quente pela vergonha e as lágrimas já queriam abandonar os meus olhos, eu não conseguiria decidir, não daquela forma.

—Eu não sei. -Voltei a afirmar, a mulher franziu os lábios talvez impaciente, talvez preocupada, eu não saberia dizer.

—O que está acontecendo? -Uma mulher perguntou aparecendo ao meu lado, pulei assustada enquanto as pessoas se calavam para prestar atenção.

—Diretora Morrow. -Me encolhi ao saber que aquela era a diretora. -A senhorita Stewart está tendo um pouco de dificuldade para decidir a sua casa. -Baixei os olhos envergonhada, percebi a mulher se ajoelhar em minha frente para ficar da minha altura, ela ergueu o meu queixo para que eu olhasse em seus olhos azuis, ela sorriu.

—O que a incomoda, minha querida? -Engoli o choro entalado em minha garganta.

—Eu não quero decidir, não quero fazer uma escolha errada. -Respondi baixo, ela franziu a testa.

—E o que te leva a pensar que vai escolher errado?

—Eu não conheço nada deste mundo, eu não vou saber escolher, é muita responsabilidade para mim, principalmente sabendo que é uma decisão para a vida toda e se eles não me aceitarem? -Falei indicando os alunos no patamar de cima e os alunos embaixo. -E se eu não conseguir me adaptar? -Perguntei com a voz engasgada, eu queria chorar naquele momento, nunca havia sentido tanto pânico como agora; a mulher em minha frente sorriu parecendo entender o que eu falava.

—Sabe, Isabella, eu posso chamá-la assim, não é? -Ela questionou e eu assenti. -Bem... eu já estive onde você está agora. -Encarei ela curiosa. -Eu estava totalmente em pânico sem saber o que decidir. -Ela riu perdida em pensamentos. -Mas uma pessoa me disse que eu não deveria me abster da minha decisão; o que é melhor, errar por não ter feito e se arrepender por isso ou errar por ter decidido tentar e ter na consciência que você fez tudo o que podia? -Não lhe respondi. -A responsabilidade está no nosso sangue e principalmente está no seu querida; sabe qual o conselho que eu lhe dou? -Balancei a cabeça hipnotizada por sua voz suave. - Não se preocupe em errar, todos cometem erros, mas saber que você fez tudo que podia os tornam mais suportáveis, apenas siga o seu coração, ele vai te direcionar para que seus erros sejam menores. -Desviei meus olhos para as estátuas, três já haviam voltado ao normal, mas uma ainda insistia como se dissesse para eu a escolher, como se me quisesse com ela, havia algo, uma ligação entre mim e ela enquanto aquele cristal permanecia brilhante, a diretora riu. -Vejo que já tomou sua decisão. -Comentou dando um beijo em minha testa e se levantando. -Então, querida, revele para os seus colegas qual é a casa escolhida. -Assenti envergonhada, todos me observavam ansiosos.

—Horned Serpent.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado gente, me desculpe se ele ficou muito grande, eu não pude dividir dessa vez. Nos vemos no próximo. Bye bye. ❤️



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