Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 31
Batalha - Parte 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741115/chapter/31

Fui atingido por milhares de perguntas e gritos de indignação, os repórteres estavam eufóricos e as pessoas mais ainda, cobrando explicações sobre o que havia sido dito, mas sem deixar sequer que eu as respondesse. Respirei fundo e tentei controlar a situação.

— Peço um minuto da atenção de todos vocês - disse ao microfone - para que eu explique o porque desta minha decisão

Aos poucos as pessoas foram se acalmando, a gritaria diminuindo e as câmeras sendo viradas para mim novamente. Olhei para a esquerda e Jane estava me observando com um brilho nos olhos. Não havia contado a ela sobre isso, apenas havia pedido para que organizasse tudo, mas agora, olhando por outro lado, percebi que isso deve ser muito importante para ela, afinal, há muitos anos atrás, sua mãe teve que renunciar a magia para que não lhe cortassem a cabeça.

— Tomei esta decisão, dentre outros motivos, em virtude de algo que descobri muito recentemente - voltei a olhar para frente e continuei, todos prestavam atenção em mim agora - a Ilha dos Perdidos declarou guerra contra toda Auradon, mais precisamente contra a capital

As pessoas voltaram a se manifestar novamente e toda a agitação estava prestes a voltar, mas fiz um gesto pedindo calma, pois eu iria explicar o porque de tudo, não tinha nada a esconder.

— A noticia veio por parte da líder deles, Uma - disse - ela mesma compilou uma fonte próxima de mim e minha noiva a nos dar a notícia. Diante de tão pouco tempo, é praticamente impossível estar cem por cento preparado, ao contrário deles, que tiveram muito tempo para isso - respirei fundo - estamos lidando com o desconhecido, visando que prendemos os piores dos piores naquele lugar. A resposta para "o que aconteceria se aquela barreira se quebrasse?", está mais perto do que imaginávamos

— Então a barreira não é segura?! - uma repórter gritou em meio a todos

— Sim, ela é - respondi - mas o paradeiro de Uma é desconhecido desde o atentado que ela fez a minha festa de noivado e, se a mesma tiver ficado do lado de fora, as coisas mudam bastante. Conversei com a Fada Madrinha e ela me disse que com os poderes de Uma sem nenhum tipo de controle, ela será capaz de fazer bem mais do que só quebrar aquela barreira

Percebi que as pessoas ficaram assustadas, visivelmente preocupadas com o que poderá acontecer. Era exatamente isso o que eu queria.

— E mesmo depois de saber isso, vossa majestade ainda quer romper a lei anti-magia?! - outro repórter gritou

— Com toda certeza - respondi - depois de refletir o máximo que pude dentro do curto período de tempo que tive, acabei percebendo que, uma hora ou outra, algo desta dimensão acabaria acontecendo - me foquei na câmera da rede pública de televisão, pois sabia que a mesma transmitia não só para toda Auradon, mas também para a Ilha dos Perdidos - predestinamos isso para nós mesmos a partir do momento que decidimos prender pessoas inocentes em um lugar como aquele

— Pessoas inocentes?! - uma pessoa, que não consegui identificar quem, indagou

— Sim, pois a única coisa que os filhos dos vilões fizeram para que os trancafiássemos lá, foi terem nascido! - disse em tom alto - Condenamos famílias inteiras pelos atos de minoria!

— E a sua proposta de trazer-los para cá?! - a primeira repórter perguntou - Não tem feito isso?!

— Sim, tenho - respondi - mas quanto tempo se passou até que eu tivesse idade suficiente para ser rei e criar tal proclamação?! - indaguei, deixando todos calados - Não estou dizendo que o que os vilões fizeram foi certo, pelo contrário, eles erraram em suas decisões, mas não podemos nos esquecer de um fato: o de que, independentemente de qualquer coisa, todos merecem justiça - continuei - e prende-los junto com seus filhos e familiares em um inferno em terra está bem longe do que é ser justiça

Pela primeira vez desde que começara a proclamação, não fui interrompido por ninguém, nem mesmo por um dos repórteres, o que me deu mais confiança em continuar, pois parecia que estava dando certo.

— A Ilha não passava de uma porção de terras abandonadas ao leste de Motunui - prossegui - onde criamos uma barreira mágica e jogamos lá dentro tudo aquilo com o que não queríamos lhe dar no momento. Então, as famílias que nasceram lá dentro tiveram que fazer o impossível para não verem seus filhos morrerem de fome e de sede, já que mesmo contemplados por extensões de água em todas as direções, não permitimos sequer que as tocassem

Respirei fundo, mantendo a firmeza e a postura, ignorando completamente os cartões que havia escrito, pois tudo o que eu falava naquele momento vinha do meu coração, era o que, depois de muito tempo, havia aprendido a enxergar.

— Não estou dizendo que deveríamos ter levado os vilões para nossas casas ou que os perdoássemos pelo que fizeram - continuei - e sim que eles deveriam terem sido colocados em um local com a mínima infraestrutura para que, quando pagassem pelos crimes cometidos, não saíssem querendo cometer um pior e sim com a intenção de tornarem-se novas pessoas. Para que isso acontecesse não poderíamos, jamais, termos sentenciado seus descendentes a viverem lá e, uma grande prova disso, é que são esses descendentes, que proclamaram a guerra contra nós

Mais uma vez eu não havia sido interrompido, pois, claramente, tudo aquilo que falava nada mais era do que a verdade, a verdade que sempre esteve ali, diante dos olhos de todos, mas que nunca quiseram vê-la.

Não pense também que tudo aquilo que eu disse saiu do nada, não estava seguindo os cartões, é verdade, mas todas aquelas palavras vieram para mim depois de um bom tempo de reflexão, que começou mais precisamente logo após a Mal deixar seu anel em minha cama e ir embora sem olhar para trás.

A decisão dela me fez ver o quão errado eu estava, e quantas coisas mais iria perder se continuasse agindo daquela maneira. Depois que descobri que ela iria me dar um herdeiro, um menino que um dia assumirá o trono, só fez com que eu reavaliasse ainda mais minhas ações. Até que eu cheguei em uma conclusão tão óbvia, que fiquei a me perguntar como não havia chegado a mesma antes, e era essa conclusão que embalsava meu discurso naquele momento.

— Isso tudo tem alguma coisa a ver com sua futura esposa, majestade? A Mal? - um repórter perguntou, quebrando meu breve momento de silêncio

— Sim - respondi - como todo casal nós também conversamos bastante, e ela me contou diversas histórias que já viveu e presenciou na Ilha, o que me fez parar para avaliar a situação não só dela, mas como de todos os inocentes que lá moram. E foi por isso que resolvi continuar com minha proclamação de trazer as crianças para estudarem aqui, mas depois da ameaça de Uma consegui perceber que, por mais bonito e inspirador que pareça, é como se eu estivesse querendo apagar um incêndio com um copo d'água - fiz uma pequena pausa - Mas agora teremos que lhe dar com essa nossa errônea decisão, pois a guerra já foi declarada e a qualquer momento eles nos atacarão pela costa, precisamos estar preparados e de uma coisa eu tenho certeza, nosso exército não será o bastante

— Como não?! Não temos homens suficientes?! - um cidadão questionou

— Não - respondi - e para o que está por vir, prevejo que nunca teremos. A grande parte dos moradores da Ilha, principalmente os mais antigos, são praticantes de magia negra - expliquei - esse poder foi passado para alguns de seus filhos e, por mais que não tenham acesso a ele neste momento, terão quando a barreira for quebrada. E foi pensando justamente nisso que cheguei a conclusão de que, para enfrentarmos algo de tamanha dimensão, além de um exército de homens, precisaremos de um exército de magia

A agitação e os gritos voltaram a tomar conta das pessoas que ali estavam, mas, por incrível que pareça, eu estava tranquilo, pois meu coração estava tranquilo. Eu sabia que estava tomando a decisão certa, que não estava fazendo nada por impulso e sim por certeza. A Mal e os membros da OPAM me fizeram enxergar isso.

— E onde pretende conseguir um exército de magia, majestade?! - um repórter da tv local indagou

— Durante anos nós caçamos e prendemos qualquer um que se recusasse a deixar a magia - disse - mas acreditar que conseguimos acabar com ela é tão inocente quanto uma criança acreditar em monstros. Tenho certeza que os adeptos de magia continuam entre nós, escondidos e fazendo de tudo para sobreviverem. Se não tivéssemos sido tão idiotas em nossas decisões, teríamos muito mais deles agora - fiz uma pausa - E é por esse motivo, que convoco a todos os adeptos de magia, que estejam dispostos a ajudar na guerra, a se apresentaram diante do prédio da Assembleia Real. Não se preocupem, vocês serão todos bem recebidos e treinados da melhor forma possível dentro do pouco tempo que temos

As pessoas estavam prestando atenção, caladas e com os olhos vidrados em mim. A OPAM é uma organização tão grande, quem sabe algum adepto não estava me ouvindo bem ali? Escondido em meio a multidão?

— Como rei da capital, me coloquei na posição de tomar essa decisão e não aceitarei qualquer tipo de opinião contra ela até que tenhamos vencido a guerra, pois esse é o meu trabalho, além de manter toda Auradon em ordem, tenho que manter todos seguros de qualquer tipo de perigo - respirei fundo - não tenho poder para manipular as decisões em outros reinos - continuei - mas com a certeza que estou fazendo a coisa certa diante da atual ameaça, fico muito feliz em anunciar que a capital, a partir de agora, se junta aos reinos adeptos

** Pensamentos da Mal **

Sede Principal da OPAM em Auradon

Deixei que a água caísse em meu cabelo e no meu corpo, relaxando os músculos doloridos. O treinamento com Bernice foi o oposto de "leve", mas fico feliz em poder dizer que consegui derrubar ela algumas vezes.

Fechei os olhos em seguida e deixei que a água morna caísse em meu rosto e depois em meu peito. Naquele momento lembrei de Benjamin, já que nós costumávamos tomar muitos banhos juntos, mas como não sei se vou ter isso novamente algum dia, preferi abrir os olhos novamente e interromper logo aqueles pensamentos.

Desliguei o chuveiro e puxei a toalha - que Amin tinha arranjado pra mim - que estava em cima do box de vidro. Me enrolei na mesma e sai da área de banho.

Bernice foi quem me emprestou uma roupa para usar - já que as minhas estavas imundas - e, tirando o preto excessivo, nós até que temos o estilo bem parecido. Uma calça jeans, jaqueta e sapato fechado.

Me olhei no espelho e usei o mesmo elástico de antes para fazer um novo rabo de cavalo, bem alto e firme, para não deixar o cabelo me atrapalhar em nada. E foi quando fiz isso que percebi que a raiz já estava aparecendo, o loiro pálido entrando em contraste com o roxo. Mas não tinha nada que eu pudesse fazer, já que pintar o cabelo estava proibido pelos próximos oito ou sete meses.

Respirei fundo e - por algum motivo - me senti surpreendentemente confiante, como se pudesse parar um trem apenas com a mão. Talvez fosse a roupa, o treino com Bernice, ou talvez fosse por que, pela primeira vez na vida, estou realmente com o controle das decisões. O fato de que a palavra "gravidez" já não me assusta mais, também me ajuda nesse processo de auto-confiança.

Estar grávida estando separada - sendo que nem cheguei a me casar - não é o que me dá mais medo, nem o fato de que, desde agora, já sei o quanto vou ter que lutar para preservar os direitos dele. É o que me dá mais medo, é não saber se quando esse pequenino nascer, vai gostar e mim. Meu Deus, aos poucos estou me tornando aquelas mães chatas e cheias de neura.

Ajeitei a jaqueta e sai do banheiro, encontrando uma aglomeração do lado de fora, franzi a testa e fui olhar do que se tratava. Todos estavam no pátio central, olhando para os diversos painéis de LED presos a uma espécie de estação de computadores. Bernice já havia me explicado sobre aquilo, se tratava de um sistema criado para controlar toda as sedes, líderes e adeptos em toda Auradon.

Mas, além de todos estarem ali juntos, o que me chamou atenção era o que estava passando nos televisores, eles estavam ligados no canal da rede pública de televisão que transmitia uma proclamação urgente do reino. Me esquivei entre todos até chegar o mais próximo possível, próximo a Bernice, para não deixar de escutar nada.

— Ben tem uma proclamação a fazer e, diante do que ele viu hoje, todos os membros estão aflitos - Bernice disse quando eu me aproximei dela

Eu não respondi - meus olhos estavam grudados nos televisores - mas, dentro de mim, eu gritava para mim mesma: "Você não pode fazer isso, não pode, e se fizer, eu nunca vou te perdoar".

Mas o que Benjamin fez foi completamente diferente de tudo o que pensavam que ele iria fazer. Ele proclamou a ruptura da lei anti-magia, dá pra acreditar nisso?! E o mais bonito de tudo foi que, em nenhum momento ele nos entregou, em nenhum momento entregou a OPAM, pelo contrário, ele disse coisas tão lindas que nem consigo acreditar.

Ben agiu com maturidade e foi superior a todos do Conselho, ouviu o seu coração e, meu Deus, entendeu o que eu tanto disse a ele durante todos esses anos. Pela primeira vez, um rei de Auradon fez o que se espera de um rei, cuidar de seu povo. E não só daqueles que vivem em castelos maravilhosos ou que foram erroneamente beneficiados nos livros de histórias, e sim do povo como um todo e eu estou muito, muito orgulhosa dele.

Enquanto ele falava sobre os erros cometidos pelos reis de passado, senti meus olhos se enchendo d'água, mas não chorei, não chorei por que aquilo não era motivo de tristeza e sim de alegria. E não me importo se o conselho ou os moradores da capital se voltem contra ele, pois eu sinto dentro de mim que ele está fazendo o que o coração de ele manda e que, acima de tudo, ele está feliz com a decisão que tomou. Então, não importa o que aconteça daqui para frente, ele vai me ter ao lado dele em todos os momentos, aliás, vai ter nós dois.

Quando a proclamação terminou, Bernice desligou os televisores e se virou para mim com um sorriso de lado.

— E então? - ela disse - Devemos aceitar o pedido do rei e ir até?

— Com certeza - eu disse

** Pensamentos do Harry Hook **

21:40 pm - Depósito abandonado

Acendi a última vela que restava e a posicionei em cima da mesa. Todas aquelas coisas, tigelas, poções e incensos eram, na minha opinião, um pouco demais, mas Uma havia deixado bem claro que tudo aquilo tinha que estar presente pois, caso contrário, nosso plano não seria concretizado.

Caminhei até o quarto e olhei para Audrey por alguns segundos, ela estava com uma venda nos olhos e uma fita na boca, com os braços amarrados para trás. Eu me sinto mau por estar fazendo isso com ela, mas eu preciso e quando tiver Natan em meus braços, feliz, seguro e acima de tudo, saudável, tudo isso vai ter finalmente valido a pena.

Coloquei a mão no bolço da calça e tirei um pequeno pedaço de papel dobrado ao meio, era uma foto de Natan, tirada poucos dias antes de eu fugir da ilha como um falso aluno da Auradon Prep. Lembro de passar aquele dia inteiro com ele, brinquei de tudo o que ele quis, fiz todas as suas vontades, pois sabia que talvez nunca mais poderia fazer nada daquilo de novo.

E quando eu o acordei pela manhã e perguntei o que ele mais queria fazer, ele me respondeu com uma voz de sono: "Brincar no riacho com você papai". O riacho na verdade é uma pequena lagoa criada através de escavações pelo próprio povo, dentro da Ilha, a água não é tão limpa, mas mesmo assim é usada para tudo, desde lavagem de roupas até para consumo.

E naquele dia o "riacho" ganhou mais uma função, fazer Natan dar gargalhadas enquanto o empurrava em um velho pneu preso por uma corda a árvore. A foto fez com que toda a lembrança se passasse em minha mente, o que me fez sorrir instantaneamente.

Respirei fundo e deixei que a lembrança se fosse, em seguida peguei Audrey no colo e a levei até a mesa onde seria realizado o feitiço, a coloquei sentada em uma cadeira e ajeitei sua postura para que não caísse no chão. Ela não estava completamente apagada, mas eu acabei tendo que dopa-la já que não ficava quieta nem por um segundo.

Olhei para o livro de feitiços aberto em uma página especifica em cima da mesa, ele era da Mal até que o Chad conseguiu rouba-lo para mim, hoje ele está preso e sob investigação, o que só faz com que tenhamos que agir ainda mais rápido, pois a qualquer momento ele pode acabar soltando alguma coisa sobre nossa localização. Tomei o livro em minhas mãos e me certifiquei uma última vez, estava certo, aquele era o feitiço certo.

— É só eu fazer o que está aqui e dizer essas palavras que o feitiço estará completo? - perguntei a Carlos, que era a minha única companhia desde então

— Foi o que Uma disse - ele respondeu com uma voz robótica - a magia dela fará o resto

Olhei para Audrey e, antes de começar com aquilo, disse "me desculpe" em meus pensamentos. Em seguida fiz tudo o que era dito nas instruções, coloquei todos os ingredientes na tigela - que iam de raízes até objetos mágicos - amassando uns e os misturando aos outros. Depois mergulhei as mãos no resultado e iniciei as palavras.

O feitiço era aparentemente bem difícil de ser pronunciado, mas quando comecei alguma coisa aconteceu e as palavras começaram a sair quase que naturalmente, como se eu já tivesse feito isso antes. A porção na tigela começou a ganhar um cor mais viva e em poucos segundos estava brilhando e minhas mãos também, o que me assustou de inicio, mas mais uma vez foi como se tudo fosse normal.

Audrey também começou a se mexer na cadeira, ela levantava e baixava a cabeça sem parar, seja lá o que eu estava fazendo, parecia estar dando certo.

Continuei a pronunciar as palavras e, por algum motivo, estava bem mais difícil do que antes, mas me mantive firme, com a voz e a postura firmes.

A luz proveniente da tigela começou a ficar cada vez mais forte, tão brilhante que me obrigou a semicerrar os olhos. Audrey também começou a emitir uma espécie de áurea levemente verde, essa luminosidade esquisita transformou-se em uma espécie de raio, tão leve que era quase invisível, que saia para fora do depósito atravessando seu enorme telhado de metal como se fosse uma folha de papel.

As palavras conseguiram ficar ainda mais difíceis de serem pronunciadas e eu conseguia sentir que o feitiço não dependia apenas da Audrey mas de mim também, se eu cedesse e fraquejasse a magia toda estaria desfeita.

Me mantive o mais forte que consegui, as veias do meu braço estavam quase saltando para fora e o meu rosto pegando fogo. Em poucos minutos, que pra mim mais pareceram horas, pode-se um grande estrondo, como um raio cortando céu, e toda aquela luz foi diminuindo até cessar por completo.

Finalmente consegui parar de dizer as palavras e Audrey parou de se mexer, permanecendo com a cabeça para baixo. Tirei as mãos daquela consistência estranha e respirei com alguma dificuldade, tossindo algumas vezes até que tudo se normalizasse.

Olhei para Carlos e ele estava ainda mais robótico do que antes, da pra acreditar? Com o olhar sério e indiferente. Virei a cabeça e passei a observar Audrey, ela estava se mexendo novamente, mas de um jeito diferente, agora parecia que ela estava... acordando.

— Harry? - ela me chamou enquanto piscava os olhos algumas vezes, se acostumando com aquela velas todas

— Me desculpe - eu disse - mas agora já está feito, a barreira foi quebrada

** Pensamentos da Mal **

DOIS DIAS ANTES

Mesmo com a convocação do príncipe em rede nacional, não era tão simples assim sair e ir para os muros da assembleia que, até ontem, proclamava que todos os adeptos deveriam serem extintos.

Bernice acreditava que tudo poderia ser uma grande enrascada, pois se os adeptos se "entregassem", como foi pedido na televisão, seria mais fácil para os soldados os renderem e os prenderem, já que, se atacassem diretamente a única sede da OPAM que foi descoberta, perderiam de cara, afinal, era um território completamente estranho pra eles.

Pensar que Ben seria capaz de algo como isso, pensar que ele seria capaz de entregar toda a organização e ainda tramar um plano desse nível para capturar e condenar todos da melhor forma possível - pra ele - chega a me dar um calafrio no peito.

E, apesar de ter enxergado verdade em seus olhos enquanto falava, não posso ignorar o fato que, no ultimo mês, Benjamin mudou e se mostrou uma pessoa que eu nunca, jamais, acreditei que ele seria. Então nós também elaboramos nosso plano.

Em conjunto com Bernice, decidimos separar os adeptos em grupos pequenos, cada um desses grupos iria sair em um determinado horário para que assim, caso algo acontecesse, eles não teriam pegado todos. Ian também programou escutas e microfones interligados ao sistema da OPAM, permitindo que os que saíssem se comunicassem conosco a todo momento, o que reduzia - e muito - as chances do nosso plano falhar.

Dividimos aqueles com os poderes mais fortes em dois grupos, um deles sairia primeiro e o outro ficaria na OPAM até o final, resguardando o esconderijo. Os primeiros a sair já aviam sido escolhidos, seriam Nina, Aguidar, Steven e... eu. O fato de eu ter sido escolhida para ir com eles não tem muito haver com a minha magia, até porque eu nem sei usa-la direito já que não tive muito tempo para treinar, mas sim com a relação que eu tenho com Benjamin. Bernice acredita que, se tudo for um plano da corte, ele não fará nada contra mim pois estou carregando o futuro herdeiro dele dentro de mim e que, dessa forma, vou poder ajudar a libertar os que forem pegos.

Tudo estava tão certo, tão esquematizado, que o medo começou a me rodear, me fazendo pensar em mil e uma possibilidades de tudo aquilo dar errado, mas eu me mantive firme, ignorei os pensamentos negativos e disse para mim mesma que, não importasse o que acontecesse, nós iríamos vencer aquilo.

** Pensamentos da Princesa Isabel **

Todo mundo estava fazendo ou ajudando em alguma coisa, eu era a única que estava parada no meio do alvoroço. Agui tava bem na minha frente, pegando algumas armas e escondendo pelo corpo, a cada uma que ele pegava meu coração apertava mais.

— Você tem mesmo que ir? - perguntei

— O que? - ele disse se virando pra mim - É claro que eu tenho, já conversamos sobre isso, todos são livres para fazerem suas escolhas, ninguém é obrigado a nada

— Eu sei, mas é que... não quero te perder Agui, não assim

— E quem disse que você vai me perder? - ele perguntou com um leve sorriso enquanto se aproximava de mim

— É uma guerra Agui, tudo pode acontecer lá

— Então venha comigo, nós lutaremos juntos, sem nunca sair um do lado do outro

Não respondi aquilo, mesmo que meu coração gritasse "sim", minha consciência não dizia o mesmo, o maior conflito interno no qual já estive na vida, com certeza. Eu queria muito ir na guerra, lutar ao lado de todos os meus amigos, mas eu nunca fui corajosa como o meu pai ou a minha mãe, não herdei isso deles.

Só de pensar que eu posso ver alguém que amo morrer bem na minha frente, me enche de um medo terrível. Mas eu não tinha muito tempo pra pensar, se escolhesse ir ficaria no segundo grupo dos mais fortes, seria a última a sair e, caso alguma coisa acontecesse com o primeiro grupo, poderia ajudar no resgate.

Mas mesmo assim Agui e eu estaríamos separadas, o que me apertava o coração, deixando-o bem pequenininho. Eu tinha uma escolha a fazer e não tinha muito tempo, tinha que escolher entre o certo e o errado, não em relação a guerra, mas em relação a mim mesma.

Ver meus amigos morrerem era o que me afligia, o que me dava mais medo, então comecei a pensar no que aconteceria se eu não fosse, se eu ficasse no esconderijo sozinha. Acabei chegando a conclusão de que, seria muito pior, porque as mortes iriam acontecer inevitavelmente e eu iria me culpar por toda a eternidade, pensando que, se eu estivesse lá, poderia ter feito alguma coisa.

Era isso, eu estava decidida. Procurei Bernice e disse que queria participar da guerra, ela não deu um sorriso enorme, mas consegui perceber que havia ficou muito feliz. Fui colocada novamente no segundo grupo junto com Umi, Onawa, Sky e a própria Bernice, nós íamos ficar no esconderijo até que o último grupo saísse, ficaríamos de olho nos computadores, nos comunicando com eles o tempo todo.

Quando chegou a hora do primeiro grupo sair, dei um grande abraço em Agui, tão apertado que por mim não nos desgrudaríamos nunca mais. Antes ele estava todo forte e confiante, demonstrando que nada poderia detêm-lo, mas foi naquele momento, quando ele baixou um pouco a guarda, que eu percebi que ele também estava com medo.

— Eu liguei pra minha mãe - Agui disse quando me soltou

— E o que disse a ela? - perguntei

— A verdade - ele disse - ela não queria sabe? Falou que eu tenho Arendelle pra governar daqui alguns anos e que tenho estar pra isso, depois começou a chorar e mandou o reino se foder - ele deu um leve sorriso ao se lembrar da conversa - disse que quem precisava mesmo de mim era eu

— E o que você respondeu? - indaguei

— Eu te amo mãe - Agui repetiu a resposta que havia dado - nunca se esqueça disso

Os olhos dele ficaram levemente marejados, o que fez meu coração apertar e meu peito doer. Mas antes que se transformasse em lágrimas, o abracei novamente, sentindo seu doce cheiro de neve, hortelã e orvalho.

— Que tipo de rei eu seria se fosse pra essa guerra? - ele disse ao meu ouvido, sem me soltar - Que tipo de adepto eu seria?

— Apesar de eu achar tudo isso uma loucura extremamente perigosa - disse o soltando - acho, de verdade, que estamos fazendo a coisa certa

Agui sorriu com o que eu disse, o sorriso mais lindo da minha vida. Não importa o que aconteça, nunca vou esquecer como perfeito e maravilhoso era o sorriso do príncipe Aguidar de Arendelle.

** Pensamentos da Mal **

Mesmo depois de todo aquele tempo no esconderijo, ainda haviam partes dele que eu nunca tinha visto. Quando chegou a hora do meu grupo sair, Bernice nos levou até um local diferente - pelo menos pra mim - uma porta que ficava ao final do corredor oeste. Do outro lado estava uma sala grande e parcialmente iluminada por algumas luzes no teto, se tratava de uma garagem.

— Vocês vão no Troller camuflado - Bernice disse - como é o único que tem carteira, Steven vai dirigir

Steven pegou a chave em uma espécie de armário a direita e todo mundo foi pro carro, mas eu fiquei pois Bernice queria me dizer algo em particular.

— As escutas estão funcionando perfeitamente e os microfones também, então qualquer coisa que acontecer, qualquer problema, você pode falar comigo - ela disse - sei que isso tudo não é anda confortável, mas eu tenho um compromisso com esse pessoal e... eles são tudo pra mim

— Eu entendo, não se preocupe - respondi

Finalmente entrei no carro e Steven deu a partida, Agui assoprou de leve o ar e todo o chão chacoalhou por alguns segundos, depois disso Nina apertou um pequeno controle e o portão se abriu, já estávamos acima da terra. Steven saiu com o carro e eu olhei para trás pelo vidro do porta-malas, o esconderijo sumiu aos poucos, deixando apenas uma velha árvore para trás.

**

O prédio da Assembleia Real na verdade estava mais para um castelo. Como quase tudo em Auradon, a construção parecia ser muito antiga, mas ao mesmo tempo não poderia ser mais nova. Quando chegamos os portões da frente estavam abertos e haviam algumas guardas armados, o que nos deu um pouco receio no começo, mas decidimos avançar com o carro.

Quando chegamos bem na entrada, um guarda veio para perto e Steven baixou os vidros para que ele nos identificasse.

— Viemos pelo chamado do rei - Steven disse

O guarda olhou para todos nós por alguns segundos e depois deu uma ordem para que os outros nos deixassem passar. Steven acelerou e nós entramos, até aí tudo bem.

Só o jardim do prédio já era maravilhoso, com muitas plantas e uma fonte d'água enorme bem no centro. Mais alguns guardas nos esperavam, nós paramos o carro onde eles ordenaram e descemos.

O clima tenso logo de início estava bem claro, aqueles guardas foram criados em Auradon, escutaram desde pequenos como os adeptos de magia devem ser odiados e condenados pelos maus que fizeram. Eles só estão ali, nos recebendo, por que foram mandados pelo rei.

Alguns tinham a cara mais amarrada, outros estavam mais simpáticos e alguns demonstravam medo. Mas, independentemente de suas opniões pessoais, nos acompanharam para dentro do prédio, dois a nossa frente e dois atrás de nós, como cachorros direcionando um bando de ovelhas. Steven até quis chiar no começo, mas Nina pediu que ele mantivesse a calma e olhasse a situação para o outro lado. Aqueles guardas sempre estariam em desvantagem em relação a nós e todo esse convívio é bem novo, então, em quanto não nos ameaçarem, devemos seguir com o "protocolo".

Fomos levamos até um área bem grande e espaçosa que havia sido montada ao lado do prédio oficial da Assembleia, como se fosse uma grande barraca de acampamento. Lá tinha banheiros, uma cozinha completa, um espaço com sofás e televisão, e até pequenas tendas individuais, caso alguém quisesse um espaço mais reservado para descansar.

— Nossa, isso daqui suporta muito mais gente do que temos no esconderijo - Steven disse em tom baixo, para que apenas eu ouvisse

— Acho que essa é a intenção - respondi - afinal, não existe só uma sede e Benjamin sabe disso

— Olha... - ele disse com um meio sorriso - eu sei que você não gostou muito do que a Mama Odie disse, mas ela contou pra todo mundo e foi impossível eu não escutar, então, comprei isso daqui pro seu pequeno

Steven tirou um pequeno ursinho azul - mais ou menos do tamanho de uma mão fechada - do bolço de sua jaqueta e o colocou em minha palma. O pequeno urso segurava uma placa nas mãos com uma coisa gravada em letras maiúsculas: "OPAM".

— Meu Deus, isso é lindo Steven - eu disse - muito obrigada mesmo

— De nada, fico feliz que tenha gostado

— Esse a primeira coisa dele sabia? O primeiro presente - contei

— Sério? Nossa, que legal, fico feliz de ter tido essa honra - ele respondeu com um sorriso amarelo

Depois disso Steven se retirou e foi conversar com Nina e Agui, nós ainda tínhamos mais meia hora até entrar em contato com Bernice para que ela mandasse o segundo grupo. A conversa que tive com Steven me fez pensar que, até agora, eu não tinha preparado e nem comprado nada para o meu filho, tudo bem que eu descobri a gravidez a pouco tempo, mas eu não deveria estar toda animada como a maioria das mães ficam?

Aquilo provocou em mim uma seção de pensamentos com perguntas sem respostas tão intensa que nem notei quando Benjamin entrou no pátio, acompanhado por dois guardas. Ele estava usando um paletó preto e sua fiel coroa dourada na cabeça.

— Agradeço a todos que se dispuseram a atender meu pedido - Ben disse como que em um discurso, só que só tinha nós quatro ali - confesso que esperava mais gente, mas tudo bem, ainda temos tempo. Preparei tudo isso para que se sintam a vontade, nós ainda não sabemos com exatidão quando será a guerra, apenas que está próxima,  então até lá quero que se sintam como se estivessem em casa - ele estava com uma postura séria - meu exército irá nos ajudar no que for preciso, inclusive fornecendo armas a todos. Espero que os guardas não os incomodem, eles são apenas para segurança, tanto a nossa quanto a de vocês

Olhei para o lado a fim de ver a reação dos meus amigos, Steven e Nina aparentavam estarem um pouco desconfiados, enquanto Agui parecia super satisfeito com tudo. Como eu estava? Bem, sempre acreditei nele, mas sei que é difícil pedir o mesmo deles, afinal, desde que nasceram os adeptos forma humilhados e reprimidos pela coroa, não é fácil acreditar que, de uma hora para outra, resolveram ser os bonzinhos. 

— Enquanto a você, Mal - Ben disse, tomando minha atenção novamente - trouxe duas pessoas que queriam te ver 

Franzi a testa com aquilo, que pessoas seriam essas? Mas logo minha pergunta foi respondida, Evie e Jay entraram no pátio e meu coração se aqueceu só de vê-los, meus olhos até marejaram. Evie correu até mim e me deu abraço apertado, eu estava com muitas saudades dela. 

— Pode me dizer onde você estava sua maluca?! - ela perguntou depois de me soltar, visivelmente indignada 

— É Mal, não sabia que era tão radical assim, faz dias que não te vejo - Jay disse me dando um abraço e um beijo na lateral da cabeça 

— Desculpa gente, é que aconteceu tanta coisa, conheci tantas pessoas novas... - olhei para os meus amigos da OPAM 

— É tô sabendo que tá trocando a gente - Jay disse em um tom de brincadeira e depois achou graça

— Você quase me matou do coração, isso sim - Evie disse em um tom sério, ainda com raiva pelo meu sumiço repentino - fiquei aqui que nem uma doida imaginando que minha melhor amiga tinha resolvido voltar as origens e virado uma delinqüente juvenil

— Melhor amiga? - indaguei com as sobrancelhas arqueadas 

— Ai cala a boca - ela respondeu - pensei que você poderia ter perdido o... - Evie se calou 

— Tá tudo bem Evie, a gente tá bem - eu a tranquilizei, colocando disfarçadamente a mão sobre minha barriga - e o Ben já sabe disso 

— Já contou pra ele?

— Espera contou o que? - Jay indagou, lembrando a nós duas que ele ainda estava ali 

— Sobre os novos amigos da Mal - Evie mentiu 

— Então, o que posso resumir é que tudo é uma grande história que vou contar pra vocês depois, ok? - eu disse, olhando de canto para Evie, que entendeu o recado - Por enquanto nós temos que focar única e exclusivamente na guerra que está por vir 

— Sobre isso, não acredito que Uma foi capaz de algo assim - Evie disse - quer dizer, ela sempre foi doida, mas não tecnicamente perigosa

— Também acho - concordei - acredito que Úrsula é quem está por trás dela, a manipulando como sempre fez 

— Isso faz sentido - Jay disse - na Ilha ela sempre fazia tudo o que a mãe mandasse, mesmo que no fundo não quisesse 

— Querendo ou não, ela é a ameaça agora - disse 

— Jay vai lutar ao lado de Ben - Evie disse, o que me fez franzir a testa e olhar para ele 

— Que? Não, você pode se machucar, você... 

— Nem adianta tentar me impedir - Jay me interrompeu - eu vou fazer isso, vou defender Auradon 

Ele estava certo, Jay é tão determinado quanto eu. Se mesmo grávida eu ia lutar e ninguém iria me impedir, imagine ele. Então, apenas concordei com a cabeça, mas o medo de que algo acontecesse com meus amigos, ainda ficou presente. 

— Eu não sou uma lutadora muito boa, mas vou ficar ao seu lado o tempo todo, vou dar meu máximo - Evie disse

Sabe quando contestei sobre Jay ir pra guerra? Quase fiz isso com Evie também, mas aí lembrei que meus amigos são dispostos de tudo por mim, pelo nosso grupo, então não adiantava dizer nada, eles não mudariam de ideia. 

— Tudo bem - eu concordei por fim - e juntos nós vamos salvar o Carlos 

Os dois concordaram firmemente. 

Depois da conversa Evie foi embora pois tinha que ajudar Evie, as duas estavam super ocupadas tirando os moradores próximos da costa e os reagrupando em lugares seguros, além de conter toda a população, que deveria estar em êxtase. Jay tratou logo de ir se apresentar para o pessoal da OPAM e em poucos segundos eu já o vi rindo com Steven e Nina. 

Quando percebeu que eu estava sozinha, Benjamin disse algo para os guardas permanecerem onde estavam e se aproximou de mim. Minha maior vontade era de voar no pescoço dele e o encher de beijos, mas mantive a compostura. 

— E então - ele disse ao se aproximar - como você tá?

— Eu tô bem melhor - respondi 

— Olha, eu sei que as coisas entre nós não estão muito bem - ele disse me olhando nos olhos - mas eu preciso muito te mostrar uma coisa antes que essa guerra comece

Era realmente importante para ele que eu visse seja lá o que fosse que ele queria me mostrar, eu conseguia perceber isso só de olhar nos olhos dele, pois transbordavam de verdade e de amor. 

— Não sei se é bom me separar deles agora - eu disse, me referindo aos meus amigos da OPAM 

— Eles estão seguros aqui, você tem a minha palavra 

Passei alguns segundos pensando e por fim acabei aceitando. Conversei com Steven, Nina e Agui, e disse a eles que precisava ter um momento a sós com Benjamin, mas que tudo estava bem e que eles podiam entrar em contato com Bernice para que ela liberasse o segundo grupo. 

Depois disso, segui Ben pelo prédio da Assemblei até chegarmos no portão da entrada, o que achei estranho. 

— O que vai me mostrar não está aqui dentro? - indaguei 

— Não - ele respondeu - está em nossa casa, no castelo 

Sair do prédio da Assembleia era arriscado, eu sabia disso. Não era por estar com Benjamin, pois ele jamais me machucaria, mas sim por deixar meus amigos sozinhos. Mas, por algum motivo, eu simplesmente ignorei tudo isso, colocando o capacete e subindo na agrupava da moto que ele estava. 

Quando chegamos no castelo, ele aguardou que eu descesse da moto para que entrássemos juntos. Toda aquela curiosidade já estava me matando, eu sou uma pessoa curiosa por natureza. 

Nós subimos a enorme escadaria e ele foi todo o tempo ao meu lado, claramente com medo que eu caísse, permite o cuidado apenas porque estou carregando o filho dele, porque se não fosse já teria dado um tapa e mandado deixar de besteira. Quando terminamos de subir, ele me levou para o final da ala leste, que era onde ficava o meu quarto e o dele, mas nós não entramos em nenhum dos dois, Ben parou em frente a uma porta diferente, que parecia ter sido esculpida á mão de tão bonita, era de madeira branca. 

Ben pousou a mão na maçaneta e se virou para mim. 

— Fiz isso pouco tempo depois que você foi embora - ele disse, aumentando ainda mais o suspense e a minha curiosidade - quero que saiba que não estou forçando nada, apenas... - ele respirou fundo - espero que goste 

Benjamin abriu a porta e meus olhos quase saltaram quando vi o que estava por trás. Se tratava do quarto de bebê mais lindo que já vi em toda minha vida, feito inteiramente com uma decoração rústica em branco, dourado e azul. 

O berço, o trocador, uma poltrona, o armário, as cortinas, o lustre, a vista do jardim... tudo estava tão perfeito, que não conseguiria imaginar em algo melhor. 

— Ben... - eu disse - isso é... é maravilhoso! - comecei a andar para o centro do quarto

Passei os dedos pelo trocador, a madeira  também havia sido esculpida á mão, depois voltei os olhos para o berço e coloquei as mãos na grade do mesmo, era lindo. A pequenas colcha de cama era bege e o entorno era decorado com fitas azuis. 

— Era meu - Benjamin disse, ele já estava logo atrás de mim - minha mãe guardou todo esse tempo e, quando descobri sobre o nosso filho, foi quase impossível pensar em outro possibilidade 

— Eu adorei - disse - é realmente lindo 

Olhei para o pequeno armário cheio de ursos de pelúcia e brinquedos e caminhei até lá. Passei a mão em uma pequena ovelhinha que tinha uma lua bordada na barriga e no mesmo momento imaginei como seria quando o bebê tivesse idade suficiente para brincar com ela. 

— Mas... e se algum empregado entrar aqui? - indaguei 

— Mantenho fechado o tipo todo e sou o único com a chave - Ben respondeu - a única pessoa que sabe é a Evie, ela me ajudou a decorar tudo 

— Bem que eu notei um traço do estilo dela nas coisas...

Depois disso se passou um certo momento de silencio, o qual tomei em ficar olhando cada pequeno detalhe. Até roupinhas ele havia comprado, todas no estilo "príncipe" é claro, mas eu adorei mesmo assim. Tomei uma em minhas mãos, se tratava de um conjuntinho de short e blusa nas cores azul e branco, o tecido era muito macio, levei até o nariz e senti uma doce fragrância, já podia imaginar ele usando aquelas roupas. 

— Mal - Ben disse enquanto eu colocava a roupinha de volta no lugar - me desculpe 

Passei alguns segundos olhando para a gaveta aberta, mais precisamente para o local onde havia colocado a roupinha, pensando no que deveria dizer diante daquilo, antes de fecha-la e me virar para Ben.

— Pelo o que exatamente? - indaguei 

Benjamin me olhou como se não tivesse entendido, como se o pedido dele não já fosse óbvio o suficiente, e era, mas eu queria ouvir da boca dele, queria que ele me dissesse exatamente pelo o que se arrependia. 

— Me desculpe por não ter lhe dado atenção suficiente, por ter tentado te transformar em uma coisa que você não é e por ter te feito acreditar que gostava mais dessa versão, quando a verdade é que te amo do jeitinho que você é - ele finalmente disse - me desculpe por ter tentado te forçar a fazer coisas que não queria e por ter estragado nosso noivado 

Ben me olhou com grandes olhos pidões, quase de olhos implorando que eu o perdoasse. Não é só o pedido de desculpas sabe, não é só o fato dele ter admitido pra mim os seus erros, mas ele passou por uma situação muito difícil para remendar esse erro, que nem é completamente dele e sim que vem perpetuando durante as gerações. 

Ele foi o primeiro rei a fazer alguma coisa, sabe? Os outros apenas pegaram o erro e continuaram tratando de mante-lo funcionando. Benjamin foi o primeiro a fazer alguma coisa pelos habitantes da Ilha, mesmo que tenha sido uma ação pequena diante de toda uma grande corrupção, mas ele foi o primeiro a se importar. 

E quando finalmente percebeu o grande erro cometido pelos reis passados, tratou logo de concerta-lo, sem se importar com o que o conselho ou a população diria, se preocupou apenas com aquilo que é o único dever real do rei, a segurança e o bem estar do seu povo. Benjamin fez isso com toda a segurança e responsabilidade de um grande líder, o que - tenho que admitir - me deixou muito orgulhosa. 

Estava tão imersa nos meus pensamentos que não percebi que havia ficado calada diante do pedido de desculpas do Ben. Quando dei por mim ele já estava falando de novo. 

— E por ter sido um completo babaca e idiota - ele disse 

Dei um riso contido e em seguida puxei-o para mim, lhe dando um grande beijo, o qual ele retribuiu com destreza. Nossa, que saudade eu estava daquele beijo, daquele cheiro e daquele cabelo... eu amo o Ben, mas do que eu possa imaginar, mas quem eu sou, os meus direitos e o meu bem estar, vem acima disso, e acho que me fez muito bem testar e descobrir isso na prática. 

Passamos um bom tempo nos beijando, não sei ao certo quanto tempo foi pois, afinal, não estava contanto, mas foi muito bom e senti que também foi diferente dos outros, que esse beijo, de alguma forma, fortaleceu ainda mais nossa relação como casal. 

Soltei Benjamin e o abracei logo em seguida, repousando meu queixo em seu ombro, e depois disse ao seu ouvido: 

— Estou pronta para usar aquele anel agora

Ben me soltou e deu um sorriso, que aqueceu meu coração, em seguida colocou a mão no bolço interno do paletó e tirou o meu anel, estava com ele o tempo todo. Estendi minha mão e ele colocou delicadamente o anel em meu dedo, depois fechou os olhos, aproximou o rosto, e deu um beijo no local. 

— Eu te amo Mal Berta - Ben disse com um sorriso maroto 

— Eu também te amo Benjamin Florian - respondi também sorrindo 

** Pensamentos da Mal **

DIA ATUAL - AGORA

A noite escura havia tomado conta de toda costa, a areia antes branca agora se tornara cinza, e o mar antes azul agora era de uma cor escura, quase preta. O vento forte tocava as águas, formando ondas que quebravam nas enormes pedras e trazendo frio a todos nós, o silêncio era tão profundo que chegava a doer os ouvidos. 

Depois que tivemos a certeza que o prédio da Assembleia era seguro e Bernice veio com último grupo, muitos outros adeptos também vieram, líderes das outras sedes da capital e até alguns de que a OPAM não tinha conhecimento, que vieram pelo pedido do Ben na televisão. Cada um tinha seu próprio e único poder, mas os de alguns eram parecidos com os de outros. 

Naturalmente, todos foram se entrosando e trocando técnicas de batalha entre si, risadas eram ouvidas constantemente no pátio e treinar com diferentes tipos de magia e ver como a sua própria reagia, fez muito bem a todos. No meio do caminho o príncipe Noah, filho da Branca de Neve e irmão mais novo da rainha Emma, se apresentou para lutar, mas a verdade é que os poderes haviam aparecido a pouco tempo para ele e estava completamente perdido. Nós o acolhemos e deixamos bem claro que ele não era obrigado a lutar, mas ele insistiu na ideia. 

Bernice escolheu se manter afastada dele o tempo todo, não entendi muito bem o porque, mas ela se juntou a mim, Ben os outros líderes da OPAM para formularmos um plano de ataque, uma formação de estratégia que iríamos obedecer na hora da guerra. A frente de batalha foi formada em parte por soldados do exército de Benjamin, com lanças e escudos enormes e em outra parte por alguns adeptos mais experientes na arte de batalha. 

Logo atrás da frente vinham mais homens do exército e mais adeptos, como a maioria dos membros do esconderijo da Auradon Prep, inclusive a princesa Isabel, que decidiu participar de última hora. A terceira e última divisão era formada por todos os líderes, incluindo Bernice, e por Benjamin e eu, a nossa divisão iria comandar todos os movimentos, guiando a todos. Nós tínhamos também alguns homens que serviam como uma espécie de escudo, para proteger a mim e a Benjamin. 

Cada um da terceira divisão dispunha de um cavalo, uma arma e um escudo. Eu escolhi uma espada, assim como Ben. Mas antes que a guerra começasse de fato, uma coisa aconteceu. Benjamin veio até mim, nós estávamos atrás dos cavalos, relativamente reservados dos outros. 

Ele estava de cabeça baixa e parecia triste, sem dizer nada o Ben apenas e beijou e eu retribui, mas achei tudo aquilo muito estranho, senti que algo não estava bem. Depois de algum tempo, ele me soltou e ficou de joelhos, beijando minha barriga logo em seguida, depois me olhou e eu pude ver que seus olhos estavam marejados. 

— O que foi amor? O que aconteceu Ben? - indaguei 

— Queria que você me dissesse o nome dele

— O que? Por que... 

— Se alguma coisa acontecer, se eu não... - ele respirou fundo - gostaria de saber o nome dele 

Eu sabia o que ele queria dizer, sabia que estava se referindo a morte dele e, por mais de ter a certeza de que isso não aconteceria - pois simplesmente não podia acontecer - resolvi responder a pergunta dele, acalmar o seu coração antes que a batalha começasse. 

— Joseph - respondi - o nome dele é Joseph - respondi com os olhos também marejados

Ben olhou para mim e deu um leve sorriso, prova de que havia entendido e concordado com o porque eu havia escolhido aquele nome. E bem naquele momento, um grito pode ser ouvido no céu, Benjamin levantou-se rapidamente e nós olhamos para cima, um pássaro enorme e preto cortou o céu acima de nossas cabeças, era Diaval, a guerra iria começar. 

Ben e eu montamos nos cavalos novamente e avisamos Bernice de que a batalha iria começar, a mesma tratou de repassar a informação. Em poucos segundos, mastros puderam ser vistos na margem do mar escuro, tais mastros deram lugar a enormes embarcações de madeira escura, os inimigos haviam chegado. 

Respirei o ar frio e empunhei meu escudo e minha espada, agora não tinha mais volta, aquele era o momento pelo o qual estávamos esperando a tanto tempo. Aquele era o dia que o destino de nossas vidas seria decidido. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado pessoal, desculpem a demora, mas é que como já estamos no final, queria fazer uma coisa grande e boa aos meus olhos. Não se esqueçam de comentar e favoritar a história, beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Two Worlds - Dois Mundos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.