Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 30
"Regimes caem todos os dias"


Notas iniciais do capítulo

Referência logo no titulo, quem sabe quem disse isso?



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** Pensamentos da Mal **

— Eu tô gravida - contei, tirando um peso enorme dos meus ombros

Ben ficou parado me olhando com a mesma cara, talvez um pouco menos animado, mas não me respondeu nada a princípio. Eu achava que contar seria um martírio, mas aquela demora dele é que estava me matando.

Quer dizer, podia tá passando qualquer coisa pela cabeça dele, possibilidades infinitas e, por algum motivo, a de que estava feliz com aquilo era a última da minha lista.

Não foi planejado, eu entendo, nós devíamos ter nos protegido mais, ter tomado mais cuidado e quem sabe até ser mais responsáveis - por mais que eu ache que já somos demais - mas já aconteceu e está aqui, é um fato e não mais uma possibilidade. Nós vamos ter um filho.

E como ele não falava nada, talvez por ter tomado um choque, resolvi eu mesma dizer alguma coisa.

— Olha, eu não sei onde a gente se perdeu Ben, eu não sei mesmo - comecei depois daquele momento de silencio - e isso enche o meu coração de tristeza porque eu realmente acreditei que ia dar certo. Mas eu sei de uma coisa, que esse bebê que tá aqui - coloquei a mão na minha barriga - foi a gente que fez. E eu não me importo com o quão ruim e impossível o momento seja, não mais, eu só penso em ser uma boa mãe e em poder mostrar pra ele o mundo, poder mostrar pra ele muito mais do que só uma ilha - sem perceber, meus olhos se encheram de lágrimas - mostrar pra ele um mundo que eu só tive acesso há pouco tempo. E acima de tudo, mostrar pra ele o quanto o amo

De todas aquelas palavras que eu disse, que estavam encravadas em meu peito e eu nem sabia, o que mais me surpreendeu foi a reação dele. Ben estava chorando.

— E você acha que eu não gostei, é isso? - ele perguntou

Daquela vez, foi eu quem ficou sem palavras.

— Nós vamos ter um bebê? De verdade Mal? - Ben perguntou com uma voz fanhosa e eu apenas balancei a cabeça confirmando, sorrindo em meio a todas aquelas lágrimas

— Um menino... meu Deus - ele disse, se curvando e dando um beijo em minha barriga - eu te amo tanto - Ben me deu um beijo em seguida, mais demorado e intenso do que os outros

Eu não sei se aquilo estava permitido, não sei mesmo. Nós estávamos separados, há muito pouco tempo eu admito, mas separados, e não quero que o bebê seja uma desculpa para que tudo volte ao normal quando, na verdade, nada nunca foi normal.

Então eu me decidi e fiz uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida. Segurei nos ombros de Ben e o afastei, rompendo nosso beijo. Ele olhou para mim com uma expressão confusa, como se perguntasse o motivo. Eu não consegui falar, então apenas fiz negativo com a cabeça, chorando mais ainda.

— Mal? - ele me chamou, mas eu não respondi - Se isso é sobre a nossa briga, me desculpe, não vai acontecer de novo, mas por favor vamos ficar juntos tá? Nós três

Eu sei que vai ter gente me chamando de louca por rejeitar-lo, mas um relacionamento é muito mais do que aparência, essa na realidade é uma fração tão pequena que nem se conta. Um relacionamento é feito de confiança, é olhar pro outro e saber que, não importa o que, ele sempre estará lá pra você.

Quando eu conheci o Ben eu tava tentando acabar com a família dele, da pra acreditar? Eu estava tentando agradar minha mãe, é claro, mas não posso dizer que fui obrigada. Nós acabamos nos apaixonando e aqui estamos, mas eu acho que ele acabou esquecendo disso.

Ben sempre foi muito atencioso, me enchia de presentes no início de namoro - mesmo que eu vivesse pedindo pra ele parar. Mas desde que eu dei o "sim" a ele as coisas mudaram, as vezes parece até que ele só esperava por isso.

Nós temos brigado muito e sempre voltamos sem realmente avaliar o motivo da discussão, os pedidos de desculpa dele perderam a verdade, nossos momentos juntos se resumem em sexo ou em brigas e não era assim, tenho consciência disso, mas a gente se perdeu em algum ponto e, não sei se conseguiremos nos encontrar de novo um dia.

— Não dá Ben - eu disse - você sempre diz isso, sempre diz que vai ser a última vez, mas nunca é! A gente sempre volta a brigar com pouco tempo. Sabe do que eu sinto falta?! Sinto falta de quando você me levava para fazer um piquenique no parque, de quando você me dizia que a única coisa importante era que estivéssemos juntos e, poxa, eu acreditei nisso tudo! - elevei um pouco o tom, uma tentativa de que ele me entendesse - Mas de todas as coisas, o que mais me decepcionou foi que você costumava me dizer que regimes caiam todos todos dias, mas quando eu te pedi ajuda para quebrar justamente um deles, você se negou- respirei fundo, tentando manter a calma - você gritou, esbravejou e nem sequer pensou um minuto em mim! Eu não sei se eu quero isso pra minha vida

Ben apenas me olhava em choque, mas sem falar nada, talvez porque soubesse que tudo o que eu falava nada mais era do que a verdade.

— Toda essa coisa de ser rainha - continuei - de bailes, vestidos, aulas de etiqueta... tudo isso sempre fez sentido porque era por você! Mas agora? Eu não sei... não sei se ainda quero ser rainha

Falar aquilo não foi fácil, acredite, estava me cortando por dentro de tantas maneiras que nem consigo por em palavras, mas eu precisava que ele entendesse, entendesse que eu não iria viver uma vida infeliz por causa dele, muito menos deixar que meu filho vivesse.

— Eu não posso mentir pra você, muito menos pro seu povo - eu disse - eu fiz isso no começo e jurei pra mim mesma que jamais faria. Então não Ben, eu não posso denunciar essa organização e ficar do seu lado, como um cachorro adestrado. Eu não posso fazer isso porque estaria negando quem eu sou e, você querendo ou não, eu sou uma adepta de magia. Então se você não gosta, se você se enganou e não quer mais, é só dizer, mas tenha em mente que no momento que você declarar guerra contra eles - falei me referindo aos membros da OPAM - estará declarando contra mim também

— Eu nunca quis...

— Eu te amo Ben - o interrompi - amo tanto que o meu peito dói. Mas não sei mais se você se lembra o que é o amor - ergui um pouco os ombros e deixei que caíssem - principalmente depois do que ouvi você dizer. Não consigo entender como uma pessoa tão maravilhosa que foi capaz de me ensinou o que é o amor, consegue matar milhares de pessoas pelo simples fato de serem diferentes do comum. Desculpa Ben, mas não quero essa vida para o meu filho

Ben me olhou por alguns segundos, as lágrimas ainda presentes em seu rosto, depois levantou, passando a mão pelos fios dourados de cabelo.

E por mais que tenha me matado por dentro, eu tinha que dar um basta naquilo e, sinceramente, não sei se foi pesado demais, mas foi o que senti que era o certo a ser dito. Ben precisava entender a gravidade do que ele queria fazer, condenando todas aquelas pessoas - em sua maioria ainda crianças - a morte.

— Talvez Rumpelstiltskin estivesse errado e os fios do nosso cabelo tenham brilhado por outro motivo - uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto

A vontade de chorar era enorme, mas me mantive forte.

— Eu sinto muito se fiz você se sentir assim - ele disse - Mas não se preocupe, não vou forçar para que volte comigo, vou deixar que seu coração decida o que é certo - Ben fez uma pausa, respirando fundo - por mais que isso vá me destruir

Depois disso ele saiu e fechou a porta. Pronto, Ben havia ido embora, eu e o pequenino estávamos sozinhos de novo. Abracei meus próprios joelhos e cai em uma crise de choro.

** Pensamentos de Bernice **

— Pare de andar ai Bernice - Mama Odie disse - ou vão acabar te escutando!

Eu estava em frente a porta do ambulatório, andando freneticamente de um lado para o outro e com raiva por não conseguir escutar nada da conversa que se passava lá dentro.

Não me tenha como fofoqueira, longe disso, mas é que não sei se trazer Ben para o esconderijo foi a melhor coisa que fiz, afinal, coloquei a vida de todo mundo em risco. Até agora me pergunto de onde veio essa ideia absurda.

— Porque essas portas são tão grossas, ein?! - indaguei, ignorando o que Mama Odie disse - Não dá pra ouvir na...

Fui interrompida pelo próprio, Benjamin abriu a porta de repente e estava com uma cara de choro. Olhei para ele por alguns segundos e depois direcionei o olhar para dentro do ambulatório, Mal estava chorando.

— Mas o que foi que você fez com ela?! - indaguei, mas o cara me ignorou e apenas fechou a porta, passando por mim em seguida, se direcionando para a saída - Onde você pensa que vai assim?! - disse o acompanhando

— Tá tudo bem Bernice, não contarei sobre o esconderijo e nem sobre a OPAM para ninguém - ele disse finalmente parando de andar - não precisa se preocupar

— Disso eu já sabia - disse em um tom firme. Claramente era uma mentira, mas aproveitei para promover minha autoconfiança - quero saber o que disse para a Mal que deixou ela naquele estado - eu já estava com o dedo em riste

— Quase nada na verdade - ele disse com tranquilidade, como se não compreendesse a situação de extremo perigo que se encontrava - foi ela quem mais falou

— Que? - perguntei com a testa franzida, não entendendo nada

— As coisas não estão boas entre a gente no momento - ele prosseguiu - mas vão ficar, disso eu tenho certeza

Depois do pequeno discurso, Benjamin saiu pela porta principal de ombros erguidos, aparentando bem decidido em fazer aquilo que dizia. Eu permaneci intrigada, sem entender o que havia acontecido ali.

Steve - que eu nem sabia que ainda estava ali - apareceu atrás de mim quase que como um fantasma.

Bufei de raiva, as coisas estavam acontecendo e eu estava - quase - por fora, e isso, normalmente, não acontece. Andei até a porta e a abri, Ben não estava nem tão perto e nem tão longe.

— Não pense em voltar aqui! - gritei, meu rosto vermelho de raiva

— O que? - ele perguntou, virando-se para mim

— Não estaremos mais aqui quando você voltar

— Mas...

— Da mesma forma que nos instalamos aqui também podemos ir embora e, sem a ajuda de algum de nós, jamais vai nos encontrar novamente. Espero que tenha me entendido bem!

Ben pareceu me observar por alguns segundos, o que eu achei super estranho no começo, mas depois ele disse alguma coisa.

— Você tem uma promessa minha de que nada acontecerá com essa organização Bernice - ele disse - se ainda assim quiser ir, está livre pra isso - depois se virou e continuou andando

— Está livre? - repeti o que ele disse - Mas é claro que estou! - gritei, antes de fechar a porta com força

Em poucos segundos a passagem desapareceria para ele e tudo voltaria a ser apenas um conto de fadas sobre uma árvore velha.

Quando me virei, Steve e Amin estavam me olhando como dois idiotas. Tive que respirar fundo e eu juro, juro que tentei ser paciente, mas é que com eles isso é quase impossível.

— Por que estão me olhando como dois doentes mentais?! - indaguei

— É que... que... - Steve gaguejou

— É que nada! Vão já preparar a sala de treinos, vou precisar dela hoje!

Os dois saíram como baratas tontas, se batendo no meio do caminho. Olhei para Mama Odie e ela estava tomando uma espécie de chá mágico, sem dar muita atenção ao que se acontecia.

— Me acompanhe, sim? - disse já um pouco mais calma

Respirei fundo mais uma vez, depois girei a maçaneta e entrei no ambulatório, Mal ainda chorava na maca, só que bem menos. Não sei o porque, por isso nem me pergunte, mas não gosto de vê-la assim.

— E então? - disse me aproximando. Ela secou as lágrimas do rosto com as mãos, tentando esconde-las - Tudo bem por aqui?

— Mais ou menos - ela disse com o olhar no vazio, os olhos já enchendo de lágrimas novamente

— A guerra está se aproximando e preciso que você me ajude a liderar os adeptos - disse, tentando anima-la um pouco

— Sério? - ela perguntou olhando em minha direção

— É claro - disse - mas não pense que eu vou pegar leve só porque você tá grávida, viu? - brinquei, a fazendo rir

— Pegar leve é justamente o oposto dos seus treinamentos malucos Bernice - Mama Odie disse enquanto mexia na prateleira de medicamentos - tão violentos...

— Treinamentos? - Mal perguntou e eu já pude enxergar um leve sorriso em seus lábios

— Sim, temos uma sala especializada no assunto - respondi - será que você sabe lutar? - provoquei, a fazendo me olhar sério

— Tenho certeza de que vou te surpreender - ela disse com um sorriso sem dentes

— Parece que a menina está te desafiando para um duelo - Mama Odie disse também sorrindo

— Tudo bem - disse - que comece então

** Pensamentos do Príncipe Noah **

Joguei a bola com força para o canto do quarto, ela bateu na parede e ficou por lá mesmo.

— Mais que raiva! - gritei - Nós não podíamos ter perdido...

Hoje pela manhã tivemos jogo da seleção, jogamos contra o colégio estadual de Goldland e - pela segunda vez consecutiva - perdemos. Mais que droga! Depois de tudo que treinamos.

Respirei fundo e decidi que o melhor a fazer era tomar um banho, tentar aliviar a tensão para colocar as ideias no lugar.

Entrei para o banheiro e tomei uma ducha demorada. Quando sai ainda não tinha exatamente esquecido do jogo, mas pelo menos estava pensando um pouco menos nisso.

Enrolei uma toalha da cintura e voltei para o quarto, peguei meu celular em cima da cama e tomei o tempo em ver as publicações dos meus amigos no Instagram.

Tinha de tudo, desde os meus amigos do time com mensagens de apoio - por conta da nossa derrota - até líderes de torcida de biquíni na praia. Mas de tudo isso, o que me chamou atenção foi uma publicação de uma pessoa em especial.

Isabel havia postado um pequeno video do idiota do Aguidar, na legenda dizia:

"Estudando para a prova de química, mas não consigo me concentrar com essa carinha fofa do meu lado"

Parece que eles estão realmente juntos, ainda não acredito que a perdi, é tão linda, definitivamente uma das mais lindas da escola. E foi aí que comprovei aquele ditado: nada nunca está tão ruim que não possa piorar. O que foi que ela viu nele, ein?

Respirei fundo e joguei o celular em cima da cama novamente, depois fui até o closet escolher uma roupa. Quando voltei de lá meu celular começou a tocar, o peguei e atendi a ligação.

— Ei cara! Como você tá? - era Dylan na linha - A galera tá combinando de ir comer uns hambúrgueres, o que você acha?

— Onde? - perguntei

— Na lanchonete da priscot com a 16 - ele respondeu - te vejo lá

Nos despedimos e eu desliguei, peguei minhas meias, calcei meus sapatos e sai do quarto.

**

Quando cheguei na rua, já pude observar a movimentação dentro da lanchonete, não era nem hora do almoço e o pessoal do time e as líderes de torcida já estavam todos por ali. Estacionei em uma das vagas e passei alguns segundos observando a cena, mesmo nosso time perdendo o jogo, todo mundo tá ali, comemorando junto.

Em parte é muita vontade de sair da escola pra comer alguma coisa e beber uma, mas por outro lado é sobre sempre ver o lado positivo das coisas, eu gosto disso.

Finalmente desliguei o carro e desci, o pessoal veio para a varanda da lanchonete e começou a acenar pra mim, a galera do time fazendo "fiu-fiu", o que me fez rir.

Quando cheguei na parte de cima, todos vieram até mim e me deram um abraço em grupo, é meio que a forma deles de dizer que "tá tudo bem", eu agradeci e encontrei um lugar para sentar ao lado da Stacey.

Se eu sou o capitão do time de futebol, a Stacey é a capitã das líderes de torcida, filha mais nova da Cinderella, ela está em primeiro lugar da lista de mais sexy da escola, a garota é um avião, sem falar que tem um rosto lindo.

O que eu sei sobre ela? Bem, só o básico. Faz parte de um dos clássicos e tem três irmãos mais velhos, todos homens, dizem que a rainha Cinderella queria muito uma menina e só parou de engravidar quando conseguiu, o que faz da Stacey ser como uma jóia rara, quase que literalmente um pedaço de ouro ambulante.

Tudo o que sempre quis durante toda a vida foi e é dado a ela sem demora, privilégio de ser tão esperada. Tirando isso, eu sei que ela faz parte da linhagem real oficial, assim como eu e que, bem, é caidinha por mim. Eu até gosto dela, nós já ficamos em algumas festas, mas nunca passou disso.

Tem sido assim há muito tempo, muitas garotas se matam pra ficar com o capitão do time da escola e - sem querer me gabar - já fiquei com muitas destas, mas às vezes eu sinto uma espécie de vazio, como se faltasse algo... concreto, como se já tivesse encontrado a pessoa certa, só que não me lembro dela.

Eu sei, maluquice minha, como é possível alguém encontrar o amor da sua vida e se esquecer dele?

Assim que sentei, Stacey colocou a mão no meu joelho e forçou o rosto para frente, para não ficar um clima estranho, beijei a lateral do seu rosto, ela não pareceu cem por cento satisfeita, mas já foi o suficiente para que diminuísse as insinuações.

— E então capitão? - Dylan se aproximou da mesa e me chamou, me salvando de ter que lidar com a Stacey - Você conseguiu ou não ficar a novata?

A pergunta do Dylan fez com que o pessoal todo se agitasse e olhasse pra mim, o que não era muito o que eu queria no momento.

— Na verdade não - respondi - ela me deu um bolo

— Sabe qual o problema dela? - Dylan perguntou - É que ela ficou chateadinha só porque a gente deu uma surra no namoradinho dela, o idiota do Aguidar

Todos começaram a concordar.

— Psiii! - fiz um gesto para que todos fizessem silêncio e então olhei para ele - O James tá bem ali cara

Dylan olhou para onde eu apontava e depois fez uma expressão de desdém, como se não ligasse muito.

James estava em uma mesa próxima comendo com alguns amigos, ele é do último ano e é parente do cabeça de gelo. James é filho da duquesa Jane e do príncipe Tarzan, o que faz dele e Agui... primos de primeiro grau. Eu sei é esquisito, mas acontece que antes do acidente que provocou a morte dos pais da rainha Elsa, eles tiveram um filho que se perdeu e só foi encontrado muitos anos depois.

Até onde eu sei, James e Agui não são muito próximos, mas de qualquer forma não é bom falar mau assim do primo perto dele, afinal, são parentes.

— Ainda bem que você não saiu com ela Noahzinho - Stacey disse colocando a mão em minha perna novamente - sabia que ela tem magia? Lá no reino de onde ela vem isso é permitido, dá pra acreditar?

— É cara - Dylan concordou - isso é repugnante

— Ainda bem que você está sendo muito bem preparado para quando tomar o lugar de sua irmã deixar toda essa magia bem longe do seu reino, né? - Stacey disse, passando a mão de minha perna para meu ombro

— Emma tá grávida Stacey - disse em um tom sério, porque ela já sabe disso - se nascer um menino eu nunca vou chegar ao trono - puxei meu ombro, a fazendo tirar a mão

O clima ficou tenso e todos começaram a conversar sobre outras coisas entre si, enquanto eu tomei o tempo em ficar girando canudo vermelho no copo de refrigerante.  E foi quando estava fazendo, focado no canudo dentro do copo, que uma coisa bizarra aconteceu.

O refrigerante começou a soltar pequenas bolhas e até ai tudo bem, afinal, poderia ser só o gás saindo, o problema foi quando as bolhas começaram a aumentar, muitas de um vez começaram a sair e fazer o refrigerante subir. Arregalei os olhos e estava perplexo, mas ao mesmo tempo, por algum motivo, não conseguia desgrudar a mão do copo.

O refrigerante subiu tanto que acabou passando do copo e melando a mesa, soltei o copo de uma vez e me levantei no impulso, todos pararam de falar e olharam para mim. Meu coração estava acelerado e eu sentia suor escorrer pela minha testa.

— Noah? Tá tudo bem cara? - Dylan perguntou com a testa franzida

Eu queria responder, mas eu não conseguia.

— Noah? - Stacey me chamou com uma expressão preocupada

— Eu... - finalmente disse alguma coisa - eu derramei refrigerante na minha roupa sem querer - menti - eu vou... vou no banheiro... limpar

Mas acontece que eu não fui, pelo contrário, continuei parado observando copo em cima da mesa e o refrigerante derramado, piscando para ter certeza que era real.

— Noah? Tá tudo bem mesmo? - Stacey perguntou novamente

— Tá sim, eu só vou... vou...

Antes de completar a frase dei meia volta e saí da lanchonete, entrei no carro e dirigi pra bem longe dali.

** Pensamentos da Mal **

Juntei minhas mãos em forma de concha e as coloquei em baixo da água corrente, que em poucos segundos formou uma lagoa em minhas palmas. Respirei fundo e joguei a água no rosto, uma tentativa de me manter acordada e focada no que tinha que fazer.

Desliguei a torneira e encarei a outra eu no espelho. O cabelo levemente bagunçado, olhos um pouco inchados e uma boca pálida, de longe uma das piores versões de mim mesma. Botei as mãos na barriga e virei de lado, não sabia ao certo se tinha alguma diferença, para mim parecia o mesmo de sempre, como se nem estivesse grávida.

"Grávida", definitivamente ainda é uma palavra que me assusta quando a pronuncio. É que eu nunca pensei na vida que "Mal" e "grávida" pudessem estar na mesma sentença, quem dirá no mesmo caminho! Mas aos poucos ela vai se tornando menos estranha, aos poucos eu vou me acostumando com o fato de que, não estou mais sozinha.

Me virei de frente de novo e voltei a me encarar no espelho. Como eu estou? Destroçada. Ben é uma parte enorme de mim, de uma importância imensurável, foi ele quem me ensinou que eu não estava só quando acreditei que estava, que me ensinou o que é o amor quando eu nem sabia se o mesmo existia de verdade e, acima de tudo, me ensinou o que é ser feliz sem precisar machucar ninguém a minha volta.

Mas mesmo ele sendo tudo isso, Ben não é toda a minha vida, sem ele eu ainda existo e não posso simplesmente ignorar o que sou por ele. Então, por mais doloroso que seja, tenho a certeza que fiz o que é certo.

Então eu balancei a cabeça, expulsando todos os pensamentos ruins, e me foquei em apenas uma coisa: a batalha. Se eu iria fazer aquilo mesmo, então era melhor fazer direito.

Tirei uma liga do bolço da minha calça e amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto, alguns fios escorregaram e ficaram soltos, mas não me atrapalhavam, então os deixei lá.

Enxuguei o rosto com uma toalha e finalmente saí do banheiro. Amin estava me esperando do lado de fora, distraído com algo no celular, ele ia me levar até Bernice.

**

Quando finalmente entrei na famosa sala de treinamento, estava boquiaberta,  nunca havia visto algo nem ao menos parecido com aquilo.

O pé direito era bem alto, haviam luzes compridas e uma das paredes era coberta de janelas que iam do chão ao teto, deixando uma vista simplesmente maravilhosa do jardim, de tirar o fôlego.

Na parede esquerda havia outra janela, mas bem diferente das outras, essa parecia ser muito resistente e tinha a forma de um retângulo, com um vidro meio escuro. Do outro lado dela haviam vários computadores, telas de comando e uma porta de acesso.

O restante das paredes eram pintadas de um cinza claro e o chão era um pouco macio, como se fosse feito de alguma espécie de esponja. Haviam também armários de metal e portas de vidro com diversos utensílios dentro, que cheguei à conclusão de serem armas.

— Incrível - foi tudo que consegui dizer

Bernice, que estava de costas para mim lendo alguma coisa em seu tablet, se virou e deu um - quase - sorriso quando me viu, mas eu prefiro acreditar que foi um de verdade.

— Já era hora - ela disse - achei que ia ter que te buscar lá dentro

Preferi ficar calada e não responder.

— Amin - Bernice continuou - cadê o Ian?

— Você não vai gostar da resposta... - Amin, que estava logo atrás de mim - respondeu

— Por que não?

Mas antes que ele respondesse, uma pessoa saiu da porta de acesso a sala de computadores. O garoto tinha um cabelo ruivo escuro e segura um bebê no colo, ele o embalava em um leve balançar.

— Quem me chama? - ele brincou

— Ian! - Bernice o chamou em um tom alto - Posso saber o que isso está fazendo aqui? - ela deixou bem claro que se referia a criança

Isso, Bernice - Ian disse - é minha filha e nome dela é Davina

— Sei, só não entendi o que ela faz aqui ainda

— A mãe teve que viajar e você sabe disso - ele explicou

— Tá, só não entendi porque isso é culpa minha

— Ah, para vai! Ela é um amor!

Ian deu um sorriso malicioso e começou a aproximar a bebê de Bernice, tentando fazer com que a mesma a pegasse no colo, que rejeitava de todas as formas. A pequena Davina estava gargalhando de toda aquela situação.

— Para! Será que você não consegue ser um pouco maduro pelo menos uma vez?

Ian ajeitou a bebê no colo novamente e não pareceu se importar muito com o que Bernice disse, pelo menos não aparentava.

— E o que é que você quer, então?

— O que eu quero é que o responsável pela sala de treinamento faça o seu trabalho

— Ah... ok. Deixa só eu... só... - Ian disse enquanto olhava para os lados, como se procurasse alguma coisa - Segura ela um pouquinho pra mim, vossa realeza?

Sem cerimonias, Ian colocou Davina no meu colo. Eu não rejeitei, mas tenho a certeza de que não a estava segurando da maneira correta.

— É vossa majestade, seu idiota - Bernice disse se referindo a forma como ele me chamou - e ela ainda não é rainha

— Ué, mas vai ser logo logo - Ian retrucou e depois virou-se para mim - aproveita e você já vai treinando, afinal, daqui alguns meses vai estar segurando o seu bebê. Se bem que vai ser menino, né? Mas acho que não existe grandes diferenças e...

— Como... - o interrompi - como você sabe sobre isso?

— A Mama Odie espalhou pra geral

Aquela informação me fez ficar paralisada. O próprio pai da criança só ficou sabendo há algumas horas e de repente todo mundo já sabe?!

— Eu vou matar aquela velha! - Bernice gritou

— Não, tudo bem - eu disse - contanto que isso não saia daqui

— Tem a minha palavra - Bernice disse com firmeza - Agora será que você pode arranjar outro lugar pra sua cria ficar, Ian? A Mal treinará comigo hoje

Ian pegou Davina do meu colo e a entregou para Amin, que pareceu já conhecer a pequena e a levou para fora da sala. Bernice fez um gesto para que eu a acompanhasse e depois começou a caminhar em direção aos armários de metal e vidro. Ian por sua vez foi até a sala de controle e começou a mexer nos computadores.

Em questão de segundos, o ar condicionado foi ligado e enormes cortinas fecharam as janelas, deixando impossível de ser ver qualquer coisa do jardim. As luzes ligaram e o piso deu um solavanco de repente, que fez com que eu me segurasse em um dos armários, ao contrário de mim, Bernice manteve a postura perfeitamente.

Um retângulo de chão relativamente grande começou a se elevar até que ficássemos a uma altura considerável do chão. Olhei para baixo e Ian acenou para mim.

— E então, vocês lutavam na ilha ou ficavam só de bobeira? - Bernice perguntou,me fazendo prestar atenção nela

— Nós éramos criados na rua e a maioria dos pais tinham rixas entre si, então sim, aprendemos algumas coisas - respondi

— Ótimo - Bernice disse e depois me entregou uma espécie de estaca de madeira, toda moldada e bem grande, ela estava segurando outra - como eu sei que vocês não tinham acesso à magia lá, vamos começar com o combate clássico, sim? Vamos ver como anda a sua força física

Bernice andou para o centro da plataforma elevada e eu a acompanhei, ficamos uma de frente para a outra. Segurei a estaca com ambas as mãos e coloquei a ponta da mesa próxima ao chão, exatamente como ela estava fazendo.

Se eu sei lutar? Bem, já briguei com muita gente na ilha, isso é um fato, mas nunca estive em uma guerra de verdade. Jay já me ensinou algumas coisas, ele e o Carlos sempre praticavam no deposito abandonado, que era como nosso "esconderijo" na Ilha, faziam isso tanto por prazer quanto por necessidade, já que lá nada nunca foi dado a nós de bom grado. Mas eu tinha decidido entrar nessa, ninguém havia me obrigado, então eu iria até o fim.

Sem hesitar, Bernice bateu sua estaca na minha com força, quase arrancando a mesma de minhas mãos. Aquilo fora apenas o aviso, havia começado. A luz diminuiu um pouco, mas não totalmente. Como eu vi que aquilo não era nada parecido com uma brincadeira, segurei minha estaca com mais força e tentei uma investida, batendo a mesma com tudo na direção da cabeça de Bernice, que defendeu lindamente, mandando minha arma para tão longe que a mesma caiu da plataforma onde estávamos.

Olhei para baixo, era impossível recupera-la, e quando olhei para frente novamente, Bernice vinha com tudo para cima de mim, uma firmeza no olhar que eu nunca vira antes. Com o pouco tempo para pensar, consegui me esquivar para a direita, me abaixando no chão e apoiando a mão no mesmo. Olhei para o alto, como que pedindo uma explicação para aquilo.

— O que vai fazer?! - Bernice gritou, apontando a ponta afiada de sua estaca para mim

E quando ela fez o gesto para tacar a mesma em meu rosto, juntei minhas forças e segurei a enorme arma com as mãos, fazendo Bernice parar no ato e me olhar com raiva. Coloquei mais força e girei a estaca, uma tentativa de fazer com que ela soltasse, mas eu subestimei sua força e acabamos as duas atracadas ao pedaço de madeira.

Bernice deu um passo a frente e empurrou a estaca contra o meu peito. Eu aguentei de todas as formas, mas ela era muito forte e determinada, não me dava nenhuma brecha. E quando eu já não conseguia mais segurar aquela arma há centímetros do meu peito, gritei para que ela parasse.

— Para! - disse em tom alto e firme, que ecoou por toda a sala

Bernice ainda demorou alguns segundos, antes de parar de fazer força e tirar a estaca de cima de mim.

— Patético - ela disse enquanto andava de volta para a posição

Minha respiração estava ofegante e eu sentia o suor escorrer pela testa, mas, ao contrário de mim, Bernice apenas tirou a blusa, ficando apenas de leggie e top, e já estava pronta para outra.

— De novo! - ela gritou

Não posso mentir, meu orgulho havia sido ferido e naquele momento eu estava com muita raiva, senti até meus olhos ferverem, sabia que eles haviam ganhado aquela cor estranha, mas também sabia que aquilo era só um treino, e um sem magia. Então retirei fundo e peguei outra estaca no armário.

Voltamos para a posição e daquela vez eu estava determinada a vencer. Mas o que aconteceu? Eu terminei levando um golpe certeiro no ombro, que me fez ver estrelas e levar a mão ao local de tanta dor. Mas se serve de consolo, pelo menos daquela vez eu não havia perdido minha arma.

Bernice voltou a posição e nós começamos tudo de novo e no lugar do ombro, eu levei um golpe na perna daquela vez. E quando começamos de novo, Bernice resolveu mudar de tática e, antes de partir com tudo para cima de mim, ela estipulou algumas regras.

— Regra número um: tem que manter o foco em mim, manter os olhos nos meus, mas estar inteiramente atenta aos meus movimentos - ela disse em um tom firme - se olhar só pros olhos, vai cair, e se olhar só pro corpo, vai cair também

Tentei assimilar aquilo, colocar em prática, mas era muito difícil, tudo acontecia muito rápido e eu voltava a apanhar feio de novo.

— Regra número dois - ela disse - sempre lembre-se por que está lutando

E antes de dizer uma terceira regra, Bernice deu um giro com a estaca nas mãos e jogou a mesma com tudo para cima de mim, mas eu defendi, fazendo com que ela recua-se alguns passos, era a minha chance. Peguei minha arma de madeira e mirei nos pés dela, tentando fazer com que ela caísse, mas, apesar de um leve desequilíbrio, Bernice conseguiu se esquivar, fincando logo em seguida sua estaca no chão e usando a mesma para se erguer e acertar um chute em mim.

Eu até tentei me defender, mas a bota pesada que ela usava acertou em cheio as minhas costas, me fazendo cair no chão.

— Olha, eu estou sendo boazinha com você - Bernice disse ajeitando o rabo de cavalo que usava - mas nós não temos tempo pra isso, se não estiver pronta, não vai lutar

— Como é?! - perguntei em um tom alto, me levantando e me aproximando dela

Bernice me olhou e também se aproximou, fazendo com que nossos rostos ficassem bem próximos, então ela deu leve sorriso, mas não era de brincadeira, nada perto disso, estava mais para uma ameaça.

— Exatamente o que ouviu - ela disse com o mesmo tom firme - não vou deixar que se mate e leve um dos meus com você, se não estiver pronta, não vai lutar

— Acontece que eu não tô pedindo permissão - disse me aproximando mais, também em um tom firme, meus olhos fervendo de raiva

— Por que não usa toda essa marra em batalha? Acho que não está levando muito a sério a regra número dois - ela disse enquanto se afastava, indo até a posição e segurando a estaca novamente - Regra número três: proteja aqueles que ama

Bernice cerrou os dentes e levantou a arma de madeira no mar, lançando a mesma logo em seguida em direção a minha barriga. Usei minha estaca para me defender, sobraram apenas centímetros para que eu fosse atingida, mas consegui empurrar de volta, fazendo com que ela desse passos forçados para trás.

Foi quando uma força que eu não sabia que tinha surgiu dentro de mim, senti meu poder irradiar pelo meu corpo, meus olhos ferverem e uma adrenalina enorme me atingir. Segurei a estaca de madeira e parti para cima de Bernice, só que ela era boa de mais, defendia todos os meus golpes, mas eu a estava tirando de sua zona de conforto, conseguia perceber isso já que estava olhando em seus olhos.

Bernice defendeu novamente um de meus golpes e tentou me atingir de volta, mas eu me esquivei para a esquerda, me abaixando no chão e atingindo a estaca com força em suas pernas, fazendo com que ela caísse de joelhos, depois me levantei rapidamente e joguei minha estaca com tudo para atingi-la, mas ela se defendeu com a dela, fazendo com que a minha caísse longe de nós. Só que isso não foi um empecilho daquela vez, muito pelo contrário.

Quando ela se levantou e veio para cima de mim, segurei sua arma com as duas mãos e toda a força que tinha, impulsionando a mesma contra seu pescoço, mas ela defendeu bravamente, era como se as forças praticamente se anulassem. Então no lugar de empurrar, puxei a estaca de uma vez e depois empurrei de novo, fazendo com que Bernice batesse a testa com tudo no pedaço de madeira maciça.

E enquanto ela estava levemente atordoada, puxei a arma de suas mãos e consegui tê-la para mim, em seguida dei um giro e atingi seu ombro, fazendo com que ela caísse no chão. Minhas mãos estavam com uma espécie de áurea verde em volta, a magia estava me ajudando. Bernice se virou para mim, com uma raiva enorme.

Eu disse sem magia! ela gritou

De repente as luzes começaram a balançar e piscar sem parar, e os olhos de Bernice ficaram com uma cor estranha, como se tivessem sido consumidos por uma nuvem de tempestade. Ela correu até onde minha estaca havia parado antes e pegou a mesma, depois correu para cima de mim e começou a dar vários golpes diferentes, um atrás do outro, e eu pude ver uma espécie de faísca saindo das colisões.

Quase não acreditei quando vi, os braços dela estavam chuviscando, como se fossem cabos de alta tensão. Nada mais justo já que eu estava usando magia, era ela usar também. Consegui defender todos os golpes com dificuldade e no último, nós duas recuamos alguns passos e nos entreolhamos em seguida, os olhos dela como raios e os meus verdes e intensos como o fogo.

Bernice olhou para minha barriga e tentou acertar a mesma novamente. Ela estava ficando maluca?! Dei um salto para a direita e tentei atingi-la por trás, mas ela se abaixou, fazendo com que eu quase desse um giro sobre meu próprio eixo.. Depois ela levantou e nós batemos as estacas, o que provocou um barulho parecido com o de um tiro, tão alto que pude jurar que as enormes janelas tremeram. A luzes finalmente pararam de piscar e tudo pareceu se silenciar.

Foi então que Bernice recuou e jogou sua estaca no chão, colocando alguns fios de cabelo solto atrás da orelha. Mas eu não fiz o mesmo, pois não sabia ao certo se aquilo tinha acabado de verdade, então mantive a mesma posição.

— Muito bom - ela disse por fim - isso sim foi uma luta e, apesar de você ter começado a usar magia, foi... muito bom

— Você tentou acertar minha barriga! Eu podia ter perdido o bebê! - gritei

— E o que você fez?! - ela perguntou, me fazendo franzir a testa - Agiu a altura! Não temos tempo Mal e essa foi a maneira que eu encontrei pra lhe fazer entender que, se não aprender a lutar, o pessoal daquela Ilha não vai tentar tirar seu filho de você, eles vão conseguir

E foi aí que eu entendi porque ela fizera aquilo e, simplesmente não conseguia acreditar no quão genial Bernice era. A batalha seria uma coisa séria, nada parecido com o que já tenha feito ou tentado fazer e, se não me preparasse, se não enxergasse isso com a devida importância, nós iríamos perder.

— E então... - ela disse pegando a estaca do chão e indo para a posição novamente - pronta pra próxima?

— Mais do que pronta - eu disse por fim

** Pensamentos do Ben **

Respirei fundo, deixando o ar acalmar meus pulmões, depois expirei tudo de volta. Normalmente eu não fico ansioso antes de falar em público, afinal, faço isso praticamente desde que nasci, já que tive várias aulas com os melhores professores  no assunto ao longo da vida. Então por que eu estava tão nervoso?

Talvez fosse pelo fato de que eu estava prestes a fazer algo que as pessoas não esperam que eu faça. Ser rei não é tão fácil como a maioria das pessoas pensam, quase nunca sou eu que dou as ordens. "Mas você não é o rei? Não manda e desmanda em tudo?" Sim e... não. É que tudo já foi entregue pronto pra mim, fui criado para cuidar de algo que já existe e que, tecnicamente, funciona. Fui criado para fazer com que as leis sejam cumpridas e não a questiona-las. 

Mas sim, eu tenho o poder de mudar tudo se eu quiser, mas não quer dizer que posso. Se eu fizer algo que o Conselho ou o povo não goste, eles me tiram do cargo tão rápido quanto se possa imaginar. Então, falando de uma forma direta, eu possuo um poder que não pode ser usado. 

E é por isso que estou tão nervoso por subir naquele palanque e encarar todas aquelas pessoas e todos aqueles jornalistas, por que pela primeira vez em toda minha vida, vou mudar as leis. 

— Majestade? - Jane me chamou, me tirando dos meus pensamentos - Está na hora 

Respirei fundo uma última vez antes de me levantar, ajeitei meu terno e finalmente atravessei as cortinas pesadas e azuis. O palanque estava montado em cima do palco de madeira escura, com um microfone aclopado e o símbolo de Auradon na frente. 

Assim que coloquei a cara para fora das cortinas, fui atingido por uma chuva de flash's de câmeras e gritos de pessoas com menu nome e minha foto em cartazes. Caminhei a passos firmes até me posicionar em frente ao palanque. Olhei para todos ali presentes, homens, mulheres, repórteres e até crianças, todos olhavam para mim com ansiedade nos olhos. 

— Boa tarde cidadãos de Auradon - iniciei - organizei esta proclamação as pressas pois tenho algo muito importante a vos dizer...

Os repórteres apontaram as cameras e gravadores em minha direção, os olhos atentos a cada palavra minha e, dentro de minha cabeça, eu dizia a mim mesmo que estava fazendo a coisa certa. 

— Declaro que a lei número 635, que decreta proibido que qualquer tipo de magia seja praticada por um legitimo cidadão da capital de Auradon - continuei - está oficialmente desfeita 

Uma chuva de gritos e agitação atingiu a multidão ali presente. 


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Notas finais do capítulo

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