Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 29
O Rei Conhece A OPAM


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários no capítulo anterior! Espero que gostem e boa leitura.



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** Pensamentos da Mal **

Estacionei a moto próximo ao calçadão, em algum porto de sua enorme extensão, desci da mesma e me pus a caminhar em direção a praia.

As lágrimas chatas ainda estavam presentes, não pareciam querer ir embora tão cedo, mas eu estava tentando ser forte, por mais que me doesse profundamente. Tentava me convencer de que o que tinha feito era o certo.

Toda aquela revolta do Ben, a forma como ele falou sobre os adeptos, me fez parar para pensar no tipo de pessoa que ele era e que eu nunca havia notado. Mas continuo não acreditando que ele seja assim de fato, apenas acho que foi a forma como ele sempre foi doutrinado a enxergar as coisas.

Só que eu não podia continuar ao lado de uma pessoa que, infelizmente, pensa dessa forma. Me tornei cega pelo amor, mas agora enxergo, eu sou uma adepta de magia, ela faz parte de mim e jamais deixarei de usá-la, então como vou casar com alguém que a odeia tanto assim?

Talvez não fosse a hora mesmo, nós ainda somos muito jovens, eu tenho apenas vinte e um anos, ainda tenho muito o que viver.

Com todos aqueles pensamentos, já ia quase me esquecendo de que não estava sozinha de fato, de que alguém muito importante também estava presente. Só lembrei quando uma dor pequena, porém fina, atingiu minha barriga.

Botei a mão na mesma e abri a boca em um "ai", tentando aliviar a dor, que passou tão rápido quanto havia chegado.

— Tudo bem filho - disse - eu não esqueci de você, nós vamos ficar bem...

Minha fala foi interrompida por outra dor, dessa vez tão forte que me fez ver estrelas. A dor intensa fez meu coração acelerar, peguei meu celular no bolso e a primeira pessoa que meu subconsciente me mandou ligar foi para o Ben, mas eu não podia, não naquele momento.

Então pesquisei o número liguei para Bernice. Enquanto chamava fui atingida por mais uma dor, que me fez gritar e agarrar a barriga, tentando fazer com que parasse.

— Alô? Mal? - Bernice perguntou ao telefone - Tá tudo bem?

Não lembro se respondi alguma coisa ou se ao menos disse aonde estava e o que estava acontecendo, fui atingida por outra dor, tão forte e tão intensa que me fez soltar o telefone, fazendo o mesmo cair na areia. Tudo ficou preto e eu desmaiei logo em seguida.

** Pensamentos do Ben **

Me arrependi de tudo o que disse assim que Mal largou o anel na cama e saiu do quarto batendo a porta, queria correr até ela e dizer que sentia muito, mas não era o momento certo, pelo menos não ainda.

Ao contrário disso, apenas respirei fundo e me levantei para olhar pela janela, levantando um pouco da cortina branca que obstruía minha visão. Mal passou como um verdadeiro foguete, subiu na moto, colocou o capacete e saiu em alta velocidade do castelo.

Senti vontade de ir até ela e pedir que tomasse cuidado, que me ligasse quando chegasse seja lá aonde for que tenha ido, mas o anel abandonado em cima da minha cama deixava claro que isso já não me cabia mais.

Suspirei, soltando a cortina e pegando meu celular em cima do criado-mudo. Liguei para Evie e pedi que cancelasse qualquer compromisso que eu tivesse naquele dia, não estava com cabeça para resolver nada.

Como rei, desmarcar compromissos assim é quase um crime, mas devido aos acontecimentos, ir trabalhar no escritório mais atrapalharia do que ajudaria em alguma coisa. O que também não ajudaria era ficar naquele quarto, com o maldito anel fazendo pouco da minha cara.

Sai de lá e resolvi ir até o andar de baixo, mas no meio caminho, enquanto atravessa o enorme corredor, acabei passando em frente a porta dos aposentos da Mal. Girei a maçaneta e entrei.

Aquilo foi mais como a quebra de falsas esperanças, era óbvio que ela não estaria lá, e não estava. Mas mesmo assim entrei, talvez uma forma de preencher o vazio que ela deixara.

A colcha de cama roxa estava impecavelmente arrumada - Mal não dorme em seu quarto desde que meus pais viajaram, até um pouco antes disso pra falar a verdade - a escrivaninha estava repleta de tubis de tinta, pincéis e canetas profissionais, ela ama desenhar e pintar.

Me aproximei e folheei alguns de seus trabalhos, mas entre todos que vi, um me chamou muita atenção. Se tratava de um garotinho, o desenho estava tão bom que mais parecia uma fotografia. Os cabelos dele eram loiros e seus olhos castanho claros, ele tinha uma expressão assustada e estava chorando.

O mais estranho é que o garoto se assemelhava muito com o que eu vi em meu sonho, quando ainda estava internado no hospital. Será que eu tinha contado a Mal sobre como ele era, e ela o desenhara? Não me lembro disso e duvido muito que ela tenha saído de perto de mim, o que só deixa essa coincidência ainda mais estranha.

Deixei o desenho sobre a escrivaninha e me voltei para a porta, na intenção de ir embora, mas a luz do banheiro acesa me interrompeu e eu resolvi ir apaga-la. O que eu não esperava era encontrar o que encontrei lá dentro.

A porta do armário abaixo da pia estava aberta e dentro haviam várias caixas - quatro, para ser mais exato - de diferentes cores e tamanhos. A curiosidade me prendeu e quando vi já estava ajoelhado vendo do que se tratava.

Quando meus olhos leram a frase em destaque na primeira caixa, quase desmaiei. Mal tinha nada menos do que quatro testes de gravidez! E todos estavam abertos e haviam sido usados. Meu coração disparou e eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Ela está grávida?! Nós vamos ter um filho?!

Tirei meu celular do bolço e liguei pra ela, o nervosismo me fez errar alguns números e ter dificuldade para desbloquear a tela, mas acabei conseguindo. O problema foi que ela não atendeu, eu tentei três vezes e nada. Alguma coisa me dizia que eu não iria conseguir falar com ela tão cedo.

** Pensamentos de Harry **

Carlos se aproximou e colocou o saco em  cima da mesa enferrujada - com um pouco mais de violência do que o aceitável, mas preferi não dizer nada, afinal, o cara tá enfeitiçado há dias, sabe-se lá o que ele está sentindo.

Abri a sacola e chequei tudo, aqueles fracos e ramos de planta tinham um cheiro esquisito, quase me fez querer vomitar, mas saí de perto antes que isso acontecesse.

— Tem certeza que tá tudo aqui? - perguntei, mas Carlos não respondeu nada, apenas continuou parado como uma estátua - As vezes sinto falta de falar com alguém... - soltei, mais um pensamento alto

Olhei para a porta entreaberta no fim da sala, dava para ver apenas alguns fios de cabelo castanho dela, caindo da cama na qual dormia um sono forçado.

Não tenho orgulho do que fiz com Audrey, ou com todos os outros para chegar até aqui, mas tenho plena consciência de por quem estou fazendo isso e, quando penso nele, não me arrependo nenhum pouco.

Ter um filho com apenas dezenove anos nunca esteve nos meus planos, na realidade, com essa idade a gente nem planeja esse tipo de coisa. Mas eu acabei me envolvendo com uma garota, chamada Dalia, e tendo um filho.

Nós nunca nos casamos - nem sei se existe esse tipo de cerimônia na ilha - mas eu nunca deixei se exercer meu papel como pai, sempre estive perto do meu filho. Natan tem dois anos e meio agora, ainda um bebê, mas já passou por muitas coisas que me culpo todos os dias por ter passado.

Aceitei a proposta de Uma pois ela me prometeu que Natan teria uma vida melhor, poderia ir para a escola, ter acesso a hospitais e nunca, jamais, passaria fome. Então eu aceitei, afinal, mesmo que eu me esforce o máximo possível, nunca poderei dar essas coisas a ele, pelo menos não naquela maldita ilha.

E para piorar tudo, Natan nasceu com asma, uma coisa que herdou de mim, e as crises estão aumentando e ficando cada vez mais frequentes, toda vida que ataca eu e Dalia ficamos apreensivos, achando que vamos perder nosso menino.

Então quando Uma nos fez tal proposta, foi impossível para mim dizer não, era a vida do meu filho que estava em jogo.

Tirei os olhos de Audrey e me foquei na sacola de novo, aqueles eram os ingredientes que faziam parte do feitiço que encontrei do livro da Mal, que Chad roubou do museu. Segundo Uma, se eu fizer exatamente como está no livro, a própria magia de Audrey me ajudará a ativar o feitiço e assim extrair o poder dela para quebrar a barreira e libertar o exército.

E se para ter Natan ao meu lado, bem e saudável, eu tenho que dar início a essa guerra, então é exatamente isso o que vou fazer.

** Pensamentos de Mal **

Minha visão estava completamente escura, não enxergava nada, mas ouvia perfeitamente e alguém estava chamando meu nome, era uma voz masculina e estava longe, mas era acolhedora.

Mal?— a voz chamava - Mal? Onde será que ela tá?

Eu até respondi, mas não sei se ele me escutou, pois continuava a chamar meu nome, estava ficando cada vez mais perto.

Forcei minhas pálpebras e quando abri os olhos novamente, uma luz me atingiu, pisquei algumas vezes até me acostumar e acabei percebendo que estava em uma espécie de cozinha, bem simples.

Os móveis eram de uma cor escura e o chão de azulejo marrom, tudo muito velho e usado. Mas foi quando eu olhei para parede e vi um porta retrato de um pássaro preto sobre uma pedra que tive a certeza de onde eu estava: em casa.

Aquela era a cozinha da casa da minha mãe na Ilha dos Perdidos, um pouco diferente, mas ainda a mesma. Agora a pergunta era: como eu tinha ido parar ali?

Enquanto tentava encontrar respostas para o fato de ter ido parar ali, a voz chamou meu nome novamente. "Mal? Onde você está querida?". A diferença foi que dessa vez eu consegui ver quem era.

Um homem alto, de pele branca - levemente bronzeada - e cabelos castanhos, entrou na cozinha com um sorriso no rosto. Ele olhava para cima e continuava chamando meu nome.

Foi quando resolvi olhar para o meu lado - e acabei levando um susto - que vi uma pequena menina sentada atrás do balcão da cozinha, ela era bem pequena mesmo, não devia ter mais de um ano.

A menina tinha poucos fios de cabelo na cabeça, mas eram de um loiro intenso, seus olhos eram extremamente verdes, como os meus, e ela também estava rindo enquanto segurava um pequeno depósito nas mãos, uma risada gostosa de se ouvir.

O homem finalmente parou de fingir não vê-la e gritou: "Achei você!", quando a pegou no colo. A menina riu mais ainda, enquanto o homem beijava sua bochecha.

Mas diante de tudo isso, o que quase fez meu coração parar, foi o que ele disse logo em seguida:

— Você vai ser sempre minha princesinha, Mal

Aquela menina era eu.

Uma tontura forte me atingiu e eu fui obrigada a fechar os olhos novamente, levei a mão a cabeça e senti uma dor horrível, quando consegui enxergar novamente, percebi que já estava em outro lugar. Mas o que diabos está acontecendo?

Eu estava em uma espécie de celeiro, com paredes de madeira e feno por todos os lados. Minha visão não estava das melhores, parecia mais que eu estava vendo pelo fundo de uma garrafa, mas consegui distinguir tudo direito quando um menino de mais ou menos onze anos levou um tiro bem na minha frente. Era Joseph, meu irmão.

Fechei os olhos novamente, tentando me proteger daquela cena, tentando não ver aquela tragédia horrível. Mas por que isso está acontecendo comigo?

Logo em seguida eu comecei a ser bombardeada por diferentes frases, ditas por diferentes pessoas. No começo até consegui distinguir o que diziam: "Ele morreu tentando te dar uma vida melhor", "Não suportaria se Stefan fizesse o mesmo com você", "A magia é um crime!", "Eu troquei o amor para que você não ficasse mais doente", "Toda magia tem seu preço", "Harry sequestrou Audrey e Carlos, Uma vai iniciar uma guerra", "Bem vinda a OPAM", "Se quiser ser minha rainha, terá que fazer isso"...

Mas elas começaram a acelerar, passando cada vez mais e mais rápido, tão forte que eu achava que minha cabeça ia explodir. Foi nesse momento, que já estava rezando para simplesmente parar de existir, que consegui abrir os olhos novamente e enxergar alguma coisa... real. Eu estava sentada em uma espécie de maca, o suor escorria em minha testa e eu estava em um local no qual nunca estive antes. Ben estava bem na minha frente, com um semblante preocupado.

** Pensamentos do Ben **

Abri a porta di escritório e entrei sem a menor vontade, tentei ir direto a minha sala, mas era óbvio que eu não conseguiria. Jane veio correndo em minha direção com uma prancheta nas mãos.

— Não sabia que viria hoje Majestade - ela disse tentando equilibrar a prancheta e os papéis

— É, eu tinha dito que não, mas acabei decidindo vir - expliquei - estou com algumas coisas na cabeça que não consigo esquecer

— Ah, então eu tenho a solução - ela disse com um sorriso amarelado - é melhor entrarmos para eu explicar melhor

Girei a chave na maçaneta e fiz um gesto para que Jane fosse na frente, depois fechei a porta e fui me sentar a minha mesa. Não estava tão afim assim de resolver problemas reais, mas qualquer coisa era melhor do que ficar pensando na possibilidade da Mal estar ou não grávida.

— Começando pelo mais simples - ela disse colocando a prancheta em cima da mesa e tirando uma caneta do bolço - o livro de feitiços da Mal continua desaparecido, mas conseguimos uma pista concreta agora

Aquela informação me chamou atenção, afinal, já estávamos procurando aquele livro há algum tempo e, como nada de ruim havia sido feito através dele em nenhum dos reinos, acabamos relaxando na investigação.

— As cameras do museu não detectaram nada, mas um dos seguranças da Auradon Prep acabou encontrando algo nas fitas

— Auradon Prep? O que ele estava fazendo revirando fitas de vídeo da escola? - perguntei

— Aparentemente ele é novato e acabou errando na hora de colocar a data no programa - ela explicou - quando viu o livro achou melhor informar a guarda real

— Como assim viu o livro?

— Chad estava passando com ele nas mãos por um dos corredores da escola, era bem tarde

— O Chad?! - indaguei - Mas por que ele faria isso?

— Eu não sei Majestade, mas ele já foi autuado e está preso para interrogatório

— O Chad... - disse em um tom baixo - que interesse ele tem em feitiços?

Jane anotou alguma coisa em seus papéis e depois colocou um a minha frente. No cabeçalho havia escrito "Escola Primária Pequeno Príncipe".

— O senhor Carter está pedindo liberação para a construção dessa nova escola privada - ela disse passando as folhas para mim - aqui tem tudo sobre o projeto, desenho da planta, fotos demonstrativas, dados financeiros e outras coisas

— Espera, outra escola? - indaguei

— Parece que esse ramo está rendendo muito pra ele e agora quer abrir uma especializada na educação de meninos - Jane explicou - quando estiver pronta a escola vai atender menino de dois até onze anos de idade

— Tudo bem, vou assinar, mas ele terá que abrir 25% de vagas para alunos que não tenham condição de pagar, ele pode fazer uma prova reinal ou algo do tipo

— Com certeza Majestade, vou preparar um novo contrato e apresentar a ele - Jane recolheu os papeis e os guardou consigo - agora o próximo assunto...

Respirei fundo, mas não o suficiente para que ela percebesse, aqueles "assuntos" ainda iam longe e infelizmente nenhum tinha me feito esquecer, pelo menos por um momento, da Mal.

— A rainha Aurora está movendo tropas por toda GoldLand e exige que a capital faça o mesmo...

— Tropas? Para que? - a interrompi

— Parece que a princesa Audrey não aparece em casa há dois dias, não atende o celular e também não foi vista por ninguém em lugar nenhum. A rainha e o rei Philip estão desesperados

Estava tão focado na Mal que havia me esquecido do que ela tinha me contado de manhã cedo, aparentemente, Audrey havia sido sequestrada. Eu não podia contar o que sabia, pelo menos não assim do nada, então resolvi designar apenas a guarda local para as buscas, pois caso essa guerra aconteça de fato, vou precisar de todo o exército para conte-la.

— Ok, vou falar com o chefe da guarda o mais rápido possível - Jane disse, anotando novamente em sua prancheta

— É só isso? Ou tem mais alguma coisa? - perguntei

— Bem, aparentemente é só isso no momento...

Jane foi interrompida quando a porta foi aberta de surpresa, com um pouco de violência demais pro meu gosto. Um rapaz jovem, talvez ainda estivesse na escola, estava respirando ofegante, ele tinha um tablete em mãos e um telefone via Bluetooth no ouvido.

— Tony! - Jane disse em um tom alto - Que modos são esses de entrar na sala do rei? Não foi isso que te ensinei!

— É que... que preciso falar com você Jane - o menino explicou, gaguejando de nervoso

— Se quer falar comigo deveria esperar que eu saísse e ai sim você...

— É que é urgente Jane - o menino a interrompeu, me fazendo franzir a testa e prestar ainda mais atenção - é sobre o Carlos

Jane mudou de semblante na mesma hora, há um momento atrás ela estava agindo com uma chefe, fazendo seu dever para com os estagiários, mas agora ela estava visivelmente preocupada.

— O...ok... - ela gaguejou - vamos lá fora e ai...

— Tá tudo bem Jane - eu disse, tentando tranquiliza-la - você pode entrar Tony, sente-se e nos conte o que aconteceu

O menino ficou meio relutante no início, mas obedeceu e fechou a porta, fez uma reverência esquisita - que se não fosse pelo momento teria me feito rir com certeza - e nervosa em seguida e se sentou.

Ele nos contou que Carlos assaltou o museu e roubou alguns itens do acervo, coisas normalmente usadas em rituais de magia negra. Jane começou a chorar com a notícia e Tony a consolou. Parece que o que Mal me contou está de fato acontecendo, a guerra está cada vez mais próxima.

No meio daquela situação, com mais um problema para se resolver e Jane se derramando em lágrimas na minha frente, acreditando que Carlos está pendendo para o lado do mal novamente, meu celular tocou desesperado.

Quando olhei a tela o número era da Mal, atendi quase que imediatamente.

— Alô? Mal? - eu disse, ansioso para ouvir sua voz

— Aqui quem fala é Bernice - uma voz feminina, que não da Mal, e firme disse - sou amiga da Mal

— Oi Bernice, prazer. Aqui é o rei Benjamim, noivo dela - me apresentei, apesar de não ter certeza se essa última parte continua sendo verdade - Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade sim, eu a encontrei desmaiada e...

— Como assim desmaiada?! - perguntei em um tom alto - Onde ela está?! Exijo vê-la imediatamente!

— Ei! - ela gritou mais alto, me interrompendo - Baixa a marra, beleza? Se não você não vai ver nem a cor do cabelo dela seu metido a besta!

Ok, aquilo havia sido demais.

— Como ousa falar assim comigo?! - indaguei - Eu sou o rei de Auradon!

— Pra mim você não é coisa nenhuma, até onde eu me lembro não teve votação - ela revidou - mas tô afim de discutir isso, quer vê-la ou não? Porque se for continuar falando de si mesmo, eu desligo o telefone...

— Não! - a interrompi - tudo bem, onde posso encontra-la?

— Se quiser ver a Mal, terá que fazer tudo que eu mandar

Aceitar uma proposta daquele tipo, ocupando o cargo que ocupo, é quase uma como assinar uma sentença de morte, mas aquela tal de Bernice, sendo amiga ou não, estava com o celular da Mal, então eu tinha que aceitar.

** Pensamentos de Bernice **

Desliguei a ligação assim que terminei de passar as instruções a ele. Que cara mais idiota! Também avisei a Amin e Steve que ele estava a caminho e, como o "poderoso rei", não tem magia, eles teriam de ajuda-lo a entrar no esconderijo. Os meninos concordaram e saíram para esperá-lo lá fora.

Bati na porta duas vezes e entrei, Mal ainda estava deitada na maca do ambulatório, inconsciente e com uma aparência de fantasma. *Mama Odie estava do lado dela, fazendo alguns feitiços enquanto recitava uma canção. De todas as bruxas que conheço, ela é de longe a mais sábia.

*Pra quem não conhece, ela aparece no filme: A Princesa e o Sapo

— E então Mama Odie? - perguntei me aproximando - Ela vai ficar bem?

— Ah sim, sim - ela respondeu - Ainda bem que você a trouxe para mim a tempo

— Fui o mais rápida que pude - contei

— Sim, sim. Mas por que trouxe a futura rainha de nosso reino para mim e não para um daqueles hospitais chiques?

— A senhora sabe que minha situação com o governo não é das melhores - disse - imagina se eu aparecesse com a futura rainha desacordada

— Como se fosse possível um daqueles guardas te capturar - Mama Odie brincou, o que me fez dar um sorriso de lado, afinal, era verdade

— E então - continuei, me aproximando mais um pouco da maca - como está o...

— O bebê? - ela me completou - Muito bem também, mas se tivesse demorado mais um pouco eu não estaria respondendo a mesma coisa. Ele tem uma magia muito forte, sabia?

— Magia? - indaguei, daquela parte eu não sabia - Como assim?

— Vai me dizer que não sentiu? O bebê vai ser muito poderoso quando crescer... - Mama Odie disse, voltando logo em seguida a recitar sua canção enquanto passava a mão na cabeça de Mal

Aquilo mudava tudo, tudo mesmo. Saber que o reino vai ganhar um novo príncipe não tem nada demais, aconteceu antes do Benjamin e é óbvio que aconteceria depois dele. Mas dessa vez é diferente, a tradição foi quebrada e eu não consigo conter a ansiedade para saber qual vai ser a reação do povo, já que o futuro rei de toda Auradon, é um adepto de magia.

** Pensamentos da Mal **

AGORA

Coloquei uma mão na barriga - acho que mais por instinto - e a outra levei a testa, estava milhada de suor. Ben, que estava bem a minha frente, fez um gesto para que eu me acalmasse, depois segurou em meus ombros e fez com que eu deitasse novamente.

— Ben?! O que você tá fazendo aqui? - indaguei, confusa - O que aconteceu?!

— Xi... tá tudo bem, você tá segura agora - ele disse com um sorriso leve

Eu estava deitada em uma espécie de maca, enrolada até a cintura com um cobertor bege, ao meu lado havia um pequeno criado-mudo azul com um vaso de flores e uma garrafa d'água. Olhei em volta e percebi colunas altas e brancas, um teto super alto e alguns armários, com o que parecia serem remédios dentro, só que diferentes dos comuns.

Haviam mais algumas camas iguais a que eu estava, mas estavam vazias e devidamente arrumadas. Também haviam janelas enormes, parecidas com aquelas de construções antigas, que deixavam o sol entrar e davam para uma espécie de jardim. Aquele era o esconderijo.

— É lindo né? - Ben disse, fazendo eu voltar a atenção a ele - Nunca jamais pensei que pudesse existir um lugar assim

— Ben... nós estamos no...

— Na OPAM - ele disse antes que eu terminasse minha pergunta - que a sigla para Organização de Proteção aos Adeptos de Magia. Na verdade nós não estamos exatamente nela, já que não se trata de um lugar específico, mas sim em um de seus esconderijos!

Eu sabia de tudo aquilo, já conhecia aquele lugar, a única coisa que não sabia era o que Benjamin estava fazendo ali, muito menos tão animado, ele deveria estar gritando que a "magia é um crime".

— Mas... como? - perguntei, minha cabeça doía um pouco

— Bernice me contou tudo - ele disse olhando para um canto em específico. Ela estava ali na sala e eu nem tinha a visto - foi ela quem trouxe você aqui, quem te salvou

— Salvou?

— Você não lembra? - ele perguntou e eu fiz negativo com a cabeça - Pouco depois que você saiu do castelo acabou passando mal, ligou pra Bernice e ela te trouxe aqui - ele explicou, mas logo mudou o semblante para um triste - Mama Odie disse que foi culpa minha, disse que a nossa briga te deixou abalada e que você não pode ficar assim no momento, eu só não entendi muito bem o porque

— Quem é Mama Odie? - indaguei

— Sou eu querida! - uma senhora de pele escura, usando óculos de sol e um colar dourado enorme disse entrando na sala - Eu cuidei de você, não lembra? Tudo bem, nem todos lembram de mim

Apenas a observei, sem dizer nada.

— Pelo visto eu fiz mesmo um bom trabalho, você está ótima! - ela disse com um sorriso - O pequenino também?

Meu coração acelerou nessa parte. Ela sabe que estou grávida?! E está falando na frente do Ben?! Mas algo no semblante dele me tranquilizou de que o mesmo não sabia de nada ainda.

— Pequenino? - Ben indagou

— Vamos Bernice, vamos deixar os dois a sós que eles tem muito o que conversar!

Mama Odie, ou seja lá quem ela fosse, segurou na mão de Bernice e ambas saíram da sala, fechando a porta em seguida. Ben se virou para mim e parecia aguardar algum tipo de explicação.

— Ben... - iniciei, respirando fundo e criando coragem - eu estou grávida

Pronto, um peso enorme saiu das minhas costas.


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Notas finais do capítulo

TAM TAM TAAM!!!

Espero que tenham gostado pessoal, estamos quase no fim dessa história e eu não podia estar mais feliz! Obrigada a todos que nunca abandoram e que sempre interagiram com a fic. Não se esqueçam de comentar e até o próximo capítulo!



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