Do trono ao cadafalso escrita por Evil Queen 42


Capítulo 35
Capítulo XXXV


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/736364/chapter/35

"Hoje pela manhã Sasuke apareceu a fim de buscar sua Rainha de ventre cada vez mais arredondado para um passeio. Levou consigo alguns cortesãos e passamos por povoados tranquilos, onde não ouvimos palavras venenosas contra a minha pessoa. Tenho o péssimo hábito de me iludir, pois cheguei a pensar que meus súditos finalmente estivessem me aceitando como Rainha, mas a verdade é que Sasuke se tornou um tirano e ameaçou punir como traidores qualquer súdito, nobre ou não, que proferisse palavras maldosas contra mim. As pessoas vão ter que me aceitar por bem ou por mal, pois Sasuke faz ameaças, inclusive chegou aos meus ouvidos relatos sobre dois de seus cortesãos que enfrentaram a pior das mortes por palavras venenosas contra mim. 

Por mais que seja meu desejo que meus súditos me aceitem, eles só o fazem por medo da fúria do Rei. Devo confessar, Diário, estou com medo desse novo e ainda mais tirano Sasuke."

[...]

Sarada fechou o diário, chocada com as últimas palavras que leu. Aquele Sasuke dos últimos relatos de Sakura não era o mesmo do início. Ele havia mudado muito, e a atual regente por várias vezes ouviu que seu pai foi ficando cada vez mais tirânico à medida que sua vida chegava ao fim.

Mandou que Karin fosse chamada, ela era uma pessoa de confiança, e com certeza seria sincera em suas palavras. 

A porta de madeira do escritório da monarca foi aberta, e Karin fez uma reverência assim que se encontrou frente a frente com sua Rainha. 

– Acho que você já sabe por que a chamei, Karin. - Sarada disse calmamente, com o diário de Sakura em mãos. 

– Espero esclarecer qualquer dúvida que tenha, minha Rainha, embora eu prefira que descubra pelas palavras de sua mãe. - Respondeu, se aproximando da grande mesa daquele espaçoso cômodo. 

– Quero perguntar sobre meu pai. - Foi direto ao ponto - Eu não convivi muito com ele, e li coisas que me deixaram intrigada. - Karin assentiu, como um pedido mudo para que Sarada continuasse - O Sasuke do início do diário é um homem bem diferente do Sasuke do final do diário... Pelas poucas páginas que ainda estão escritas e me falta ler, estou chegando perto dos relatos que precederam a morte de minha mãe, e esse Sasuke que vejo agora é um tirano.

Karin suspirou pesadamente. Era fato, Sasuke mudara muito e Sakura sofreu por essa mudança. 

– Seu pai teve uma febre por motivos desconhecidos, e chegou bem perto da morte. - Relatou a ruiva - Depois disso, Sasuke mudou... Ele ficou intolerante, rabugento, era difícil a convivência. Sakura se afastou da Corte, e a intenção era que fosse um afastamento temporário, mas ela não quis viver perto do marido novamente. 

– E você acha que foi por causa da febre? 

– A vida de Sasuke estava cheia de restrições. - Disse - Os médicos o proibiram de participar dos torneios de justas, liças, também o proibiram de caçar.

– O proibiram de comer alguns alimentos também... - Sarada completou com o que havia lido  no diário de sua mãe, e Karin assentiu. 

– Isso o irritou profundamente. Sasuke era um Rei mimado, acostumado a ter tudo o que queria, e ser negligenciado daquela forma, mesmo que por ordens médicas, fez dele um homem cada vez mais intolerante. 

– Meu pai morreu jovem. - Suspirou - Acha que essa febre encurtou sua vida?

– Você não deve se lembrar, mas Sasuke, principalmente após a morte de Sakura, vivia cheio de tormentos. 

– Tormentos? - Questionou curiosa. 

– Não confiava em ninguém, e foi parando de comer por medo de ser envenenado... Mesmo com a comida sendo provada, ele por vezes se recusava. - Contou - Certa vez um membro de sua câmara privada disse que Sasuke ficou três dias tomando apenas vinho, sem comer nada. Isso aconteceu poucos meses antes de sua morte. 

Sarada pensou nas chances de aquilo tudo estar relacionado com a queda de Sakura. Será que ela, de alguma forma, mesmo depois de morta, deixou o Rei perturbado?

Talvez Sasuke ainda tivesse sentimentos por sua consorte, mas, se isso fosse mesmo verdade, por que ela foi mandada para o cadafalso?

A resposta daquilo não era difícil. Rainha ou não, Sakura foi acusada do pior crime que uma pessoa poderia cometer. Mesmo que Sasuke a amasse, não poderia perdoá-la. Ela era uma criminosa, foi julgada e condenada como tal. 

[...]

"Não sei qual pecado monstruoso cometi para ser castigada dessa forma. Meu destino escoa pelos meus dedos, e eu não tenho controle sobre isso.

Fui confinada para esperar o nascimento do meu filho, o futuro pacificador deste país. Eu podia sentir seus movimentos, tal como sentia o leite surgir em meus seios. Mas nada aconteceu. Nada... O tempo passou, as fortes e características dores do parto não vieram, e a preocupação tomou conta de todos. 

Acho que enfeitiçaram meu filho. As palavras maldosas me afetaram profundamente, mesmo que eu esteja longe das pessoas que as disseram. Os dias passaram, a criança não veio... Meu filho nunca existiu. 

Acusam-me de enganar o Rei com uma falsa gravidez, tendo minhas aias como cúmplices. Como as pessoas podem ser tão maldosas? 

Meu ventre cresceu, eu sentia os movimentos da criança, sentia meus seios aumentando por causa do leite que inclusive chegou escorrer por algumas vezes. Mas, ainda assim, nunca houve uma criança (...)".

No que teria sido o décimo mês de sua gravidez, Sakura saiu de seu confinamento, não pronunciando uma única palavra sobre isso. Seu corpo esguio não passou despercebido, tal como não havia nenhuma criança em seus braços, e isso foi anotado para então ser relatado ao Rei que esperava ansiosamente pelo nascimento de seu herdeiro. 

Sakura nunca esteve grávida. Seu ventre perdeu o inchaço, seus seios pararam de produzir leite, os movimentos fetais simplesmente desapareceram. Foi nada além de um engano. Um embaraçoso e prejudicial engano. 

Tentavam encontrar explicações para o acontecido. Alguns classificavam como um acúmulo de matéria no organismo, ou a mistura de humores frios e quentes no corpo; Outros médicos diziam que gases da barriga poderiam ter se acumulado no ventre, dando a ilusão de que a Rainha havia concebido; E houve quem fosse mais além, dizendo que mulheres têm tanta aversão à velhice que preferem acreditar-se grávidas a admitir que estão envelhecendo. 

No fim, os médicos relataram para o Rei que Sakura teve uma gravidez fantasma. Havia sintomas característicos de uma gestação, mas não havia criança. 

Alguns cortesãos começaram a espalhar a hipótese de que Sakura poderia ter dado à luz uma criança deformada, e que por tal motivo se livrou dela, fazendo com que acreditassem que não havia criança. O nascimento de um feto deformado era visto como castigo divino à mulheres que venderam suas almas à forças ocultas, ou seja, ao afirmarem que Sakura deu à luz uma criança deformada claramente a associavam a uma bruxa. 

Mas é claro que tais conversas não chegaram aos ouvidos do Rei, por medo de sua tirania. E não havia provas, eram só rumores, visto que uma criança não veio ao mundo. Ainda assim, esse incidente só serviu para criar mais antipatia dos súditos para com a Rainha. 

Dias se passaram, e nenhuma palavra foi pronunciada pelo Rei ou por sua consorte. Sasuke sequer foi vê-la, estava ocupado com assuntos de Estado e igualmente abalado pela gravidez fantasma de Sakura. 

Na verdade, ele mal perguntou pela esposa, o que fez muitos acreditarem que estava se cansando dela. 

A Rainha estava em seus aposentos, sentada em sua poltrona que ficava no meio daquele enorme cômodo, rodeada por suas aias que estavam distraídas enquanto bordavam, sentadas em cadeiras um pouco mais baixas. 

O silêncio era insuportável. Sakura não encontrava em sua rotina momentos divertidos desde o seu "parto". Neji, o querido bobo da corte de Sakura, estava sentado em um canto ao lado da parede, com os olhos perolados voltados para o chão, pensativo. 

Sakura se levantou e caminhou até o rapaz dos cabelos castanhos, riu ao olhá-lo e ele a encarou, mas permaneceu sério. 

– Lindo, não? - Indagou de forma retórica para suas aias, então tirou da boina negra de Neji uma pequena pena lilás e a usou de forma divertida para fazer cócegas no nariz do rapaz. Riu com a situação, e Neji permaneceu quieto - O que foi, Neji? Por que está tão triste? Não lhe é dado o direito de ficar triste, pois sua função aqui é nos entreter... - Neji se pôs de pé, encarando a Rainha de frente, seus olhos estavam avermelhados - Eu faço um favor em te notar. - A rosada disse arrogantemente ao ver lágrimas brotarem nos olhos do bobo - O que espera que eu faça, Neji? Espera que eu me refira a você como a um cavalheiro? - Indagou mais calma, deixando ainda mais nítida a tristeza de Neji - Não posso fazer isso, compreende? Você é uma pessoa inferior. Mas não preciso lhe dizer isso, não é? 

Lágrimas mais grossas escorreram pelo rosto do rapaz. Seja lá qual fosse o motivo de sua tristeza, o comportamento da Rainha piorou a situação. 

– Não, Majestade. - Ele respondeu - Não espero uma única palavra... Para mim, apenas um olhar de vossa Majestade é mais do que suficiente. 

Sakura riu. Com as pontas dos dedos, acariciou levemente o rosto de Neji.

– Então... - Disse com um sorriso de canto - Pretende elogiar meus olhos agora? 

Sem jeito, e com lágrimas ainda mais grossas escorrendo pelo rosto, Neji virou as costas e saiu dos aposentos de Sakura, deixando para trás uma Rainha que gargalhava freneticamente. 

Sakura voltou para sua poltrona, agora brincando com a pena em suas mãos. 

As damas se olharam desconfiadas após tal atitude da Rainha. O comportamento de Sakura nunca foi dos mais exemplares, e agora somente piorava. 

Neji era muito querido por ela, mas jamais a relação de ambos pareceu tão... íntima. 

Após alguns minutos em completo silêncio dentro do cômodo, com Sakura voltando sua atenção apenas para a pena lilás que um dia pertenceu à boina de Neji, Shikamaru, um dos conselheiros do Rei, apareceu ali. 

Os olhos verdes se arregalaram em surpresa, mesmo que Sakura preferisse que o Rei fosse vê-la pessoalmente. 

Ela realmente estava preocupada com os rumores de que o Rei estava cansado de sua Rainha, mas seu orgulho não lhe permitia escrever uma carta ou prostrar-se diante do Rei para pedir desculpas, pois não sentia-se culpada pelo terrível engano. Sentia-se grávida, nunca imaginou que não haveria criança alguma em seu ventre, e nunca quis enganar seu marido. Não havia pelo que se desculpar. 

– Majestade. - Shikamaru se curvou em respeito à Rainha - O Rei pede perdão pela ausência, está ocupado com assuntos de Estado e planeja uma viagem para o exterior, onde a senhora irá acompanhá-lo. 

– Hum... Uma boa notícia. - Assentiu satisfeita.

– Ele também diz que sente muito pelo ocorrido, parece deveras decepcionado, e espera que a senhora lhe dê um filho homem o quanto antes. 

– Ah, ele espera. - Sakura respondeu com sarcasmo, o que soou ofensivo aos ouvidos de Shikamaru. 

Era como se tudo dependesse apenas dela, mas uma mulher não pode conceber um filho sozinha. 

– Perdão, minha senhora, mas sua função como consorte é produzir herdeiros.

– Sarada é herdeira. - Silabou. 

– Herdeiros, homens. - Enfatizou. 

Sakura ficava enfurecida com a diferença clara com que tratavam sua filha por ser mulher. 

Não sabia se Sasuke conseguiria fazê-la conceber novamente, e aquela gravidez fantasma foi um imenso baque. Se Sarada fosse oficialmente a única herdeira, Sakura temia por ambas. 

– Por que Sasuke precisa de um Rei para sucedê-lo, por que não uma Rainha? - Questionou com raiva. 

– Konoha jamais foi regida por Rainhas, minha senhora, e não pode ser. O Rei precisa de um filho. 

Ela já havia escutado aquela resposta, não era surpresa alguma. 

Sakura suspirou. 

Não aguentava aquele peso em suas costas. Por que a culpa era somente dela? 

– Como espera que eu gere um filho, se o Rei deita ao meu lado e dorme? - Ela começou a rir com deboche, para a surpresa dos presentes ali. 

– Majestade, essa conversa não é adequada. - Shikamaru estava nitidamente constrangido com a declaração da Haruno. 

– É a realidade. - O sorriso debochado não saía de seu rosto - Seu Rei é um homem impotente, incapaz de fazer sua Rainha conceber. 

O som dos passos de Karin e Suigetsu se fizeram presentes no local, e Sakura olhou animada para os jovens que há alguns instantes estavam caminhando tranquilamente pelo jardim. A consorte sempre dispensava sua aia favorita quando Suigetsu aparecia para vê-la. 

– Majestade. - Suigetsu se curvou - Como sempre, Karin foi uma excelente companhia. 

– Que homem encantador! - Sakura riu admirada - Quando pretende desposá-la? 

Suigetsu corou levemente.

– Ainda estou decidindo esses detalhes, Majestade. - Respondeu o homem.

– Por que essa demora? - Indagou com desgosto a Rainha - Suigetsu, vou começar a achar que está apaixonado por mim. - Brincou. 

Shikamaru arregalou os olhos escuros, mas seu espanto passou despercebido tanto por Sakura quanto por Suigetsu. As aias da Rainha, mesmo que não aprovassem certos tipos de conversas, já estavam acostumadas com o senso de humor incomum de Sakura.

– Qualquer homem cairia de joelhos por vossa Majestade. - Suigetsu respondeu com bom humor, coisa que sempre fazia. 

Sakura soltou uma sonora gargalhada. 

– Então espere mais um pouco, Suigetsu. Dado o atual estado de saúde do Rei, certamente logo o caminho estará livre. - Respondeu. 

Mesmo que ela não falasse sério e isso fosse claro, aquela conversa havia ultrapassado todos os limites. Sakura não só debochou da figura do Rei, como também sugeriu sua morte, o que já era considerado um ato de traição. 

As aias se olharam desconfiadas, e até mesmo Karin se mostrou desconfortável. O silêncio se fez presente, nem mesmo Suigetsu sabia como responder. As brincadeiras da Rainha jamais haviam chegado a tal nível. 

Não havia como defendê-la diante daquilo. Tal decoração feita por ela foi, indiscutivelmente, um ato de traição contra o Rei. 

Infelizmente, Sakura não calculava o impacto de suas palavras antes de, impulsivamente, proferi-las. 

– Revelará todos os seus segredos, Majestade, ou só alguns? - Suigetsu indagou retoricamente, com a face séria, então virou as costas e saiu do cômodo. 

Karin abaixou o olhar, e a desconfiança nos rostos dos outros presentes ali era quase palpável. 

Sakura riu de forma descontraída. 

– Vá buscá-lo. - Ordenou, olhando para Shikamaru, mas a seriedade do conselheiro de seu marido a assustou - Foi somente uma conversa a toa. Vá buscá-lo. - Ela olhou para as damas ao redor, e todas estavam igualmente sérias - Posso jurar diante de todos que sou uma boa esposa! - Defendeu-se, um pouco mais alterada, mas ninguém ali se manifestou - Suigetsu!

Sakura então correu para fora daquele cômodo, na intenção de encontrar Suigetsu e se desculpar. Ou melhor, explicar o que acontecera ali. 

Ao levantar-se para encontrar com o pretendente de sua aia, Sakura não conseguiu esconder seu desespero. 

Nunca a Rainha sentiria tanto o peso de suas palavras. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários?
Bjs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do trono ao cadafalso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.