Do trono ao cadafalso escrita por Evil Queen 42


Capítulo 26
Capítulo XXVI


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notas finais.
Boa leitura.



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"Oh, diário, somente agora consegui segurar dignamente uma pena para escrever. A tristeza tomou conta de mim nos últimos dias, corroendo-me as entranhas por minha última perda. Há dias não saio dos meus aposentos, não me sinto animada e não quero encarar meus inimigos após a vergonha de ter falhado novamente em dar um filho ao Rei. Veio ao mundo, prematuramente, uma menina morta. Chegou-me aos ouvidos que o país não ficou de luto, pois tratava-se de uma menina, e que por isso seria irrelevante.

Pobre de mim! Uma mãe obrigada a saber que a morte de sua filha não significou nada. Que as pessoas continuam com suas vidas medíocres enquanto estou recolhida com a minha dor.

Julgam-me incapaz de um filho, mesmo eu já tendo me mostrado fértil. Foram três crianças concebidas desde que me casei, todavia, apenas uma delas permanece viva.

Sasuke se culpa pelo acontecido. Depois do nascimento de nossa filha, ele passava dias inteiros comigo, fazendo-me sentir mais importante do que seus assuntos de Estado. Por vezes ficávamos em total silêncio, visto que minha mágoa ainda era evidente, mas o Rei não se afastou. Talvez seja por remorso, mas pode ser que ainda me ame.

Tive febre alta dois dias após o meu parto, talvez pelos maus humores presos em meu corpo. Eu via, pelas expressões dos médicos, que eles não tinham esperanças de que eu sobrevivesse. Passei boa parte do tempo inconsciente, mas via meu marido ao meu lado sempre que abria os olhos. E assim fiquei, por quase dez dias, esperando que a morte me buscasse... mas ela não veio.

Não sei se o medo de Sasuke era perder sua esposa, ou se era perder a mulher com quem pode gerar filhos legítimos. Sendo por amor ou por culpa, ele ficou comigo durante esse período.

Minha relação com Sasuke se tornou um verdadeiro tormento. Ele não aprova meu comportamento, tal como não aprovo suas atitudes. Brigamos com muita frequência, e agora, depois da morte de minha filha, sinto que nossa relação só tende a piorar.

Teria eu perdido minha filha se não tivesse discutido tão fervorosamente com Sasuke? Não sei dizer, mas é provável que não.

Me sinto uma pessoa terrível, mas gosto de vê-lo se remoer pela culpa e tentar se redimir. Cheguei a pensar que ele se mostraria indiferente por ter se tratado de uma menina, mas não. Sasuke deu a ela um funeral tão digno quanto o de nosso filho, foi o que fiquei sabendo, já que não compareci.

Mesmo que eu não ame o Rei como outrora, mesmo que guarde infinitas mágoas, tenho que fingir que meu coração está completamente entregue a ele. Preciso de um filho! Temo que meus inimigos manipulem o Rei e o convençam de que eu não sou capaz de gerar um herdeiro para a Coroa, e isso significaria minha queda, portanto preciso conceber o mais rápido possível.

Sarada que me perdoe, pois com um filho homem ela jamais reinará, mas faço isso para manter minha posição. Minha pequena filha... meu pequeno sol... eu sentia que seria você a iluminar este país, mas tudo indica que as coisas serão bem diferentes (...)".

Sakura olhava para seu reflexo no espelho. Se sentia abatida, feia... Como o Rei poderia desejá-la daquela forma? Uma Rainha indesejável é claramente um pretexto para o Rei se consolar com amantes.

Desde a morte de sua filha, aquela seria a primeira vez que Sakura sairia de seus aposentos. Desde o banquete onde ela rasgou o documento que selaria o destino de Sarada, Sakura não era vista em público.

Nos primeiros dias após o parto da Rainha, Sasuke passava dias e noites ao seu lado, também não sendo visto em público. Claro que depois precisou retornar aos seus afazeres, também sentia necessidade de visitar a pequena Sarada, mas passava bastante tempo perto da esposa e sempre dormia ao lado dela.

Sakura escolheu um vestido de seda vermelha, tendo seu decote e mangas enfeitados com fios de ouro e pérolas; Optou por deixar os cabelos soltos e completamente à mostra, mesmo sabendo que tal atitude não era bem vista, usando apenas uma discreta tiara dourada; Usava brincos de pérolas, colares também de pérolas com pingentes de ouro. Ela gostava de se exibir, isso era um fato que não passava despercebido por ninguém. Usou todos os cosméticos disponíveis para si, na finalidade de disfarçar o rosto abatido, dando-o um ar mais saudável.

Saiu de cabeça erguida, não se importando com os olhares diante de si. Geralmente expunha os cabelos soltos apenas em ocasiões especiais, mas preferiu não prendê-los.

Mesmo que muitos a odiassem, tinham que reverenciá-la quando a vissem, afinal, era a Rainha. Isso lhe inflava o ego.

Caminhou tranquilamente até o escritório do Rei, onde entrou sem ser anunciada. Pousou os olhos no marido, distraído enquanto olhava alguns documentos, e por um instante pensou no quanto um dia desejou aquele homem para si... Agora, após conseguir tudo o que desejava, começava a se arrepender de suas escolhas.

Pigarreou, atraindo a atenção do Rei que sorriu ao vê-la.

– Minha querida. - Ele se levantou e caminhou até a rosada para abraçá-la - Fico imensamente feliz ao ver que está melhor.

– Sim. - Sorriu - A vida continua, e eu devo seguir em frente.

Sentia-se obrigada a dar atenção para o Rei, e fazer com que o amor dele por sua pessoa voltasse a ser inabalável como antes.

Não podia dar brechas para inimigos, tampouco para amantes dispostas a conseguir favores em troca de relações sexuais.

Sasuke era seu, e somente seu. Lutou para consegui-lo, e, mesmo que já não o amasse mais como antes, jamais abriria mão dele; Jamais abriria mão da coroa, tampouco da sucessão do trono para sua linhagem.

– Irá jantar comigo esta noite? - Sasuke indagou animado, segurando nas mãos de sua Rainha.

– Depende... - Disse sugestivamente - Irá para a minha cama esta noite?

Sasuke soltou um riso anasalado, se mostrando de bom humor. Tinha esperanças de que ambos voltassem a se dar bem como antes do casamento, e que a paz fosse restaurada entre o casal.

– Ora... eu não ando lhe fazendo companhia todas as noites? - Rebateu, com um singelo sorriso no rosto.

Ele dormia ao lado de Sakura todas as noites desde o parto, mas ela se perguntava por quanto tempo aquilo duraria. Enquanto estava ao seu lado, ela sabia que ele não estava caçando amantes para levantar suas saias, mas até quando? Essa pergunta torturava a Haruno, visto que a ideia de deixar Sasuke lhe escapar por entre os dedos lhe dava calafrios.

Sakura, melhor do que qualquer outra pessoa, sabia muito bem como uma mulher poderia virar a cabeça de um homem. Tinha medo de que Sasuke encontrasse uma amante tão astuta quanto ela, e que o fizesse tomar medidas drásticas para tê-la.

– E que tal me fazer uma companhia um pouco mais... ativa? - Indagou de maneira provocante, mordendo o lábio inferior.

Sasuke riu, e ficou em silêncio por alguns segundos.

A perda de ambos ainda era muito recente, e ele podia ver no fundo dos olhos da rosada o desespero nítido.

– Não. - Negou - Não é isso que você quer.

– É. - Assentiu - É o que eu quero.

Queria conceber novamente, e aquela era a verdade absoluta.

– Sinto sua fragilidade, Sakura. E você não é assim.

– Depois de tudo o que aconteceu, Sasuke, você queria mesmo que eu não estivesse frágil?

Ambos ficaram em silêncio por um tempo, encarando um ao outro.

Sasuke claramente compreendeu as insinuações de sua esposa, mas não era insensível como ela o julgava.

Levou as mãos delicadas até o peito de seu marido, e aproximou sua boca da dele. Após dias magoada, seus lábios foram de encontro aos de seu marido, todavia foi um contato extremamente rápido. Sasuke segurou em seus ombros e a afastou de si, olhando fundo nos desesperados olhos verdes.

– Você me dará um filho quando for a hora.

Dito isso, Sasuke a soltou e saiu do escritório, deixando-a sozinha.

Com lágrimas a escorrer pela face, Sakura se apoiou na mesa e chorou amargamente.

Por causa da febre que se fez presente no corpo de Sakura dois dias após ela dar à luz, Sasuke temia outro parto. Ansiava por um sucessor, sim, mas não queria que a Rainha ficasse grávida por enquanto.

No entanto, Sakura não via por esse lado. Sua cabeça já pensava em mil motivos para isso, e o fato de Sasuke ser bastante fechado não ajudava em nada, fazendo com que a Haruno passasse a imaginar que ele estava procurando por amantes mais jovens e que não a desejava mais.

Não poderia ser vista como estava. Secou as lágrimas, respirou fundo e saiu do escritório do Rei. Suas aias lhe esperavam perto da grande porta de madeira, e fizeram uma reverência logo que a viram.

– Karin. - Ela parou de frente para sua dama de companhia favorita.

– Diga, Majestade.

– A partir de hoje minhas damas devem usar somente roupas em tons suaves, e com o mínimo de jóias. - Ordenou - E mesmo as mais jovens e solteiras, devem manter os cabelos presos e cobertos durante todo o tempo.

Karin assentiu.

Ninguém deveria ofuscar a Rainha, ou chamar mais a atenção do Rei do que ela.

[...]

Sarada fechou o diário e deixou um suspiro alto escapar. Sua mãe era bastante ambiciosa, e até mesmo um pouco fútil, mas a monarca não conseguia vê-la como uma pessoa ruim.

Olhou novamente para a tela com sua imagem, agora exposta em seu quarto, e sorriu. Ninguém iria censurá-la por isso, uma vez que era a Rainha incontestável, e agora tinha o apoio do povo e dos nobres mais do que tudo.

Na tela, Sakura expunha os belos cabelos rosados que possuíam leves ondas, talvez por ficarem bastante tempo trançados. A moda já havia mudado bastante, e embora as mulheres casadas ainda tivessem o costume de ficar sempre com os cabelos presos - o fato de mulheres casadas exporem os cabelos soltos ainda era mal visto -, já não se via mais véus cobrindo os cabelos como se via na época em que Sakura era viva. E mesmo que a rosada, em seu tempo, soubesse das "regras" de vestuário, exibia os cabelos sem pudor pela Corte, o que poderia ser claramente interpretado como insinuação.

Chegava a ser cômico pensar como coisas tão pequenas podiam manchar a reputação de uma mulher.

– Majestade? - Himawari, parada de pé na porta do quarto de Sarada, atraiu o olhar da monarca para si.

– O que deseja?

– Os tecidos que a senhora encomendou acabaram de chegar. - Anunciou.

– Ah, sim, obrigada. - Sorriu - Pode trazê-los, e mande chamar a costureira.

– Sim, Majestade.

Os preparativos para o casamento já haviam começado, e Sarada agora queria encomendar o vestido. Seria trabalhoso, pois ainda passaria por costureiras, bordadeiras e ourives.

– Mais uma coisa, Himawari. - Alertou - Quero que minhas damas passem a usar apenas roupas cujos tecidos sejam de cores suaves. - Ordenou - Só pode haver um sol no universo.

[...]

"Sasuke tem assuntos para resolver no exterior, por conta disso me deixou como regente. Meus inimigos estão bufando de ódio, não conseguem conviver com o fato de que irei comandar Konoha na ausência do Rei.

Uma mulher não deve se meter em assuntos políticos, é o que dizem, mas agora eu serei o Rei desse país. Deixarei os malditos cães rosnarem, não me importo com isso. Eles terão que me engolir (...)".

Quando tomou a regência do país na ausência de seu marido, Sakura teve acesso a documentos que antes não tinha como consorte. Sasuke confiava em seus conselheiros e secretários, deixando muita coisa relacionada a administração do país por conta deles, mas Sakura não confiava em nenhum, principalmente no braço direito do Rei: Orochimaru.

Em Konoha, quando um nobre era condenado por traição, automaticamente suas riquezas eram confiscadas pela Coroa, incluindo bens, terras, dinheiro e títulos. Tudo passaria a pertencer ao Rei, para usar da forma que bem desejasse.

Sakura viu que Orochimaru desviava todos esses bens confiscados para o tesouro do Rei, e que as terras não tinham um uso específico. Via também que muitos desses bens confiscados, que por acaso valiam uma fortuna, sequer estavam registrados. Sakura concluiu que Orochimaru se aproveitava da confiança de Sasuke para desviar riquezas para si.

A Rainha se enfureceu, mandou que chamassem Orochimaru e ele não demorou muito para estar em sua presença.

Assim que o homem entrou no escritório, Sakura se levantou da poltrona que antes era ocupada apenas por Sasuke, e caminhou lentamente até o secretário.

– Queria me ver, Majestade?

– É bom ver que o tesouro do Rei cresce como nunca antes, Orochimaru. - Disse calmamente, mas era claro que estava querendo um confronto.

– Sim, Majestade. Eu devo zelar por ele.

– Mas é engraçado ver que as obras de caridade estão praticamente abandonadas enquanto a riqueza da Coroa apenas aumenta. - Disse sugestivamente - E também é engraçado ver que muitos bens confiscados simplesmente desapareceram.

– Majestade. - Orochimaru soltou um riso anasalado - Não há como bens tão valiosos simplesmente desaparecerem.

– Realmente... Não há! - Disse furiosa - Se não foram vendidos, e se não fazem parte do tesouro do Rei, então onde estão? Você seria tão estúpido a ponto de não registrá-los?

– Minha senhora, todos os bens do Rei estão perfeitamente registrados.

– Todas as posses dos nobres estão registradas, o Rei tem controle sobre tudo; E se qualquer um deles é condenado por traição, então todas as suas posses passam automaticamente para as mãos do Rei! -Vociferou - Então, como uma boa parte desses bens não é registrada no tesouro Real, sendo que não há documento que comprove a venda?

Orochimaru se viu num labirinto sem saída. Sakura era muito mais esperta do que ele pensou, e o homem com certeza estava certo ao temer que Sasuke, numa necessidade de se ausentar, deixasse a "diaba" como regente.

Ele alimentava sua fortuna com boa parte do que deveria ser destinado para as obras de caridade. Tamanha era a confiança do Rei, que sequer supervisionava as ações de seu secretário. Todavia, Sakura não confiava em Orochimaru, e teria prazer em entregá-lo para Sasuke.

– Não deveria questionar as decisões de seu marido, Majestade. - Orochimaru respondeu - Eu apenas cumpro o que é de desejo do Rei.

– As decisões definitivamente não são dele, e você acha que subiu grandemente a ponto de agir por conta própria! - Bradou com fúria - O que está pensando, Orochimaru? Que você é o Rei de Konoha, e Sasuke é o filho de um mero homem comum? - Questionou com deboche em seu tom de voz, e o homem a sua frente permaneceu com o semblante frio - Pois não se engane! Sasuke confia cegamente em você, mas eu não confio! E acho bom que você não me subestime, pois eu posso ter poder o suficiente para destruí-lo.

O secretário nada disse, apenas fez uma reverência e se retirou.

Para Sakura, ali estava uma oportunidade de derrubar um de seus grandes inimigos. Para Orochimaru, estava um grande aviso de que ele precisava dar ao Rei um bom motivo para executá-la.

...

"Talvez eu não devesse ter confrontado Orochimaru da forma que fiz. Se quero derrubar alguém, preciso agir em silêncio, não fazendo escândalos. No entanto, as atitudes do maldito secretário me irritavam profundamente, mais do que qualquer reunião com o Conselho.

Sasuke enviou uma carta que chegou ontem. Ele disse que tudo ocorreu bem e que voltará antes do que previu caso a maré colabore. Rezo para que ele chegue bem, afinal, nessa época do ano o mar fica bastante agitado e eu temo qualquer imprevisto durante a viagem.

Preciso conversar com Sasuke, dizer que confiar em Orochimaru é um erro imenso. Houve um tempo em que eu tinha bastante influência sobre o Rei, e me pergunto se meu poder de persuasão ainda é o mesmo (...)".

Quando Sasuke retornou, Sakura logo se encontrou com ele em seu escritório. O assunto era urgente, pois precisava fazer com que o Rei abrisse os olhos e visse que Orochimaru não era um amigo, mas um grande inimigo e responsável por muitas desgraças.

Não queria ir direto ao ponto, pois não sabia como andava o humor do Rei naquele dia. Ele não gostava de viajar, constantemente sentia enjoos dentro do navio, então era provável que aquela não era uma boa hora para conversar. Contudo, Sakura não poderia esperar.

– Meu querido. - Sakura se aproximou do homem sentado em sua poltrona, ajoelhou-se e depositou um beijo em sua mão - Fez boa viagem?

– O remédio que o médico me deu funcionou muito bem. - Disse ele - Consegui dormir durante a viagem, e minhas náuseas diminuíram consideravelmente.

Sakura sorriu feliz. Ela se pôs de pé, perto do marido. Ele não estava irritado por conta do mal estar na viagem, então poderia conversar tranquilamente.

– Fico feliz por isso. - Disse ela - Eu queria falar com você sobre os futuros tutores de nossa filha.

– Não é cedo demais para isso? - Uniu as sobrancelhas.

– Não. Sasuke, eu quero os melhores tutores para Sarada. Ela será a mulher mais culta que este país já viu.

Sasuke soltou um riso anasalado.

– Não precisa se preocupar tanto assim com a educação de uma menina. Ela aprenderá o que precisa aprender.

– Quem pode dizer o que ela precisa aprender? - Indagou de maneira retórica - Sei que os homens consideram as mulheres intelectualmente inferiores, mas como o intelecto de uma mulher pode se comparar ao de um homem se ambos não têm os mesmos ensinamentos e oportunidades?

– Por que questionar isso agora?

– Porque eu quero que minha filha tenha uma boa educação. - Respondeu - As mulheres deveriam ser ensinadas sobre política, economia, filosofia, aritmética, astronomia; Também deveriam ser fluentes em vários idiomas, e não somente aprender sobre literatura, artes e música.

– Sakura, não há necessidade.

– Não há necessidade porque não há oportunidade. - A mulher retrucou.

Uma mulher extremamente culta, dominando a arte da retórica, poderia ser um problema para o marido. Num tempo onde uma mulher era governada por um homem, o que aconteceria se as mulheres passassem a pensar que podem governar a si mesmas? As esposas deveriam permanecer caladas, acatando as decisões do marido e sem contestar. Por tal motivo, o jeito impetuoso de Sakura era algo que incomodava o Rei.

O papel de Sakura como consorte era, antes de tudo, fornecer uma prole numerosa de sucessores para a coroa. Assuntos políticos não eram ligados a ela, a não ser naquela situação específica em que Sasuke deu essa brecha para ela. Portanto, a erudição era uma arte preferível aos homens, já que as mulheres em geral deveriam supervisionar o lar e afazeres domésticos.

A mãe de Sakura, Mebuki, havia nascido e crescido em outro país que, diferente de Konoha, dava às mulheres a mesma educação que dava aos homens. Por tal motivo, Mebuki não privou sua filha de um conhecimento amplo, vetado à grande maioria das mulheres em Konoha. Ela tinha um conhecimento filosófico diferenciado, fruto da educação dada por Mebuki, portanto seu pensamento era muito diferente das demais mulheres de seu país.

Mulheres como Sakura, dotadas de uma enorme carga de conhecimento e dominadoras da conhecida como a arte dos advogados, poderiam transformar-se em ameaças à sociedade patriarcal.

– Sarada aprenderá as artes femininas, como qualquer outra mulher do reino. - Sasuke decretou, então Sakura abriu a boca para protestar e foi calada pelo marido - Todavia, ela pode ser uma futura Rainha. É claro que sua educação deve ser diferenciada.

– E as outras mulheres? - Indagou com a voz mansa - Acho que elas podem explorar muita coisa além de canto, dança e costura.

Sakura queria fazer algo pelas mulheres de seu país. Gostaria que todas pudessem ter tido a chance do acesso ao conhecimento como ela teve, de conhecer outros idiomas, política, filosofia... Mas, infelizmente, as restrições por causa do sexo eram uma realidade em Konoha.

– Isso não é algo para ser pensado dessa forma. - Disse Sasuke - Escolha os tutores que quiser para a nossa filha, mas deixe as questões do país comigo.

Sakura ficou em silêncio por um tempo, até que achou que era o momento para entrar em outra questão.

– Perdoe a intromissão, querido marido, mas não acha que confia demais nas pessoas?

Sasuke levantou o olhar, encarando sua esposa com um semblante confuso.

– Me toma por uma pessoa ingênua?

– Claro que não. - Não hesitou em dizer - Mas creio que as obras de caridade e causas educacionais são de extrema importância para o Rei. A Coroa apenas enriquece, enquanto que boa parte do tesouro poderia ser usada para outros fins.

– Está querendo colocar em xeque a confiança que tenho nas pessoas que elegi para me ajudarem com a administração do meu país?

Sakura estremeceu. Deveria tomar cuidado com suas palavras.

– Você ergueu Orochimaru a uma altura tal que a riqueza dele ascende um terço de seu tesouro. - Enfatizou - Mas aquele secretário não tem um país para governar com seu rendimento. Não vai demorar para que o povo comece a chamá-lo de Rei.

– Eu soube do confronto que você teve com Orochimaru, e já me preparava para as suas tentativas de me envenenar contra o homem em quem mais confio neste país. - Disse calmamente, num tom que fez a rosada se arrepiar - Ele escreveu para mim. Você ficou tirânica demais com o poder nas mãos, Sakura.

Por essa ela não esperava. Não tinha noção do que Orochimaru havia escrito, mas isso somado ao descontentamento do Rei para com as atitudes da esposa, poderia se tornar imensamente perigoso.

– Eu não confio cegamente nas pessoas. - Disse ela.

– Não é você quem rege o país.

Sakura soltou um longo suspiro.

– Não sei o que ele escreveu para você, mas com certeza exagerou. Nós apenas temos opiniões diferentes sobre qual deveria ser o destino dos bens confiscados.

– Você sequer deveria ter opinião. - Ele respondeu friamente - Eu lhe nomeei regente para cuidar das coisas em minha ausência, não para tomar as rédeas de Konoha! - Sasuke aumentou o tom de voz - Lhe dei instruções para seguir, e o mínimo que você deveria ter feito era obedecer! É por isso que as mulheres não podem estar no poder!

– Se eu sou tão incapaz assim, então por que me nomeou sua regente?

– Pensei que poderia lhe dar um voto de confiança como minha Rainha. - Respondeu - Mas vejo que me equivoquei. Ao invés de seguir as minhas ordens e manter a paz, você transformou minha Corte num campo de guerra! - Vociferou, colocando-se de pé - Orochimaru disse que você o tratou como se trata a um cão!

Sakura não conseguiu segurar, começou a rir. Era um riso debochado, carregado de sarcasmo. Sasuke odiava esse lado irônico de sua esposa, que parecia sentir necessidade de alfinetar.

– Ora, Sasuke, que prepotência. - Disse risonha, provocando a ira do marido - Você sabe que trato meus cães melhor do que trato a maioria das pessoas. Aquele maldito verme não deveria ter se dado a honra de uma comparação a eles.

Sasuke respirou fundo, tentando se controlar. A cada atitude infantil de Sakura, o Rei sentia que estava se tornando impossível uma convivência pacífica.

– Saia daqui agora, Sakura! - Ele ordenou.

– Como quiser, Majestade. - Respondeu com deboche, então virou as costas e saiu.

Como amar alguém cujo comportamento é inaceitável? Sasuke não sabia responder tal pergunta, tampouco sabia qual seria o fim de seu casamento. A verdade é que, por mais que gostasse da esposa, o soberano estava começando a se cansar dela.


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Notas finais do capítulo

Acho que algumas pessoas podem ter tido algumas dúvidas quando eu citei os cabelos na fanfic. Bem, minha história tecnicamente se passa em meados do século XVI, onde era comum as moças solteiras exporem seus cabelos como sinal de pureza e virgindade, mas as casadas deveriam escondê-los. Uma mulher casada andar com cabelos expostos poderia ser compreendido como uma insinuação, então não era legal. Para as rainhas o negócio mudava, EM ALGUMAS OCASIÕES elas podiam expor os cabelos sem problema. Esse fato foi usado como inspiração pra fanfic ;)

"Ah, então as mulheres ficavam com véus nos cabelos? Que feio!" Na verdade não era feio... 

Se alguém quiser ter uma noção de como as mulheres escondiam os cabelos, segue o link: 

https://i.pinimg.com/originals/a4/28/6e/a4286e039958da3cad900fae6cf26da7.jpg

Então, deu pra ver direitinho? O véu era encaixado num capelo (essa espécie de arco na cabeça. Havia vários modelos, mas esse arredondado, conhecido como capelo francês, é o que eu acho mais bonito). 

Querem outro modelo? 

https://i.pinimg.com/236x/15/c7/7b/15c77b2adaef605248ac028bda5c6c21--tudor-fashion-tudor-history.jpg 

Viram? Mataram a curiosidade? Era até bonito, convenhamos ♡

Bjssss 




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