A luz refletia incessantemente a tarde que se escurecia ao lado de fora. O néon foi novamente ativado.

Matt se aproximou um pouco curioso.

— Isso é pra atrair mais gente. - Cantarolou a garota que apertava os botões como uma criança e um sorriso que esboçava a expressão de um sonhador sem chão.

O jovem mexeu em suas madeixas grisalhas novamente com outra pergunta na ponta da língua.

— Bem... - Matt foi olhando para a altura que o prédio exibia enquanto se aproximava da janela para ver o painel. - Que tipo de público você pretende ter? Digamos...É... Um público alvo pra ser mais específico.

Legendary ergueu seu olhar que antes estava voltado para as luzes e gesticulou com as mãos com um ar de glamour.

— Ora! - Expressou-se. - O meu público é previsto como uma organização que recrutamento jovens até mesmo os idosos.

— A-Até I-I-Idosos??!! - Matt tirou os olhos de um pensamento distante que imaginara sobre uma queda livre da janela e voltou-se para a mascarada completamente indignado.

Ela riu da reação do menino desarmando o seu controle de botões.

— Não, não... Talvez não seja necessário. - Olhou para os lados e depois para a rua na janela observando a pequena movimentação. - Talvez...

Matt foi ficando cada vez mais e mais confuso, até que saltou de susto só de lembrar de onde estivera deixado seu cão, Marley.
Saiu correndo para o andar de baixo sem dar explicações à procura desesperada de seu mascote tão importante.

A movimentação da cidade foi diminuindo a cada minuto do fim da tarde.

O sol cada vez mais se afastava no horizonte e os pássaros voavam sem medo após todas as crianças saírem do parque.

O parque era a região mais escura da cidade devido suas árvores altas de densas folhas. Era chamado de: Place Dorchadais , que do gaélico escocês significa Lugar de Escuridão. Com certeza o primeiro lugar a ficar escuro no bairro.

O local também era famoso pelas brechas de raios da luz do pôr do sol que projetavam formatos coloridos e luminosos no gramado.

No último banco da praça do grande parque, desenhava graciosamente com gestos ágeis e dedicados, a última pessoa que sobrou.

Seus cabelos castanhos chocolate desciam em perfeitas pontas roxas escuras sobre os ombros. Sua franja, escondia metade do seu rosto ocultando um olho, enquanto o outro, acompanhava o girar dos dedos sobre sua lapiseira.

Sobrara apenas uma menina, uma dedicada artista que carregava um copo de café do seu lado no banco.

Ela estava tentando retratar as flores que caíam das árvores e encaixar tudo em seu pequeno caderno.
Sem muita atenção, acabou escorregando a mão ao fazer um contorno errado após a ponta de sua lapiseira se partir.

— Droga... - Resmungou procurando o estojo no banco.

Assim que abriu o zíper do estojo, sua borracha caiu para fora rolando no gramado.

A menina da pele cor de canela começou a corar as bochechas de tamanha falta de atenção que teve e correu para alcançar sua borracha.

Sua borracha saiu rolando em meio a descida do 

relevo de pequenas colinas no gramado.

— Argh! Não!! - Correndo, tentou pegá-la para que não acabasse descendo ladeira abaixo.

Por mais rápido que corresse, sua borracha acabou rolando pequenas pedras na descida do percuso de um comprido corrégo.

A morena acompanhou o passar da água, no que resultou a visita de um lago extenso e escuro.
Ficou hipnotizada com os reflexos que se exibiam nas águas. Parecia o formato de um castelo brilhante.

Sua distração com o tamanho do lago e com os belos reflexos que se produziam a fez esquecer da borracha perdida.

Tanto tempo olhando para o reflexo, a fez se esquecer também do que se havia a volta e de onde se desenhava aqueles belos formatos na água.

Ergueu sua cabeça e se deparou com um prédio de janelas de vidro tão luminosas quanto o divino esboço no lago. Percebeu que era de lá que se originou a bela imagem, e resolveu correr para o banco pegar suas coisas para desenhar aquela bela paisagem.

Não demorou muito para pensar duas vezes e correr em disparada subindo as pequenas colinas do parque.

Sua corrida foi interrompida por um esbarro violentíssimo. Não sabia que no caminho andava mais outra pessoa e no momento só pôde ver sua sombra. O impacto foi a causa da queda.

— AI MEU DEUS, DESCULPE!! - A menina se levantou rápido limpando seu short vermelho e oferecendo ajuda.

Teria se esbarrado com outra garota.

A menina usava um lacinho pequeno em seus cabelos e sua saia rosada estava quase verde pelo tombo que teve nas folhas do 

chão.

— T-Tudo bem... - Acalmou a morena levantando-se com sua ajuda.

— Eu estava correndo feito uma maluca, me desculpe!

A menina com o laço na cabeça tinha a mesma aparência que a outra. Por diferença, seus olhos eram mostrados e castanhos claros como o cabelo que também descia em pontas roxas, embora sendo mais claras.

— Tá bem...Tá bem... Eu também fico correndo por aí.

As duas se olharam sem graça, sem ter o que falar depois de um breve silêncio constrangedor.
A morena com seu casaco comprido e saia bagunçada tomou coragem.

— Meu nome é Alexandra, mas pode me chamar de Alex. - Apresentou-se sorrindo. - E o seu?

A outra ficou meio embaraçada em relação a seu nome.

— É J. Me chame de J...

Alex espantou-se confusa e as duas começaram a conversar no mesmo lugar.
Alexandra conversou sobre o que iria fazer a tarde e J contou que iria desenhar o prédio que projetava belos formatos no lago.

— Sério? Aquele prédio ali?? - Apontou Alex maravilhada.

— Sim! Achei muito lindo. Não posso perder este cenário maravilhoso. - Respondeu J esboçando um largo sorriso.

As duas começaram a observar a paisagem de perto até que uma delas tiveram a ideia de visitar o lugar.

— C-Como assim entrar lá dentro?? Não vê que nome estranho? "PaRaLeLoq" o que devem fazer lá!?

J terminou o desenho depois de alguns minutos e respondeu olhando para o prédio que em contraste se exibia com as luzes da cidade.

— Bem Alex, acho que só se pode descobrir se arriscando né? Ele não é lindo? Seria um desperdício de tempo voltar para casa sem ter feito nada de interessante ao invés de explorar mais a cidade, né?

Alexandra tomou o olhar para o horizonte e para a noite que surgia. Abraçando os joelhos e admirando a vista, ela confirmou balançando a cabeça refletindo com os olhos pensativos.