Nunca brinque com magia! escrita por Lyana Lysander


Capítulo 8
O conselho!


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, espero que gostem!



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Durante os meses em que estive aqui nunca tinha visto a mesa de mestre Elrond mais cheia de convidados, e muito menos tão silenciosa. Cada um estava preso em seus próprios pensamentos e os únicos que pareciam alheios a situação ali eram os Hobbits que discutiam fervorosos sobre algo.

—Posso me juntar a eles? -perguntei sutilmente a mestre Elrond e ele me sorriu.

—Eu estranharia se não o fosse. Lá parece realmente mais convidativo. -sorri pedindo licença e indo ao encontro de meus alegres amigos na outra extremidade da mesa.

—O que está acontecendo? -sorri ao ver a cara emburrada de Sam e me sentando ao seu lado.

—O senhor Frodo foi convidado para participar do conselho.

—Eu também, qual o problema disso Sam? -indaguei curiosa, e ele me olhou embasbacado.

—Ele está assim por que só vocês foram convidados. -salientou Mary.

—E isso faz diferença para vocês? -sorri sapeca.

—Não os ajude Aura. -queixou-se Frodo cansado.

—Nenhum um pouco minha cara amiga. De um jeito ou de outro estaremos lá. -ri com a forma fervorosa com que Pipin falou, já Frodo colocou a mão no rosto negando.

Senti um frio na espinha e logo achei que estava sendo observada e me virei preocupada procurando a fonte do olhar, e nesse momento acabei dando de cara com um par de olhos cinzentos a me observar, e senti não mais um arrepio mas um pequeno choque passar meu corpo. Aquilo era um aviso claro de perigo, mas quem era aquela pessoa?

—O que ouve Aura, você ficou branca de repente? -comentou um Frodo preocupado.

—Não foi nada. Só senti uma leve brisa fria. -eles se olharam.

—Que tal irmos aproveitar a varanda, ela deve estar vazia agora, e eu já comi mais do que poderia aguentar. -Pipin bateu na barriga para enfatizar o que dizia.

—Ótima ideia! -me animei e todos levantamos e seguimos para a varanda chamando atenção das outras pessoas a mesa.

Ficamos ali conversando e rindo sobre coisas banais, até que um elfo veio nos chamar para o conselho, que já reunia seus membros. 

—Você parece estar melhor! -comentou Frodo enquanto caminhávamos.

—Agradeço a vocês por isso, sempre tornam meu dia mais alegre. E agora me conhecem tão bem que sabem quando algo não me agrada mesmo que eu não fale sobre isso.

—Sabe que pode sempre contar conosco não é, não importa o que aconteça, devemos nossas vidas a você.

—E eu a você. -dei de ombros. Frodo pareceu querer dizer algo, mas Gandalf já se aproximava de nós, então ele se calou e sorriu negando.

O mago cinzento mal havia parado ao nosso lado quando os sinos tocaram, e este sorriu orgulhoso, como se seu cronometro interno nunca falhasse.

—Venham, os sinos anunciam o chamado para o conselho, e seus lugares são ao meu lado. - nós nos despedimos ao longe de nossos amigos e não falamos mais nada, apenas seguimos o mago rapidamente ao longo do caminho cheio de curvas, de volta para a casa.

Gandalf nos conduziu até o alpendre onde havia me encontrado com nossos amigos na noite de minha recuperação.  A luz da clara manhã de outono brilhava agora no vale. O ruído das águas borbulhantes vinha do leito espumante do rio. Pássaros cantavam, e uma paz parecia que se deitava sobre a terra. Para Frodo, sua fuga perigosa e os rumores da escuridão crescendo no mundo lá fora já pareciam apenas lembranças de um sonho ruim, podia ver isso em seu rosto. Mas para mim, que sabia mais ou menos o que viria a seguir, aquela caminhada era o que marcava o inicio de meus maiores medos desde que cheguei nesse mundo.

Senti a pressão do lugar assim que pus os pés naquela varanda, os rostos de todos os seres ali presentes se voltaram para nós quando entramos, eles estavam sérios. Mestre Elrond estava ali, e muitos outros se sentavam em silêncio em torno dele.

Vi Glorfindel e Glóin, e num canto sozinho, estava Passolargo, vestido outra vez em suas surradas roupas de viagem. Ele deu um leve acenar de cabeça para nós, e depois voltou a fitar o nada.

Elrond chamou a mim e a Frodo para se sentar ao seu lado, e nos apresentou ao grupo, dizendo:

—Aqui, meus amigos, está o hobbit, Frodo, filho de Drogo. Poucos chegaram aqui, passando por perigos maiores, ou em missão mais urgente.

—E está é Aura minha pupila, ela chegou aqui com o jovem Frodo, e o ajudou juntamente com seus amigos em sua jornada até este local, passando com eles todos os perigos.  -olhares curiosos nos fitavam, e eu sabia que a explicação de Elrond sobre nós apenas atiçou a curiosidades sobre quem realmente éramos.

Mestre Elrond então apontou e nomeou aqueles que eu ainda não tinha encontrado ou conhecido.

Havia um anão mais jovem ao lado de Glóin, seu filho Gimli. Ao lado de Glorfindel estavam vários outros conselheiros da casa de Elrond, de quem Ereston era o chefe, com ele estava Galdor, um elfo dos Portos Cinzentos, que tinha vindo numa missão a pedido de Círdan, o fabricante de embarcações. Havia também o elfo que tinha esbarrado comigo essa manhã, vestido de verde e marrom, Legolas, que segundo Gandalf estava ali como mensageiro de seu pai, Thranduil, o Rei dos Elfos do Norte da Floresta das Trevas. E, sentado um pouco à parte, estava um homem de rosto belo e nobre, de cabelos escuros e olhos cinzentos, altivo e de olhar severo. Estava com capa e botas, como se fosse fazer uma viagem a cavalo, na verdade, apesar de suas vestes serem luxuosas, e a capa revestida de pele, estavam manchadas pelo que parecia ter sido uma longa viagem. Tinha um colar de prata no qual havia uma única pedra, os cabelos cacheados estavam cortados à altura dos ombros. Num cinturão, trazia uma grande corneta com ornatos de prata, que agora colocara sobre os joelhos. Olhou para Frodo e depois parou em mim com uma cara surpresa. E como no almoço ficou me encarando, me deixando completamente desconfortável.

—Aqui. - disse Elrond, voltando-se para nós. -Aqui está Boromir, um homem do Sul. Chegou no início da manhã, e procura aconselhamento. Pedi a ele que estivesse presente, pois aqui as perguntas que tem a fazer serão respondidas. -ele respirou fundo.  -Glóin! -o anão levantou e fez uma pequena reverencia, enquanto Elrond sentava em nosso meio. Sentei a sua esquerda e Frodo a sua direita.

—Cerca de um ano atrás, um mensageiro veio até nossos domínios, e este disse vir de Mordor. O cavaleiro chegou à noite, chamando mestre Dain até o portão. "O Senhor Sauron, o Grande", dizia ele, desejava nossa amizade. Em troca daria anéis, assim como tinha dado aos antigos. E o mensageiro queria muito saber a respeito de hobbits, de como eles eram, e onde moravam. "Pois Sauron sabe", dizia ele, "que um deles foi conhecido de vocês em certa época." -o silêncio era total naquele lugar, parecia que nem o evento queria atrapalhar suas palavras. — Ao ouvirmos isso, ficamos muito preocupados, e não demos resposta. E então sua voz maléfica ficou mais baixa, e ele a teria suavizado, se pudesse. "Apenas como um pequeno sinal de sua amizade, Sauron pede isto", disse ele: "que encontrem esse ladrão", foi essa a palavra que usou, "e consigam dele, quer queira ou não, um pequeno anel, o mais ínfimo dos anéis, que certa vez ele roubou. É um capricho de Sauron, e uma prova da boa vontade de vocês. Encontrem-no, e três anéis que os anões antepassados usaram lhes serão devolvidos, e poderão tomar posse de Moria para sempre. Encontrem apenas notícias do ladrão, se ainda está vivo e onde, e terão grande recompensa e a eterna amizade do Senhor. Recusem a oferta, e as coisas não vão ficar muito bem. Recusam-se?" Com isso sentimos seu hálito, semelhante ao silvo das serpentes, e todos os que estavam ali tremeram, mas Dain disse: "Não digo sim nem não". "Preciso pensar na mensagem, e no que está por trás desse belo disfarce". -ele olhou para todos nós, e tristemente voltou a falar. -O mensageiro voltou duas vezes, e se foi sem resposta. "A terceira e última vez", dizia ele, "está por chegar, antes do fim do ano."  E então fui enviado finalmente por Dain, para avisar Bilbo que ele está na mira do Inimigo, e para saber, se for possível, por que ele deseja esse anel, o mais ínfimo dos anéis. Também pedimos o conselho de Elrond. Pois a Sombra cresce e se aproxima. Descobrimos que os mensageiros também foram enviados ao rei Brand, em Valle, e que ele está com medo. Tememos que possa ceder. A guerra já está se formando na fronteira Leste. Se não dermos resposta, o Inimigo poderá enviar os homens sob seu comando para atacar Dain.

—Fez bem em ter vindo a minha casa. Hoje você ouvirá tudo o que precisa para entender os propósitos do Inimigo. Não há nada que possa fazer, a não ser resistir, com ou sem esperança. Mas você não está só. Saberá que seu problema é apenas parte do problema de todo o mundo ocidental. O Anel! Que devemos fazer com o Anel, o mais ínfimo dos anéis, a ninharia que Sauron cobiça? É isso que devemos considerar. -Elrond respirou e sua face parecia mais séria. -Este é o propósito de todos terem sido chamados aqui. Chamados, eu digo, embora eu não tenha chamado vocês até mim, estrangeiros de terras distantes. Vocês vieram e estão aqui reunidos, neste exato momento, por acaso, como pode parecer. Mas não é assim. Acreditem que foi ordenado que nós, que estamos aqui sentados, e ninguém mais, encontremos uma solução para o perigo do mundo. -ele olhou para cada um de nós antes de continuar. -Agora, portanto, as coisas que foram até este dia ocultadas de todos, por alguns, devem ser mencionadas abertamente. E começando, para que todos possam entender qual é o perigo, a História do Anel será contada desde o início até o momento presente. E eu devo começar, embora outros possam terminá-la.

Então todos ali escutamos com o coração pesado enquanto Elrond, com sua voz clara, falava de Sauron e dos Anéis de Poder, e de sua forjadura na Segunda Era do mundo. Uma parte da história parecia que era conhecida por alguns ali, mas a história completa ninguém conhecia realmente, então todos pareciam imersos em suas palavras sem querer perder nenhuma parte da história ali contada. Elrond contou sobre os  élficos de Eregion, e de sua amizade com Moria, e de sua avidez de conhecimento, através da qual Sauron os seduziu. Pois, naquela época, ainda não era declaradamente mau, e eles aceitaram sua ajuda, tornando-se hábeis, enquanto Sauron aprendia todos os segredos, e os traía, forjando secretamente, na Montanha do Fogo, o Um Anel para dominar todos os outros. Mas Celebrimbor sabia das verdadeiras intenções de Sauron, e escondeu os Três que tinha feito; então houve guerra, e a terra foi arrasada, e o portão de Moria foi fechado.

Falou de Númenor, de sua glória e queda, e do retorno dos Reis dos Homens à Terra-média, vindos das profundezas do mar, carregados pelas asas da tempestade. Então Elendil, o Alto, e seus poderosos filhos, Isildur e Anárion, tornaram-se grandes senhores, e fundaram o Reino do Norte em Amor, e o Reino do Sul em Gondor, sobre a foz do Anduin. Mas Sauron de Mordor os atacou, e eles fizeram a última Aliança de Elfos e Homens, e as tropas de Gil-galad e Elendil foram reunidas em Amor.

A essa altura sua face estava triste, e o suspiro que o seguiu mostrou aquela tristeza.

—Fui o arauto de Gil-galad, e marchei com sua tropa. Estive na Batalha de Dagorlad diante do Portão Negro de Mordor, onde vencemos: pois à Lança de Gil-galad, e à Espada de Elendil, Aiglos e Narsil, ninguém podia resistir. Eu vi o último combate nas encostas de Orodruíri, onde Gil-galad morreu, e Elendil caiu, e Narsil se quebrou sob seu corpo. Mas Sauron foi vencido, e Isildur cortou o Anel de sua mão com o fragmento do punho da espada do pai, e pegou-o para si. 

Ao ouvir isso,  Boromir, interrompeu-o me assustando, pois estava mais do que absorta na história para prestar atenção ao meu redor. -Então foi isso que aconteceu com o Anel! -gritou ele. -Se alguma vez essa história foi contada no Sul, já foi há muito esquecida. Ouvi falar do Grande Anel daquele que não nomeamos, mas acreditávamos que tinha desaparecido do mundo nas ruínas do primeiro reinado. Isildur o pegou! Isso realmente é novidade.

—Infelizmente, sim. -disse Elrond. -Isildur o pegou, e isso não deveria ter acontecido. O Anel deveria ter sido jogado no fogo de Orodruin, exatamente onde foi confeccionado. Mas poucos perceberam o que Isildur fez. Ele tinha ficado sozinho ao lado do pai no confronto final; e ao lado de Gil-galad apenas Círdan ficou, e eu. Mas Isildur não deu ouvidos ao nosso conselho.

—"Levo isto como compensação pela morte de meu pai e de meu irmão", disse ele, portanto, sem se importar com o que pensávamos, tomou o Anel para guardá-lo. Mas logo foi traído por ele, o que causou sua morte, por isso é chamado no Norte de A Ruína de Isildur. Mesmo assim, a morte ainda foi melhor do que aquilo que poderia ter-lhe acontecido.

—Essas informações só vieram para o Norte, e apenas para alguns. Não é de admirar que você não saiba de nada, Boromir. Da ruína dos Campos de Lis, onde Isildur sucumbiu, apenas três homens voltaram pelas montanhas, depois de muito vagarem. Um destes foi Olitar, o escudeiro de Isildur, que trazia os pedaços da espada de Elendil, e ele os trouxe para Valandil, herdeiro de Isildur, que, por ser apenas uma criança, tinha ficado aqui em Valfenda. Mas Narsil estava quebrada e sua luz se extinguira, e ainda não tinha sido forjada novamente.

—Parece infrutífera a vitória da última Aliança? Não inteiramente, embora não tenha alcançado seus objetivos. O poder de Sauron diminuiu, mas não foi destruído. O Anel estava perdido, mas não desfeito. A Torre Escura foi quebrada, mas os alicerces não foram removidos, pois haviam sido feitos com o poder do Anel, e enquanto este permanecer os alicerces vão durar. Muitos elfos e muitos homens poderosos, e muitos de seus amigos, morreram na guerra. Anárion foi morto, e Isildur foi morto, Gil-galad e Elendil não existiam mais. Nunca mais haverá uma aliança semelhante entre homens e elfos, pois os homens se multiplicam, e os primogênitos estão se extinguindo, e os dois povos estão ficando cada vez mais distantes. E desde aquele dia, a raça de Númenor vem decaindo, e o tempo que vivem diminui.

Elrond discutiu sobre as terras além das suas, dos homens e seu sangue através dos tempos que haviam caído ou resistido, sobre a árvore branca de Gondor e os decendentes de Numenor estarem se esvaindo da terra, e foi nesse momento que Boromir pediu licença para falar. E ele falou sobre as conquistas de seu povo, e de como lutavam, mas explicou que o que o levara ali havia sido um sonho que ele e seu irmão mais novo tiveram várias vezes, sobre uma grande guerra que estava por vir, e sabendo que o poder de Elrond estava na sabedoria e não nas armas, foi a sua procura, para que este pudesse o aconselhar.

—Nesse sonho, vi o céu do Leste ficar cinza-escuro, e havia um trovão crescente, mas no Oeste uma luz pálida permanecia, e vindo dela eu escutava uma voz, remota mas clara, gritando: "Procure a Espada que foi quebrada. Em Imladris ela está,  Mais fortes que de Morgul encantos Conselhos lhe darão lá. E lá um sinal vai ser revelado Do Fim que está por vir E a Ruína de Isildur já acorda, E o Pequeno já vai surgir". Dessas palavras, pudemos entender pouca coisa, e falamos com nosso pai, Denethor, Senhor de Minas Tirith, sábio na tradição de Gondor. Ele só disse que Iraladris fora, há muito tempo, o nome usado pelos elfos para um vale no extremo Norte, onde Elrond, o Meio-elfo, morava, o maior dos eruditos na tradição. Portanto, meu irmão, vendo o desespero de nossa necessidade, estava ansioso para atender ao que dizia o sonho, e procurar Imladris, mas, já que o caminho era cheio de dúvidas e perigos, encarreguei-me da viagem. Meu pai relutou em dar permissão para minha partida, e muito vaguei por estradas abandonadas, procurando a casa de Elrond, da qual muitos tinham ouvido falar, mas poucos sabiam onde ficava.

—E aqui, na casa de Elrond, mais coisas lhe serão esclarecidas. -disse Aragorn, levantando-se. Colocou sua espada sobre a mesa diante de Elrond, e a lâmina ainda estava partida em dois pedaços. -Aqui está a Espada que foi Quebrada! -sorri admirada.

—E quem é você, e o que tem a ver com Minas Tirith? -perguntou Boromir, olhando surpreso para o rosto magro do guardião e para sua capa surrada.

—Ele é Aragorn, filho de Arathorn. -disse Elrond. -E descende, através de muitas gerações, de Isildur, filho de Elendil, de Minas lthil. É o chefe dos dúnedain no Norte, poucos restam agora desse povo. -o olhar de espanto de Boromir, logo foi substituído por um de desconfiança.

Então ele pertence a você e não a mim! -gritou Frodo surpreso, levantando-se, como se esperasse que alguém pedisse o Anel imediatamente. -o olhei assustada.

Ele não pertence a nenhum de nós. -disse Aragorn. -Mas foi ordenado que você o guardasse por um período.

—Traga o Anel, Frodo! -disse Gandalf solenemente. -A hora chegou. Mostre-o, e então Boromir entenderá o restante do enigma de seu sonho.

Fez-se silêncio e todos voltaram os olhos para Frodo. Era notável que ele havia sido tomado de repente pela vergonha e pelo medo, sentindo uma grande relutância em revelar o Anel, e uma aversão de tocá-lo. Parecia que desejava estar bem longe. O Anel brilhou e cintilou, conforme o erguia diante deles, com a mão trêmula.

—Veja a Ruína de Isildur! -disse Elrond.

Os olhos de Boromir reluziram cobiça quando olharam para o objeto de ouro.

—O Pequeno! -gaguejou ele. -Então o fim de Minas Tirith finalmente chegou? Mas por que então devíamos procurar uma espada quebrada?

—As palavras não eram o fim de Minas Tirith.  -explicou Aragorn.  -Mas o fim e grandes feitos se aproximam realmente. Pois a Espada que foi quebrada é a Espada de Elendil, que se partiu quando ele caiu por cima dela. Foi guardada por herdeiros, quando todo o resto da herança foi perdido. Disseram-nos que seria refeita quando o Anel, a Ruína de Isildur, fosse encontrado. Agora que você viu a espada que procurava, o que dirá? Deseja que a Casa de Elendil retorne à Terra de Gondor?

—Não fui enviado para implorar nenhum favor, mas apenas para procurar o significado de um enigma. -respondeu Boromir orgulhosamente. -Mas estamos sendo fortemente pressionados, e a Espada de Elendil seria uma ajuda além de nossas expectativas... se uma coisa dessas pudesse realmente voltar das sombras do passado. -olhou de novo para Aragorn, cheio de dúvidas.

—Já dizia mestre Bilbo: "Nem tudo o que é ouro fulgura, nem todo o vagante é vadio; O velho que é forte perdura, raiz funda não sofre o frio. Das cinzas um fogo há de vir. Das sombras a luz vai jorrar; A espada há de, nova, luzir; O sem-coroa há de reinar. -falei raivosa e todos olharam para mim. -Talvez não muito bom, mas perfeito para o momento, se e que você precisa de algo mais além da palavra de mestre Elrond. Se ela vale uma viagem de cento e dez dias, é melhor escutá-la com mais atenção. -completei furiosa.

Aragorn sorriu-me, depois voltou-se outra vez para Boromir.

—De minha parte, perdoo sua dúvida. -disse ele. -Sou pouco semelhante às figuras de Elendil e Isildur que estão entalhadas em sua majestade nos salões de Denethor. Sou apenas um herdeiro de Isildur, não Isildur em pessoa. Tive uma vida dura e longa, e as milhas que se estendem entre este lugar e Gondor são uma pequena fração na soma de minhas viagens. Atravessei muitas montanhas e muitos rios, e pisei em muitas planícies, chegando até mesmo às regiões distantes de Rhún e Harad, onde as estrelas são estranhas. Nossos dias escureceram e diminuímos em número, mas sempre a espada era passada para um novo guardião. E isto direi a você, Boromir, antes de terminar. Somos homens solitários, guardiões das Terras Ermas, caçadores, mas sempre caçamos os servidores do Inimigo, pois estes podem ser encontrados em muitos lugares, e não apenas em Mordor.

Foi longa a discussão entre Aragorn e Boromir, e eu já estava cansada, pois até o sol já dava sinais de querer se recolher.

—Você diz que a Ruína de Isildur foi encontrada. -disse Boromir. -Vi um anel brilhante na mão do Pequeno, mas Isildur morreu antes de esta era do mundo começar. Como os Sábios podem saber que esse anel é o dele? E como ele passou todos esses anos, até ser trazido aqui por um mensageiro tão estranho?

—Isso será contado. -disse Elrond.

—Mas ainda não, eu peço, Mestre. -foi só nesse momento que notei a presença de Bilbo, próximo a Frodo, parecia que ele estava oculto de meus olhos antes. -O sol já está chegando ao seu fim, e sinto necessidade de algo para me fortalecer.

—Não tinha nomeado você. -falou Elrond. -Mas faço isso agora. Venha! Conte-nos sua história. E se ainda não a transformou em versos, você pode contá-la em palavras simples. Quanto mais rápido for, mais depressa será alimentado.

—Muito bem! -disse Bilbo. -Farei como pede. Mas vou contar a história verdadeira, e se alguém aqui já me ouviu contando-a de outra maneira. -olhou de lado para Glóin. -Peço que esqueçam e me perdoem. Naquela época, desejava apenas afirmar que o tesouro pertencia só a mim, e me livrar da pecha de ladrão que me havia sido lançada. Mas talvez eu tenha um entendimento melhor das coisas agora. De qualquer forma, foi isto o que aconteceu.

Para mim e alguns ali, a história de Bilbo era inteiramente nova, e todos ouvimos surpresos, enquanto o velho hobbit, na verdade não totalmente contrariado, recontava sua aventura com Gollum, do começo ao fim. Não omitiu uma charada sequer. Imagino que este também teria feito um relato de sua festa e do seu desaparecimento do Condado, se lhe fosse permitido, mas Elrond levantou a mão.

—Bem contado, meu amigo. -disse ele. -Mas isso é o suficiente por enquanto. Para o momento, basta sabermos que o Anel passou às mãos de Frodo, seu herdeiro. Deixe-o falar agora! Bem como você Aura, pode ajuda-ló a contar sua aventura.

Então, menos disposto que Bilbo, Frodo contou todas as suas façanhas com o Anel, desde o dia em que a guarda lhe fora confiada. Cada passo de sua viagem da Vila dos Hobbits comigo até o Vau do Bruinen foi questionado e ponderado, e tudo o que ele pôde lembrar a respeito dos Cavaleiros Negros foi examinado. Muitos questionamentos sobre como conseguimos escapar dos cavaleiros negros antes de encontrar Aragorn, mas Frodo parecia relutante em comentar sobre mim, então entendendo sua lealdade eu o fiz, expliquei a todos ali sobre meus dons obscuros, e Elrond me auxiliou a explicar alguns pontos, deixando a desconfiança de alguns sobre mim bem menor, pois eu era acima de tudo sua aluna. 

Os élfos na sala pareceram me admirar e um a um eles me reverenciaram, e eu devolvi a cortesia.

—Nós ficamos honrados em conhecer a jovem que carrega tamanho poder, e que carrega a esperança de nossos povos. -falou o jovem príncipe Legolas, me fazendo corar e me curvar para esconder minha vergonha.

—A honra é toda minha, príncipe da floresta das Trevas.

—Os sábios podem ter bons motivos para considerar que o tesouro do Pequeno é realmente o Grande Anel tão debatido, embora isso pareça improvável para aqueles que sabem menos. Mas não podemos ouvir as provas? E eu também perguntaria o seguinte: E Saruman? Ele é erudito nos estudos sobre os Anéis, e apesar disso não está entre nós. O que diria, se soubesse das coisas que ouvimos? -disse Boromir nos interrompendo e seu semblante parecia mais carrancudo. 

—As perguntas que faz, Boromir, estão entrelaçadas. -disse Elrond. -Não as negligenciei, e elas serão respondidas. Mas essas coisas compete a Gandalf esclarecer, e eu o chamo por último, pois esse é o lugar de honra, e em toda essa questão ele tem sido o chefe.

—Alguns, Boromir. -Gandalf se levantou falando. -Pensariam que as notícias de Glóin e a perseguição de Frodo são provas suficientes de que o tesouro do Pequeno é uma coisa de grande valor para o Inimigo. Apesar disso, é apenas um anel. E então? Os Nove estão em poder dos Nazgul. Os Sete foram levados ou estão destruídos. -com isso Glóin se mexeu na cadeira, mas nada falou. -Dos Três nós sabemos. O que então seria este Um, que ele tanto deseja?

—Na verdade, existe um grande lapso de tempo entre o Rio e a Montanha, entre a perda e o achado. Mas a falha no conhecimento dos Sábios foi sanada finalmente. Mas muito devagar. Pois o Inimigo vinha logo atrás, mais próximo até do que eu temia. E é bom que só tenha conhecido a verdade inteira neste último ano. -continuou ele.

Gandalf contou a história de Golum, de quem realmente era e como conseguirá o Anel, de como fora as terras de Gondor procurar por escrituras antigas e o que descobriu lá, de como resolverá por um fim em suas dúvidas escolhendo o caminho que lhe parecia mais obvio, e lá onde fora enganado e preso por Saruman o Branco, e por pouco conseguiu escapar com vida de suas garras tenebrosas.

—Mas se isso ainda não for prova suficiente, Boromir, ainda há o outro teste que mencionei. Nesse mesmo Anel que acabaram de ver exibido, redondo e sem adornos, as letras que Isildur mencionou ainda podem ser lidas, se alguém tiver a força de vontade de colocar o Anel no fogo por uns momentos. Fiz isso e li o seguinte:

—Ash nazg dupbatulûk, ash nazg gimbatul, ash nazg thrakatulûk agh burzum - ishi krimpatul. -a mudança na voz do mago era assombrosa. De repente ficou ameaçadora, poderosa, dura como pedra. Uma sombra pareceu passar sobre o sol alto, e o alpendre ficou escurecido por uns momentos. Todos tremeram, e os elfos tamparam os ouvidos.

—Nunca antes uma voz ousou pronunciar palavras nessa língua em Imladris, Gandalf, o Cinzento. -disse Elrond, quando a sombra passou e o grupo pôde respirar outra vez.

—E esperemos que ninguém jamais fale essa língua aqui de novo. -respondeu Gandalf. -Não obstante isso, não peço suas desculpas, Mestre Elrond. Pois se essa língua não estiver prestes a ser ouvida em todos os cantos do Oeste, então que todos deixem de lado a dúvida de que esse objeto é realmente o que os Sábios declararam: o tesouro do Inimigo, carregado de toda a sua malícia; e nele está uma grande parte de sua força de antigamente. Vêm dos Anos Negros as palavras que os Ourives de Eregion escutaram, sabendo assim que tinham sido traídos: Um Anel para a todos governar. Um Anel para encontrá-los. Um Anel para a todos trazer. E na Escuridão aprisioná-los.

—Ele é uma coisa pequena, você diz, esse Gollum? Pequeno, mas grande na maldade. O que aconteceu com ele? Que destino lhe foi imposto? -perguntou Boromir

—Está preso, mas nada além disso. -respondeu Aragorn. -Já tinha sofrido muito. Não há dúvida de que foi atormentado, e o medo de Sauron está cravado, negro, em seu coração. Mesmo assim, pessoalmente sinto-me feliz em saber que ele está sendo vigiado pelos olhos atentos dos elfos da Floresta das Trevas. Tem uma grande malícia, que lhe dá uma força difícil de se acreditar numa criatura tão magra e maltratada. 

—Infelizmente! -gritou Legolas, e em seu belo rosto élfico via-se uma grande perturbação. -As notícias que fui encarregado de trazer precisam agora ser dadas. Não são boas, mas só aqui percebi quão péssimas elas podem ser para este grupo. Sméagol, que agora é chamado de Gollum, escapou.

Ele explicou que não foi falta de vigilância, mas sim de muita bondade, pois os elfos jamais esperavam que a criatura se aproveitaria de sua bondade para fujir, em meio ao momento que o protegiam de um ataque de orcs ao seu reino.

—Bem, agora a História foi contada, do início ao fim. Aqui estamos todos, e aqui está o Anel, mas ainda não chegamos nem perto de nosso propósito. Que faremos com ele? -disse um astuto Gandalf e todos dirigimos o olhar para o Anel.

Fez-se silêncio. Finalmente, mestre Elrond tomou de novo a palavra.

—Essa notícia sobre Saruman é muito triste. -disse ele. -Confiávamos nele, e sempre demos atenção especial aos seus conselhos. É perigoso aprofundar-se demais nas artes do Inimigo, para o bem ou para o mal. Mas quedas e traições desse tipo, infelizmente, já ocorreram antes. 

—Então! -disse Erestor, se pronunciando pela primeira vez ali.  -Só há dois caminhos, como já foi esclarecido, esconder o Anel para sempre, ou desfazê-lo. Mas ambas as coisas estão além de nosso poder. Quem nos poderia desvendar esse enigma?

 


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