Nunca brinque com magia! escrita por Lyana Lysander


Capítulo 11
A jornada se inicia!


Notas iniciais do capítulo

Num é que eu consegui!
Obrigada a todos que comentaram!!!



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Elrond tinha nos dito que em parte alguma os seus mensageiros descobriram sinais ou notícias dos Cavaleiros Negros ou de outros servidores do Inimigo. Nem as Águias das Montanhas Sombrias tinham notícias novas. Nada se ouviu ou viu sobre Gollum, mas Aragorn nos contou que os lobos selvagens ainda estavam se reunindo, outra vez empreendendo caçadas, chegando até a região do Grande Rio. Ele mesmo confirmou que aqueles eram tempos terríveis para os viajantes que por ali passavam, e ele mesmo teve problemas para voltar em "segurança" para casa de Elrond.

Até onde sabíamos três dos Cavalos Negros foram encontrados imediatamente, afogados na enchente do Vau. Nas pedras da correnteza mais abaixo, foram descobertos os cadáveres de mais cinco, e também um longo manto negro, furado e rasgado. Não se viu qualquer outro sinal dos Cavaleiros Negros, e em lugar algum sua presença foi sentida. Pareciam ter desaparecido do Norte. E isso tinha enchido nossos corações de uma fé renovadora, e até mesmo Frodo tinha parecido melhor depois de ouvir aquilo em Valfenda.

—Dentre os Nove, podemos saber o que aconteceu com oito, pelo menos. -disse Gandalf ao lado de mestre Elrond na mesa de jantar. -É arriscado ficarmos confiantes demais, mas acho que agora podemos ter esperanças de que os Espectros do Anel tenham sido dispersados, e obrigados a voltar, como puderam, ao seu Mestre em Mordor, vazios e sem forma. -Se isso for verdade, levará algum tempo até que consigam recomeçar a caçada. É claro que o Inimigo tem outros servidores, mas estes terão de viajar todo o percurso até as fronteiras de Valfenda antes de poder pegar nossa trilha. E se formos precavidos, será difícil encontrá-la. Mas não podemos demorar mais.

—Então não posso ajudá-lo em muita coisa, nem mesmo com conselhos. -disse Elrond, olhando cada um de nós. -Consigo prever muito pouco de seus caminhos, e Frodo, como sua tarefa deve ser desempenhada eu não sei. A Sombra agora já chegou aos pés das Montanhas, e avança até a região próxima ao rio Cinzento, sob esta malévola Sombra, tudo infelizmente fica escuro aos meus olhos. Você vai se deparar com muitos inimigos, alguns declarados, alguns disfarçados, mas claro, poderá encontrar amigos em seu caminho, quando menos esperar. Enviarei mensagens, quantas puder, para todos os que conheço pelo mundo afora, para que estes se puderem os ajudem em sua jornada, mas eu vós digo, as terras hoje em dia se tornaram tão perigosas que algumas podem muito bem se extraviar, ou chegar depois de vocês.

—Que fique claro, eu não escolhi pessoas para acompanhá-lo, elas o escolheram de bom grado, e vão segui-lo até onde estejam dispostos ou até onde a sorte de cada um permita. O número realmente deve ser pequeno, já que sua esperança repousa na velocidade e no segredo. Mesmo que eu tivesse uma horda de elfos providos com armaduras, como nos Dias Antigos, isso de pouco valeria, a não ser para acordar o poder de Mordor. E isso meu bom amigo, é algo que não podemos enfrentar agora. -as palavras de meu mestre como sempre eram profundas e sábias. -A Comitiva do Anel deverá ser composta de Nove da Terra Média e os Nove Andantes devem ser colocados contra os Nove Cavaleiros, que são maus. Com você e seu fiel servidor, Gandalf deve partir, pois esta será sua maior tarefa, e talvez o fim de seus trabalhos. -ele parou por um segundo como se pensasse no que diria a seguir. -Quanto aos restantes, devem representar os Povos Livres deste Mundo: elfos, anões e homens. Legolas irá representando os elfos, e Gimli representará os anões. Estão dispostos a ir no mínimo até as passagens das Montanhas, e talvez mais além. Representando os homens, você terá Aragorn, filho de Arathorn, pois o Anel de Isildur é de grande interesse para ele, além de Boromir é claro. Os outros dois, serão seus jovens amigos Peregrin Tûk e Meriadoc Brandybuck..

—Mas e a senhorita Aura? -perguntou Pippin como sempre afobado me fazendo grata.

—Aura está além do que posso ver, assim como o Anel do Senhor do Escuro, ela não irá como uma de vocês para lutar, ela irá como o Anel, para esconder suas sobras dos inimigos que os procurar. Veja bem Frodo, enquanto não usar o Anel e estiver próximo a ela, este não poderá procurar nem clamar por inimigos. -ele olhou fixamente para Frodo e eu me arrepiei com a dureza de suas palavras. -Ela está se arriscando mais do que eu poderia lhes explicar, pois como o Anel, Sauron a deseja, e nada do que eu possa chegar a imaginar, chegaria perto do que aconteceria se ele a tivesse. -todos olharam de relance para mim e eu senti um frio na espinha. -Se Sauron possuir o Anel, ele está ficará completo, se ele possuir as ultimas forças que resistem a ele, estamos todos condenados.

—Estas são minhas últimas palavras. -disse ele em voz baixa. — O Portador do Anel está partindo na Demanda da Montanha da Perdição. Apenas sobre ele recaem exigências: de não se desfazer do Anel, nem entregá-lo a qualquer servidor do Inimigo, nem sequer deixar que qualquer pessoa o toque, com a exceção de membros da Comitiva e do Conselho, e mesmo assim apenas em caso de extrema necessidade. Os outros partem com ele como companheiros livres, para ajudá-lo no caminho. A vocês é permitido permanecer em algum ponto, ou voltar, ou desviar por outros caminhos, como o destino permitir. Quanto mais avançarem, mais difícil será recuar, apesar disso não lhes e impingido qualquer juramento ou compromisso de continuar além do que estiverem dispostos. Pois vocês ainda não conhecem a força dos próprios corações, e não podem prever o que cada um vai encontrar na estrada.

Nos últimos dias em que estivemos em Valfenda, Aragorn e Gandalf andavam juntos ou se sentavam, conversando sobre as estrada e os perigos que encontraríamos, e ponderando os mapas relatados e desenhados, e os livros de estudo que havia na casa de Elrond. Algumas vezes, eu e Frodo ficávamos juntos a eles, mas como eu, ele estava satisfeito em apenas confiar na liderança deles.

Já os hobbits, em seus últimos dias ali, se sentavam juntos comigo em algumas noites, no Salão do Fogo, e entre várias outras histórias ouvimos a balada completa de Beren e Lúthien e da conquista da Grande Jóia. Mas durante o dia, enquanto eu treinava, Merry e Pippin estavam dando voltas pelo lugar, já Frodo e Sam eu soube que podiam ser encontrados com Bilbo, em seu pequeno quarto. Eles me disseram que nesses momentos, Bilbo lia passagens de seu livro (que ainda parecia bastante incompleto), ou rascunhos de seus versos, ou tomava nota das aventuras de Frodo.

Frodo me confidenciou que na manhã do último dia, ele estava sozinho com Bilbo, e o velho hobbit puxou uma caixa de madeira de debaixo da cama. Levantou a tampa e vasculhou dentro.

—Aqui está sua espada. -disse ele. -Mas ela foi quebrada, você sabe. Peguei-a para guardá-la a salvo, e me esqueci de perguntar se os ferreiros podiam consertá-la. Agora não há tempo. Então pensei que talvez gostasse de levar esta, o que acha? Tirou da caixa uma pequena espada, que estava dentro de uma bainha de couro velha e desgastada. Então puxou-a, e a lâmina polida e bem cuidada reluziu de repente, fria e clara. -Esta é Ferroada. -disse Bilbo, e enterrou-a fundo numa viga de madeira quase sem nenhum esforço. -Leve-a, se quiser. Não vou precisar dela outra vez, espero.

Frodo aceitou agradecido.

Também há isto! -Bilbo voltou, trazendo um pacote que parecia muito pesado em relação ao tamanho. Desenrolou várias camadas de tecido velho e ergueu uma pequena camisa de malha metálica, tecida com muitos anéis bem próximos uns dos outros, quase tão flexível como o linho, fria como gelo, e mais resistente que o aço. Brilhava como a prata iluminada pela lua, e estava adornada com pedras brancas, e com ela havia um cinto de pérolas e cristal.

—É bonita, não é? -Bilbo orgulhou-se, erguendo-a contra a luz. -E útil. É a malha dos anões que Thorin me deu. Peguei-a de volta em Grã Cava antes de partir, e a coloquei na bagagem. Trouxe comigo todas as lembranças de minha Viagem, com exceção do Anel. Mas não esperava usar esta, e não preciso dela agora, a não ser para olhá-la algumas vezes. Você mal sente o peso quando a veste.

—Vou ficar... bem, acho que vou ficar estranho usando isso. -disse Frodo. 

—Exatamente o que eu disse para mim mesmo. -riu-se Bilbo. -Mas não se importe com as aparências. Você pode usá-la embaixo da roupa. Vamos lá! Você tem de partilhar este segredo comigo. Não diga para mais ninguém! Mas eu ficaria feliz em saber que você a está usando. Imagino que ela entortaria até as espadas dos Cavaleiros Negros. -concluiu ele em voz baixa.

—Muito bem, vou levá-la, se faz tanta questão. -disse Frodo. 

Bilbo o vestiu com a malha, e prendeu Ferroada no cinto reluzente; então Frodo vestiu suas surradas calças, a túnica e o casaco.

 -Você parece um simples hobbit. -Bilbo riu leve. -Mas agora existe algo mais em você do que aparece na superfície. Boa sorte! -e este voltou-se e olhou pela janela, tentando entoar uma melodia, e deixando ali um Frodo perdido sem ter como agradece-lo por tudo.

Aquela era uma manhã fria perto do final de dezembro. O Vento Leste soprava através dos ramos nus das árvores, agitando os escuros pinheiros sobre as montanhas. Nuvens desmanchadas corriam no céu, altas e baixas. Quando as sombras soturnas da noite começaram a cair, a  nossa comitiva estava a partir. Foi nos instruído a  começar a viagem com a chegada do Crepúsculo, pois mestre Elrond nos havia aconselhado a seguir sob a proteção da noite sempre que pudessem, até estarmos longe de Valfenda.

—Vocês devem temer os muitos olhos dos servidores de Sauron. -disse-nos ele. -Não duvido de que a notícia do desbaratamento dos Cavaleiros já tenha chegado até ele, que deve estar tomado de ira. Em breve seus espiões estarão espalhados nas terras do Norte, a pé e voando. Vocês devem se precaver até do céu que os cobre enquanto avançam no caminho.

Nossa comitiva levava poucos equipamentos de guerra, pois a esperança que tínhamos estava depositada no segredo, não na batalha. Aragorn levou uma espada longa Elfica, e nenhuma outra arma, e seguiu vestindo apenas suas surradas roupas verdes e marrons, como um guardião das terras ermas. Boromir tinha uma espada longa, semelhante à de Aragorn, mas de linhagem inferior, levando também um escudo e sua corneta de guerra.

—Ela soa alto e claro nos vales das colinas. -disse ele. -E assim faz com que todos os inimigos de Gondor fujam! -colocando-a nos lábios, emitiu um clangor, cujos ecos reverberaram de pedra em pedra, e todos que escutaram aquela voz em Valfenda saltaram de pé.

—Você deve evitar tocar essa corneta novamente, Boromir. -avisou Elrond aos portões enquanto partíamos. -Até que esteja nas fronteiras da sua terra, e seja forçado por uma terrível necessidade.

—Talvez. -retrucou Boromir. -Mas sempre toquei minha corneta antes de partir, e embora daqui para frente devamos andar protegidos pelas sombras, não partirei como um ladrão no meio da noite.

Apenas Gimli, o anão, vestia abertamente uma camisa curta de anéis de aço, pois ao que Galdalf me cochichou ao me ver observa-ló, os anões não se importavam em carregar peso. No seu cinto estava um machado de lâmina larga. Legolas levava um arco e uma aljava, e no cinto uma faca comprida e branca. Os hobbits mais jovens levavam as espadas que tinham trazido do túmulo, mas Frodo só carregava Ferroada, e o casaco de malha metálica, conforme o desejo de Bilbo, permaneceu escondido. Gandalf carregava seu cajado, mas amarrada ao longo de seu corpo estava a espada élfica, Glamdring, companheira de Orcrist, que estava agora depositada sobre o peito de Thorin, embaixo da Montanha Solitária (ele me contou). 

Boa... boa sorte! -gritou Bilbo, tiritando de frio. -Não suponho que você consiga escrever um diário, Frodo, meu rapaz, mas vou estar esperando um relatório completo quando você voltar. E não demore muito! Boa viagem! 

Muitos outros habitantes da casa de Elrond estavam nas sombras, e assistiam à partida da Comitiva, dando-lhes adeus em voz baixa. Não houve riso, nem canção ou musica. 

Finalmente, fizemos uma curva e eles desapareceram de nossas vistas, silenciosamente no crepúsculo.

Elrond forneceu-nos roupas grossas e pesadas, e nós levávamos também casacos e mantos revestidos de pele. Roupas e mantimentos sobressalentes, juntamente com cobertores e outros artigos necessários, seriam carregados por um pônei, exatamente o pobre animal que tínhamos trazido de Bri. A estada em Valfenda tinha operado uma mudança admirável nele: este estava agora lustroso, e parecia ter recuperado o vigor da juventude. Foi Sam quem insistiu que o animal fosse o escolhido, declarando que Bill (como o chamava) pereceria se fosse deixado para trás. E o mais estranho, é que algo me dizia que deveria concordar plenamente com ele. 

Aquele animal quase consegue falar. -disse ele. -E falaria, se permanecesse aqui por mais tempo. Lançou-me um olhar tão significativo que eu juro que podia entender ele dizendo: "Se não me deixar ir com você, Sam, vou segui-lo por minha própria conta." -eu ri tanto que até Frodo não conseguiu se segurar e acabou rindo também, parecendo o resto do tempo menos depressivo. -Bill, meu rapaz. -Sam alisou ele. -Você não precisava nos acompanhar. Podia ter ficado em Valfenda comendo o melhor feno até a grama nova nascer. Bill abanou o rabo e não respondeu nada. -sim, infelizmente eu esperei que ele respondesse algo.

Atravessamos a ponte e fomos seguindo devagar ao longo dos caminhos íngremes que conduziam para fora do profundo vale de Valfenda. E quando finalmente atingimos o pântano alto, onde o vento chiava atravessando o urzal. Nos viramos todos, sem palavras, com um derradeiro olhar em direção à última Casa Amiga que piscava no escuro, caminhamos então para dentro da noite.

No Vau do Bruinen, deixamos a Estrada e, rumando para o Sul, continuamos por uma passagem estreita que cortava as dobras do solo. O propósito  era continuar nesse caminho a Oeste das Montanhas por muitas milhas e dias.

A região era muito mais árida e deserta, comparada ao vale do Grande Rio que ficava nas Terras Ermas (explicou-me Aragorn), do outro lado da cordilheira, e a caminhada seria lenta, mas assim esperávamos escapar da observação de olhos hostis. Os espiões de Sauron raramente tinham sido vistos até aquele momento nessa região vazia, e os caminhos eram pouco conhecidos, a não ser pelo povo de Valfenda.

Gandalf ia na frente, acompanhado por Aragorn, que conhecia a região até mesmo no escuro. Os outros de nós iam atrás em fila, e Legolas, que enxergava muito bem, ia na retaguarda. A primeira parte da viagem foi dura e melancólica, mudada apenas por nossas conversas noturnas, que eu assim como Pippin, fazia questão de alegrar. Por muitos dias sem sol, um vento gelado soprou das Montanhas no Leste, e nenhuma roupa parecia capaz de impedir a penetração de seus dedos ávidos do frio. Embora toda a comitiva estivesse bem agasalhada, raramente nos sentíamos aquecidos, seja em movimento seja descansando. Dormíamos mal acomodados no meio do dia, em alguma cavidade do terreno, ou escondidos embaixo do emaranhado de arbustos espinhosos que cresciam em moitas em vários lugares. No fim da tarde, eramos acordados pelo vigia da vez, e fazíamos nossa refeição principal: geralmente fria e triste, pois raramente nos arriscávamos a acender uma fogueira. De noite, prosseguíamos novamente, escolhendo sempre o caminho que conduzisse a um ponto mais próximo do Sul.

Quando foi minha vez de ficar de vigia, passei a maior parte do tempo cantarolando baixinho músicas de minha terra natal, e só parei quando notei que Legolas estava acordado.

—Me desculpe se incomodei você, esqueci-me que elfos tem ouvidos mais aguçados. -me desculpei baixo. 

Ele se levantou e veio para perto de mim.

—Não foi incomodo algum, nós elfos apenas precisamos de menos tempo de sono para descansar. -ele me avaliou por um momento. -Se me permite, nunca ouvi nenhuma das melodias que sussurrou.

—São de minha terra natal. -expliquei. -Quado estivermos em um lugar menos perigoso, me lembre de cantá-las para você, só não prometo que minha voz irá agrada-lo, mas as letras são bonitas. -ele concordou e ficamos um tempo em silêncio.

—Você está preocupado com o que podemos enfrentar? -ele me olhou profundamente com aqueles olhos azuis, e eu me perguntei imediatamente se tinha dito algo errado.

—Acho que no fundo todos estamos, contudo não escolheria ouros companheiros, até mesmo o anão parece ser de confiança. -tive de me segurar para não rir alto, e ele esbouçou um repuxar de lábio como se quisesse sorrir também. -Mas não diga isso a ele sim? 

—É uma promessa. -ele maneou a cabeça em afirmação.

Depois disso ficamos quietos observando a paisagem triste a nossa frente, e não muito depois acordamos nossos companheiros para comer e seguir viagem.

Observei depois de alguns dias o fato de Boromir rondar ao nosso redor, como um gato atrás de sua presa, e isso me deixava sempre apreensiva, e mais de uma vez o peguei olhando não só para mim, mas fixamente para Frodo, o que me deixava ainda mais preocupada. 

Eu a cada dia assim como todos eles, estava sendo afetada pelo frio, e em uma das tardes de sono me juntei aos hobbits fazendo um montinho para nos esquentar.

—Eles parecem uma junção mal feita de Terra. -ouvi Gimli comentar.

—Para mim parecem mais crianças...

—Eu não sei você, mas eu não sou uma criança senhor Legolas. -comentou Pippin despertando.

—Não mesmo! -completou Merry, me fazendo rir.

—Deveríamos fazer isso mais vezes, não senti tanto frio hoje. -comentei leve, e eles concordaram.

—Aura, não os deixe mais folgados do que são. -Frodo entrou na discussão;

—Isso seria impossível meu bom amigo Frodo, nem a jovem Aura tem esse poder. -foi a vez de Gandalf fazer graça. E assim se seguiu o resto da tarde, sendo essa a primeira que passamos tão alegre desde Valfenda.

Num primeiro momento, os hobbits comentaram que tinham impressão de que, embora caminhassem e tropeçassem até se sentirem exaustos, estavam se arrastando como lesmas, sem chegar a lugar algum. 

A cada novo dia, a região parecia ser a mesma do dia anterior, isso era completamente diferente do que eu esperava. Mesmo assim, as montanhas chegavam cada vez mais perto. Ao Sul de Valfenda, elas se erguiam cada vez mais altas, e estendiam-se para o Oeste, e perto do pé da cordilheira principal expandia-se uma região cada vez mais ampla de colinas desoladas, e de vales profundos cheios de águas turbulentas. As trilhas eram raras e tortuosas, freqüentemente conduzindo-nos apenas até a beira de alguma cascata íngreme, ou a pântanos traiçoeiros.

—Tome cuidado, se ficar olhando tanto para baixo, pode sentir uma tontura e cair. -Legolas me avisou uma certa tarde, quando eu curiosamente olhava o que tinha a baixo de nós. E eu o sorri sapeca, fazendo com que Aragorn negasse com a cabeça, e sorrisse levemente.

Eu queria usar um pouco do meu poder para pelo menos nos ajudar a esquentar, mais observei que Gandalf poderia fazer isso muito mais magnificamente e mesmo assim não o fazia, então e só então, me dei conta do porquê. Quase ninguém na Terra Média usava magias além dos elfos, assim quando usadas essas chamavam mais atenção que fogo em caverna, e nenhum de nós queria um chamariz para os inimigos, já tínhamos aprendido bem isso quando fomos atacados pelos Cavaleiros Negros.

Já estávamos a duas semanas na estrada, quando o tempo mudou. O vento de repente abrandou e tomou o rumo do Sul. As nuvens que passavam rápido subiram e se desmancharam, o sol apareceu, pálido e límpido. Alvoreceu um dia frio e claro, ao final de uma longa e difícil marcha noturna. Nos atingimos uma cordilheira baixa, coroada por antigos azevinhos cujos troncos, de um verde acinzentado, pareciam ser feitos da mesma rocha das colinas. As folhas escuras brilhavam, e os frutos vermelhos resplandeciam à luz do sol nascente.

Eu pulava como uma criança feliz por entre as flores de várias cores que nasciam entre a relva baixa, e até o Bill, o nosso pônei parecia um pinto no lixo de felicidade.

—Por que tanta alegria senhorita Aura? -perguntou-me Gimli o anão.

—Hora senhor Gimli, eu jamais havia visto com meus próprios olhos paisagens selvagens tão belas assim. -comentei displicente. -E já pedi mil vez para me chamar apenas de Aura.

—Na verdade foram apenas 17 Aura. -dei de ombros para o que Marry disse e continuei a brincar, fazendo algumas coroas de flores e as distribuído, recebendo um olhar torto de uns e um alegre de outros.

Gandalf com toda certeza foi o mais cômico com a coroa de flores no meio de seu chapéu, Sam, Marry, Pippin, Gimli e Frodo se divertiram em rir se uns dos outros, Boromir jurou que jamais colocaria aquilo sobre a cabeça, Aragorn a colocou feliz e ficou até um pouco mais bonito, mas foi Legolas o único que pareceu ver aquilo de outra forma. Quando fui entregar a coroa a ele, este se abaixou para que eu a colocasse sobre sua cabeça, e eu assim o fiz, e quando este se levantou pareceu bem mais feliz do que a dias, e se afastou um pouco de nós depois disso.

—Foi um gesto muito bonito Aura. -olhei para Aragorn que se aproximava do meu lado. -Flores tem significado, você sabe, e estas juntas, dizem muitas coisas, principalmente em momentos como esse. 

—Por isso Legolas ficou assim? -perguntei um pouco perdida.

—Não só ele, olhe em volta, todos estão um pouco mais alegres. Nem todos conseguem ver beleza nas pequenas coisas. -ele tocou uma a uma as flores da minha coroa. -Esperança, amizade, força, coragem, sonho, desejo e amor. -eu fiquei completamente envergonhada. -Não consigo imaginar o quão diferente seria essa viagem sem você.

—Não chegaríamos aqui sem você Aragorn. -ele sorriu cansado.

—Venha Aura, faça uma pulseira para o Sam. -Sam olhou feio para Pippin.

Gandalf e Aragorn concordaram em descansar ali por aquela manhã, e eu desconfiava que eles queriam manter o bom o humor de todos pelo maior tempo possível.

Depois de um tempo de brincadeira, comemos nosso dejejum, e eu parei e olhei mais adiante, ao Sul. Eu podia ver as formas apagadas de montanhas imponentes, que pareciam agora obstruir o caminho que a nossa Comitiva estava tomando. À esquerda dessas montanhas altas assomavam três picos: o mais alto e mais próximo deles se erguia como um dente coberto de neve,a encosta Norte, grande e deserta, ainda estava em sua maior parte coberta pelas sombras, mas nos pontos em que o sol já podia atingi-la via-se um brilho vermelho.

Gandalf parou ao lado de Frodo que também observava a passagem mais a frente, e olhou em volta, com a mão na testa.

—Saímos-nos bem. -disse ele. -Chegamos aos limites da região que os homens chamam de Azevim. Muitos elfos viveram aqui em dias mais felizes, quando o nome deste lugar era Eregion. Em linha reta, percorremos quarenta e cinco léguas, embora nossos pés tenham percorrido muitas milhas mais. A região e o clima ficarão agora mais amenos, mas talvez bem mais perigosos.

—Perigoso ou não, um nascer de sol de verdade é mais que bem-vindo. -disse Frodo, jogando para trás o capuz e permitindo que a luz da manhã batesse em seu rosto mais uma vez naquele dia.

 -Mas as montanhas estão na nossa frente. -disse Pippin. -Devemos ter rumado para o Leste durante a noite.

—Não. -Gandalf foi enfático. -Mas você enxerga mais longe na luz do dia. Depois desses picos, a cordilheira faz uma curva em direção ao Sudoeste. Há muitos mapas na casa de Elrond, mas acho que você nunca se deu ao trabalho de dar uma olhada neles.

—Fiz isso algumas vezes. -comentou displicente Pippin. -Mas não me lembro de quase nada. Frodo tem uma cabeça melhor para esse tipo de coisa.

—Não preciso de mapas. -disse Gimli, que tinha alcançado Legolas,  e estava olhando ao redor com um brilho estranho nos olhos profundos. -Ali está a região em que nossos pais trabalharam antigamente, e nós gravamos a figura dessas montanhas em muitos trabalhos de metal e pedra, e em muitas canções e histórias. As três montanhas se erguem altaneiras em nossos sonhos: Baraz, Zirak, Shathúr. Vi-as apenas uma vez, de longe, quando estava acordado, mas conheço as montanhas e seus nomes, pois sob elas está Khazad-dûm, a Mina dos Anões, que agora é chamada de Abismo Negro, Moria na língua dos elfos. Mais além fica Baraziribar, o Chifre Vermelho, o cruel Caradhras, e além dele ficam o Pico de Prata e o Cabeça de Nuvem: Celebdil, o Branco, e Fanuidhol, o Cinzento, que nós chamamos de Zirakzigil e Bundushathúr. -ele pareceu ficar cada vez mais sério enquanto falava. -Ali as Montanhas Sombrias se dividem, e entre seus braços fica o vale sombrio e profundo que não conseguimos esquecer: Azanu Ibizar, o Vale do Riacho Escuro, que os elfos chamam de Nanduhirion.

—É para o Vale do Riacho Escuro que estamos indo. -disse Gandalf. -Se subirmos pela passagem que chamamos de Passo do Chifre Vermelho, sob a encosta mais distante de Caradhras, desceremos através da Escada do Riacho Escuro, chegando ao vale dos Anões. Ali fica o Lago-espelho, e naquele ponto o Veio de Prata jorra em suas nascentes congeladas.

—Escuras são as águas de Kheled-zâram. -disse Gimli. -E frias são as nascentes de Kibil-nâla. Meu coração estremece quando penso que posso vê-los em breve.

—Que você se alegre com a vista, meu bom anão! -disse Gandalf. -Mas não importa o que você faça, de modo algum podemos permanecer naquele vale. Precisamos descer o Veio de Prata e penetrar nas florestas secretas, seguindo então para o Grande Rio, e depois...

Ele parou.

—Sim, e depois? -perguntou Merry .

—Para o fim da viagem... finalmente. -disse Gandalf. -Não podemos contemplar um futuro muito distante. Vamos nos contentar em pensar que o primeiro estágio foi concluído com segurança. Acho que vamos descansar aqui, não só durante o dia, mas também de noite. Existe um ar benfazejo em Azevim. Muita maldade precisa ocorrer numa região antes que ela se esqueça dos elfos, se alguma vez foi habitada por eles.

—Isso é verdade. -disse Legolas. -Mas os elfos dessa região eram de uma raça estranha a nós, o povo da floresta, e as árvores e o capim não se recordam deles agora. Só escuto as pedras lamentando por eles: escavaram-nos das profundezas, moldaram-nos em formas belas, construíram-nos em edifícios altos, mas se foram. Eles se foram. Partiram em busca dos Portos há muito tempo. -eu o avaliei, e era perceptível a tristeza que se apoderava dele enquanto ditava aquelas palavras.

Naquela manhã, acendemos uma fogueira num fosso profundo, encoberto por grandes ramos de azevinheiros, e a ceia matinal que fizeram foi mais animada do que qualquer refeição desde que tínhamos partido de Valfenda.

E não tínhamos a intenção de continuar antes da noite do dia seguinte.

Apenas Aragorn estava inquieto e não dizia nada. Depois de uns momentos, abandonou a Comitiva e caminhou até a crista, ali parou à sombra de uma árvore, olhando para o Sul e para o Oeste, a cabeça numa postura de quem tentava escutar algo. O segui meu coração parecia aflito como nunca.

—Sinto algo obscuro Aragorn, como se estivéssemos no centro de uma taça, e olhos malignos nos observasse.

—Sim, mas parece que algo muito pior está no espiando.

Depois disso voltamos até a beirada do fosso, e olhamos para baixo em direção aos outros, que estavam rindo e conversando.

—Qual é o problema, Passolargo? -perguntou Merry. -O que está procurando? Está sentindo falta do Vento Leste? -eu desci de encontro a eles.

—Na verdade não. -respondeu ele. -Mas sinto falta de alguma coisa. Já estive em Azevim muitas vezes. Nenhum povo habita esta região atualmente, mas sempre houve muitas outras criaturas, especialmente pássaros. No entanto, tudo está em silêncio agora, com a exceção de vocês. Posso sentir. Não se escuta nenhum som por milhas à nossa volta, e as suas vozes parecem fazer o chão ecoar. Não entendo. Gandalf olhou para cima, num súbito interesse.

—Mas qual você acha que é o motivo? -perguntou ele. -Existe alguma coisa além da surpresa de ver quatro hobbits, para não mencionar o resto de nós, onde pessoas são tão raramente vistas ou ouvidas?

—Espero que seja só isso. -respondeu Aragorn. -Mas assim como Aura, sinto como se estivéssemos sendo vigiados, e tenho uma sensação de medo que nunca senti aqui antes.

Os hobbits me olharam apreensivos, e remexi as mãos preocupada, tentando fazer aquela horrível sensação passar.

—Então devemos ter cuidado. -disse Gandalf. -Se você traz um guardião numa viagem, é melhor prestar atenção ao que ele diz, especialmente se esse guardião é Aragorn. Devemos parar de conversar em voz alta, descansar em silêncio e montar guarda.


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