Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 11
Capítulo 11 – Fire and Rain.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente! Sei que o capítulo está sendo postado num horário diferente da média, mas é que hoje estava numa puta crise existencial, mas agora estou um pouco melhor haha
Esse capítulo tem uma das cenas mais tristes que eu já escrevi na vida, então espero que sintam essa emoção. A música foi muito difícil de escolher, e acabei optando por essa, que é bem triste e fala sobre luto. Enfim, aqui o link https://www.youtube.com/watch?v=JOIo4lEpsPY
Só queria dizer que as visualizações caíram muito essa semana, e eu gostaria de saber se foi por alguma coisa que talvez vocês não tenham gostado, ou algo que eu precise melhorar. Enfim, eu só quero deixar essa fanfic o melhor possível, porque eu amo escrevê-la.
Agora vou parar de tagarelar, e vamos para o capítulo. Espero de coração que gostem!



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Eu aposto que você já se surpreendeu alguma vez na vida. Seja por coisas boas, como subir na balança e ver que perdeu peso sem fazer nada, ou por coisas ruins, como ver que gastou mais do que devia numa compra do mercado, por exemplo. Pode ser que nada tenha te surpreendido de maneira grandiosa, mas algumas surpresas sempre aparecem, sejam extremamente importantes, ou não.

Adentrei a sala e deparei-me com o psicólogo, que me aguardava escrevendo alguma coisa em seu caderno de anotações. Já fazia vários dias que eu não ia a uma maldita consulta, e ainda não estava liberada para cirurgia. Na verdade, essa seria a primeira vez desde que soube de minha gravidez que eu conversaria com aquele homem que estava impedindo uma das minhas únicas felicidades do momento, e eu cria que conseguiria convencê-lo que estava pronta para uma Sala de Operações.

— Bom dia, Dra. Scofield. – afirmou, repousando a caneta sobre o caderno e subindo o olhar até meu rosto – Como esteve?

— Um pouco melhor. – respondi, ainda de pé.

— Você pode se sentar, eu não mordo. – disse rindo fraco e apontando uma cadeira próxima dele. Respirei fundo e sentei-me no local indicado, cruzando os braços – Então, tem algo para me contar?

— Ah, você já está sabendo, o hospital todo está! Não se faça de sonso. – retruquei, acusadoramente.

— Mas eu gostaria de ouvir da sua boca. – ergueu uma sobrancelha, um pouco desafiador.

— Eu estou grávida do Akira, yay. – fingi ânimo – Estou liberada para cirurgia agora?

— Meus parabéns, sei que deve ser difícil. – sorriu educadamente – Vamos conversar mais sobre isso. Como está se sentindo?

— Enjoada, e você só faz isso piorar com esse papo de psicólogo.

— Engraçada... – forçou um sorriso – Você pensou em outras alternativas para lidar com a gravidez?

— Sim, fiquei muito em dúvida sobre abortar ou não... E apesar de eu ser muito jovem, decidi ficar com o bebê.

— Você tem certeza que não está mantendo o bebê só porque não está pronta para deixar Akira ir?

— Eu amo essa criança, assim como eu o amava. E eu quero ser uma mãe. Não tem que complicar isso.

— O que te fez mudar de ideia sobre o aborto?

— Nós queríamos ter filhos, então eu optei por deixar acontecer. Uma hora ou outra eu ia acabar querendo engravidar mesmo...

— Você se sente assustada com a ideia de um bebê?

— É claro que sim! Todo mundo fica assustado com a ideia de que vai ter uma vida completamente dependente de si, mas está tudo sob controle. Agora podemos seguir em frente?

— Claro... Você conversou com mais alguém sobre tudo o que tem acontecido?

— Sim, Dra. Cooper tem sido uma grande companheira nesse momento.

— Vocês discutiram sobre o dia do ocorrido? Porque você parecia não se lembrar muito bem do que aconteceu no dia do tiroteio.

— É claro que eu me lembro! Até demais!

— Você disse em nossa primeira sessão que fechou os olhos antes de ouvir o disparo, e que o atirador parecia ter apontado a arma para Rebecca Cooper, mas a bala acabou na cabeça de seu namorado. Você descobriu o que houve nesse meio tempo que estava com os olhos fechados?

— Rebecca disse que... Akira entrou na frente da bala. Não sei por que ele faria isso, sendo que eles nem eram muito amigos, mas ele fez. Talvez porque era uma boa pessoa.

— E qual foi sua reação ao saber disso?

— Eu chorei. Pode parecer que não, mas isso ainda é um problema para mim, doutor. Eu senti raiva do atirador, como de costume.

— E como se sentiu em relação a Akira e sua atitude?

— Eu não sei... foi um misto de raiva, com pena, orgulho, tristeza... Confirmou minha teoria de que ele era uma pessoa incrível, mas por outro lado eu senti raiva, porque se ele não fosse o bom samaritano, era para ele estar aqui agora, entende? Vendo nosso filho, me ajudando na gravidez... – suspirei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Era a primeira vez que eu cedia na frente daquele psicólogo, o que foi um grande progresso.

— Muito bom... Você está se abrindo, deixando seus sentimentos fluírem... Isso é bom, estou orgulhoso de você. – sorriu fraco, concordando com a cabeça – Na minha opinião médica, você já está pronta.

— Pronta para cirurgia? – perguntei, animando-me.

— Pronta para cirurgia. Pode voltar a brigar por operações.

— Obrigada! – exclamei, levantando-me sorridente – Muitíssimo obrigada!

— É apenas meu trabalho... Talvez agora seria uma boa hora para retirar o que disse sobre eu ser um péssimo psicólogo.

— Okay, talvez você não seja tão ruim. – ri fraco e dei de ombros – Eu espero não te ver nunca mais. Tchau. – sorri falsamente e virei-me para sair da sala.

— Foi um prazer te ajudar com seu trauma também. – disse e eu neguei com a cabeça, saindo definitivamente da sala.

Caminhei pelo corredor com um pequeno sorriso no rosto. Sentia-me bem melhor depois de ser liberada para cirurgia, que talvez teria sido a melhor notícia em dias, então estava me agarrando a ela para não entrar em depressão profunda.

— Hey, você parece feliz. – disse Rebecca, aproximando-se de mim.

— Eu estou, na verdade. – sorri e continuei caminhando com ela ao meu lado – Fui liberada para cirurgia!

— Até que enfim! Isso é bom! – falou, com um pouco de ânimo – Agora vamos nos apressar, que Lexie está nos esperando.

Concordei com a cabeça e segui com ela até nos encontrarmos com a residente, que parecia um pouco melhor de seus surtos pós-traumáticos.

— Bom dia, vamos começar. – afirmou a médica, ao ver que nós quatro já estávamos reunidos – Estamos aos serviços do Dr. Sloan hoje, então sigam-me, por favor. – finalizou e começou a andar pelo corredor.

— Vamos trabalhar com o ex dela, uh. – sussurrou Diego, sorrindo maliciosamente.

— Eu fiquei sabendo que Mark Sloan ajudou Lexie a salvar Alex Karev, mesmo ainda estando apaixonado por ela... E ela estava toda na do Karev. – Anastasia falou baixinho.

— Vocês se lembram da única regra que eu disse no primeiro dia de vocês? – perguntou nossa residente, virando-se para trás.

— Não falar... – a loira começou a responder.

— ... sobre a vida pessoal dos médicos perto de mim. Pois é, obedeçam. – cortou-a, parecendo irritada com o assunto.

— Desculpa, Dra. Grey. – desculpou-se Lewis, e nós prendemos o riso.

— Sobre quem estavam falando? – questionou um homem forte, surgindo atrás de Lexie.

— Ninguém. – a médica respondeu rapidamente, virando-se para ele, aparentemente constrangida – Dr. Sloan, vamos começar?

— Depende do que você quer começar... – falou com um sorriso sacana, mas recebeu um olhar gélido como resposta.

— As visitas, Dr.... – retrucou, estreitando os olhos.

— Ah sim, vamos. – foi interrompido por seu bipe – Ou não, estão me chamando na Emergência, vamos? – olhou para nós e depois virou-se em direção de onde havia sido bipado.

Apressamo-nos até a Emergência, que estava uma loucura, e seguimos até uma das Salas de Trauma, onde se encontravam Owen Hunt, Meredith Grey e algumas enfermeiras.

— O que aconteceu para lotar essa Emergência? – perguntou Mark, colocando as luvas.

— Incêndio, vários feridos... – respondeu Meredith, enquanto examinava o paciente.

— Então teremos muito trabalho com queimaduras hoje. – afirmou nosso cirurgião – Vocês sabem lidar com esse tipo de ferimento?  

— É claro! – respondemos, nos entreolhando já animados.

— Procurem todos os pacientes com queimaduras, e cada um de vocês vai fazer os primeiros procedimentos em um. Não matem ninguém, pelo amor do bom Deus. – ordenou Sloan, e voltou a dar atenção àquele paciente.

— Vocês ouviram o Dr. Sloan, vão! Ah, Rebecca, fique aqui para nos auxiliar. – disse Lexie, chamando a morena com a mão.

— Mas já não têm médicos o suficiente aqui? – retrucou Cooper, franzindo o cenho.

— Olha para esse cara, ele está praticamente todo queimado, então precisamos de todas as mãos que conseguirmos. Se não quiser, eu peço para outro. – rebateu a Pequena Grey, duramente. Ela andava estranha, com um mau-humor que não era típico seu.

— Tudo bem... – a jovem ergueu as mãos em sinal de rendição, aproximando-se do paciente.

Nós três que acabamos sobrando, saímos da sala e fomos cada um para um lado, à procura de um paciente com queimadura. Não foi muito difícil eu encontrar uma mulher, que parecia mais assustada do que machucada. Entrei na sala em que ela se encontrava e pedi um kit de cuidados para queimadura a uma enfermeira, que saiu rapidamente para busca-lo.

— Bom dia, Sra.... – cumprimentei colocando as luvas, e me aproximei de seu prontuário para ver seu nome – Robinson. Vejo que já fizeram seus exames iniciais, então eu vou apenas tratar das suas queimaduras, que são... leves? – franzi o cenho, lendo as anotações do prontuário. Amaldiçoei por dentro por ter pego justo uma paciente com um caso fácil, e suspirei.

— Algum problema? – perguntou, parecendo assustada.

— Não! Não, está tudo bem. – respondi, forçando um sorriso – Eu vou ver onde a enfermeira se enfiou com o kit de queimaduras, volto já. – falei e saí da sala, avistando uma equipe de médicos e enfermeiros saindo rapidamente com o paciente que Rebecca estava – O que aconteceu? – questionei ao avistar a morena, saindo da sala atrás da maca.

— Ele está sangrando em todo canto por dentro, estamos levando-o urgentemente para a cirurgia! Tenho que ir, tchau. – afirmou rapidamente, correndo para alcançar o resto do pessoal.

— Maldita... – murmurei, negando com a cabeça, inconformada.

— O kit está pronto. – falou uma enfermeira, de dentro da sala.

Revirei os olhos e voltei a dar atenção à minha paciente. Suas queimaduras eram realmente leves, então cuidei dela com facilidade, acabando depois de pouco tempo.

—-

— A cirurgia do paciente da Rebecca não acabou ainda? – questionou Diego, olhando no relógio, enquanto almoçávamos. Ela estava sumida há horas, o que muito provavelmente significava que ainda estava em cirurgia.

— Pois é, deve estar sendo uma baita operação. – afirmou Anastasia – Que vadia, ficou com o melhor paciente! – revirou os olhos, negando com a cabeça.

— Hoje que eu finalmente fui liberada para cirurgia, e achei que ia até me cansar de tanto ficar dentro da SO, e ela que fica com o melhor caso! Vadia! – falei, estreitando os olhos com raiva.

— Falando de mim? – perguntou a morena, sentando-se ao meu lado, com um sorriso vitorioso no rosto.

— Como foi a cirurgia? Das horas que você está sucumbida por aí. – disse a loira, dando uma garfada em seu grande prato de salada em seguida.

— Foi ótima! Sangue para todo lado, toda hora ele tinha parada cardíaca... Mas conseguimos deixa-lo vivo. – respondeu animadamente, ainda sorridente.

— Bom para você, porque nosso dia está sendo um paradeiro só. – falou o rapaz, fazendo cara de tédio.

— Fazer o que né, só os melhores conseguem esse tipo de coisa. – deu de ombros, fingindo modéstia.

— Coitada... – retrucou o jovem, rindo fraco e negando com a cabeça.

— Mudando de assunto, eu estou planejando uma festa em meu apartamento hoje, o que vocês acham? – perguntou Lewis, nos entreolhando.

— Já estou lá! – respondeu Diego, sorrindo.

— Por que não? – Cooper deu de ombros.

— E você, Claire? – virou-se para mim, erguendo uma sobrancelha.

— A prova para residência está quase chegando, e vocês vão promover uma festa? – falei em um tom levemente repreensivo.

— Ah, vamos lá Claire, você deve estar estudando como louca esses dias... Um pouco de diversão faz bem, para espairecer. – rebateu Lewis, com um olhar quase que suplicante.

— Talvez eu dê uma passadinha. – sorri fraco, não querendo recusar o convite.

— Yay! Eu quero apresentar meu namorado para vocês. – afirmou a loira, sorrindo maliciosamente.

— Você está namorando? Quem? – questionei, curiosa.

— Jackson Avery. – respondeu, aparentemente esperando nossa reação.

— Você está namorando o Avery? – disse Diego, erguendo uma sobrancelha – Eu achei que ele não fosse querer nem olhar na tua cara depois do escândalo com seu noivo.

— Pois é, mas nós estamos firmes. – falou, sorrindo satisfeita – Acho que vamos dar certo, ele parece estar a fim.

— E tu que não é besta, foi no mais gato dos residentes, né? Dá até um calor, só de pensar. – o rapaz abanou-se, arrancando risos de nós três.

— Você não viu ele na cama, querido. – riu maliciosamente, com um ar de superioridade. Era impossível negar que Jackson Avery era um gato, mas depois de tudo que eu havia passado, a ideia dele não me atraía tanto. E eu sentia que alguma coisa estava errada, mas decidi não comentar, para não me passar por invejosa.

— Nós não estamos atrasadas, Claire? – perguntou Rebecca, olhando em seu relógio de punho.

— Na verdade, nós estamos! – exclamei, também olhando em meu relógio – Temos que ir.

— Onde vão? – questionou o rapaz, observando-nos enquanto levantávamos.

— Vamos fazer o primeiro ultrassom. – respondeu Cooper, sorrindo fraco.

— Se já descobrirem o sexo, falem para nós. – pediu Anastasia, sorrindo largo.

— Pode deixar. – afirmei e saí dali com a morena, indo em direção ao andar da obstetrícia.

— Está ansiosa? – virou-se para mim, já dentro do elevador.

— Um pouco. – falei, encarando as portas à minha frente. Mais uma vez, a cena em que Cristina Yang, o atirador e eu ficamos sozinhos naquele lugar ameaçou a vir em minha mente, mas eu fechei os olhos e respirei fundo, tentando espantá-la.

— Algum problema? – indagou a jovem, preocupada.

— É que esse elevador foi o que...

— Oh... Nós deveríamos ter pego outro, então.

— Não precisa, todos eles acabam me lembrando aquele dia. Mas vamos mudar de assunto, não quero ficar martelando isso.

— Okay...

Ficamos em silêncio pelos próximos minutos, até chegarmos na sala de exames, onde Roger nos esperava.

— Bom dia, Dra. Scofield. – o obstetra sorriu largo ao me ver, desviando o olhar para Rebecca – Você é...?

— Dra. Rebecca Cooper, amiga da Claire. – respondeu, analisando o homem de cima embaixo.

— É um prazer. – esticou a mão para ela, que apertou-a no mesmo instante.

— O prazer é meu. – concordou com a cabeça, e os dois trocavam olhares um pouco sacanas.

— Bom, é melhor começarmos. – afirmou o médico, soltando sua mão – Pode se deitar ali, Dra. Scofield. – apontou para o leito, e fomos até lá – Como anda se sentindo?

— Bem, ainda um pouco enjoada, mas no geral, bem. – respondi, dando de ombros, já deitada.

— Okay, vamos dar uma olhada nesse bebê, então. – disse sentando-se numa cadeira ao meu lado. Pegou o gel e espalhou em minha barriga, que já estava um pouco aparente.

Depois de um tempo passando o aparelho de ultrassom em minha barriga, o homem olhou para a tela com os olhos arregalados, fazendo-me ficar assustada.

— Tem alguma coisa errada? – questionei, olhando-o preocupada.

— Olhe no monitor e me diga o que vê. – afirmou, apontando para a tela.

— Agora não é hora para me testar, Dr. King. – repreendi-o.

— Só olhe para o maldito monitor. – retrucou, e eu revirei os olhos, fazendo o que ele ordenou. Ao bater os olhos na imagem do ultrassom, logo pude notar o que havia o surpreendido.

— Ai meu Deus! – exclamou Rebecca, também encarando a tela – São...

— ... gêmeos. – completei, chocada. Estava boquiaberta, e um turbilhão de sentimentos me invadiram novamente. Não sabia muito bem como sentir e muito menos como reagir, pois, ao mesmo tempo que deveria ficar feliz, aquilo era um tremendo choque. Se já tinha medo de ter que cuidar sozinha de apenas um bebê, quem dirá de dois!

— Meus parabéns, Claire. – disse o médico, sorrindo bobo – Você está grávida de dois bebês muito saudáveis.

— Não pode ser... – murmurei, negando com a cabeça – Isso é uma piada, né?

— Na verdade não. – deu de ombros, mas sua ficha pareceu cair, pois me olhou e depois Rebecca, preocupado – Algum problema?

— Não, só não esperava por isso... Akira me deixou logo dois de presente. – ri ironicamente, ainda balançando a cabeça.

— Dá para ver o sexo dos bebês, você quer saber? – Roger falou, encarando a tela, enquanto mexia o aparelho em minha barriga.

— Claro, já que já estamos aqui. – respondi, suspirando.

— É uma menina e um menino, parabéns! – afirmou desviando o olhar para mim.

— Um casal? Oh meu Deus. – sorri boba, assistindo as imagens.

— Os bebês estão bem, mas eu quero você aqui toda semana. Dois bebês, o dobro de cuidado, e o dobro de descanso. Daqui a alguns meses você não vai conseguir fazer nem metade de sua rotina sem ficar exausta, então já se prepare para dar uma diminuída no ritmo. – aconselhou o médico, seriamente – Eu sei que você é uma mulher muito forte, Claire, mas a maioria das mulheres têm depressão durante a gravidez múltipla, ainda mais no seu caso... Então eu recomendo que você procure um psicólogo, algum especialista em saúde mental... É importante que você se mantenha firme, okay? – encarou-me com empatia, e eu sorri fraco e concordei com a cabeça.

—- Okay... Eu estou bem. Eu vou ficar bem. Vai ficar tudo bem. – falei, tentando convencer-me.

— Ótimo. E você, como amiga, certifique-se que está tudo bem. Eu sei que é algo difícil de se lidar, mas com apoio da família e amigos, você vai conseguir passar por isso. – voltou-se para a morena, que segurava minha mão e assentia para tudo que ele falava, atentamente – Agora pode se limpar, que já terminamos com o ultrassom. – entregou-me um papel, e eu comecei a limpar minha barriga – E aqui está uma foto dos seus bebês. – peguei a imagem impressa do exame de sua mão, sorrindo fraco ao ver os dois bebês.

Fizemos mais alguns exames para monitorar meus sinais vitais, e alguns minutos depois já estávamos do lado de fora daquela sala, caminhando lado a lado. Ambas ficamos em silêncio, e eu tentava processar mais aquela informação. Quando eu pensava que já tinha me acostumado com minha situação, vinha mais alguma coisa e me dava uma rasteira. E, ao mesmo tempo que estava inconformada, também me sentia culpada, por ter algum sentimento negativo com relação àquilo. Eu sabia que eu deveria encarar aquilo como uma espécie de benção, mas é que tudo estava me deixando completamente confusa, e por um instante o aborto voltou à minha mente, mas logo afastei a ideia, lembrando-me do porquê tinha decidido ficar com a criança – ou melhor, as crianças.

— No que está pensando? – perguntou Rebecca, quebrando o silêncio.

— Gêmeos? – respondi com uma pergunta, negando com a cabeça, inconformada – Já não basta eu ter perdido meu namorado, ainda descubro que estou grávida dele, e de gêmeos! É o dobro de surpresa! – finalizei esfregando as mãos no rosto.

— Hey, vai ficar tudo bem... Nós vamos superar isso, você vai ver só. Seus pais parecem interessados em te ajudar com a gravidez, e eu prometo que vou tentar também... Afinal, se não fosse por mim, Akira poderia ainda estar aqui, então é o mínimo que eu posso fazer por ele ter salvo minha vida. – afirmou calmamente, olhando-me nos olhos.

— Obrigada... – sorri fraco e senti meu estômago revirar, então automaticamente corri para a lixeira mais próxima, botando todo meu almoço para fora.

— Ugh. – a morena fez uma cara feia, repudiando a cena.

—-

Depois de mais um dia de trabalho andando para cima e para baixo pelo hospital com Mark Sloan, finalmente estávamos no apartamento de Anastasia. Era um imóvel impecável, que devia dar uns três ou mais do meu em tamanho, e era em um dos prédios mais chiques de Seattle. Os móveis eram novinhos, e a decoração era de dar inveja, tudo perfeitamente combinando, tapete, cortinas, quadros, almofadas... Simplesmente maravilhoso. A música estava alta, e a maioria eram do estilo eletrônica, nas quais haviam um verso ou dois de palavras e depois apenas barulhos remixados. Várias pessoas estavam espalhadas, cada uma com um copo, e algumas dançavam. Rebecca se encontrava ao meu lado, segurando um copo descartável vermelho, cheio de alguma bebida que não sabia qual era. Eu apenas observava, já que não podia nem ao menos beber.

— Essa festa está uma droga. – disse a morena ao meu lado, praticamente gritando para que eu pudesse ouvir.

— Eu sei, e eu não posso nem beber! Tudo o que eu mais queria depois de hoje era tomar um porre. – gritei de volta, revirando os olhos. Eu havia ficado bêbada poucas vezes na vida, pois sempre fui bastante controlada quanto a isso, a não ser em minha adolescência, fase mais ridícula da minha vida.

— Coitada de você. – riu-se a garota, dando um gole em sua bebida.

— Meninas, creio eu que vocês já conhecem meu namorado... – falou Anastasia, aproximando-se de nós – Jackson, essas são Rebecca e Claire. – apresentou-nos, apontando para cada uma enquanto dizia nosso nome.

— Prazer. – o médico sorriu, apertando nossas mãos. Ele era indiscutivelmente maravilhoso, sua pele bronzeada combinava perfeitamente com os olhos claros, possuía um sorriso quase perfeito, e de bônus parecia muito simpático também. Quando acordei do transe, percebi que estava encarando-o com uma cara meio de boba, e me amaldiçoei internamente por isso. Eu não era de fazer isso, acho que eram os hormônios da gravidez que estavam me deixando desregulada.

— Okay, então... Vemos vocês depois. – falou a loira um pouco sem graça pelo momento constrangedor, e os dois se misturaram com a multidão novamente.

— Limpa a baba, que está escorrendo. – brincou Cooper, fazendo-me revirar os olhos e rir constrangida.

Ficamos ali por mais incontáveis minutos, às vezes fazíamos algum comentário sobre as pessoas da festa, alguma fofoca, e Rebecca encheu seu copo um milhão de vezes, ficando cada vez mais bêbada. Num piscar de olhos, ela havia me deixado sozinha e foi para a pista de dança improvisada, começando a pular e dançar no ritmo da música. Decidi por deixa-la se divertir, e fiquei parada mais um pouco, mas depois fui à procura de um banheiro. Enquanto caminhava pelos corredores do maravilhoso apartamento, não pude deixar de ouvir duas pessoas discutindo, e por curiosidade aproximei-me de onde vinham as vozes, visualizando Avery e Anastasia dentro de um cômodo que parecia o escritório.

— Que palhaçada é essa de ficar me apresentando para todo mundo como seu namorado? – questionou, aparentemente bravo.

— Mas eu achei que nós estivéssemos namorando, Jackson... Nós não saímos com outras pessoas, dormimos juntos quase todo dia... Isso quer dizer namoro, não é? – rebateu a loira.

— Eu sei que você sai com outras pessoas, Anastasia. Não se faça de boba. – retrucou, franzindo o cenho e negando com a cabeça – Quer saber? Eu sinto muito, mas não posso fazer mais isso. Desculpe se eu te iludi, mas nós éramos só sexo, e agora nem isso vamos ser mais.

— É por causa da Lexie, não é? – perguntou, deixando-o em silêncio – Responde! Você está apaixonado pela Grey, não está?

— Estou. – respondeu enfim, suspirando derrotado – Eu sinto muito.

— Sai da minha casa. – disse Lewis, friamente.

— Ana, me desculpa...

— Dá o fora da minha casa agora! – berrou, apontando para a porta do cômodo.

— Como quiser. – ergueu as mãos em sinal de rendição e partiu em direção à porta, dando a deixa para que eu saísse dali logo.

Entrei na primeira porta que encontrei, que por coincidência era o banheiro. Ergui as sobrancelhas e ri fraco, reprisando a cena em minha mente. Eu sabia que tinha algo errado!

Depois de usar o banheiro, saí dali e passei em frente do escritório, onde Anastasia chorava sozinha. Decidi deixa-la em paz e segui para a sala, onde acontecia a festa. Encontrei Rebecca no meio da “pista de dança” e fui até ela, espremendo-me entre as pessoas.

— Eu vou para casa. – afirmei, tocando seu ombro para chamar a atenção.

— Mas já? Quer que eu te leve? – perguntou, parando de dançar.

— Não! Você não vai dirigir. Eu vou levar seu carro, e depois você pede um táxi. – neguei com a cabeça.

— Okay... Até amanhã. – concordou e voltou a dançar.

— Até... – falei para mim mesma, saindo daquela multidão.

—-

Por mais incrível que pareça, eu me encontrava no cemitério. Exatamente, no cemitério, praticamente de madrugada. Caminhei pelo meio das lápides, iluminando meu caminho com a lanterna do celular, até que finalmente encontrei o túmulo de Akira. Parei na frente da pedra e respirei fundo, lendo seu epitáfio.

“Akira Aoki

15/07/1984

 20/05/2010

Amado filho, namorado, amigo e médico.

千里の道も一歩からSenri no michi mo ippo kara

‘Uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo’. ”

Fechei os olhos e prendi as lágrimas, sentindo meu coração apertar. O som do disparo da arma veio em minha cabeça novamente, e eu abri os olhos assustada. Tentei me conter e sorri tristemente, me lembrando de seu rosto.

— Hey, aqui estou eu, no meio da noite, num cemitério, conversando com uma lápide, e ainda por cima está um baita tempo de chuva. Estranho, né? – ri fraco, encarando a pedra.

Eu nunca havia entendido porque as pessoas conversavam com os túmulos, mas agora eu compreendia. Era reconfortante imaginar que a pessoa estava ali te ouvindo.

Peguei a foto do ultrassom no bolso de meu casaco e olhei a imagem dos bebês, e um sorriso bobo se formou em meus lábios.

— Eu estou grávida, sabia? – continuei, ainda observando a foto – De você, é claro. E tu não vai acreditar: são gêmeos! Nós vamos ser pais de gêmeos, uma menina e um menino. O quão legal é isso? – falei o mais descontraída possível, mas o fato de não ouvir uma resposta animada dele tirou o sorriso do meu rosto, e deixei uma lágrima escorrer – Eu só... eu queria tanto que você estivesse aqui. Você ficaria tão feliz em ver nossos bebês. – virei a foto para a lápide, como se quisesse mostrar a ele – Tudo seria tão mais fácil se você estivesse aqui, me ajudando! Segurando minha mão no ultrassom, fazendo planos comigo... Me dizendo que iria ficar tudo bem, que nós iríamos conseguir. Que seríamos bons pais. Mas você não está, não é? – parei para soluçar, negando com a cabeça – Por que você entrou na frente da bala?! Por quê?! Você não precisava bancar o herói, Akira. Você nem gostava da Rebecca! – exclamei, começando a me alterar. Respirei fundo na tentativa de me acalmar, e senti alguns pingos de chuva caírem em meu rosto junto com as lágrimas, mas ignorei – Agora eu estou sozinha. Eu e seus dois filhos, crescendo na minha barriga. E nem sou uma residente ainda. E não faço a mínima ideia de como vou lidar com isso! – comecei a chorar alto, cobrindo o rosto com as mãos – Por que você me deixou sozinha?! Por quê? – berrei, já ensopada devido à chuva forte – Eu amava você, e você me deixou sozinha...

Você está pronto para as surpresas da vida? Aposto que não. Algumas surpresas são tão difíceis de se lidar, que temos vontade de desistir de tudo. Mas não podemos. Pois a vida toma seu curso, independente da nossa vontade. E o que nos resta é aceitar as reviravoltas que a vida dá, e tentar tirar o melhor de cada coisa. Porque nós mudamos a cada surpresa, e cabe a nós escolher se é para melhor, ou para pior.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? As coisas estão se complicando cada vez mais para a Claire, não é? E o Avery trocando a namorada por outra desde sempre né haha.
Comentem suas opiniões, se estão gostando do rumo que a história está tomando, coisas que precisam melhorar, essas coisas. Todo comentário é muito bem-vindo!
Até mais, beijão!



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