Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 19
Más Notícias Correm Depressa




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"O medo geralmente contagia o redor mais rapidamente que a esperança. Não é à toa que notícias ruins se espalham mais rapidamente que notícias boas.'"

Davi Marcelo Galdino

 

Capítulo 19

 

CONRAD

 

Meus músculos ardiam dentro de meu uniforme de tênis depois de uma partida ao acaso com Adrien. Tínhamos ido jogar nossa tarde fora e descontar nossas frustrações nas raquetes.


— Sabe, estou de saco cheio do meu pai. Não que seja novidade, mas ele está se superando.


— Não sei como o aguenta. - comentei, já acostumado a ouvir meu amigo maldizer o pai.


Adrien era filho de um lorde de linhagem antiga - marquês, eu não lembro ao certo - que tinha a fama de devasso. Por isso eu não contestava muito a própria vivência de Adrien tendo como exemplo paterno aquela figura.


— Sério, ultrapassou os limites! Chegou a nossa casa ontem me dizendo que tinha dado uma cota da empresa para a nova namorada dele, que, diga-se de passagem, tem idade para ser minha irmã mais nova!


— Deprimente.


— Nem me fale. Vai levar a empresa da família à falência! - Adrien retrucou enquanto marchávamos, cansados e suados, para minha sala de estar. Abandonamos nossas raquetes em uma mesinha próxima e Adrien se largou no sofá.


— Estou quase matando meu pai para assumir o lugar dele e não ferrar com a nossa vida.


Eu lancei um olhar de reprimenda para meu amigo por conta do vocabulário, e rapidamente ele emendou:


— Desculpe a palavra, mas é o que eu acho e me sinto inútil há muito tempo por estar só observando o barco afundar.


Adrien suspirou e eu o imitei. Não tinha nada para acrescentar, ele sabia e só desabafava, mas o silêncio era desconfortável e por isso perguntei:


— Mas e a sua mãe, cara? Você vai visitá-la?


Adrien passou as mãos por seus cabelos loiros, e eu liguei a televisão para nos entreter no meio da conversa.


— Estou pensando nisso. Acho que está na hora de ir a Devonshire e sacudi-la para a vida que abandonou.


Lembrei-me de quando Adrien confessou que a mãe - também membro de algum ramo menor da realeza inglesa - havia saído da França de volta para casa quando o filho tinha somente sete anos, deixando-o na tutela de um pai alcoólatra e namorador. A mãe alegara a criança que não queria passar o resto da vida sendo traída por um crápula e que não podia levá-lo por não possuir a guarda. Ao passar dos anos, ela nem ao menos tentou ganhá-la.


Eu sabia que Adrien se ressentia bastante com os pais, mas ele tinha achado um modo de lidar com aquilo e eu não me achava no direito de dizer se era o jeito certo ou errado.


— Ela ainda tem participação na empresa?


— Tem sim, mesmo que queira dirigi-la lá da Inglaterra. Mas não aguento mais as irresponsabilidades dele. Até eu, que não sou exemplo de nada, sei quais são os limites.


Eu bem sabia que o defeito de meu amigo era ser mulherengo, mas, no fundo, devia ser por medo de muito se envolver emocionalmente com outra pessoa e acontecer o que ele presenciara do casamento dos pais.


— Então você vai mesmo?


— Sim. Já decidi e adiantei minha visita do ano, cara - ele disse quando tiramos nossos sapatos e os pusemos na mesinha. - Infelizmente não estarei presente pelos próximos dias.


— Vai perder o baile?


— Nem me fale... Não pareça tão surpreso assim, oras! Eu sei que vou perder milhares de modelos lindas desfilando com seus vestidos de gala, não precisa ficar me lembrando disso.


Eu ri porque eu só ficara abismado por conta da antiga empolgação dele para com a festa.


— Elas vão dar graças por não ouvir seus galanteios, isso sim.


— Você que pensa, Sua Graça. - ele zombou do meu futuro título e o ignorei. - Estou morrendo de fome, será que dá pra levantar sua bunda mole e buscar comida? Preciso ir para casa e arrumar as malas, cara!

Levantei-me, com o corpo protestando, pedindo descanso, para ir à cozinha, pois sabia que seria a última tarde com meu amigo até sabe-se lá Deus quando.

(...)

 

Após a saída de Adrien e nossa despedida, me arrumei para atender ao chamado de meu pai. Otto estava no gabinete da casa, enfiado em livros e folhas, com o rosto mais apreensivo e vermelho como jamais eu vira antes, então apertei o passo para me sentar em frente à mesa.

— Aconteceu alguma coisa, pai?

— O de sempre... – ele suspirou, mas me lançou um olhar contido, como se ponderasse se me contava toda a verdade ou não.

— Pode me falar. Eu vou herdar tudo isso, suas responsabilidades e atividades, inclusive, então tem que confiar em mim, pai.

— Não sei se devo contar agora, Conrad.

— E por que não haveria?

— Porque pode sobrecarregá-lo ainda mais.

— Eu vou lidar com isso tudo, não precisa ter receio nenhum. – eu afirmei, tentando soar com a voz firme, mas sem a certeza de que queria mesmo toda a bagagem que meu pai carregava do ducado.

Mas Otto expirou fortemente e crispou os lábios. Eu tinha vencido sua hesitação.

— Você sabe que não estamos bem nas finanças há um tempo, não sabe? Venho tentando reverter a situação, mas está ficando cada vez mais difícil, meu filho.

— Não tem mais nenhuma saída para as dividas?

Eu sabia que nossa Casa estava acumulada de dívidas e problemas, mas confiava em meu pai para nos tirar dessa. Minha mãe sempre foi a figura externa da família, o nosso estereótipo, mas os bastidores, a burocracia, era meu pai quem lidava e parecia não ter mais controle. Eu ficava com medo de herdar todas as responsabilidades as quais eram cuidadas dedicadamente por meu pai, mas eu estava crescido e precisava também amadurecer neste aspecto, por isso prendi a respiração, preparando-me para a resposta de meu pai.

— Infelizmente, já fiz de tudo, Conrad. Não há mais fundos nem fugas.

— O que vamos fazer então, pai?

— Só um auxílio externo nos tiraria dessa situação. – Otto respondeu e me lançou um olhar significativo. Eu, primeiramente, quis ignorá-lo.

— Você entende, Conrad? – ele indagou depois que permaneci calado, olhando-o impassível.

— Tem que ser mais claro. – falei com irritação, prevendo o assunto e tentando enganar a mim mesmo acerca do assunto.

Eu não poderia mais fugir.

— Com um bom casamento, de uma boa Casa, novos títulos e terras e ações irão nos salvar, filho.

— Até você está me forçando a um casamento por dinheiro, é isso?

— Eu jamais desejaria isso, Conrad. – Otto iniciou e me arrependi de ter dito aquelas palavras para descontar minha irritação. – Eu mesmo casei por amor e gostaria disso para você, mas nem sempre é o suficiente, você sabe. Você vê.

Ponderei sobre o desabafo de meu pai. Ele parecia cansado da vida que levava, e eu reconheci aquilo.

Há um tempo que eu entendia a relação de meus pais e me acostumara. Minha mãe e ele pareciam combinar, mas ela raramente demonstrava afeto ou qualquer sentimento para com ele, que em contrapartida sempre foi de grandes gestos por ela até se cansar de fazê-los a troco de nada, como se descongelar aquele coração de pedra fosse impossível.

Eu sabia que ele tinha sido herdeiro de uma empresa importante há anos – até ter que vender sua parte por problemas antigos – e esse foi um fator preponderante para que casasse com minha mãe, uma mulher distante para essas coisas sentimentais. Ele, então, viveu às sombras dela e sob suas ordens e eu não continha o repúdio de ter um casamento como o deles.

Era possível existir um bom casamento? Existia mesmo? Aquele que depois de anos, ainda restaria amor, companheirismo e cumplicidade? Porque meu pai era um gigantesco exemplo de tudo aquilo, no entanto não fora suficiente.

— Conrad. – meu pai me trouxe ao presente. – Eu estou expondo nossas chances, meu filho. Sinto muito se só nos sobrou isto.

Não falei nada e só desviei o olhar para minhas mãos em meu colo.

Uma batida ressoou e meu pai permitiu a interrupção.

— Desculpem, mas um senhor disse que deseja ter com o jovem Hanôver.

— Ele se identificou? Não estava esperando ninguém. – eu me levantei e olhei para meu pai. – Incomoda-se se eu for?

— Não, de jeito nenhum, pode ir. Depois continuamos.

Assenti e acompanhei o mordomo até a sala de estar.

(...)

 

Para minha total surpresa, visualizei meu primo de costas para mim.

— Pierre?!

 

— Ah! Olá, primo - ele disse quando se virou, com as mãos dentro dos bolsos da calça social. - Quanto tempo, não é mesmo?

— Pode apostar que sim. - respondi e retribui o abraço que ele me ofereceu. - Devo já chamá-lo de Sua Alteza Real?


Pierre riu e seus olhos azuis se contraíram com o movimento.


— Estou fugindo das formalidades, inclusive tentei uma roupa de agente de segurança, será que deu certo?


— Ouso dizer que não escondeu muita coisa. - Não contive uma risada diante de Pierre trajado em um terno bem menos vistoso do que os de costume.


— Infelizmente não deu tão certo, devem ter me reconhecido, mas são riscos a correr.


— E acabaram por fingir caírem em seu disfarce para satisfazê-lo, não?


— Provavelmente, ossos do ofício.


— Mas então... Por que chegou mais cedo, Pierre? - indaguei e o tratamento informal com o futuro soberano do principado saiu espontaneamente devido ao costume.

Sentei-me no sofá e o convidei a fazer o mesmo.


— Algumas pendências pessoais, mas Vossa Alteza Sereníssima só voltará daqui a cinco dias, conforme o planejado.


— Está hospedado no palácio?


— Assim você ofende minha inteligência, primo! Como, disfarçando de ser o príncipe, eu iria me hospedar lá?


— Nunca se sabe. - eu ri e comecei a desanuviar minha mente.


— De forma alguma. Fiquei em um hotel discreto e confiável. Permanecerei até meu pai voltar.

Pierre endireitou os ombros e pareceu mais tenso, e percebi que nossas responsabilidades nos roubaram a juventude muito cedo. Meu primo parecia muito mais velho em seu papel de futuro soberano monegasco.


— Posso perguntar a que devo tão nobre honra em tê-lo em minha casa? - brinquei e meu primo sorriu de lado.


— Só quis conversar... Faz tempo que não vejo alguém familiar a quem posso confessar meus mais profundos medos.

— Até com assuntos sérios você consegue tirar graça, não é?

— Aprendi com o melhor. – Pierre respondeu em um sopro de riso. Entretanto logo aprumou as costas, adotando outra postura.

— De verdade, primo... Você sabe qual é a situação do nosso principado?

— Normalidade? – arrisquei, mas soube que errara quando a sobrancelha de Pierre se arqueou. – Não faço ideia, Pierre.

— Politicamente falando... Meu pai e seu conselho estão me arrancando o juízo! Será que você teria uísque para servir?

— Desculpe, não sabia que ia se demorar – aprontei para pegar a bebida que repousava no canto da sala. Há tempo que meu primo gostava da bebida quente e eu me esquecera de oferecê-la.

— Não faz mal, mas voltando...

— Eu sei que o Conselho Nacional anda às avessas com seu pai.

— Desde o começo, eu sempre achei. Meu pai não queria aquele trono e nem o conselho o queria como governante, mas tiveram que se contentar com o que tinham depois do suicídio do tio.

— E seu pai está se importando com isso agora? – perguntei enquanto mexia meu copo. Ao conversar informalmente com Pierre, eu preferia me dirigir ao tio Louis como pai dele a chamá-lo de Vossa Alteza Sereníssima, como mandava a cerimônia.

— Mais ou menos. O que está preocupando é que não está restando ninguém ao lado dele, exceto o diretor, o senhor Beaumont. Embora meu pai governe independente, precisa de aliados e está perdendo-os.

— Nossa. E por que está perdendo os antigos aliados agora?

— Meu pai é cabeça dura, não pensa no povo, logo esse povo que o ajuda a se manter no poder, mas perdeu a simpatia. Você acreditaria se eu dissesse que estivemos perto de um estopim popular? Quase como uma guerra civil!

— Não acreditaria. Sério?!

— Sim, então meu pai tomou a decisão definitiva sobre eu assumir o trono ainda este ano, Conrad. – Pierre me olhou e vi o cansaço já sobressaltado em sua expressão. – Estou acostumado com essa responsabilidade, claro, até gosto de imaginar, mas preciso encontrar alguém para ficar comigo, primo. Alguém que possa ficar ao meu lado nessa trajetória. Confiável, leal, engraçada, que cultive o povo para que possa trazer segurança.

— Você procura uma princesa, primo? – perguntei retoricamente, me identificando com a situação encruzilhada de Pierre.

— Sim. Você sabe que faz parte das minhas obrigações, mas eu nem tenho mais familiaridade com os círculos sociais daqui, residindo por pouco tempo. Preciso que me guie entre as pessoas que ache confiáveis e verdadeiras. Estou cansado de ser adulado por onde passo e me decepcionar com as pessoas.

— Eu imagino a situação... – respondi e perdi a vontade de continuar a beber o uísque, mas Pierre botou mais em seu copo. – Posso ajudar, sim, primo, não se preocupe, não vou deixá-lo casar com uma megera.

Pierre gargalhou, desfazendo o clima pesado que tinha se apoderado do ambiente.

— Vou contar com isso, hein. Obrigado, primo, eu sabia que podia contar com a sua ajuda.

— Na verdade, iremos à caçada juntos, então.

Pierre me fitou.

— Logo você que procurava amor? Mas o amor não chega de repente, você dizia?

— Eu sei que sim, Pierre. – declarei, com leve irritação. – Mas existem novas prioridades, infelizmente. A Casa precisa de um bom futuro.

— Hmmmmmm – ele respondeu, abrindo um sorriso de lado. – Posso estar por fora do principado, mas soube que mademoiselle Cecile está de volta.

— Está mesmo. Você se lembra de quando brincávamos juntos?

— Claro que lembro! E soube também que melhorou muito e vocês se davam bem... – ele insinuou, bebericando uísque. – Se por acaso for sua escolha, tem a minha benção e um belo presente de casamento, ouviu? A família de minha prima está procurando um marido para ela também, alguém que possa administrar as finanças e seus grandes recursos, pois nunca educaram a única filha.

Anui, absorvendo aquelas informações, mas saturado do assunto.

— Que tal agora só pormos as novidades em dia? As novidades normais? Vamos pensar só nas responsabilidades do outro lado da porta.

Pierre sorriu, meio agradecido e aliviado.

— Eu adoraria, primo.

E afoguei meu dia com meu primo, diante de uma televisão, risada e rodadas de uísque. Eu somente desejava afugentar o assunto que me perseguia e extinguir a sensação de mau agouro que tomava conta de todo o meu corpo.

.

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Olá! Eu estou empolgadíssima com as novas visitas que recebemos! Digam oi, meninas! E quais são suas teorias nessa reta mediana da história! Adoraria ouvir e ver se alguma desvenda o mistério! Hahahaha. então... Um bj!


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