Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 18
O De Preto


Notas iniciais do capítulo

Gentex, eu não demorou na postagem de capítulos, pode ser um por semana ou tres, mas aqui estava atrasado porque eu achei que não tinha alguém lendo e tava pensando em excluir a história.



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Capítulo 18

O outro dia amanheceu nublado, minha primeira experiência com um Mônaco escuro e não pude evitar identificar meu humor com o céu. Era a hora de ir me encontrar com o tal James-inglês que faria as fotos da causa beneficente dos cachorrinhos. Na noite anterior, quando me lamuriei com Marie sobre estar perdida neste causo de fotos e pedi sua companhia (que foi negada, por sinal), a governanta me deu a ideia de convidar Victorine e segui a sugestão.

Vic me atendeu, como sempre, gentil e eufórica pela ideia de ter uma amiga modelo (e eu neguei, rindo, porque era um estereótipo engraçado), além de se prontificar rapidamente.

Então lá estava eu, na porta de casa, com uma roupa de frio que estava moda (afinal Marie escondeu minhas antigas roupas dizendo que eram inadequadas a partir de agora e fez umas compras que ela diz ter sido ordem do tio Jean), à espera da ruiva. Meu cachecol preto até que era quentinho, além de ser bonito, devo admitir. E Vic estava demorando demais!

Eu estava prestes a entrar novamente em casa e esperá-la diante da televisão quando seu carro parou.

— Vamos logo, Serena! – ela exclamou quando baixou o vidro do banco detrás e apareceu com os cabelos tão laranja-fogo que fiquei impressionada.

— Oras, você demora e eu quem tenho que correr!

Entrei no carro e friccionei as mãos quando sentei ao seu lado.

— Não sabia que fazia um frio de rachar aqui.

— É bem paradoxal, um dia quente demais e o outro nublado. Se bem que este dia é exceção nessa época do ano. – Vic respondeu e alisou o cabelo. – Estou tão ansiosa! Você ficará tão linda! Desde quando a vi, pensei que seria capa de revista!

Eu dei uma risada alta. Ela quem parecia uma modelo e ainda fantasiava comigo.

— Vic, você quem parece uma modelo, não eu. Só estou indo porque é por uma causa maior. E aquele James tinha cara de quem não desistiria nem tão cedo.

— Pode apostar. Fico muito feliz que tenha pedido minha ajuda, Serena.

— Não foi nada. – sorri, sendo sincera com alguém como nunca tinha sido antes.

— Você foi uma surpresa na vida de todos nós e ainda mais na minha. Tem sido uma grande parceira.

Fiquei tocada.

— Ah, Vic, eu quem devia estar falando isso. Você fez valer a pena outras companhias – eu brinquei em relação à Blaire e ela percebeu, rindo da graça.

— Como estão os preparativos do baile?

— Estão bem, graças a Deus. – Vic respondeu. – Com menos de uma semana para a chegada deles, só falta supervisão rigorosa para que tudo saia do jeito certo. Só faltam mesmo nossos detalhes.

— Como vestido?

Eu sabia que todas as mulheres que foram convidadas iam pirar para arrumar uma roupa para tal evento.

— Sim. Blaire e Michele preferiram um estilista que desenhasse seus modelos e a madame daqui os produziu.

— E você?

— Não achei nada que me agradasse, sabe? Eu quero algo que eu olhe e saiba que será aquele!

Toda a empolgação de Vic acabava me contaminando porque seria ruim deixá-la animar-se sozinha, por isso sentenciei:

— A gente dá um jeito.

E ela me sorriu.

♚ *♜* ♚ * ♜

Três araras de roupas de marca estavam na minha frente, e eu procurava uma Victorine que pareceu criança quando as viu.

— Vic! Temos que escolher logo!

— Olhaaa issoooo! – ela apareceu, segurando cinco peças diferentes. – O que você acha dessas?

— Bom... – eu dei uma olhada e tinha mesmo que escolher os figurinos porque o James queria tirar as fotos, mas Vic ficava muito empolgada e trazia a cada segundo novas peças, plantando incerteza quanto às peças já escolhidas. – Gostei do vestido, poderia tirar com ele.

A ruiva deu um gritinho de animação.

— Vamos logo, Vic, já escolhemos as certas! Eu tenho um compromisso hoje.

— Você? Um compromisso? – a ruiva voltou e me indagou, surpresa. – Ora, ora, Serena.

Eu ri das segundas intenções dela.

— Não é nada do que você está pensando, maluca. Eu me dispus a passear com os cachorrinhos da ONG nessa tarde já que tive que sair de casa mesmo.

— Que boa samaritana você é. Orgulhinho!

— Sai daí e vamos logo! – eu ri quando a afastei do aperto nas minhas bochechas.

— Queridas, estão prontas? Precisamos tirar as fotos!

— Estamos sim, senhor James.

— Não me chame de senhor, querida! Não combina comigo nem minha idade! – o fotógrafo exclamou, rindo de mim.

— Costume, desculpe.

— Vamos logo, porque eu estou pressentindo que serão incríveis!

— Eu também! Olhem só essas roupas! – Victorine trouxe para perto ainda mais vestimenta.

— Vamos, vamoos!

— Vic, deixa isso aí!

— Não aguento!

— Serena, o primeiro flash, sorria!

Eu já estava com uma roupa e fiz o que foi pedido por James durantes muitos minutos.

— Agora, querida, faz essa carinha brincalhona que só você sabe! Isso! Sem querer sorrir de verdade...

Eu estava me aguentando para não rir das caras e bocas de Victorine, mas James não se importava conosco, só tirava milhares de fotos.

Depois de termos fotografado com várias roupas – inclusive, James pediu uma sessão comigo e Vic, rindo -, minha amiga ainda estava presa às araras de roupas.

— SERENA! ACHEI!

Vic segurava fortemente um vestido de festa caríssimo.

— Senhor James! Eu tenho um baile para ir, será que posso comprar este modelo?

— Minha querida, estas peças são de um amigo inglês que fez a primeira leva, ele com certeza não faria objeção nem se fosse apenas para você desfilar com o modelo a troco de nada! Exceto, é claro, fotos das senhoritas para publicá-las em Londres!

— Eu não acredito! Encontrei, Serena, encontrei!

Eu a vi pular entusiasmada e só pude sorrir. Juntei-me a ela para observar o vestido que combinaria, realmente, com Vic. Na verdade, parecia ter sido feito para seu corpo e sua pele.

— Quer ver um também, Serena querida? – James indagou, mas já estava à procura com Vic em seu encalço.

— Adoraria, James.

Até que fora divertido em meio a tules e sedas.

♚ *♜* ♚ * ♜

Eu estava segurando quatro coleiras de animais órfãos da ONG fortemente, mas eles queriam a qualquer custo escapar.

— Fiquem calmos! Minha gente, não consigo lidar com vocês!

Eu gritava com animaizinhos que nem entendiam e seguiam com o fluxo, me arrastando por ruas desconhecidas. As pessoas me olhavam estranho, aturdidas quando atropeladas por diferentes cachorros enlouquecidos, e subitamente eu estava correndo para pará-los.

Eu sou uma completa tola por ter aceitado sair com quatro monstrinhos irrequietos!

Estava ficando ofegante quando alcançamos as ruas de paralelepípedos, que pareciam saídas de um livro de história.

— Se acalmem! – gritei com meu único ar restante, mas foi em vão.

Seguíamos uma ladeira até uma catedral, imponente lá de cima, com uma cruz brilhando no alto. Em um passo e outro, eu já tinha caído duas vezes por entre os paralelepípedos e conseguido agarrar as coleiras, mas meus joelhos estavam em frangalhos. Meu cabelo já soltara do rabo de cavalo há tempo e pulavam da cabeça enquanto eu corria. Sentia meu sangue todo no rosto, a roupa colando de suor em mim.

Os cachorros subiram feito furacão e iam entrar na igreja caso uma figura alta não os barrassem. E eu trombar com o dito-cujo.

— Meu senhor, me desculpe! Esses cachorros estão impossíveis! – exclamei, com medo de mais alguém ralhar comigo em plena rua por não ter domínios das ferinhas.

Mas o homem riu. Improvavelmente, ele estava vestido de terno, o peito largo fazendo a blusa quase rasgar e com os olhos cobertos por um óculos escuro.

— Não foi nada, moça. Quer ajuda para domá-las?

— Se isso fosse possível... – sussurrei, querendo não assustar as ferinhas que tinham, graças a Deus, parado.

— Olha, parece que se acalmaram.

— É, não sei se ficaram com medo de castigo divino.

Eu tinha feito uma piada horrível, mas o homem riu, e não foi por educação. Ele tirou os óculos.

— Espero que tenha cuidado, moça. São seus?

— Não, sai com eles para passear. São de uma ONG. – eu iniciei, tentando desviar a atenção de seus olhões de um azul claríssimo e que me olharam, da cabeça aos pés, me medindo por inteira e eu senti uma pontada de constrangimento por imaginar minha situação, totalmente suada, vermelha e suja diante dele, tão diferente. Mas puxei uma dignidade do fundo do meu ser e fiz propaganda da ONG e da causa, porque ele parecia ser capaz de adotar cãezinhos e gostar deles.

— Que trabalho bonito. Estou interessado, irei procurar saber mais...

— Pois saiba sim. Eles precisam de um lar. Saudável. – eu frisei para que ele tivesse consciência de que adotar era uma responsabilidade.

— Entendo, moça. – ele abriu um sorriso, com os lábios finos mostrando dentes brancos, puramente se divertindo. – Como se chama? Para eu aparecer na ONG e recomendar o trabalho.

— Serena. Mas não precisa recomendar, não ganharia nada em troca mesmo. – dei de ombros. – Mas fico feliz que tenha levado em conta a adoção, é um gesto bonito, senhor.

— Me contento ainda mais em saber que a deixarei feliz. – ele decretou, sem nem piscar. Um carro preto se aproximou da catedral. – Por ora, preciso ir, Serena. Foi um prazer conhecê-la.

Sorri, sem graça.

— Por nada.

O homem foi andando para o carro enquanto seu cabelo preto brilhava sob o sol e as passadas ficaram ritmadas e despreocupadas.

— Espero vê-la outra vez! – ele gritou quando já estava longe e se virou para me olhar uma última vez e colocar os óculos.

— Espero que com um cachorro a tira colo! – gritei de volta, fazendo-o gargalhar à medida que o carro se afastava. 

E percebi que nem tinha perguntado seu nome de volta.

*

*


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