Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 20
Efeito Cinderella




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717075/chapter/20

 

Capítulo 19

Abri os olhos naquele dia sentindo que seria diferente de todos os outros.

Enfim era 21 de Setembro.

Diferente dos dias anteriores, eu tinha acordado antes da refeição da tarde porque Marie não irrompera por meu quarto para me empurrar da cama.

Afastei as cobertas e observei aquele quarto novo, que não era meu, mas que eu sentia uma familiaridade em viver nele por quase um mês, já.

A cama de dossel era tão diferente da minha outra cama, aquela que eu sempre acordava nos outros dezenove aniversários, ao lado do meu pai...

Meu peito doeu. Pela primeira vez, desde que me conheço, que não iria vê-lo nesse dia, nem íamos ficar juntos, sentados na escadinha da frente da casa, debaixo do luar, ele cantando para mim enquanto eu comia seu bolinho decorado.

Onde você se meteu, pai? Por que não está aqui?

Não adiantaria lamuriar por meu pai se foi uma decisão dele, qualquer que seja seu motivo. Eu tinha que aceitar o que estava vivendo em vez de ficar sonhando no que queria viver. Por isso, não me permiti pensar mais sobre ele, fui ao banheiro do quarto e decidi utilizar a banheira dourada.

Se meu pai não estava aqui para tornar meu dia especial, eu tentaria por mim mesma.

~~~~~

Joyeux anniversaire, joyeux anniversaire, joyeux anniversaireeeee, joyeux anniversaire!

Eu tinha certeza que as lágrimas queriam pular dos meus olhos, mas eram teimosas. Depois de me arrumar para descer, me deparei com um lindo bolo na mesa e todos os empregados, com tio Jean, cantando parabéns para mim.

— Gente, eu nem acredito nisso! Como souberam?

— Criança, estou com seus documentos também, não se lembra? - meu padrinho respondeu e se aproximou para me enlaçar em um abraço. - Parabéns, querida Serena. Fico muito feliz em dividir seu vigésimo aniversário ao seu lado.

— Ah, padrinho... Eu que agradeço pela hospedagem, por me receber de braços abertos mesmo quando eu estava muito desconfiada. Obrigada mesmo.

— Minha vez, senhor Burnier! - escutei a voz da minha governanta favorita e Marie afastou Jean de mim. - Parabéns, Serena! Ainda é jovem e deve aproveitar esse tempo, meu bem, deveríamos até passear lá fora.

Ela piscou para mim, meio emocionada e tirando sarro de todos nossos passeios que não tinham finais normais.

— Oh, claro que sim! - ironizei, mas ri de Marie. - Obrigada, Marie, por me acolher tão bem.

— Foi um prazer tê-la aqui. Você é um doce.

Sorri, contendo as lágrimas e se seguiram abraços da fila de empregados com quem eu tinha convivido.

Ao receber as felicitações de cada um, eu só podia pensar no quanto tinha sido uma experiência proveitosa os dias ali, contrastando com o que eu imaginava que seria minha vida. Tudo mudou com uma perspectiva de férias, vim para um lugar diferente, lidei com pessoas diferentes e até me relacionei com elas.

Até eu tinha mudado.

— Hoje à noite, será o baile para o príncipe, então não poderei sair com você, Serena, embora quisesse te mostrar um belo restaurante. - tio Jean voltou a falar comigo quando eu estava atracada com minha segunda fatia do bolo.

— Não tem problema, tio Jean. Eu já sabia.

— Mas... Procurei um presente para agradá-la. Tome isto.

Peguei o embrulho e me deparei com um livro pesado, uma edição bem elaborada da original dos contos dos Irmãos Grimm e Charles Perrault, primeiro escritor de Cinderella. Lombada dourada com capa branca.

— Nossa... muito obrigada, tio Jean! Estávamos falando dele naquele dia, não é?

— Sim, por isso quis te dar esta edição para que possa conhecer a obra, querida.

— Obrigada mesmo. - tornei a falar, mais feliz do que realmente achava que deixava transparecer.

O gesto de Jean me amoleceu pelo fato de eu nunca ter ganho presentes assim. Na verdade, onde eu morava não tinha muitas opções de presentes e meu pai só podia fazer meu bolo ao fim do dia, então eu já me sentia privilegiada por tê-lo. Mas ali, era minha primeira vez ganhando algo de alguém, um presente de verdade.

Depois de todos voltarem às suas atividades habituais, eu ainda tinha um tempo para gastar antes que Marie me levasse para um salão (ela jurou que foi meu padrinho quem me obrigou para que pudesse ir 'deslumbrante', palavras dela, para o baile). Eu já estava escondida em uma poltrona na biblioteca, com meu novo presente, até o telefone interromper.

— Alô, residência Burnier. - atendi como já tinha visto o mordomo fazer, pois eu não sabia quem poderia ser do outro lado.

— Olá! Sou a senhorita Beaumont, a Serena está?

— Oi, Vic, sou eu! - exclamei, não tão surpresa pela ligação de minha amiga, pois ela pegara o hábito. - Tudo bem?

Então Vic começou a cantarolar o Joyeux Anniversaire para mim.

—Ah, Vic! Estou sem palavras. Como sabia que era hoje?

— Parabéns, minha sereia favorita! - a ruiva me felicitou do outro lado. Depois de uma conversa sobre a proximidade ortográfica do meu nome com o apelido, minha amiga achou o máximo, e eu só pude lembrar de outra pessoa...

— Eu soube, oras! Isso que importa! Tenho um presentinho para você!

— Oh, não precisa, Vic, de verdade. Não se preocupe com isso.

— Já comprei, querida! Hoje à noite, eu entregarei, mas por precaução, não use nenhuma pulseira, ouviu?

Eu ri da efusividade de Vic e me proibi de querer chorar pelo carinho recebido.

— Só liguei para que soubesse que sei que é seu dia, Serena, parabéns novamente, você sabe que só desejo coisas boas para você. Mas agora, me perdoe, estou indo me arrumar com minha mãe.

— Sem problemas, eu sei que você começa bem cedo.

— Não ria! Comece cedo também porque eu preciso de ajuda para coordenar o jantar. Suspeito que Blaire vai querer desfilar pelo salão toda hora.

Revirei os olhos, imaginando aquela loira e qual seria a escolha do vestido dela.

— Tudo bem, estarei lá.

Despedimo-nos e não consegui mais me concentrar na leitura. Eu ficara muito indecisa sobre qual vestido iria usar no baile, mas depois do encontro com James, o fotógrafo inglês, e Vic, tínhamos achado vestidos novos e lindíssimos da coleção do amigo dele, então disse que usaríamos. Apesar de ter achado lindo, me sentido confortável com ele, eu estava insegura com meu vestido. E se não fosse do tipo do baile? Eu nunca tinha ido em um parecido! Vic me garantiu que era lindo e que eu ficaria linda, mas pensar em Blaire, sua experiência com festas glamourosas e seus contatos, estava certa de que seria humilhada.

~~~~

— Você está tão bonita, Serena querida!

— Você acha? Será que não está faltando algo ou exageramos na escolha? - perguntei a Marie, que me olhava com os olhos brilhando, mas que não evitavam a insegurança se apoderar de mim.

— Tenho certeza de que será uma das mais bonitas da noite, senão a mais! Terão muita cobertura internacional, mas você está lindíssima.

Tremi ao imaginar aquela cena. Como estava por dentro de algumas partes da confecção do baile, eu sabia que na frente do palácio existiria uma ornamentação, com tapete vermelho e tudo mais, para que os fotógrafos cobrissem a chegada do soberano ao palácio, bem como outros nobres e suas famílias. Eu, definitivamente, estava tremendo.

Mudei o peso do corpo para o outro pé, já calçado por saltos.

— Eu sei que está nervosa, mas você precisa se sentir confiante, ouviu? Além da aparência, o que faz toda diferença é como se porta, como se sente e irá demonstrar pelas atitudes, Serena. Deve se acalmar e reconhecer que está incrível. - Marie me confessou, alisando delicadamente meus fios dourados presos em um coque feito mais cedo.

De frente para o espelho de corpo todo, eu tive que me concentrar na figura à minha frente.

Eu estava mudada. Não era só a roupa de festa, os brincos e saltos brilhantes ou o rosto delineado por maquiagem. Era algo mais. Algo que estava nos meus olhos.

— Eu me sinto bonita. - cochichei, mais para mim do que para Marie ao meu lado.

— E é totalmente real o que você está vendo de si mesma.

Eu não devia me sentir nervosa ou apreensiva pela possibilidade de não estar adequada, era um risco a correr agora, ninguém poderia me dar essa certeza e eu devia fazer a minha parte. Essa, eu poderia lidar.

O vestido que eu usava era branco e justo acima da cintura, marcando meus ombros e incrustado com pedrinhas prateadas. Abaixo, ele parecia rodado, com camadas e mais camadas, dando um volume ao andar que me fazia ter que levantá-lo ao lado.

— Minha querida. - as palavras de meu padrinho tiraram a mim e a Marie de nossas divagações. - Como está bela, Serena.

Corei pelo elogio e Marie se conteve para não bater palminhas animadas.

— Obrigada, padrinho.

— Por nada. - ele veio até nós, vagarosamente, analisando minha imagem no espelho. Marie deu um tapinha em meu braço e nos deixou a sós, pressentindo um momento privado.

— Não acha que está faltando um colar?

Meus olhos varreram rapidamente pelo meu busto, que estava realmente vazio.

— Oh... Esqueci-me desse detalhe.

— Tenho uma solução para isto.

Como se adivinhasse que eu iria precisar, Jean retirou do bolso do terno uma caixinha aveludada preta. - Este colar é mais importante do que você sabe, Serena. Mas faz parte de você, da sua história.

Ele abriu à minha frente e a joia me deixou boquiaberta. Era uma singela corrente prateada, com um único, solitário e grande pingente da cor azul.

— Tio Jean... Mas é lindo, e parece valioso, não posso usar.

— Pode e deve, querida. Pode ser valioso, porém bem menos que você.

— Oh. É feito do que estou pensando?

— Se for prata e safira, são sim. Deixe-me pô-lo em você.

Eu não tinha palavras para responder, então deixei que pudesse e vi que ostentá-lo no pescoço fazia uma diferença tremenda. De toda forma, eu iria cuidar daquele colar para depois devolvê-lo.

— Muito obrigada, tio Jean, não precisava de verdade. Ele é lindo.

— Combina com você, querida. - meu padrinho respondeu e me concedeu seu braço. - Está pronta para irmos?

Só pude assentir.

~~•~~•~~

Eu sempre me deslumbrava com o palácio da Casa Grimaldi, talvez por sempre ter morado em um local humilde ou simplesmente aquele projeto arquitetônico era essencialmente intimidador. Às suas portas, um tapete vermelho enorme estava posto, rodeado por inúmeros fotógrafos que eu sabia que iriam cobrir o evento para diversos países, incluindo os mais próximos, como Itália e Suíça.

Era impossível não se apavorar, então foi o que eu fiz quando o carro de tio Jean ficou em frente ao tapete que nos levaria até os portões e, adiante, viria o palácio.

— Querida, sei que não gostará nada, mas preciso fazer algo por você. Não fique com raiva, tudo bem? Você tirará de letra.

Eu estava absorta no que significariam as palavras de meu padrinho, quando ele pulou para fora do carro e se apressou em passar pelo tapete indo até seu final e parando.

Paralisei. Esse homem tinha mania de me deixar sozinha nesses momentos constrangedores?! E ainda falava que eu daria conta, pois bem, eu daria mesmo só para chegar até ele e soltar um belo de um discurso ruidoso. No entanto, agora, eu precisava me concentrar em não tropeçar nos meus próprios pés enquanto encarava, embasbacada, um flash atrás de outro que cegava meus olhos. Eu podia ouvir as exclamações em diferentes sotaques e línguas e sabia que deveriam se perguntar quem era aquela louca de branco que entrava sozinha. Mas eu não queria ser humilhada logo na entrada da festa, não é?

Forcei um sorriso para uma câmera que logo ficou entusiasmada em me ver sorrindo, por isso ensaiei quase as mesmas poses que James me dissera na sessão de fotos. Assim, não poderia pagar mico daquele jeito, né?

Quando me situei e tentei alcançar meu padrinho naquele mar revolto de burburinhos, quase me senti derrotada e achei que cairia ali, na frente de todos. Graças a Deus, porém, Jean veio ao meu encontro e passamos pelo resto do caminho até entrarmos no palácio. Tinha uma área verde bem cuidada aos lados e um caminho até imensas portas de madeira. Eu só não enchi tio Jean de reprimenda, pois estava tentando contar quantos milhares de pessoas cabiam naquele salão esplendoroso à minha frente.

Nunca pensei que sentiria orgulho de nada, mas reconheci detalhes na decoração que foram feitos com minhas pequenas e relés opinião: um tapete magnífico vermelho, cortinas acetinadas, até mesmo um tipo de bebida que passaram nos servindo quando fomos engolfados por nobres bem vestidos e suas famílias. Em seus ninhos, não pude deixar de notar.

— O que fazemos agora? - cochichei para meu padrinho, momentaneamente esquecida do episódio na entrada porque meus olhos focalizavam a tudo que podiam em milésimos de segundos.

— Ora, cumprimentamos os presentes, entramos em papos de amenidades e depois esperemos a cerimônia começar quando os donos do baile chegarem.

Tremi. Quem diria que eu iria viver para estar em uma festa recepcionando um príncipe?!

Pelo menos dessa vez, tio Jean não me largou sozinha. Levou-me esganchada ao seu lado, sorrindo sem graça para seus amigos e sem saber o que responder quanto aos elogios direcionados. Eu não me achava feia, mas também nunca me sentira daquela forma, como se fosse admirada, e fazia com que eu não me sentisse confortável em meu próprio corpo.

Depois de ficar na companhia de algumas esposas de políticos internacionais, Victorine Beaumont me encontrou e estava deslumbrante.

— Vic! Uau!

A ruiva deu seu sorriso conhecido, porém com uma ponta de vergonha.

— Obrigada, Serena. E você está fabulosa! Você combina muito com safiras, por Deus!

Senti corar mesmo que o fato de terem me elogiado milhares de vezes com relação à gargantilha tivesse sido feito anteriormente.

— Ah, foi presente de Jean...

— Falando em presente, venha! Vou te mostrar minha lembrança!

Segui minha amiga embalada em seu vestido prateado, que atraia olhares por onde passava, principalmente da orda de jovens aristocratas.

Como era minha primeira vez dentro do palácio, eu não sabia para onde estávamos indo, mas Vic andava sem parecer insegura, de modo que a acompanhei, tentando absorver toda a beleza do local, cada detalhe entalhado no que parecia a ouro, desenhos arquitetados para tornar o lugar digno de observação.

Quando subimos uma escadaria que bifurcava, entramos à esquerda e ficamos no cantinho. Encostadas no balaústre em alabastro, Vic tirou uma caixinha de sua bolsa.

— Eu quando a vi só pensei em você, Serena...

Minha garganta se fechou, tocada com o gesto da minha mais recente amiga. A pulseira era prateada com um pingente, em azul cobalto, formando uma pequena sereia.

— Oh, meu Deus, Vic, eu não sei nem como agradecer, só sei que já falei isso mil vezes e nem parece suficiente.

Vic riu e me abraçou.

— Não é nada, é pra você ficar ainda mais incrível do que está.

Abracei-a e agradeço novamente quando meus olhos se voltaram para uma silhueta que entrava no salão.

Havia dias que eu não colocava os olhos em Blaire de Rohan, como ela gostava de frisar. E eu ainda me admirava com a beleza dela, só se ela permanecesse de boca fechada e diminuísse aquele ar arrogante que a rodeava toda vez que andava. Ainda assim, ela conseguia atrair atenção.

Os cabelos loiros estavam em um coque e usava um grande vestido branco.

E foi nesse momento que notei a semelhança de nossas roupas.

Bem pior do que eu imaginava para essa noite.

Porém o dela era mais avolumado e parecia com uma princesa... Ela toda parecia uma. Por algum motivo, meu coração afundou um pouquinho.

— Uau, Blaire. - Vic comentou. - Para quem disse que queria um modelo exclusivo, o dela até que se parece com o seu.

Olhei enviesada para Vic pelo comentário.

— Oh, desculpe, mas o seu é mais bonito, com mais cara internacional, claro. Mas você sabia que o dela é de uma espécie fluorescente? Ela queria se destacar quando dançasse com o príncipe Pierre, à luz baixa.

— Bom... Que ótimo. - pigarreei para dissipar o bolo que se formou em minha garganta.

Meus olhos observaram quando a figura... grande, digamos, de Blaire se moveu para cumprimentar as pessoas e ir em direção a outra, como uma predadora.

Eu não o tinha visto na festa, mas sua visão era arrebatadora. O cabelo preto penteado para trás, o smoking impecavelmente justo em seus braços e uma calça igualmente bonita. Ele sorria, com uma taça na mão, ao conversar com alguns rapazes e Blaire foi ao seu encontro, quase esmagando-o com sua presença.

Meu estômago se contraiu ao vê-la pendurada em seus braços, que também a enlaçavam.

— Vic, vamos descer?

— Oh, mas já? Daqui podemos ter uma vista ampla de todos os convidados, incluindo quem evitar...

— A gente pode achar outro lugar, Vic, vamos?

Diante da minha impaciência, a ruiva deu de ombros e nos dirigimos para as escadas ao mesmo tempo que uma pessoa subia.

A duquesa de Hanôver estava linda. Bem, não era nem difícil, excetuando-se o olho felino e perscrutador dela que não deixava passar um detalhe, e fora desse jeito que ela pôs os olhos em mim.

— Vossa Alteza - Vic veniou para Alexandra, e eu repeti o gesto, não querendo causar nenhum embaraço.

— Espero que aproveitem o baile. - a duquesa respondeu, mas seus olhos verdes estavam cravados em meu pescoço e na peça que o cobria. - Boa noite.

— Uau, essa mulher sempre me intimida.

— Nem me fale.

Segui Vic pelos degraus, tomando o cuidado de segurar minhas saias para não tropeçar e sair rolando como uma bola no meio da festa apenas para, ao final, levantar minha cabeça e me deparar com ele.

Lindo demais, ainda mais, quando estava a centímetros de mim. As comissuras de sua boca se dobraram, me mostrando aquele raro sorriso polido e feliz.

— Boa noite, bela dama. 

Não consegui responder de imediato, mas Vic escondeu uma risadinha com uma tosse ao nosso lado.

— Eu vou...Er... Tenho parentes para cumprimentar, com licença!

Como se a tivesse notado pela primeira vez, Conrad se dirigiu para Vic.

— Oh, Victorine, me perdoe não tê-la cumprimentado. Está linda. - ele se corrigiu, ainda mais polido que antes.

— Não foi nada, Conrad, e obrigada! Vejo você em outro momento, Serena.

— Então... boa noite. - consegui falar depois de ficarmos calados olhando a ruiva partir.

— Você está linda, sereia.

— Você também está adorável - tentei brincar e soltei um riso nervoso. Por que raios minhas mãos suavam? - Hm.... Será que vai demorar muito para os convidados especiais chegarem?

— Acredito que não. Estávamos à espera dos músicas que tocarão hoje. Quer beber alguma coisa? 

Os olhos verdes estavam fixos em mim de uma forma que me faziam grudar no chão, então para sair do torpor, concordei. Conrad me concedeu um braço e me apoiei nele, sentindo o calor irradiar de seu corpo mesmo que coberto.

— Você sabia, sereia, que um dos cantores de hoje será Andrea Bocelli?

— Aquele italiano?!

— Isso mesmo. Além de uma orquestra, claro, e você não sabe quem mais...

— Alguém francês?

— Ah, claro, a Carla Bruni. - eu não acreditei nas palavras dele.

— Mentira, Conrad.

— Estou seriíssimo, Se. Você gosta de música americana?

— Gosto sim. Eu bem me lembro que alguém disse que gostava muito do inglês.

— Pois é... E adivinha só... - Conrad arqueou uma sobrancelha para mim, provocando.

— Diga logo, homem!

— Celine Dion.

Santo Deus.

— Como isso é possível?! Ela vai estar aqui?

— Fazer contato para chamar ao baile do monarca não é um convite que os cantores costumam recusar, pequena. Você quer o champanhe?

Anuí e ele me entregou uma taça.

— Isso é demais, sério. Nunca achei que viveria para presenciar um momento desses.

Conrad me olhou por cima de sua taça, com um sorriso de lado.

— Sinta-se agraciada.

— Muito obrigada!

Bebi do champanhe ao passo que os olhos verdes que me atormentavam ficaram paralisados em minha gargantilha.

— O que houve com meu colar? Aconteceu alguma coisa, caiu alguma pedra?

— Não, não, Serena! - ele respondeu de imediato ao notar meus olhos arregalados. - Por que acharia isso?

— Porque você ficou olhando fixamente, como as outras pessoas. Vai saber se eu estava pagando mico.

— A última coisa que você estaria era pagando mico, sereia. - ele murmurou. - Eu estava apenas apreciando... Combina com você. Parece até que foi feita para você.

— Ah, se é assim... Muito obrigada. 

— Não precisa corar, Se.

— Ora! Eu já nem sei o que responder diante de comentários assim, Conrad.

Ele riu.

— Apenas sorria. Qualquer um já ficaria grato em vê-la sorrindo.

Mais um redemoinho dentro de mim. Assim eu não sobreviveria para contar história.

— Er... Como você está? Da última vez, parecia estar com um problema.

Os olhos de Conrad se turvaram e pareceram mais... tristes e resignados.

— Digamos que o problema não se resolveu, mas já o aceitei. Fazer o que contra o destino, não é?

— Pois é.

Paramos por um momento, lado a lado, e notei que ele nem tinha me parabenizado por meu aniversário.

Não seja boba, Serena! Ele não deve se lembrar, afinal faz dias que você contou! 

Quando suspirei, ouvimos o barulho de trompete e olhei para Conrad.

— Eles chegaram. Venha.

~~*~~

Eu nem pude acreditar quando vi um monarca de verdade, andando pelo centro do salão até uma cadeira entalhada em dourado. Ele parecia carrancudo, mas ainda tinha uma presença marcante. Quem veio depois do príncipe Louis Grimaldi foi seu filho e herdeiro, príncipe Pierre.

Ele. Era. O. Cara. Da. Igreja!

O cara de olhos estranhamente azuis!

Ele caminhou com uma graça e leveza diferente do pai, com um sorriso de lado que indicava bom humor e seus olhos atraíam a todos. Pierre se sentou à direita do pai, em outro trono igualmente dourado. E após palavras de boas vindas e felicitações, o príncipe Louis decretou o início da festa.

E Kenny G, em pessoa, começou seu show em saxofone para agradar ao monarca!

Eu não conseguia acreditar. O som era ainda mais enfeitiçador ao vivo, fazendo com que todos, ao toque de The Shadow of Your Smile, fossem à pista valsar. 

Fiquei de fora, ao lado de Vic, intercalando o olhar entre o músico e a pequena discussão que pareceu se iniciar do outro lado do salão.

— Meu Deus, Blaire vai matar a garota! - Vic exclamou.

— Vai mesmo. - eu ri ao observar Blaire encarando irritada uma garota, com cachos escuros, trajando um dourado brilhante, igualmente pronta para responder à Barbie. - Quem é ela?

— Oh, você não sabe? É mademoiselle Cecile Valois, prima do príncipe Pierre pela parte materna.

Lembrei-me de alguma vez ter ouvido falar dela... Conrad tinha falado sobre ela! Era sua amiga de infância.

— Ela é bonita.

— Eu também acho, e deve ser por isso que Blaire está bem irritada com ela. - Vic disse. - Eu a tinha visto quase estapear a garota ao vê-la conversando com Conrad. Somente a duquesa para aquietá-las e ainda andar a tiracolo com elas.

Assenti, observando que Alexandra de fato era quem as apartava, porém fazia questão de andar com uma a cada lado, apresentando a todos das mais variadas cortes.

— Blaire tem ciúmes até de sua sombra. Acha que Conrad é de sua propriedade.

— Falando nele... Se me permite, sereia, ele pareceu embasbacado ao vê-la.

— Foi mesmo? - retruquei, tentando parecer casual e não transparecer a pequena fagulha confortadora que se instalara em meu peito.

— Foi sim. E você está atraindo bastante olhar... Eu nem acredito que o príncipe vem aí! Ai meu Deus, Serena, eu vou sair agora!

Antes que eu percebesse, Vic tinha saído e de fato, Pierre parecia se aproximar. Sustentava um sorriso aberto e, para minha infelicidade, fez com que todos nos olhassem ao parar diante de mim.

— Mademoiselle... 

Ele mexeu a sobrancelha, brincando. Fiquei parada, sem saber como devia tratar uma realeza.

— Pode me oferecer sua mão, querida? - ele cochichou, envergando levemente o pescoço. - Posso ficar envergonhado aos olhares de todos.

Vermelha, dei minha mão e ele a beijou, rindo.

— Serena é o seu nome, certo?

— Ainda se lembra... - sussurrei, ainda acuada pelos olhares que se desfaziam ao redor.

— Claro que sim. Inclusive, passei pela ONG e gostei da causa. Doei alguma coisa.

Meus olhos se arregalaram.

— Ora, Vossa Majestade! - as palavras escaparam de minha boca, mas a tapei. - É assim que devo chamá-lo? Desculpe, eu não sou familiarizada com nada disso.

— Sou chamado de Majestade, sim, mas pode usar Pierre, se quiser, Serena - ele voltou a sorrir. - Você não acha que seria adorável me conceder a próxima dança? Afinal, acho que me deve.

— Ahn... Como assim devo? E eu não sei dançar, Majestade, desculpe.

Era indecoroso recusar uma dança para o anfitrião da festa? Pois eu não me sentia à vontade para desfrutar de mais uma cena para todos no salão.

— Você não acha, querida Serena, que todos devem apreciar uma dança na qual sua bela gargantilha combine exatamente com meus olhos?

Arquejei, surpresa, notando mais precisamente o quão gritantemente semelhantes eram de fato. O mesmo tom, pareciam um par.

Oh, não.

— Embora sejam espantosamente da mesma cor, querido primo, Serena me prometeu primeiro uma dança.

Ah, Conrad, obrigada por inventar algo e me salvar.

— É serio, primo? - Pierre sorriu para Conrad, que se prostrou ao meu lado, segurando minha mão. - Ora, por que não disse antes? Posso esperar pela próxima então, não irei atrapalhá-los.

— Faz mais que certo. - dessa vez, Conrad quem brincou com Pierre.

— Até a próxima, então, querida Serena. 

O príncipe se afastou e me virei para Conrad.

— Obrigada! Eu não queria mesmo pagar um mico ao lado do príncipe na frente de todos.

— Você não pagaria mico nenhum, Se. - ele me respondeu, puxando-me para mais perto de si. - E eu não a livrei totalmente. Terá que dançar comigo, de verdade.

— Mas, Conrad!

— Não pode vir com a desculpa que não sabe. Já dançamos antes.

A lembrança da dança na galeria e o quase beijo me deixaram mais nervosa.

— Mas aqui é diferente.

— Por quê?

— Porque todos estão observando! Tem gente de outro país! Vai sair nos jornais e eu não quero envergonhá-lo!

— Fecha os olhos e deixa que eu conduzo.

Com isso, não pude mais protestar, pois sua mão se plantou na base de minha coluna e me guiou para o meio da pista quando uma música começou.

Amazed - Lonestar - cover

https://www.youtube.com/watch?v=-3pYYitF-_Y

https://www.youtube.com/watch?v=-3pYYitF-_Y

Eu não podia acreditar.

— Conrad, eu estou morta de vergonha!

Ele riu com gosto e senti as vibrações em seu peito devido a nossa proximidade.

— Esconda o rosto no meu peito, então, oras.

— Vai ser pior! - sussurrei, enquanto dividia a mente em acompanhar os passos dele.

— Concentre-se em mim, está bem? Em um instante tudo acabará.

Engoli a seco.

— Tudo bem.

Voltei a apertá-lo com força nos ombros e ele retribuiu em minha cintura.

— Relaxe, sereia. Ninguém está nos olhando.

Eu quem ri dessa vez.

Oh, claro que não.

— Esqueça isso. - ele sentenciou. Girou-me uma, duas vezes até me trazer para dentro de seus braços. - Quero falar algo importante.

— Diga.

Então ele me transformou em uma geleia em seus braços ao recitar os versos na língua estrangeira que meu pai me ensinara.

— "Bela como a luz da lua. Estrela do oriente

Nesses mares do sul
Clareira azul no céu
Na paisagem
Será magia, miragem, milagre

Será mistério.

Prateando horizontes
Brilham rios, fontes
Numa cascata de luz
No espelho dessas águas
Vejo a face luminosa do amor
As ondas vão e vem
E vão e são como o tempo

Luz do divinal querer
Seria uma sereia..."

— Eu. Não. Acredito.

— Meus parabéns, sereia. - Conrad sussurrou ao meu ouvido, esquentando meu corpo, piorando a sensação de escape de minhas lágrimas. - Não pensou que eu esqueceria, não é? E ainda tenho uma surpresa.

Balancei a cabeça, contendo a emoção.

— Não é possível que tenha aprendido a letra só para me dizer. Só por uma tradição idiota de meu pai.

— Quis deixá-la feliz, só isso. - ele encolheu os ombros, mas o sorriso largo não saía do rosto.

— Oh, meu Deus, muito obrigada pela surpresa, Conrad...

— Não foi nada. Agora, somente rodopie quando eu a conduzi-la.

Com o coração querendo explodir dentro do peito, girei quantas vezes ele quis somente para voltar e vê-lo com um sorriso que se estendia até os olhos.

Compreendi o que era fazer algo para ver o outro feliz e esta simples ação tomar conta de você por inteiro.

 

 

 

§ SESSÃO TABLOIDES QUE SE SUCEDERÃO A TAL NOITE (TRADUZIDOS) §

*Bela Desconhecida 

*Cena Roubada (por uma benfeitora de animais indefesos)

*O Efeito Cinderella (em Mônaco)

* A Cinderella

*Cinderela Desconhecida

*A Bela Desconhecida

*Retorno do Príncipe Monegasco Traz Desconhecida

*Estilo Cinderella

*Modelo Do Novo Estilista Inglês Estreia Em Mônaco

.

.

.

 

Olá, olá! Demorei um pouco mais, pois, como viram, esse cap foi grande. E devo dizer que o baile ainda renderá muuuito mais hahahaha

Espero que tenham gostado! POV de Conrad no próximo somente para se apaixonar por ele ♥


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Herança Real" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.