Quando o Amor acontece escrita por Lizzy Darcy


Capítulo 50
Capítulo 50




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Quinquagésimo Capítulo ❣️

"Princesa...

Se está lendo essa mensagem é porque infelizmente deve ter acontecido alguma coisa comigo, porque do contrário já haveria de tê-la apagado para que jamais soubesse que cogitei uma ideia como essa. E sofresse em vão. Sabe o quanto suas lágrimas acabam comigo. Mas enfim... Tudo que posso dizer agora é que lutei e me esforcei ao máximo para voltar aos seus braços. No entanto, princesa, perdoe-me se fracassei...
Princesa, obrigado. Muito obrigado mesmo por me proporcionar os dias mais felizes da minha vida e por me fazer descobrir o verdadeiro sentido de amar e ser amado. Não me arrependo de nada, e se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo, do mesmo jeito, sem mudar uma só vírgula. Porque de tudo que vivemos, restaram lembranças que sei que você vai guardar... Nesse seu coração lindo que tanto amo. Sentirei saudades do teu cheiro, da maciez da tua pele, do teu gosto... de Tudo em você.
Eu sei que prometi a você o nosso Felizes para Sempre, mas infelizmente não consegui cumprir, então quero que mesmo assim você me prometa que ainda vai correr atrás disso... Talvez mais tarde, depois que você se recuperar da dor que sei que deve estar sentindo. Mas me promete que não vai desistir, princesa, que vai encontrar um outro alguém que te valorize e te faça imensamente feliz... Sim, princesa, porque você mais do que ninguém merece isso. Não chore muito. Nem se desespere por muito tempo. Lembre-se que você tem o fruto do nosso amor pra cuidar... Quero muito que diga a ele que eu o amei desde sempre e sempre que puder fale de mim pra ele. Ah, e ensine pra ele como tratar uma mulher de forma respeitosa e como ela merece. Assim ele vai sempre se sentir ligado a mim de alguma forma. E eu a ele. Princesa, para Sempre seremos um só. Nos três. Mesmo separados. Porque onde quer que eu esteja, estarei sempre protegendo vocês. E todas as vezes que quiserem me sentir é só ouvir as batidas do coração de vocês, eu estarei em cada uma delas.

Da pessoa que mais te amou nessa vida... Seu Eterno Príncipe, Felipe."

Aquela já era a vigésima vez que Shirlei relia aquela mensagem deixada por seu príncipe. Mas em todas aquelas vezes, ela não podia evitar que lágrimas de uma dor lancinante banhassem o seu rosto. Já fazia alguns muitos dias desde o ocorrido trágico no galpão. E Shirlei não podia deixar de pensar no quanto podia ter sido diferente se ela nunca tivesse viajado para o Chile. Sim. Começava a se sentir culpada pelo que ocorrera. E aquele sentimento a corroía por dentro de uma forma que destruía muitas vezes qualquer fio de esperança que pudesse ter de que tudo pudesse voltar a ser como antes.

Sua gravidez já estava chegando ao final e como gostaria de estar curtindo esses momentos de forma sublime e com o seu príncipe ao seu lado.

Entretanto Shirlei ainda conseguia se lembrar do momento em que recebera a notícia de um dos médicos de que o seu príncipe agora passaria a ser um "Belo Adormecido". Pena que, a vida real não imitava o conto de fadas e ele não despertaria com um beijo apaixonado de sua princesa...

– Um dos tiros atingiu o crânio - explicou o médico para Shirlei, que estava apoiada em sua irmã, os olhos já cansados de tanto chorar -, então devido ao traumatismo crânio encefálico, o paciente Felipe Miranda entrou em um estado de coma profundo que pode durar algumas horas, bem como... - o médico pausou. Sabia o quanto seria difícil para os familiares receberam aquele tipo de noticia. - Alguns... Dias ou até meses. Não sabemos ainda. Isso dependerá de como o paciente responderá aos estímulos e medicações ao longo do tempo.

Shirlei arregalou o olhar e aos pouquinhos sentiu como que perdendo as forças das pernas. E Tancinha teve de segura-lá com mais força para que sua irmã não despencasse de seus braços.

E logo que a família de Felipe soube do ocorrido, exigiram que ele fosse removido imediatamente para Itália, mas Henrique conseguiu convencê-los de que o amigo jamais concordaria com isso. Pois sabia que se havia alguém que Felipe gostaria de encontrar primeiro quando acordasse, sem sombra dúvida, seria Shirlei e seu filho, então depois de muito negociar, todos chegaram a um acordo, o melhor lugar para Felipe seria o Brasil, até mesmo porque com o fim da gravidez, Shirlei precisaria de sua mãe por perto.

A partir daí, os dias se tornaram semanas e as semanas se tornaram meses. E aquela esperança diária de que o seu príncipe acordaria se esvaia aos pouquinhos a cada vez que Shirlei o visitava e o via ali deitado em seu leito, olhos cerrados, nenhum movimento; apenas o som dos monitores que sustentavam sua respiração e as batidas de seu coração.

– Hoje eu vim pra te dizer que o quarto do nosso principezinho já está todo prontinho, do jeitinho como a gente combinou semana passada, lembra? E pra te mostrar uma coisa, príncipe... - Shirlei falou para um Felipe desacordado, ao mesmo tempo em que retirava algo de uma sacola. Tratava-se de um macaquinho azul escuro de bebê junto com uma manta, boné e luvinhas da mesma cor. Ela estava sentada numa cadeira do lado leito de seu amado. - Não é a coisinha mais linda que você já viu na vida...? - Perguntou Shirlei com voz manhosa, mesmo não tendo a ilusão de que seu príncipe pudesse lhe responder. - Foi a dinda Tancinha e o dindo Henrique quem deu. disseram que essa deve ser a primeira roupinha que o nosso príncipezinho deve usar quando ele sair da maternidade. E é claro que eu concordei, né? Senão ia ser uma confusão daquelas... - Shirlei disse, forçando um sorriso - Ai, príncipe, você nem imagina o quanto esse padrinhos deram pra babar o nosso pequeno. Tô até com medo do estrago que eles vão fazer quando ele nascer. - emitiu uma risada triste.

Fez uma pausa como que esperando qualquer tipo de movimento ou o som inebriante de seu riso. Mas como todos os dias, nada aconteceu. Baixou o olhar, triste e depois de dar um cheiro profundo na roupinha de seu rebento, aspirando o perfume característico de bebê, guardou-a com cuidado de volta na sacola.

Depois disso, como sempre fazia, Shirlei se aproximou dele e com o dedo indicador, lentamente, traçou uma linha desde a testa dele até a ponta de seu nariz.

– Ah, príncipe - sussurrou Shirlei com a voz embargada, já pelo choro que já queria dar o ar da graça naquele dia -, você não faz ideia do quanto eu sinto falta de quando você fazia isso em mim. Era tão bom. - ela engoliu a seco, rememorando em sua mente cada momento em que ele havia feito aquele gesto. E um sorriso tímido apareceu em seu rosto mesmo em meio às lágrimas.

Pegou a mão dele e segurou-a junto ao rosto, sentindo o seu calor e como desejou que houvesse um movimento por menor que fosse, mas sempre era como pedir demais.

– Ah, príncipe... - murmurou ela - ...eu te amo tanto. Você precisa acordar... Por favor. Por mim... E por nosso filho que está prestes a nascer - pediu ela, para em seguida tascar um beijo demorado na palma de sua mão, molhando-a com suas lágrimas.

– Ah, perdoe-me, eu não sabia que ainda estaria aqui. - uma voz feminina e bastante conhecida pediu, chamando a atenção de Shirlei, que virou a cabeça para trás em um sobressalto.

Era Dona Vitoria.

Shirlei se levantou e sua expressão mudou. Desde que chegara ao Brasil, jamais tinha coincidido das duas se encontrarem, pois ambas fizeram questão de se evitar ao máximo e até aquele dia, tinham executado o plano com sucesso.

– Não, tudo bem, eu... - Shirlei ia falando, enquanto pegava sua sacola e bolsa - ...já estava mesmo indo embora e...

– Não, por favor, fique! - Pediu Vitória, interrompendo-a e levando Shirlei a parar abruptamente segurando a maçaneta da porta.

Por alguns segundos, Shirlei ainda permaneceu de costas para sogra, tentando acreditar no que ouvira, até que resolveu se virar e encara-la de frente. E seja o que Deus quiser!

– Ficar? Pra quê? O que a senhora quer comigo? - Shirlei questionou, desconfiada.

Vitória olhou de um lado para o outro, enquanto mexia com os dedos das mãos, demonstrando claramente o quanto estava nervosa.

– Er... Eu... Eu sei que não tenho sido nenhum pouco... Bem, eu... Não tenho sido nem um pouco justa com você, Shirlei e... Gostaria de pedir perdão. Por Felipe. Porque eu sei que era o que ele gostaria que eu fizesse. Então eu... Quero de verdade que você me perdoe, Shirlei.

Shirlei baixou o olhar e ficou pensativa. Depois levantou a cabeça, altiva.

– Como a senhora mesmo disse... Por Felipe. Acho que... Devemos sim repensar tudo que aconteceu e... quem sabe um dia perdoar...

Vitória engoliu a seco.

– Entendi.

Shirlei forçou um sorriso e já ia embora se não fosse ter escutado a sogra chamá-la mais uma vez.

– Shirlei.

A garota voltou a encara-la, esperando qual seria agora o veredito.

– Por favor, quando o meu neto nascer, me deixe conhece-lo. Porque desde que o Felipe entrou em coma, o seu filho se tornou o único elo que tenho com ele. Eu te imploro, não me prive disso! Sei que não mereço, mas... Enfim, agora que você vai ser mãe, deve entender o meu sofrimento e... - Vitoria pausou quando duas lágrimas furtivas escaparam de seus olhos, sendo enxugadas quase que de imediato por ela, pois seu orgulho não permitia que Shirlei a visse chorar.

Diante daquilo, Shirlei não teve outra escolha a não ser concordar.

– Claro. A senhora poderá visitar o seu neto quando quiser. - respondeu ela, mas sem sorrir. - Com licença. - pediu e depois de abrir a porta, fechou-a atras de si.

Entretanto, antes de ir embora, arriscou dar uma última olhada, através do vidro da porta que dava visão para o interior do quarto e viu quando Vitória abraçou o filho e chorou... Compulsivamente.

Shirlei se compadeceu. Dona Vitoria parecia estar sendo castigada por todo mal que fizera, pena que quem estava pagando era Felipe.

Mais alguns dias se passaram, e como de costume, Shirlei foi visitar seu amado na esperança de encontrá-lo sentado, esperando por ela de braços abertos. Contudo ao abrir a porta do quarto, outra vez a mesma frustração, Felipe continuava na mesma. Adormecido em seu leito.

– Bom dia, príncipe! - Shirlei cumprimentou o amado, sem esperar resposta, sentando-se em um cantinho estratégico de seu leito e segurando sua mão com carinho. - Hoje eu fiz questão de trazer a foto do quartinho do Benjamim. Juro que não mostrei pra ninguém depois de pronto porque queria que você fosse o primeiro a ver. Ele tá trancado a sete chaves. E adivinha onde é? Claro, príncipe, que é no nosso sítio. Já pra que ninguém seja curioso o bastante pra ir lá olhar. Só você, príncipe, pode! Ah, a Bel pergunta de você todas as vezes que vou lá e o Tito fica pra morrer de ciúmes, acredita? - Deu uma risadinha ao mencionar os amiguinhos de quatro patas. - Enfim, deixa eu pegar a foto antes que eu comece a tagarelar assim que nem uma louca... Sabe como eu sou. - Shirlei pegou a fotografia e posicionou na frente do rosto de seu príncipe - Não é lindo? Eu também achei. Percebeu que a decoração é toda azul e com coroas. Bem a nossa cara, né? A mãe disse que você ia gostar e.. Ai! - Shirlei emitiu um grito de dor em meio a conversa, segurando a barriga instintivamente.

De repente, outra pontada em seu baixo ventre, um pouco mais forte, fazendo-a se contorcer, fazer careta e segurar a barriga com mais força.

– Ai! Droga! Mas que dor é essa agora?! - Shirlei se perguntou, inspirando e expirando forçadamente. - Aaaai!

Levantou-se da cama e caminhou com dificuldade até onde havia um botão onde podia apertar para acionar uma enfermeira.

– Enfermeiraaaaaa! - Gritou, pois a dor estava ficando cada vez mais forte, então o simples fato de ter apertado o botão não estava ajudando muito. Precisava gritar para vê se ajudava um pouco. - Enfermeiraaaaa! Vem aqui! Rapidoooooo!

Olhou a barriga e passou a conversar com ela, enquanto ainda segurava nela como se assim pudesse evitar que ela pudesse despencar, pois a sensação era aquela.

– Amor, agora não. - Shirlei pediu para o seu filho. - Papai ainda não acordou e você prometeu para mamãe que só ia nascer quando isso acontecesse lembra? Aaaaai! - Gritou e de repente um líquido transparente simplesmente jorrou do meio de suas pernas. Era sua bolsa que havia estourado. - Tá, entendi. Não aguentou esperar, né? Aaaaaai! Uuuufffiii uuuuuuffffiiiii O que eu faço? Enfermeiraaaaaaa!

Dez minutos depois, a enfermeira, muito tranquilamente abriu a porta, mas ao avistar o estado em que se encontrava a acompanhante do paciente, desesperou-se e ajudando-a, começou a gritar para que trouxessem uma maca imediatamente, pois Shirlei estava naquele momento entrando em trabalho de parto.

Quando o maqueiro chegou, tratou logo de posicionar Shirlei deitada na maca, mas a mesma se recusava a ir embora sem antes despedir-se do seu noivo. Foi preciso muito esforço para que o maqueiro e a enfermeira tentassem convencê-la de que não havia tempo para isso. Entretanto, por fim, Shirlei, com muito esforço, e mesmo sentindo muita dor, se arrastou até o leito onde estava o seu noivo.

– Prín...cipe, nosso filho vai nas...cer. - Ela informou, com o suor descendo em sua testa e a voz falhando pela dor - Vo...cê tem que acor...dar! Eu pre...ciso de vo...cê!

E quando terminou de falar, beijou os lábios dele, permitindo que sua respiração acelerada se misturasse a dele e lhe trouxesse a vida. No entanto, nada aconteceu, então ela se deixou ser levada pelos profissionais de saúde que a levaram imediatamente para sala de parto.

O problema é que nessa agonia de ser puxada, a pulseira com os berloques que Shirlei tanto prezava e amava por ter sido um presente de seu príncipe e conter tantas lembranças de momentos felizes vividos com ele, acabou ficando enganchada em um dos ferros do leito de Felipe e arrancada do pulso de Shirlei sem que ela percebesse, caindo bem em cima de sua mão que estava com a palma virada para cima.

Então algumas horas depois, em uma outra ala do Hospital, a alguns poucos metros dali, escutou-se o choro alto de uma criança que acabara de nascer, ao mesmo tempo em que uma mão se fechava, segurando forte uma pulseira e uma lágrima molhava a face esquerda de seu rosto.


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