Badlands escrita por Risurn


Capítulo 5
Capíto Cinco


Notas iniciais do capítulo

Estou bem feliz vendo esses leitores novos, espero que continuem gostando!



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Quando abri os olhos naquela manhã, eu havia chegado à conclusão de que era hora de admitir algumas coisas para mim mesma.

Encarei o teto do meu apartamento e suspirei.

Primeiro, eu não estou bem.

É. Admita Thalia. O despertador ainda nem tocara e eu estava acordada há horas, sem conseguir pregar o olho.

Leo estava certo quando supôs que eu estava no meio de uma crise. Quer dizer, eu acho que estou. É difícil dizer. Quando as grandes fases de depressão passam e eu fico “normal”, não leva muito tempo para as fases de euforia chegarem, mas elas também não duram muito tempo e o ciclo recomeça.

Aperto meus olhos com os dedos e respiro fundo.

Tudo poderia ser tão mais fácil se minha cabeça funcionasse como uma mente normal.

Tão, tão, tão mais fácil.

Sentei na cama, me enrolando nos lençóis antes de ir até o banheiro.

Segundo, eu preciso passar mais tempo com Leo. Depois dos últimos meses nos afastamos mais do que eu gostaria quando eu não era capaz de fazer quase nada. Apesar disso ele nunca desistiu de tentar manter contato e me sinto muito mal de só voltar a vê-lo de verdade depois de duas festas desastrosas.

Liguei o chuveiro e permiti que a água levasse todas as minhas ansiedades.

E, por último, mas não menos importante: preciso ter uma conversa séria com Jason. Ele esqueceu que tem irmã ou o que?

Não que eu o culpe, é claro.

Jason estava no meio do furacão de pessoas que eu afastei conforme tentava me adaptar ao transtorno. E talvez, apenas talvez, ele tenha se sentido ainda mais abandonado do que eu quando fui expulsa de casa. Afinal, ele só tinha doze anos na época, e depois de um tempo eu só... Surtei.

Eu sentia como se uma manada de elefantes tivesse pisoteado meu corpo e depois tivessem simplesmente decidido ir embora. Quase sempre isso era sinal que eu estava voltando ao normal. Cobri meu rosto com as mãos lembrando da minha cena de ontem na piscina.

O que será que Nico pensa de mim agora, por Zeus?

Por que, meu bom Deus, eu fiz aquilo?

É claro que eu sabia a resposta, mas não custa tentar procurar uma explicação mais profunda e filosófica, não é?

Desliguei o chuveiro e tentei me vestir. Não estava a fim de chegar atrasada e ter que ouvir algum tipo de reclamação do odiado amado chefe. Porque cá entre nós, Bóreas era um pé no saco quando queria. Tudo bem que ele me viu crescer e tal, mas existe uma coisa chamada limites.

Bufei enquanto fechava minha saia preta e notei que ela estava com algumas sobras nas laterais. Ótimo, alguém perdeu peso. Revirei os olhos e peguei minha bolsa, trancando a casa.

Nem sempre Bóreas havia sido um chefe ruim, mas depois de tentar me arrastar para seus filhos Zetes e Calais, e eu rejeitar ambos... Bom. A história mudou e ele mudou de “futuro sogro agradável” para “sogra vingativa”. Nem pergunte.

Enquanto tentava fazer sinal para algum táxi me perguntei se não deveria ter comido algo antes de sair de casa, mas resolvi que o café podia esperar.

No caminho para o trabalho me permiti curtir uma cena de filme e encostei minha cabeça à janela.

Outubro havia chego e logo o frio viria com ele, me animando um pouco. Nunca gostei muito de verão, de qualquer forma.

O prédio da Olimpus era maior do que eu achava necessário, mas praticamente todo tipo de negócio que meu pai fazia funcionava por ali. Quando passei pelas portas duplas eu jurava que conseguia sentir o cheiro de meu pai. Ele respirava aquela empresa.

Acenei para a recepcionista e pedi meu celular.

Quer dizer, meu celular de trabalho. Eu nunca levo ele para casa, porque Bóreas sempre fala comigo por ali.

Quando entrei no elevador, fechei os olhos. Juro que nunca entendi a necessidade do meu pai fazer um elevador de vidro. Se eu já não estivesse atrasada, iria de escadas.

Quando estava no trigésimo andar recebi uma mensagem. Bóreas queria que eu comprasse café.

Eram nesses momentos que eu tinha vontade de subir até o andar de Zeus e pedir demissão. Juro por Deus que eu ainda vou fazer isso.

Segurei as barras do elevador, novamente de olhos fechados e apertei o botão para voltar ao térreo.

Depois que eu consegui achar uma cafeteria – e comprei café pra mim também –, decidi que dessa vez iria pelas escadas. Não quero nem saber.

Quando cheguei ao sexagésimo andar, eu já não sentia minhas pernas.

Assim que sentei na minha mesa, Bóreas abriu as portas e saiu, como que sentindo minha presença.

— Está atrasada.

— Aqui está seu café.

Estiquei para ele o copo extragrande descafeinado, sem leite, sem açúcar, sem graça e sem sabor, enquanto checava a agenda dele.

Mas Bóreas apenas bufou e revirou os olhos, tirando o copo de minhas mãos.

— Você acha que só porque é filha de Zeus pode fazer o que quer, quando quer?

Fechei a agenda e o encarei, respirando fundo.

— Seus filhos agem de uma forma muito pior por serem seus filhos e você é apenas o vice-presidente. Quer mesmo discutir sobre isso? Meu pai nunca passou a mão na minha cabeça. – Ele abriu a boca para responder, mas o interrompi antes que sequer tivesse a chance. – Você tem uma reunião com ele em vinte minutos no vigésimo andar. Melhor correr.

Como eu disse antes, me incomoda o fato de ter que ser tão rígida com ele, mas Bóreas tem pedido por esse comportamento desde que aceitou que não serei sua nora. Sinto um pouco de pena, afinal, ele não tem culpa de se pai de dois idiotas.

— Depois nós conversaremos sobre esse seu comportamento.

Apenas assenti e liguei meu notebook sentindo que aquele seria um longo, longo dia.

***

Eu gosto de trabalhar, gosto mesmo. É bom para esquecer meus problemas e me distrair da vida. Realmente revigorante. Mas se tem algo que eu gosto mais do que isso é o horário de ir embora, principalmente se não tomei café da manhã nem almocei. É quase como que uma bênção divina. Só preciso concluir essa ligação e fim.

— Melissa... – Respirei fundo enquanto tentava conversar com a secretária da arquiteta. – Bóreas gostaria de saber quando Atena vai ter um tempo livre... – Fiquei em silêncio enquanto ela falava. – Sim, ele vai fazer uma nova casa de campo e quer saber... Droga.

Eu fico tão feliz que as vezes até me esqueço que o elevador é de vidro e entro no bendito, como agora.

Respirei fundo enquanto me segurava em uma das barras de apoio.

— Não, não, está tudo bem. Ah, quinta às três? Ótimo. Obrigada mesmo. Até depois, te ligo pra confirmar.

Desliguei o celular e coloquei na bolsa, fechando os olhos.

Só mais cinquenta e quatro andares.

Cinquenta e três.

Cinquenta e dois.

Cinquenta e um.

A porta abriu com um “plim” e alguém se juntou a mim.

Eu poderia ter reconhecido aquele resmungo em qualquer lugar.

— Se você tem tanto medo, por que não vai de escada?

Eu não precisava abrir os olhos para saber que estava com Zeus Olimpus.

— Eu esqueci. Me distrai um pouco.

— Bóreas veio reclamar comigo outra vez. Até quando precisarei ouvir reclamações sobre você? Já não bastava largar a faculdade? Até quando vou ter que cuidar de você?

Mordi os lábios, sem saber se ele olhava para mim ou não.

— Ele só reclamou porque eu...

— Não quero saber de desculpas. O que importa são os fins, não os meios. Não importa o que ele fez, ou o que você fez. Eu recebi uma reclamação e estou cansado disso.

Quarenta.

Trinta e nove.

Trinta e oito.

— Certo. – Fiquei um tempo em silêncio antes de prosseguir. – E como o senhor está? E Jason?

— Por que não pergunta pra ele? Estou bem.

Assenti ainda de olhos fechados e permaneci esperando, e esperando, e esperando. As portas voltaram a se abrir e percebi que Zeus havia saído.

Apesar disso, continuei esperando para ver se ele perguntaria se estou bem, mas a pergunta nunca chegava.

Precisei morder meus lábios para não perder a compostura ao pedir para a recepcionista guardar meu celular novamente.

— Está tudo bem Senhorita Grace? – Encarei-a por pouco tempo antes dela tentar levar a mão até mim. – Thalia?

Saí de lá o mais rápido possível, pedindo para o táxi me levar ao tão conhecido endereço. Não consegui responder Alice. Apesar de saber a intenção dela era de ajudar, ela havia piorado tudo.

Não era bem assim que eu planejava meu reencontro com ele.

Chequei meu relógio, eram cerca de duas e vinte agora. Ele devia ter voltado da faculdade há pouco tempo.

Quando o táxi parou em frente à mansão, precisei respirar fundo. Preciso dar um passo de cada vez.

O porteiro demorou alguns segundos para me reconhecer, mas abriu a porta logo em seguida, com um enorme sorriso. Eu havia esquecido de como ele era simpático.

Conforme eu me aproximava da casa, ia ficando mais tensa. Eu já não conseguia pensar em tudo o que tinha ensaiado e minha cabeça girava.

Quando bati na porta, achei que meu coração fosse sair pela boca.

Foi ele que atendeu, rindo de alguma piada que alguém havia feito antes, provavelmente, e encarando o lugar de onde acho que ele deve ter vindo. Quando fixou os olhos em mim, sua expressão mudou num segundo de divertimento para preocupação.

— Thalia?

Não lhe dei tempo para pensar e o abracei. Abandonei todos os roteiros da minha mente e apenas improvisei. Antes que eu me desse conta meu corpo tremia com os soluços. Eu chorava vergonhosamente.

O ar escapou do meu peito. Não sei o que estou fazendo. Não sei o que estou fazendo. Não sei. Não sei. Não sei.

Jason levou alguns segundos para se recuperar do choque e me abraçar de volta. Ele havia crescido vários centímetros, sendo agora muito mais alto do que eu, e estava mais forte também.

Eu só chorava mais e mais, sem conseguir pronunciar nenhuma palavra. Ofeguei, tentando arranjar forças para falar. Falar qualquer coisa.

Minha voz saiu abafada por estar com o rosto contra seu peito.

— Me desculpe, me desculpe, me desculpe...

Ele ainda estava imóvel, respirando de forma irregular, mas pude sentir seus músculos se contraírem conforme eu falava.

— Thalia...

Prossegui balbuciando as palavras até que ele me abraçasse com mais força e me afastasse.

— Jason. Me perdoe.

Eu encarava seus olhos, tão parecidos com os de nossa mãe. Eu, por outro lado, herdara os de nosso pai. Enquanto Jason refletia um límpido céu azul nos olhos, você poderia enxergar uma tempestade nos meus.

Ele ainda parecia em choque, mas negou com a cabeça, me abraçando novamente.

— Eu... Thalia. Não. Não. Você entendeu tudo errado. Entra um pouco.

Respirei fundo, tentando me acalmar. Não sei o que deu em mim para fazer aquilo. Para... Entrar em pânico desse jeito.

Jason me conduziu pela mão até a sala e me dei conta que ele não estava sozinho. Havia um garoto no sofá, de ponta cabeça. Seus pés estavam no encosto e seu cabelo loiro quase tocava o chão. Deitado no tapete estava alguém que me deixou realmente surpresa. Ao me ver, ambos se moveram, tentando sentar direito.

— Eu já volto, tudo bem? Preciso conversar um pouco com... Com a minha irmã.

Jason me segurou pelos ombros, guiando-me escada acima.

— Thalia? É você? Está tudo bem?

Não me virei para responder Nico, apenas deixei que Jason me guiasse escada acima.

Quando entramos em seu quarto, foi quase como me sentir em casa novamente. A cama de Jason ainda era quente e confortável, me transmitindo segurança.

Me permiti tirar os saltos e sentar nela, mas Jason apenas se abaixou à minha frente, segurando minhas mãos, e isso foi o estopim para que as lágrimas recomeçassem a correr preguiçosas pelo meu rosto.

— Me perdoe, me perdoe, me perdoe. Eu nunca... Nunca... Você acha que te abandonei? Jason. Eu nunca deixei de pensar em você. Mas... Eu sou tão... Tão estragada! Eu tento acordar, mas isso não é um sonho. É horrível. Me arrependo de não ter fugido mais cedo e de não ter te levado comigo. Eu sinto muito. Sinto muito por você me odiar.

Jason apenas negava, como se eu estivesse falando outra língua.

— De onde você tirou essa ideia de que eu te odeio?

Minha respiração voltou a falhar e eu achei que fosse voltar a chorar como antes.

— Você... Você nunca me apresentou aos seus amigos... Nem a sua namorada...

Escondi meu rosto com as mãos e voltei a soluçar. Não sei o que está acontecendo. Eu não sou assim. Isso não costuma acontecer.

— O que? Eu não odeio você Thalia. Eu te acho incrível. Você sempre cuidou tão bem de tudo... Eu achei que você não quisesse mais saber de mim, por isso me afastei. Você nunca mais telefonou, nem veio visitar. Achei... Achei que eu pudesse ser um peso pra você. Por isso não te apresentei pra eles. Na verdade, você me intimida um pouco as vezes. Você tem tanta coragem. E depois começou a circular aquela história que você entrou naquele grupo de caçadoras...

Apertei minhas têmporas. Aquela não havia sido minha melhor decisão e me marcara para sempre.

— Não. Não Jason. Você nunca vai ser um peso para mim. Nunca. Está me ouvindo? Você é tudo. Tudo.

Tentei acalmar minhas emoções, mas não parecia possível. Então ele me abraçou.

— Você está bem? Isso é algum... algum tipo de crise? Me desculpe não entender o suficiente sobre isso. Eu só... Nunca consegui entender tudo isso muito bem. – A voz dele falhou. – E depois... Depois de nossa mãe, eu nunca... Nunca tentei entender de verdade.

As palavras de Jason tinham intenção de conforto, mas elas me deixaram ainda mais para baixo.

Neguei me agarrando a ele, arrependida de tantas coisas e com tanta intensidade que achei que pudesse morrer.

Eu reconhecia esse sentimento e ele me assustava.

Eu saio de um buraco e entro em outro. Sempre assim.

Segurei seu rosto entre minhas mãos. Tão bonito. Tão assustado. Acariciei a cicatriz acima do lábio e neguei com a cabeça.

— Você não tem obrigação de saber nada sobre isso. Nada.

— O que aconteceu Thals?

— Eu não sei. – Acariciei seu cabelo loiro, suspirando. Eu senti falta de Jason e não sei porque demorei tanto tempo para vir até ele. – Acho que... Que foi por causa do nosso pai. Por que ele me odeia tanto Jason? Eu não consigo entender. Nunca fiz nada de errado, mas ele só sabe me odiar cada vez mais...

Minhas palavras começaram a falhar e me obriguei a parar. Jason acariciava meu braço e não deixei de notar o quanto ele havia ficado mais maduro.

— Nada é mais trágico do que amar uma pessoa até as profundezas de sua alma sabendo que ela não pode e não vai amar você, nunca.

Se qualquer outra pessoa tivesse me dito isso, eu faria um escândalo. Mas não com Jason. Eu sabia que ele dizia isso porque conseguia entender o que eu sentia. Ele era o único.

O abracei com um pouco mais de força.

— Quando foi que você virou poeta?

— Tenho andado muito com o pai do Will, roubei várias frases de efeito.

Não consegui evitar o sorriso que subiu aos meu lábios.

— Senti sua falta.

Ele me afastou e secou minhas lágrimas com os dedos, sorrido.

— Também senti a sua.

Ficamos alguns minutos em silêncio, esperando que eu me acalmasse. Era bom ficar desse jeito com Jason. Ele podia me entender melhor do que qualquer pessoa, mesmo que não falássemos nada. Ao menos, eu lembro de ser assim.

Quando finalmente me senti melhor, tentei abrir a boca para falar algo, mas meu estômago foi mais rápido, denunciando minha falta de refeição.

— Ninguém te alimenta Thalia? Pelo amor de Deus, você já almoçou?

Neguei com a cabeça enquanto ele me puxava pela mão até o andar debaixo.

Comecei a ficar tensa, lembrando apenas agora que Jason tinha visita. E eu conhecia um deles.

— Jason... Tem certeza? Eu posso voltar outra hora ou almoçar fora. Você tem os seus amigos, não quero atrapalhar.

— Não vou deixar você ir embora tão cedo. Além de que, preciso te apresentar a eles.

Tentei sorrir e parecer otimista, mas não era uma tarde com Jason. Era uma tarde com Jason e os amigos. Maravilha.

— Voltamos, espero que não tenham se divertido muito sem mim.

— Foi um tédio, Nico fica terrível sem você Jason.

O garoto que cabelo loiro agora estava sentado na orientação correta e sorria perigosamente para Nico, que me encarava.

Jason meu conduziu pelos ombros até perto deles.

— Essa é a minha irmã. Thalia, esses são Nico e Will.

Will se pôs de pé num pulo e s abaixou, beijando minha mão.

— É um prazer finalmente conhece-la, senhorita Grace. Sua identidade sempre foi rodeada de mistérios.

Olhei inquisitória para Jason, mas ele apenas revirava os olhos.

— Não exagere Will, ou ela vai acreditar.

Neguei, me perguntando que tipo de amigos Jason vinha fazendo e percebi que precisava dizer alguma coisa.

— É um prazer te conhecer Will, – direcionei minha atenção para Nico. – não achei que fosse te encontrar de novo tão cedo.

— Três dias seguidos Grace? Acho que você está me perseguindo.

Sorri me apoiando em Jason.

— Casa da minha família, festa do meu melhor amigo...

— Festa da minha irmã, casa do meu melhor amigo...

— Eu acho que em...

Não pude concluir minha frase porque um “ei” mais agudo que o humanamente possível soou pela sala.

— Agora Jason é seu melhor amigo? E eu seu zumbizinho? Quer que eu saia falando pra todo mundo que você tem cuecas de caveira?

Nico abriu a boca e toda a sua tentativa de flerte foi pelo ralo. Tentei não rir enquanto encondia meu rosto no peito de Jason, que não fazia a menor questão de esconder seu divertimento.

— Você precisava mesmo falar disso agora? Isso é chantagem.

— Viu só Will? Eu disse que eu era o melhor amigo. Anda Thalia, vou fazer algo pra você comer.

— Comida? Por que você não faz comida pra gente também Jason?

O garoto loiro, Will, já me arrancava alguns sorrisos sem que eu me desse conta.

— Vocês têm mãos, não tem?

Jason me guiava pelos corredores até chegarmos na cozinha. Sentei à mesa, esperando pacientemente meu lanche. Nico ocupou a cadeira à minha esquerda e Will, à minha direita.

Jason apenas nos encarou, com olhar de reprovação.

— Vocês querem por favor se afastar da minha irmã? Vou fazer sanduíches, tudo bem Thals?

Apenas assenti e encarei minha mão acima da mesa.

Não levou muito tempo para que eu percebesse que Will é um tagarela. Ele não deixava o assunto morrer em momento algum, mesmo que para falar sozinho. Eu estava prestando atenção à uma história muito confusa sobre um milho e uma pinha se apaixonando e tendo filhos – pipopinhas – quando senti uma leve pressão sobre minha perna esquerda.

Quando me virei, percebi que se tratava da mão de Nico. Seus olhos me analisavam cuidadosamente e sua boca fazia uma pergunta muda:

— Você está bem? O que houve.

Tentei sorrir um pouco e apenas neguei com a cabeça.

— O segundo encontro também não é apropriado para falar dos problemas.

— Quantos encontros vão ser necessários, então?

Eu teria respondido que ele nunca poderia contar encontros suficientes para isso, mas um Jason pigarreando enquanto segurava uma faca de cortar carne me interrompeu.

— Então vocês dois se conhecem?

— Sim.

— Não.

Nico e eu respondemos ao mesmo tempo. Como assim ele acha que a gente se conhece? Se esbarrar duas vezes em festas contam como conhecer? Eu acho que não.

— Nós nos esbarramos em algumas festas e conversamos um pouco.

Jason apontava a faca para Nico e tentava fingir desinteresse.

— Só conversaram, então?

Dessa vez, eu que respondi.

— Apenas conversa e mais conversa. Nico não é muito interessante.

Eu havia esquecido completamente dos dedos de Nico sobre minha perna até que ele fizesse um pouco de pressão.

— Eu posso ser bem interessante, se eu tentar.

Abri a boca e fechei, sem saber bem o que dizer, enquanto Jason me dava um prato cheio de sanduíches.

— Você pode, pelo amor de Deus, parar de flertar com a minha irmã na minha frente, Di Ângelo?

Nico sorriu afastando a mão de mim e roubando um dos meus sanduíches.

— Como quiser, Jason.

Conforme eu via todos rindo, imersos numa enorme piada interna, não pude deixar de me perguntar o que mais eu estava perdendo.

— Então... – Tentei. – O que você tem feito irmãozinho? Quando vou conhecer a Piper? E a faculdade?

Will roubou outro dos meus sanduíches e comecei a me perguntar seriamente porque eles não faziam para eles mesmos, qual é, eu estou com fome!

— Você não ficou sabendo? Jay-Jay não está na faculdade.

Franzi meu rosto enquanto encarava meu irmão. Não sei o que era mais estranho: Jason não estar na faculdade e eu não ter presenciado nenhum surto de Zeus ou chamarem ele de “Jay-Jay”.

Encarei Jason em busca de respostas, mas ele apenas encolheu os ombros.

— Estou estudando para ser piloto.

Arregalei os olhos.

— Piloto, tipo, de avião? Lá no céu? Jason, minha nossa, pelo amor do milharal, você vai ficar... Voando? Não acho que isso seja seguro.

Ele apenas riu e negou.

— Eu amo voar. É incrível. Meu curso começou mês passado. Realmente quero fazer isso.

Ao meu lado, consegui ver Will gesticulando para Nico e perguntando em silêncio: “milharal? ”. Preferi não me manifestar. Jason pegou o celular e suspirou ao ler o que quer que fosse.

— Mas... Nosso pai aceitou numa boa?

— De início não. Mas eu insisti um pouco e ele acabou cedendo. Provavelmente vai acabar comprando alguma indústria aérea só pra poder me vigiar.

E eu não duvidava nem um pouco disso. Nosso pai não é um homem normal, e é capaz de qualquer coisa.

— Você é uma executiva ou algo assim?

Foi Nico quem perguntou, apontando para a minha roupa.

— O que? Por causa da saia e da camisa? Não, não, sou só uma secretária.

Nico assentiu e provavelmente faria outra pergunta, mas Jason nos cortou.

— Thalia... Você vai ter que me desculpar, mas a Piper precisa de mim. Vou ter que sair.

Dei uma última mordida no sanduíche e me levantei, batendo as mãos.

— Tudo bem, me deixa em casa?

— Ei, - Nico resolveu se manifestar – se você quiser, eu posso deixar ela em casa. Não vai ser incomodo nenhum.

Jason alternou o olhar entre nós três: eu, Nico e a faca na bancada da pia.

— Eu é que não vou te deixar sozinho com ela. Você vem comigo. E você – ele apontou para Nico – seja um bom amigo e leve Will pra casa.

Nico apenas revirou os olhos, enquanto Will sorria.

— Ótimo, adoro a companhia do mini senhor das trevas!

Dei outra risada antes de sair de vez da casa.

Naquela época eu não conseguia entender como alguém poderia gostar de algo assim. Hoje me pergunto algumas vezes o que teria sido diferente caso eu soubesse disso desde o princípio.

 

Nota da Autora: Vamos conhecer um pouco mais a Thalia ♥


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Notas finais do capítulo

As emoções da Thalia estão mudando...
Bom, espero que estejam gostando. Não é fácil ser quantitativa e não qualitativa. Fico me mordendo pra não revisar 30 vezes
Até o próximo ♥



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