Forest Boy [hiatus] escrita por isaac


Capítulo 2
2


Notas iniciais do capítulo

aaaah olá!! vi que algumas pessoas já estão acompanhando, que bom que vocês estão gostando :3
e um beijo pra tori, que deixou um review lindinho!



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Tyler se sentou na cama, respiração acelerada, suando frio. Por um segundo, achou que ainda estava no apartamento, mas assim que viu a luz vindo das frestas da gaveta e a falta de janelas no quarto, se lembrou que estava no subsolo. Na resistência. No meio de rebeldes que lutavam por algo que ele nem entendia direito.

— Hnngrrgh… - ele resmungou, apoiando os cotovelos nas coxas e o rosto nas mãos. Conseguia sentir o suor que brotava na linha da raiz de seus cabelos. Conseguia sentir seu coração pulsando em cada parte do seu corpo.

As memórias da noite anterior era vívidas demais. Tudo o que lembrava de Matt, e de Isis, era vívido demais. Ele precisava, ele queria loucamente, esquecê-los, e tudo deles na vida dele. Jogou a coberta para o lado e saiu da cama, seu corpo tenso e sua mente a mil.

Abriu a gaveta, e as bolinhas de luz começaram a flutuar pra fora e a dançar pelo quarto, iluminando tanto quanto o Sol faria. Sorrindo com as quaroi balançando no ar ao seu redor, ele abriu o armário e analisou suas opções. Que usaria uma camiseta branca tinha certeza, mas por alguns segundos considerou usar uma das calças soltas, que provavelmente eram para treino ou algo assim, por permitirem mais movimento na hora de correr, chutar e etc. Escolheu uma das calças cinza e uma das inúmeras camisetas brancas penduradas em cabides, e foi até o banheiro.

Tomou um banho rápido, escovou os dentes e se vestiu. Estava na hora de começar seu primeiro dia na resistência, e o relógio em cima do criado-mudo já dizia que não era dia; eram duas horas da tarde. Xingando baixinho, Tyler saiu do quarto com pressa e correu para o refeitório, ver se alguém ainda estava lá.

Abriu a porta com força, e viu Patty limpando os recipientes de metal numa pia, no canto do lugar. Ela olhou pra ele de relance e voltou para o que estava fazendo, sorrindo de lado.

— Bom dia, flor do dia. Está duas horas atrasado. Tem alguns biscoitos aqui, se você quiser. Mas tente acordar mais na hora geralmente, é raro sobrar algo. Giulia guardou um pouco de comida pra você.

Esfregando a testa, ele se aproximou e pegou um potinho com dois biscoitos de aveia. Voltou para a mesa e se jogou em uma das cadeiras, frustrado.

— Quais são os horários aqui mesmo? Fui dormir junto com todos vocês, mas nem sabia que horas eram de tanto sono…

— Vamos dormir às seis, e acordamos ao meio-dia. Hendus descobriu que, com tritogênio, o melhor é mudar o funcionamento do corpo, e dormir um pouco menos estimula a substância no cérebro - ela disse, cutucando a têmpora com o indicador. - Arrume seu alarme para te acordar meio-dia daqui em diante, e logo você vai acordar nesse horário sozinho.

— Ok. Valeu. Onde está todo mundo?
— Provavelmente na biblioteca, nos laboratórios ou na academia. Eu não sei. Mas se quiser me esperar, daqui a pouco vou pro laboratório II. Pode ir procurando os outros por si mesmo - deu de ombros.

— Tá… Obrigado.

Ele terminou o biscoito e levou o outro na mão enquanto saía do refeitório.

A primeira porta que viu foi a academia, e deduziu que era ali que treinavam para o caso de o governo ir até eles, ou para irem até o governo. Terminou de comer o segundo biscoito e abriu a porta.

— SE ABAIXE!

Tyler se agachou assim que a voz chegou em seus ouvidos, sem nem pensar, e conseguiu ouvir algo passar zunindo pelo topo de sua cabeça. Fechou os olhos e respirou fundo, sentindo seu corpo relaxar. Ao abrir os olhos, tinha uma mão estendida para ajudá-lo a se levantar. Olhou para cima, procurando ver de quem era a mão - a voz tinha sido repentina demais, não prestara atenção -, e seu rosto ficou quente como se estivesse em chamas.

Connor procurava ajudá-lo, cabelo azul caindo sobre sua testa, seus olhos brilhando, um sorriso largo e divertido dominando seus lábios. Um pouco de suor era visível perto de sua orelha, e era possível ver que ele tinha um piercing preto de argola no ponto mais alto da curva da cartilagem. Estava sem camisa, todos os músculos de seu abdome e tórax a mostra, e causando um desconforto incrivelmente agradável para Tyler. Ele abaixou o olhar e pegou na mão de Connor, que o ajudou a se levantar. As unhas dele estavam pintadas de preto, o mais alto reparou.

— Bate na próxima vez - Connor reclamou, arfando um pouco.

— O-ok… Você tá treinando, né? O que foi que passou em cima de mim?

— Um disco de quares. Você devia ver o perigo daquele negócio em alta velocidade. Tenha um pouco mais de cuidado - Connor pediu, um pouco tenso.

— Ok, valeu. Vou te deixar com… Seus discos de quares.

Tyler fechou a porta com pressa, e pressionou suas costas contra a madeira, tentando voltar sua respiração para o ritmo normal. Merda.

Não era para ninguém, muito menos Connor, ter acesso à respiração dele assim. Nem ao seu coração, que parecia estar escapando pela sua garganta. Hah, que coisa mais clichê. Garoto se apaixona por garoto, e garoto apaixonado não entende o que está acontecendo com seus sentimentos. Poderia até ser assim, mas ele entendia perfeitamente o que estava acontecendo. Qualquer cara gay iria se sentir atraído por alguém como Connor, e é lógico que Tyler não seria exceção. Só não fazia sentido sentir tudo isso saindo de um relacionamento falho tão catastrófico quanto… Matt.

Ele bufou e foi procurar a biblioteca, ver se algum livro ia tirar a cabeça dele de tudo isso. Ia tirar Matt e Isis da cabeça dele. Ia tirar a imagem de Connor da cabeça dele. Ele precisava de uma distração, e rápido. Achou a porta e abriu-a com alívio.

As paredes tinham estantes do chão ao teto, de um lado ao outro, entupidas de livros. Nichos em um canto da sala tinham computadores mais modernos do que Tyler já vira. Duas mesas ocupavam o centro da sala, uma cheia de livros e papéis soltos - bastante semelhante à mesa de Ryo, porém com mais pilhas de coisas - e a outra vazia, com apenas um livro aberto. Na mesa vazia, Aiden lia. Ele ergueu o olhar quando a porta se abriu e sorriu, indicando que era para o garoto se aproximar.

— Tyler! O que te traz aqui?

— Ah. Ah, eu só estou dando uma olhada em todas as salas… E… Queria conhecer a biblioteca - mentiu.

— Legal. Bom, esse é meu lar - ele riu. - Passo a maior parte do tempo aqui, às vezes acompanhado por Dani ou Giulia. Ryo vem aqui às vezes, mas nunca fica.

— Hm… Talvez eu vire sua companhia, aye? - Tyler sorriu.

Aiden assentiu, e o outro se levantou. Começou a seguir o caminho das estantes, analisando todas as fileiras de livros, até as que ficavam mais no topo, pouco acima de sua cabeça. Nenhum título parecia muito interessante, tudo era científico, ou simplesmente entediante. Se algo fosse de fantasia seria bem melhor, mas parecia que Hendus, ou Aiden, não tinha nenhum interesse nisso. Então era só correr os dedos pelas lombadas, pensando mais nas pessoas que deveria estar tentando esquecer.

Ugh, Matt… Ele ainda não conseguia entender o que tinha acontecido, por quê tinha acontecido. Tudo parecia estar indo bem, mas ele devia estar cego demais para perceber…

Tyler se sentou no chão, joelhos dobrados, e deixou o rosto cair nas mãos. Nem mesmo assim tão longe, seu ex parava de assombrá-lo. Ex? Não dava para saber direito. Não quando tudo acontecera daquele jeito. Matt nem devia saber que ele sabia. Mas doía lembrar, e as memórias pareciam queimar em câmera lenta em suas pálpebras toda vez que ele fechava os olhos…

As mãos dele na cintura dela. As mãos dela no pescoço dele, passando por pele que não lhe pertencia, não deveria lhe pertencer. O sorriso dele por entre beijos, e os beijos correndo por toda a pele exposta dela. E o nível de romantismo da cena, o casal se beijando na sacada. Que clichê. Que clichê…

— Tyler, você tá bem?

Ele abriu os olhos e olhou para Aiden, do outro lado da sala. Sua visão estava embaçada, e ele não entendeu por quê. Só então percebeu que estava chorando. Chorando por Matt. Esfregou os olhos e se levantou.

— Tô. Um pouco de dor de cabeça, deve ser.

Saiu da biblioteca e andou com passos firmes e rápidos até seu quarto. De porta trancada, se jogou na cama e gritou para dentro do travesseiro. Estava tudo errado. Tudo errado. Tinha fugido das pessoas erradas para ficar em um lugar que lhe parecia errado. Ele não sabia o que estava acontecendo, nem com os outros nem consigo. Tudo estava confuso, errado, errado…

— Tyler! Tyler, abre a porta.

Era a voz de Patty. O que ela queria? Ele não estava com saco pra ninguém naquele momento, muito menos os rebeldes. Rebeldes a quê? Eles não viviam em uma distopia horrível, em um livro de sci-fi. Aquilo era a vida real. O governo é corrupto, e daí? Todo mundo sabia disso. É simples, é só aceitar e seguir a multidão…

— TYLER!

Connor.

— O que foi? - ele perguntou, finalmente abrindo a porta.

— Porra, Tyler… Aiden disse que você ‘tava chorando, e saiu da biblioteca com pressa… Eu--Nós ficamos preocupados. Faz isso não - pediu o garoto de cabelo azul. - Aqui somos família, falamos as coisas uns pros outros.

— Tá, eu só… Precisava de um tempo pra mim. Eu fugi de Geonsville, né? Meus demônios de lá acharam o caminho pro subsolo - contou, sem vontade de explicar nada.

— Ah. Tudo bem. Mas na próxima, mantenha a calma em ambiente público, pode ser? A gente se importa uns com os outros, então fica meio tenso quando alguém perde a cabeça.

— Pode deixar - disse Tyler, procurando fechar a porta. Não ia aguentar ficar olhando naqueles olhos castanhos por muito tempo. Ver Connor era como receber umas cem injeções de adrenalina ao mesmo tempo, e ter seu sangue fervido e despejado de volta no seu corpo.

— Qualquer coisa esto--amos todos aqui.

— Anotado.

Ele fechou a porta com força, sua respiração pesada. Ponderou, por um segundo, se Connor sequer era gay. Ou bi, ou pan, que seja. Não queria que fosse alguém enfiado no armário, como Matt, mesmo ele não tendo essa personalidade. Nunca se sabia.

Ah, Matt. Todos os problemas e reclamações que ele enfiara na cabeça de Tyler voltaram a incomodá-lo como zumbidos em suas orelhas. Ah, Ty, eu sei que sou bi, e que também sou capaz de ter ‘sentimentos héteros’, mas as pessoas! O que elas vão falar?... Não, Ty, ainda não… Não quero contar para as pessoas ainda… Poxa, Ty, eu sei que você saiu do armário e tá bem, mas as pessoas reagem diferente a pessoas diferentes…

Ele tinha medo é de contar para os outros, enquanto estava com Isis. Não tinha uma atitude assustada, ele ia com tudo quando estavam na cama. “Deve ir com tudo com ela também…”

Batidas na porta interromperam o pensamento dele, e ele deu meia-volta, irritado.

— O que--Connor. O que foi agora?

— O almoço tá pronto - o garoto avisou, mordendo o lábio inferior. Merda. — Quando estiver mais tranquilo, está lá.

— Ah. Ah, claro, só um segundo, eu… Eu já vou.

Ele fechou a porta de novo e se sentou na ponta da cama, deixando a cabeça cair nas mãos e o cabelo se emaranhar nos dedos. Merda, Connor. Não era mais Matt, seus cabelos negros e seus olhos verdes que ocupavam a mente de Tyler. Agora, uma figura magra, forte, de cabelos azuis e olhos castanhos parecia estar em todos os cantos, em cada lugar que ele olhava. Ah. Estava tudo errado.

⚘⚘⚘

A conversa fluía tão tranquilamente no refeitório, que deixou Tyler confuso. Algo estava apertando a caixa torácica dele, seus pulmões, seu coração, tudo. Como se tivessem colocado uma rolha na boca do estômago dele, e nada estava funcionando. Ele não sabia se estava passando mal, se era tudo pesando na sua mente ou a proximidade a Connor.

Meu Deus, ele estava muito perto. Dava para ouvir sua voz falhar quando ria, dava para sentir calor emanando de sua pele quando seus cotovelos batiam sem querer. Tyler se sentia a garota em livros do Nicholas Sparks - ele escreve romances melosos, né? - por ficar percebendo detalhes assim tão melosos, mas não conseguia não reparar. A rolha em seu estômago parecia estar forçando seu cérebro a trabalhar 99% Connor, 1% Tyler.

— Tyler? Ooi? - Dani chamou, estalando os dedos na frente dos olhos do garoto.

— OI! Oi, desculpa, que foi?

— Perguntamos o que você vai fazer depois do almoço. Você tá bem mesmo, cara? - Connor perguntou, rindo um pouco.

— Tô bem sim, só tem muita coisa na minha cabeça… E… Não sei, não sei direito o que tem pra fazer.

— Você pode ir lá fora comprar coisas em Geonsville comigo e com Giulia - sugeriu Dani, sorrindo. Ele já rejeitou a ideia mentalmente, não querendo voltar para a cidade. - Pode ficar em um dos laboratórios com Patty, na biblioteca com Aiden ou na academia com Connor.

— Eu, uh…

Ele queria ir para a academia com Connor. Sabia disso, tinha certeza. Mas não sabia se ia aguentar, ficar num lugar pequeno sozinho com a única pessoa que importava pra ele naquele momento. Essa pessoa estando sem camisa. E suada. Ah, não ia funcionar.

— Acho que vou treinar. Sou a pessoa mais despreparada daqui, afinal.

— Faz sentido - disse Ryo, baixinho.

Se não estivesse enganado, Tyler diria que era a primeira vez que ele falara o almoço inteiro. Só então percebeu que o prato dele estava vazio, e que estava lhe encarando como se soubesse de algo, como se tivesse posse de um segredo que não deveria possuir. Como se… Merda.

Seus olhos se arregalaram e sua garganta secou. Ryo sorriu um pouquinho, apenas inclinando a ponta de sua boca para cima. Tyler tentou disfarçar, tossindo e olhando de volta para seu prato, para o merengue com morangos, como se estivesse louco para comer aquilo. Parecia delicioso, mas tinha perdido o apetite. Tinha muita, muita coisa na sua cabeça, e a última coisa com a qual ele se preocupava no momento era o doce.

— Bom, eu já vou. Você vem agora ou vai terminar sua sobremesa? - Connor perguntou, se levantando e indo na direção da porta.

— Eu… Vou com você. É, já comi o suficiente.

Tyler ficou em pé e foi atrás do garoto, que já estava no corredor. Por algum motivo, o mais velho já estava se arrependendo de ter escolhido ir para a academia. Uma parte dele se arrependia de não ter ido embora, de não ter voltado para Geonsville. Porque as feridas na alma dele ainda estavam se recuperando, ele não estava pronto para novas.

— Você pode sentar lá, vou fazer a sequência de treinamento básica, você observa e depois tenta fazer, pode ser? - pediu Connor, apontando para um banco no canto da sala. Tyler assentiu e foi se sentar.

O garoto de cabelos azuis começou a digitar números e letras numa tela acoplada à parede, e logo, uma parede cheia de aberturas começou a se iluminar. Sequência básica, iniciar, disse uma voz robótica, saindo de não se sabia onde. Ele respirou fundo, e os ataques começaram.

Facas e tiros começaram a ir e vir pela sala, e de algum modo, Connor desviava de praticamente tudo. Era possível ver quando uma bala acertava-o de raspão, ou quando alguma lâmina conseguia cortá-lo. Parecia um pouco desconcentrado, mas mesmo assim, sua prontidão era incrível. Estava preparado para qualquer coisa.

Quando ele terminou, jogou o cabelo para longe do rosto e se virou para Tyler, que estava boquiaberto. Tinha certeza que, nem em um milhão de anos, seria capaz de fazer aquilo.

— E aí? Acha que consegue?

— Tem algum outro? Que não requere desviar e tudo. Talvez algo tipo tênis, só que com espadas e escudos…? Não?

Connor riu, e voltou para a tela. Armas, disse a voz, ressoando metálica pelas paredes. Um armário se abriu ao lado da tela, e armamento de vários tamanhos e formas apareceu, em estantes. A maioria eram revólveres que Tyler só tinha visto em filmes, mas o que chamou sua atenção foi uma pequena adaga brilhante. O punho era de couro, e a lâmina de quares. Era uma faca bonita, e encaixava direitinho na mão do garoto.

— Ah, você quer espadas mesmo, hein? Deixa eu ver o que temos aqui… - ele começou a apertar teclas e botões na parede. Enquanto isso, o outro analisava a arma que tinha escolhido.

Correu ela pelo ar, e deixava uma trilha de luz branca atrás de si. Era lindo, e parecia mortífero. Tudo sobre aquele lugar confundia Tyler, mas ele estava satisfeito com isso. Às vezes, o melhor é não entender as coisas.


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Notas finais do capítulo

agora vocês sabem mais da backstory do tyler... o que acharam? deixem reviews que é sempre legal c:



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