Forest Boy [hiatus] escrita por isaac


Capítulo 1
1


Notas iniciais do capítulo

aaaaah tem tanto tempo que não posto histórias, ai ai!
espero que goste c:



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— Quem é você?

Tyler ergueu a cabeça, confuso. Na frente dele, estava um garoto de cabelos azuis e olhos castanhos. Parecia ter 1,70m ou algo assim, e mais ou menos a idade do outro. Sua expressão não era muito amigável, mas fazia sentido.

— Meu nome é Tyler - ele disse, se levantando e limpando os jeans pretos.

— O que você está fazendo aqui? - retrucou o garoto, sem se apresentar.

— Eu… Eu precisava pensar. Comecei a correr e terminei aqui.

— Vá embora - disse o garoto, a voz dura e bruta. Os olhos de Tyler se arregalaram, porque ele estava surpreso com tanta frieza e grosseria.

Ele se permitiu olhar para o menino com calma, ignorando a ordem dele. Usava jeans azuis escuros, tênis desbotados e uma blusa de mangas compridas, cuja gola estava cheia de furos e rasgos. Seu cabelo azul estava bagunçado em todas as direções possíveis, e parecia macio. Não dava para ver direito, a luz branca do poste ao longe atingindo-o fracamente.

— Por quê?

— Aqui não é seguro. Tem uma floresta ali, pelo amor de Hendus. Aí você vem e fica esperando, sentado, sem nem prestar atenção, na beiradinha da floresta. Se alguém te capturar, a culpa é sua - ele revirou os olhos.

— Hendus? Me capturar? Do que você está falando? Qual seu nome?

O garoto bufou, nervoso. Olhou por cima do ombro, virou a cabeça e olhou por cima de seu outro ombro. Por um segundo, então, encarou profundamente os olhos verdes de Tyler. Ele conseguia ver sua imagem nos olhos castanhos do garoto; era estranho. Ver seus cabelos castanhos, seu rosto confuso, e a gola de seu suéter azul-escuro. Mas não pôde se observar, já que em menos de um instante, teve sua mão agarrada pelo menino, e começou a ser arrastado, numa corrida determinada, para dentro da floresta.

— Ei! - ele chamou, enquanto seguia o garoto, que não soltara sua mão. Podia sentir a pele do outro contra seus dedos. Era fria, talvez mais fria do que o ambiente ao redor deles. Era algo entre macia e áspera, nem um, nem outro. Mas estava segurando tão firme, que Tyler não se deixou relaxar. - Pra onde você está me levando? E qual seu nome, porra?

O garoto parou de repente, e Tyler quase tropeçou e caiu em cima dele, ainda no impulso da corrida. O menino estava nervoso, e olhava ao redor constantemente, como se algo espiasse eles, ou como se algo pudesse pular do meio das árvores a qualquer segundo.

— Connor - sussurrou, seus dentes cerrados. - Meu nome é Connor. E estou te levando pra um lugar seguro, já que você se recusava a ir embora. Então fica quieto e só me segue!

Tyler assentiu, e apreensivo, Connor deu meia-volta e voltou a correr. Agora, parecia fugir, mas fugia para um lugar específico; virava no meio de árvores e arbustos que Tyler seria incapaz de diferenciar se precisasse, ainda mais no escuro de quase meia-noite.

Eles correram por mais meia hora, até que finalmente, pararam, na frente de uma grande árvore. O tronco era grosso, devia ter dois metros de largura. Não era possível ver a copa direito, apenas galhos começando a se entrelaçar e algumas folhas que se perdiam na folhagem densa de todas as plantas, no céu da floresta. No meio das raízes expostas do vegetal, e entalhada no início da madeira, estava uma abertura escura, que parecia levar a lugar nenhum. Seria apenas grande o suficiente para alguém escorregar por; talvez não alguém de 1,80m como Tyler, mas alguém.

— É aí. Vai, e logo. Por favor — apressou Connor.

— Eu tenho que passar ?

— Tem, Tyler. Agora vai logo.

Resmungando reclamações, ele se sentou na grama e enfiou os pés no buraco. Eles flutuavam num espaço claramente maior que a abertura. Respirou fundo e espremeu seu tronco pela passagem, e começou a cair.

Não caiu por muito tempo, nem o suficiente para gritar. Antes que pudesse abrir a boca, aterrissou em chão duro, que estalou com seu peso. Tábuas de madeira, provavelmente. O lugar era escuro, e muito frio. Úmido, também. Devia ser escavado no tronco e na terra. Por um momento, a visão de Tyler pareceu se acostumar com a escuridão e ele começou a ver o lugar ao seu redor, e então, Connor caiu em cima dele.

— Oof - ele soltou o ar, o peso do garoto em cima dele. Uau, ele era pesado.

— Você devia ter escorregado fora do caminho. Eu teria aterrissado em pé, e teria sido bem melhor. Não dava pra só levantar?

— Desculpa, senhor perfeito, não. Eu caí de costas, devo ter quebrado minha coluna, e você quer que eu levante como se tudo estivesse tranquilo? Desculpa, mas não é assim que funciona.

Ele se levantou, e estendeu uma mão para ajudar Tyler. Este recusou a ajuda e se levantou sozinho, se apoiando no chão de madeira, irritado com Connor. Quem ele achava que era? Chega falando coisas sem sentido, arrasta ele para dentro da floresta, joga ele dentro de um buraco, e quer que ele siga ordens que nem foram ditas? Ugh.

— É por aqui - ele direcionou, apontando para um túnel que seguia na terra. Tyler piscou algumas vezes, mas não conseguia ver nada cinco metros dentro da passagem. Mal conseguia ver o cômodo onde estava! Se aquilo fosse um cômodo.

— Eu não consigo ver nada aí dentro. E como tem oxigênio? Vou precisar respirar, sabe.

— Tem ar, relaxa. E luz…

Connor voltou para o lugar onde caíram e se aproximou de uma das “paredes”. Ali tinha uma mesinha, pequena, com uma gaveta. Ele abriu a gaveta e dali saiu um pequeno globo, flutuando. Era como se fosse uma bolha de sabão, mas de plástico. Algumas bolinhas de luz brincavam dentro do globo, e ele começou a saltitar seu caminho para dentro do túnel. O garoto de cabelos azuis começou a segui-lo, então Tyler não teve opções além de ir atrás.

“Tudo isso é meio estranho,” pensou ele. “Primeiro ele aparece, fala de algo me capturar, e alguns nomes estranhos, todo grosso e horrível. Já é louco desde o início. E aí me leva para dentro da floresta, me empurra para dentro de uma árvore, e começa a me guiar por um túnel com um globo de luz flutuante. Meio maluco, eu acho.”

“E parece ter ficado legal do nada,” acrescenta à linha de pensamentos. “Sei lá, estava todo frio e chato até cairmos aqui. E agora parece legal. Mais uma coisa estranha.”

— Cuidado!

— Uh?

Tyler não tinha visto a raiz surgindo no meio do caminho, e teria caído no chão se Connor não o segurasse. Ele estendeu o braço na linha dos ombros do mais alto, e abraçou o abdome dele, segurando-o longe do chão. Arrumou o garoto em pé, e se afastou, o rosto vermelho. Tyler não percebeu direito o que tinha acontecido até alguns momentos depois, quando ficou mais corado do que o outro.

“É, ele definitivamente ficou mais legal. Mas não acho que eu não gosto disso.”

⚘⚘⚘

Eles seguiram no túnel por apenas alguns minutos, e logo chegaram a uma grande porta de madeira. Ao lado da porta, havia um pequeno painel de vidro, com película fumê, aparentemente. Connor aproximou o rosto do vidro e bateu no painel com os nós dos dedos. Eles esperaram e, rapidamente, a porta de madeira se abriu, revelando um corredor comprido, de paredes brancas. Connor começou a andar, então Tyler foi atrás.

Não havia nada nas paredes, e algumas portas de madeira com plaquinhas estavam espalhadas, em intervalos iguais. Uma porta grande e alta, de vidro, fechava friamente o corredor. Tyler conseguiu ler algumas das plaquinhas à medida que andava: “biblioteca”, “extração”, “laboratório I” e “laboratório IV”, “aiden”, “giulia”, “dani” e “patty”. Mas eram muitas inscrições para ele conseguir ler todas, então apenas conseguiu captar algumas, mais ou menos metade. No fim do corredor, porém, percebeu que haviam algumas placas sem nada escrito nelas.

— Fica aí - pediu Connor, e Tyler parou. O outro seguiu até a porta e bateu, espiando pelo vidro. Uma voz comandou que entrassem, e o garoto de cabelo azul lentamente abriu a porta. O mais alto seguiu-o.

A sala atrás da porta não era muito grande. Tudo o que havia nela era uma mesa, entulhada de livros, papéis e canetas. Bolinhas de luz, como as do globo que os abandonara de volta no túnel, flutuavam em cima dos documentos da mesa. Do outro lado, havia uma grande cadeira, onde um garoto bebericava um líquido vermelho translúcido de uma caneca de vidro. Ele parecia mais novo que Tyler, mas não deveria ser desmerecido por isso. Estava todo encolhido, o queixo repousando nos joelhos, e o rosto levemente inclinado. O respeito com o qual Connor olhava para ele era chocante para uma pessoa pequena assim.

— Ryo. Ele estava na borda da floresta, e não ia embora, então o trouxe aqui antes que fosse captu-

— Deixe que eu falo com ele. Obrigado, Connor. Pode ir - disse o menino, Ryo, com a voz severa. “Uau,” pensou Tyler. “Será que é ele que manda por aqui?”

Connor assentiu e saiu da sala, resmungando algo. Tyler olhou de volta para Ryo, cujos olhos castanhos, escuros como terra molhada, encaravam-no.

— Sente-se - disse, a voz dura, indicando com a cabeça um banco que Tyler não tinha percebido. Ele se sentou, nervoso. - Agora, me conte o que aconteceu e quem você é.

— Meu nome é Tyler, tenho 19 anos e, uh, sou de Geonsville. Lógico. Eu tinha corrido até a borda da floresta, e parado na Árvore Solitária, quando Connor apareceu e começou a falar que eu poderia ser capturado, e que eu tinha que ir embora, mas eu perguntei por quê. Ele não respondeu, só pegou minha mão e me trouxe aqui.

— Okay - murmurou Ryo, lambendo o lábio inferior num movimento rápido e nervoso. Começou a batucar um dos dedos com unhas curtas na xícara, provocando um som quase “opaco” do vidro. Tyler apenas observou-o, apreensivo. - Okay, okay, okay. Acho que é tarde demais. Você quer respostas, não quer?

Ele assentiu. Ryo parecia estar digerindo toda aquela informação, por menos que fosse, lentamente. Ou talvez estivesse 20 passos à frente, e estivesse calculando possibilidades e alternativas. Por sua expressão, aparência e aura, Tyler escolheu a segunda ideia como mais provável.

— Okay - ele repetiu, mais uma vez, sua voz agora indiferente e relaxada. - Vamos começar do início. 17 anos atrás, Oliver Hendus, um morador de Geonsville, resolveu começar a escavar a floresta. Ele achava que aqui era uma fonte em potencial para trufas raras, então trouxe material de escavação e começou a cavar.

“O primeiro buraco dele é a mais ou menos oito quilômetros daqui. Por que ele começou o estudo bem no coração da mata, ninguém sabe, mas lá foi o primeiro lugar. Quando ele chegou mais ou menos na profundidade em que estamos agora, ele encontrou duas coisas: uma, um gás chamado tritogênio, que ele descobriu que era muito melhor para o ser humano do que o oxigênio, já que aparentemente estimula os neurônios. Por isso que, se você percebeu, você respira mais rápido aqui embaixo.”

Tyler aproximou o indicador de suas narinas e percebeu o fluxo respiratório muito mais acelerado do que qualquer coisa que ele se lembrava de sentir, sobre a terra.

— A outra coisa que ele descobriu - continuou Ryo - foram as quaroi. Quares, no singular. Ele estava bêbado quando escolheu o nome, mas mesmo não fazendo sentido combina, de um jeito estranho. - O garoto começou a passar a mão no ar perto das bolinhas de luz flutuantes, e elas balançaram de um lado para o outro, se misturando e se separando em movimentos suaves. - Quaroi são essas bolinhas de luz. Elas são uma substância química que brilha sozinha, emitindo essa luz branca forte, e que flutua. As bolinhas que usamos são gotinhas de quares líquido, e quando líquido o quares ganha a característica de zero-G. Por isso flutuam.

“Depois de descobrir o tritogênio e o quaroi, Hendus passou anos transitando entre o buraco e Geonsville, estudando ambas substâncias. Depois de experimentar por muito, muito tempo, ele resolveu apresentar suas descobertas para o governo. E foi aí que errou.

“Ele foi na prefeitura, e mostrou o que tinha achado. Primeiro, não acreditaram nele; acharam que a quares que mostrara era à pilha, e que o tritogênio era uma besteira. Mas então, ele trouxe dois homens do governo aqui embaixo. Eles perceberam que Hendus estava muito certo, então levaram-no pra capital e ele não voltou. Só que não foi por bem, eles exploraram o conhecimento dele e roubaram tudo o que ele era responsável por.

“Agora, querem montar áreas de treinamento do exército no subterrâneo, onde há tritogênio. E querem fazer novas lâmpadas com quares, o que seria muito mais econômico e eco-sustentável, mas querem cobrar mais por isso.”

Ryo pausou o pensamento, deixando Tyler processar toda a informação. Era uma história relativamente longa, e com certeza complicada. Era horrível saber que as pessoas que deveriam te defender e serem responsáveis por você, te representarem, querem explorar cada pessoa que, por um momento sequer, acreditou nelas. Tudo parecia surreal, mas com a prova bem na frente de seus olhos, o que ele podia fazer além de acreditar?

— Somos a resistência - Ryo contou, a voz incrivelmente impassível. Mas a situação demandava isso deles, e principalmente dele, que parecia ser o líder da coisa toda. - Sou… Sou o filho de Hendus. Eu sempre soube do que acontecia, ele me contava, e por isso eu falei para todos na prefeitura que, se começarem a fazer qualquer coisa, eu conto pra todo mundo a verdade sobre os experimentos do meu pai. Como o governo está explorando eles.

“Eles tentam capturar o máximo de jovens e espiões de Geonsville que podem, para nos boicotarem. Não conseguiram até agora, já que dá para saber quando a pessoa é espiã. Além disso, só para ter certeza, temos uma medida de segurança que você vai ter que seguir… Não se sai daqui. A não ser acompanhado por outro resistente, você fica no subsolo. Nos responsabilizamos por necessidades, como água e comida, por roupa e refúgio. Então tudo está resolvido, sim?”

Tyler lentamente assentiu, e Ryo ficou em pé, se mostrando mais alto do que o outro esperava, mais ainda baixo. Devia ter 1,65m, ou menos. Parecia ter nada além de um metro e meio quando se sentava encolhido na cadeira gigante. Saiu da sala, e Tyler seguiu-o.

Pararam numa porta não muito longe do fim do corredor, e Ryo tocou a placa em branco com a ponta do indicador. Só então foi possível perceber que não eram placas, eram telas. Um teclado surgiu e o mais novo digitou “tyler”, sem maiúsculas. Essa era uma característica de todas as inscrições; além dos números romanos, não haviam maiúsculas.

— Esse é seu quarto. Tem roupas aí dentro, fale se precisar de ajustes. Os outros estão acordados, nosso funcionamento é noturno. Acho que você consegue achar o caminho para o refeitório sozinho, sim?

— É. Obrigado, Ryo.

— Sem problemas. Fique à vontade, Tyler.

Ele se afastou e o rapaz abriu a porta lentamente. O quarto era simples: uma cama com roupa de cama cinza e branca, um criado-mudo preto, um armário de madeira sem tinta, e uma mesa com um abajur e uma cadeira de rodinhas. Tudo isso em carpete bege e paredes metálicas, sem janelas. Era meio deprimente, mas Tyler imaginou que poderia dar seus próprios toques ao lugar. Talvez folhas da floresta, livros…

Mas a primeira coisa que ele conseguiu visualizar contra a monocromia triste foi azul. Azul claro, desbotando, mas incrivelmente vivo quando posto na frente do branco e do cinza. E é lógico, ele sabia de onde vinha aquele azul. Connor parecia querer brincar com a cabeça dele, tudo parecia ser uma piada desde que conhecera o garoto. Há algumas horas só, porém parecia muito mais.

Ele abriu o armário e analisou as roupas que tinha disponíveis. Uma calça jeans, preta, e duas calças cinzas de tecido mais solto. Várias camisetas brancas iguais e dois moletons cinza. Se ele não conhecesse os preços de roupas em Geonsville e na capital, ficaria intrigado com as roupas. Mas tudo colorido era caro, então as poucas opções faziam sentido. Pelo menos ele sempre teria os bons e velhos tênis Converse vermelhos e o suéter azul para quando precisasse.

Trocou de roupa rapidamente, sem necessidade de banho, colocando uma blusa branca, um moletom cinza e mantendo os mesmos jeans e tênis. Saiu do quarto, com fome, e começou a procurar o refeitório, passando de porta em porta, lendo placa por placa.

Ele já tinha lido todas as placas com nome, exceto por “connor” e “ryo”. Não demorou para achar o refeitório, como já tinha passado os olhos pela maioria das portas e placas. Ele abriu a porta e foi cegado pelo brilho branco do lugar.

Todo revestido de azulejos brancos, opacos no chão e brilhantes nas paredes, o refeitório era tão limpo que nem parecia que comida era feita e servida ali. Tyler não estava acostumado com um refeitório limpo e silencioso como aquele; o refeitório da escola de Geonsville era cheio de crianças e adolescentes barulhentos gritando e rindo, e tinha as paredes amarelo-mostarda cheias de gordura e respingos de alimento. Além disso, apenas três pessoas se sentavam na única mesa do refeitório, enquanto uma comia sentada atrás do balcão com as opções.

— Ah! Você é o Tyler! - disse uma menina, provavelmente a mais nova entre todos ali, de cabelo lilás e um sorriso amável.

— Sou. Vocês são o resto da resistência, né?

— Nós, Connor, Ryo e você. Os únicos que estão desse lado do jogo - comentou outra garota, apoiando a cabeça na mão. Ela era muito parecida com Connor, exceto pela cor do cabelo. “Deve ser irmã dele,” ponderou Tyler. - Sirva-se - ela disse, apontando para a comida em recipientes de metal na frente dela.

Ele pegou um prato e começou a passar pelas opções; era basicamente uma grande refeição, com duas alternativas para cada parte. Duas saladas, dois pratos principais, duas sobremesas. Ele escolheu o que parecia menos… orgânico e seguiu para a mesa, onde se sentou ao lado da menina de cabelo lilás. Ela sorria de modo que todos os seus dentes aparecessem, e eles eram surpreendentemente brancos.

— Meu nome é Giulia - ela estendeu uma mão, e Tyler reproduziu o cumprimento. - Esses são Aiden e Dani - ela apontou para o garoto e a garota do outro lado da mesa, e eles sorriram de leve. - Aquela é Patty, nossa cozinheira, irmã de Connor.

— Hm. Legal. Oi, todo mundo - disse Tyler, constrangido e tímido. Ele não era bom com novas situações, e novas pessoas. Não gostava de ser o centro das atenções. Então, enquanto todos olhavam para ele e esperavam algo dele, ele só sorriu meio estranho e enrubesceu.

Sem saber direito o que fazer, abaixou a cabeça e pegou uma garfada da salada, vendo o azeite pingar. Colocou a comida na boca e fez o máximo de esforço possível para ser silencioso, mas com as verduras crocantes cultivadas no subsolo, ficou difícil. Então, ao invés de fazer com que os outros se distraíssem dele, apenas conseguiu fazer com que rissem dele.

— Não precisa ficar assim - disse Dani, sorrindo suavemente para ele. Ela era linda, pele morena e cabelos escuros. Se Tyler não fosse gay, e se ela não estivesse segurando a mão de Aiden carinhosamente, ele com certeza estaria interessado nela. - Nós somos que nem você. E não vamos te julgar. Somos legais, prometo.

Ele sorriu e assentiu, ainda bem nervoso. Estava pegando um pouco da torta que servira como “prato principal” quando a porta se abriu com tudo atrás dele, e passos firmes começaram a fazer o caminho até a janela - só então ele percebeu que era o único lugar com janela em que ele esteve.

Connor passou por eles, parecendo irritado. Usava uma camiseta preta, jeans azuis e coturnos pretos. De longe, dava para sentir cheiro de floresta nele. De folhas mortas, pinheiro e terra. Alguma mistura muito agradável dos três.

— Con, não vai comer? - Giulia chamou, sem perceber a falta de ânimo do mais velho.

— Vou fumar, Gi. Agora não.

Ela abaixou a cabeça, parecendo desapontada. Algo em Tyler queria muito seguir Connor, queria falar com ele, perguntar por quê tinha trago ele pra resistência, e não insistido em levá-lo de volta para Geonsville. Queria vê-lo, observá-lo, conhecê-lo. Se ele não fosse tão chato e grosso, até iria.

Ele não percebeu que estava encarando a janela por onde ele saiu até Dani chamar sua atenção, cutucando sua bandeja. Quando olhou na direção dela, ela sorria com orgulho.

— Vai logo. Ele não deve se incomodar.

— Mas ele foi meio chato comigo quando me trouxe aqui-

— Tsundere - ela explicou, e Tyler se esforçou pra não sorrir. Assentiu e se levantou, empurrando o prato pra longe da beirada da mesa.

Ele caminhou lentamente até a janela alta na parede mais ao longe, preparando seu coração, que gritava “VAI LOGO” e “NÃÃÃÃO” ao mesmo tempo. Levando em conta o primeiro conselho, ele subiu no banco arrumado debaixo da janela e escalou-a, pulando para fora.

Ele não sabia onde estava, mas tinha acabado de sair de um amontoado de arbustos. Conseguia ver a árvore com a entrada, a uns 50 metros. Ela era reconhecível, de tão larga, no meio de plantas esguias e compridas.

— O que você tá fazendo aqui?

Tyler se virou, seu coração acelerado pelo susto. Connor estava sentado num toco de tronco, não muito longe da saída da janela. Um cigarro quase inteiro, aceso na ponta, estava pendurado entre seu indicador e dedo médio da mão esquerda. Seu cabelo azul estava molhado e um pouco ondulado enquanto caía na frente do rosto dele. Tinha inclinado a cabeça, ela estando paralela ao chão, então seu cabelo estava caindo como uma cascata, longe de sua cara.

— Eu… Eu queria falar com você - Tyler murmurou, enquanto o outro assoprava fumaça na direção da grama.

— Bom, a não ser que você estivesse querendo me assistir fumar, isso é meio óbvio. Mas sobre o quê?

— Por que você me trouxe para a resistência, ao invés de insistir que eu voltasse para Geonsville?

Connor ergueu o olhar, suas íris castanhas sendo apenas levemente visíveis para Tyler. Mesmo assim, dava para sentir que ele o observava, o encarava, e que toda sua atenção estava focada no garoto. Ele deixava Tyler nervoso, então era meio difícil ficar nessa posição.

— Bom… - ele sentou-se direito, se segurando no toco para ajeitar a postura. Arrumou o cabelo na testa e levou o cigarro aos lábios, seu olhar indo para alguma coisa longe. Sob a luz da Lua, seus olhos ganhavam um brilho cinza que só intensificava seu ar de mistério. - Você parece inteligente. Está em boa forma. E ninguém que gosta ou concorda com a cidade corre para os limites da floresta. Achei que a resistência seria um lar melhor pra você do que o lugar de onde você fugiu - ele apontou.

Estava certo, infelizmente. Tyler abaixou o olhar, encarando a parte branca de seus tênis e repassando as memórias do anoitecer. Fora difícil. Agora parecia que fora há anos.

— Ryo deve ter te contado tudo, mas acho que com uma promessa ou outra você pode voltar se quiser. Te forcei a vir aqui, não foi justo - admitiu.

— Não quero voltar - Tyler garantiu, rapidamente.

Connor sorriu e fechou os olhos. Parecia cansado, mas a irritação que tinha quando passou pelo refeitório tinha ido embora. Devia ser efeito do cigarro. É, afinal, fumar era a válvula de escape da maioria das pessoas que tinham esse hábito. “É, mas esquecer não resolve os problemas,” pensou Tyler. O que quer que estivesse incomodando Connor podia ter ido embora, mas isso não queria dizer que não iria voltar.


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Notas finais do capítulo

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