20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 4
Capítulo 3




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“Que história é essa, Alicia?” Paulo segurou o braço da esposa, irritado. “Não me diga que você mentiu e eu fiquei xingando um amigo todo esse tempo por isso?”

“Calma, Paulo, por favor.” Ele a soltou, bufando. Ela suspirou, encarando os amigos. “Eu liguei para a Val quando eles terminaram, e ela me contou tudo por telefone. Eu estava com o TCC, pirando, e não estava muito próxima dela na época. Ela pediu para eu manter segredo, e foi o que eu fiz.”

“Mas por que os pais do Davi ameaçaram tirar a menina dela?” Perguntou Jorge, confuso. “Eu achei que eles gostavam da Valéria.”

“Eles adoram ela, ou pelo menos sempre adoraram. Mas não para ser nora deles.”

“Explica isso melhor, por favor.”

“O Davi tinha, ou melhor, tem, uma noiva, que nem ele sabia. É parte das tradições judaicas da família dele, sabe? Eles foram arranjados por um contrato muitos anos atrás, quando a menina nasceu.”

“Então ela é mais nova?”

“É, Margarida, ela ainda vai fazer 18 anos. Na época, o Davi e a Valéria já estavam de namorinho; mas assim como você disse, Jorge, ninguém achou que qualquer namoro da época de escola fosse dar em nada. Como a noiva do Davi era só um bebê, a dona Rebecca e o seu Isaac deixaram a coisa ir rolando, até o Davi falar que ele iria pedir a Valéria em casamento.”

“Aí a cobra fumou.” Deduziu Paulo, recebendo um aceno afirmativo.

“O rabino ficou possuído, falou um monte para o Davi. Disse que ele tinha um contrato e tudo o mais.”

“Mas nem foi ele que fez esse contrato.” Observou Jorge.

“Sim, mas na religião dele os pais ou parentes podem assumir esse compromisso em nome dos noivos. Mas o grande lance não era nem o contrato, a tal noiva ainda era uma criança na época. O problema era a Valéria não ser judia.”

“Mas ela não pode se converter?”

“E quem disse que ela quer, Margarida?” Suspirou Alicia, vendo a amiga do outro lado da sala. “Ela até achava isso viável quando criança, e apesar de achar o judaísmo uma religião cheia de qualidades, não se vê nesse estilo de vida.”

“E o Davi não se vê fora dele.” Completou Paulo, negando com a cabeça.

“A ideia de viver em ‘pecado’ pelo resto da vida não parecia ruim, mas os pais dele disseram que ele não poderia quebrar o contrato. Os dois então pensaram que um netinho poderia sensibilizar o coração dos dois, e a Valéria engravidou. Mas as coisas só ficaram mais insanas. Era inaceitável o Davi ter uma filha bastarda, afinal esse é um dos principais motivos do casamento para eles. Então eles deram duas opções para o Davi: ou ele renegava e sequer registrava a Sara, ou então os pais dele pediriam a guarda dela e a criariam na comunidade judia, entregando ela para Davi depois que ele se casasse com a noiva.”

“Isso é no mínimo doentio.” Se horrorizou Margarida.

“Eles não poderiam tirar a menina dos dois.” Observou Jorge, irritado.

“Na verdade, sim. O Davi sempre trabalhou com o pai, sem registro, e quando a Valéria engravidou ela tinha acabado de finalizar a pós-graduação, não era empregada. Ia ser um casal bastante influente na cidade contra dois jovens sem emprego e sem posses. Pensa qual seria o resultado?” Alicia os observou calar, e sorriu compreensiva. Já havia tido aquela conversa com Carmen, Maria Joaquina e Marcelina, diversas outras vezes.

“E ele sequer registrou ela?”

“Nem registrou, nem acompanha a vida de perto. Ela nem sabe quem o Davi é! É difícil para a Valéria, mas por sorte ela tem a Maria Joaquina e o Cirilo, que são os padrinhos da Sara, para ajudar ela com a filha. Se não fosse por eles, aí sim, eu acho que a Val tinha ficado maluca.” Concluiu Alicia, angustiada.

“Eu só penso como o Davi está aguentando isso. Só de pensar em ficar longe do Lucas e da Isis, por qualquer motivo que seja, eu já fico desesperado.” Paulo fez a observação já se afastando, indo sentar ao lado do filho e o abraçando.

“E quem disse que ele não vive desesperado?” Pensou Jorge em voz alta, observando o judeu se aproximar da ex-namorada do outro lado do pátio.

Valéria sentiu o ex se aproximando, mas preferiu ignorar. Sara havia acabado de cair enquanto corria com Leo e Isis. Agora, a mãe e a madrinha tentavam acalmá-la, mostrando que não havia acontecido nada em seu joelho.

“Está tudo bem?” A voz grave perguntou às suas costas. Valéria cerrou os olhos, mas Sara fez um biquinho fofo e negou com a cabeça.

“Fez dodói.”

“Ela tropeçou a caiu, e agora o joelho está doendo. Mas não tem nenhum dodói, minha princesa, está vendo? Você acha que a dinda mentiria para você?” Maria Joaquina tentava apaziguar a situação.

“Mas dói, Majoca.”

“E se eu der um beijinho? Meus beijinhos são superpoderosos.” Ofereceu Davi, se ajoelhando em frente a mureta onde ela estava sentada. Sara concordou, estendendo a perninha, que ele beijou com carinho. “Melhor?”

“Muito. Obigada, tio...”

“Davi, pode me chamar de tio Davi.” Ele sorriu, vendo seu reflexo sorrir de volta.

“Que tal irmos encontrar seu padrinho, meu anjo?” Propôs Maria, vendo que a amiga parecia incapaz de falar algo. “Fala tchau e obrigada para o tio.”

Obigada, tio, tchau.” Ela deu um beijinho na bochecha dele, dando a mão para a madrinha e saindo saltitando. Valéria levantou em um pulo, seguida por Davi.

“Valéria.”

“Nem começa, Davi, por favor.” Pediu ela, já secando os olhos.

“Você sabe que eu odeio isso tanto quanto você.” Ele bufou, cansado. “Eu trouxe isso.”

“Quer mesmo o que eu diga o que você faz com esse cheque?”

“Valéria, é só o que eu posso fazer pela minha filha, apesar de querer fazer muito mais. Compre algo que ela quer, que ela precise. Um brinquedo, um vestido.”

“A Maria, o Cirilo e meus pais me ajudam a dar tudo o que ela quer e precisa, pode ficar com seu dinheiro. Ou melhor, do seu pai.” Ela se virou para ele irritada, mas para seu azar Maria Joaquina estava bem na direção do ex, lhe olhando brava. Valéria suspirou, apanhando o cheque. “Tudo bem, vai para a poupança dela. Assim quando ela crescer vai poder se cuidar sozinha, sem precisar da ajuda de ninguém.”

“Você sabe que eu queria que fosse diferente, Val.”

“Quem quer faz acontecer, Davi, não fica se lamentando ou esperando. Obrigada pelo dinheiro, fará minha filha muito feliz no futuro.” Ela passou por ele dando uma ombrada forte, que o fez cair sentado na mureta, suspirando.

Cirilo se aproximou, sentando ao seu lado e colocando a mão em seu ombro. Daniel fez o mesmo, sentando do lado oposto, como quando eram crianças. Os três ficaram em silêncio por um bom tempo, na única forma que sabiam de agir naquela situação.

“Tudo vai melhorar, cara, tenha fé.” Disse Daniel por fim, observando que a cerimônia iria começar.

“O problema todo é esse, Dani... Minha fé e do que ela me separa.” Suspirou o homem, se levantando e acompanhando os amigos para o local da cerimônia.


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Notas finais do capítulo

Olá a todos, tudo bem?
Desejando as boas vindas para ManuSRico, RoCarolinne, Um Pandacórnio Feliz e Sátia Garcia. Espero que continuem por aqui e que gostem!
Espero que gostem, e que opinem! Gosto de receber críticas, sugestões, opiniões...
Nos vemos no próximo capítulo ;*



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