20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700178/chapter/5

“Laura, Adriano! Não vi vocês chegando.” Carmen cumprimentou os amigos com entusiasmo, um pouco mais tranquila após ter passado a cerimônia em homenagem à diretora Olívia.

Agora sentia-se quase em paz com a memória de sua antiga patroa e diretora.

“Nós chegamos quando a cerimônia já tinha começado. Eu encontrei a Laura no metrô, mas já tinha visto a Bibi, ela conseguiu entrar no trem antes que o meu. Deve ter chegado um bocado antes.”

“Não muito, quando ela chegou a cerimônia já ia começar.” Carmen observou a amiga ruiva trocando confidências com Maria Joaquina. “Só fiquei triste que não vi a Helena e o René.”

“Ela enviou uma mensagem no grupo do whatsapp, disse que o filho mais novo não acordou passando bem, e eles acharam melhor ficar com ele. Febre, algo assim.” Explicou Laura, olhando o celular.

“Ai, que pena.” Suspirou a professora, vendo que os demais amigos se aproximavam. “Vocês acreditam que estamos todos reunidos de novo?”

“Quase todos, o Jaime e o Kokimoto não estão aqui.”

“É mesmo. O Koki ainda está preso no avião, mas e o Jaime?” Perguntou Mário, completando a esposa.

“Nosso caro amigo ex-gorducho está preso no trânsito da entrada da cidade, porque foi buscar os pais na casa de alguns parentes. Sabe como é quando os pais começam a ter problema de vista.” Paulo zoou, recebendo um beliscão de esposa e outro da irmã. “Tiraram o dia para me bater?”

“Você tirou o dia para agir como uma criança de nove anos, nada mais justo do que ser tratado como uma.” Respondeu Alicia, com um sorriso angelical no rosto.

“Papai criança.” Caçoou Lucas, sendo abraçado pela mãe quando o pai lhe encarou de forma irritada.

“Bom, para nosso encontro essa noite eles chegarão, certo?” Perguntou Daniel, carregando um Leonardo adormecido.

“Com certeza. Eu já vou com vocês, para ir ajudando a arrumar as coisas.” Lembrou Laura, e Adriano, Bibi e Davi concordaram.

“Bom, nós temos que passar dar um banho nos dois e trocar essas roupas de missa.” Avisou Alicia, indicando a filha mais nova que também ressonava em seu ombro. “Mas chegamos lá antes das 19h.”

“O mesmo para a gente.” Marcelina levantou a mão.

“Eu e a Margarida precisamos passar deixar as coisas em casa e tomar uma ducha, porque estamos direto do aeroporto.”

“Hum, vão morar juntos, é Jorginho?” Caçoou Mário, recebendo algumas risadas.

“Já morávamos lá em NY, porque não moraríamos aqui?”

“E vocês, vão direto com a gente?” Carmen virou para Valéria, Maria e Cirilo, que pareciam preocupados.

“A Sara está com um pouco de dor de estômago, meio enjoadinha. Eu vou levar ela para casa, dar um chá e ver se melhor.” Avisou a mãe preocupada, enquanto a menina era ninada pelo padrinho.

 “E nós vamos junto, obviamente. Se precisar movo um hospital pela minha princesa.” Maria Joaquina acariciou o rostinho choroso.

Paulo, Daniel e Mário viraram para Davi, vendo seu rosto transfigurado em dor e sofrimento. Como os únicos outros pais ali, imaginavam o que o amigo estava sofrendo em ver a filha naquele estado e, principalmente, não podendo sequer consolá-la.

“Qualquer coisa você liga para a gente, Val. O Lucas vive com o estômago ruim, eu tenho um remédio ótimo que o médico passou.” Avisou Alicia, se despedindo dos amigos. “Amor, vamos?”

“Claro. Vamos, moleque, dá tchau para todo mundo.” O homem apanhou o filho no chão, vendo-o acenar para todos enquanto a família deixava o recinto. “Eu me sinto péssimo pelo Davi.”

“Eu sei, a cara dele estava de partir o coração.” Alicia segurou a mão do marido, encarando os dois filhos nos braços de ambos. “Sorte a nossa por termos uma família ‘perfeitinha’.”

“Desde quando nos tornamos os perfeitinhos? Ai meu Deus, tem alguma coisa bem errada nisso.”

“Você me entendeu, Paulo. Apesar de todo o... Susto, que nós passamos, estamos juntos. Conseguimos vencer todos os obstáculos que a vida nos impôs, aprendemos a ser bons pais. Acho que era isso que a diretora Olívia quis dizer aquele dia, quando me encontrou no mercado. Que ela estava orgulhosa de mim, porque eu tinha me tornado uma mulher de família, uma boa mãe. Consegui ser boa em algo, sabe?”

“Alicia, não repita isso. Você seria ótima em qualquer coisa que quisesse ser, seja pilota, skatista, ou vendedora de carros. Você tem garra e perseverança, e por isso, contrariando tudo que todos imaginavam, até mesmo você, se tornou uma mãe excelente, dedicada, leoa.” Ela sorriu diante do elogio, vendo os olhinhos do filho a admirando.

“Você é a melhor mamãe do mundo, mamãe.” Garantiu o pequeno, a cabecinha deitada na curva do pescoço do pai.

Alicia se inclinou e depositou um beijo na testa do filho e outro nos lábios do marido, antes de voltar a segurar sua mão, a pequena família se dirigindo para o carro.

De volta à escola, todos terminavam de se despedir. Vendo a aflição de Davi, Cirilo se aproximou do amigo.

“Quer ir com a gente?”

“O quê?”

“É, nós vamos para o meu apartamento com o Majo, e tem umas coisas lá que eu preciso te entregar. Aí você aproveita e fica perto da Sara.” Davi sorriu agradecido para o amigo, concordando depressa. “Maria Joaquina, o Davi vai com a gente para casa. Ele tem que pegar aquelas coisas que eu trouxe para ele da França, sabe?”

“Sei, sei sim.” A estilista se apressou em responder, os olhos brilhando. Se tinha alguém que torcia e se esforçava para que Davi e Valéria voltassem a ficar juntos, era Maria Joaquina e Cirilo.

“Então a gente se vê mais tarde.” Se despediu Marcelina, saindo com Mário e Olívia. Logo Carmen e Daniel os seguiram, levando os demais amigos juntos. Jorge e Margarida já haviam ido na cola de Alicia e Paulo, então restou apenas os quatro amigos com Sara, que choramingava.

“Vamos embora? O motorista já chegou.” Avisou Maria, pegando a mão do namorado.

Já no carro, o silêncio se instaurou. Todos davam atenção para Sara, até Davi, mesmo que de forma mais moderada. Não demorou para Valéria perceber que se tratava de algo mais complexo, provavelmente com fundo emocional. Assim como ela, Sara era muito sensível, e não demorava muito para que a dor emocional se transformasse em mal físico.

Quando chegaram ao apartamento-duplex-cobertura de Maria Joaquina e Cirilo, o casal acomodou os amigos na sala. Com a desculpa de que as “encomendas” de Davi estavam no closet, e que era preciso a ajuda da dona da casa para achar tudo, deixaram o ex-casal e a filha na sala.

“Tá dendo, mamãe.” Resmungou Sara, manhosa no colo de Valéria.

“Eu sei, meu anjo. Mas você quer contar para a mamãe o que aconteceu?”

Num conteceu nada.”

“Sara Ferreira, eu te conheço muito bem. Essa dor de barriga não surgiu do nada, porque você estava muito bem. O que fizeram para você?” Questionou a mãe, afagando os cachinhos da filha sob o olhar atento de Davi. “Sara?”

“Um minino falou que ninguém me quê.” Choramingou a pequena, recebendo olhares surpresos dos pais. “Poque o meu papai não quis eu.”

“E quem é esse menino, você conhece ele?” Valéria perguntou, com a voz engasgada.

Num conheço, mamãe, ele é gandão. Maior que o Lucas. Ele disse que nem você queia eu.” Os olhinhos brilhavam em lágrimas.

“Então me escute bem, Sara Ferreira, porque eu só vou dizer isso uma vez: você foi a coisa mais amada, sonhada e desejada, por mim e pelo seu pai. Desde sempre, sempre, sempre, nós quisemos ter uma filhinha que nem você. E quando você veio... Você era melhor que todos os nossos sonhos!” A mãe se engasgou ao declarar tudo aquilo, bastante emocionada. Davi desviou o olhar, tentando secar os olhos.

“E poque o papai foi bora?

“Lembra que eu expliquei que ele tinha coisas muito importantes para resolver bem longe daqui? Então, um dia ele vai voltar, princesa. Talvez demore um pouquinho, mas eu tenho muita fé que, se pedirmos para o Papai do Céu, logo o papai volta.” A mulher sorriu, secando as lágrimas do rostinho delicado. “Agora dá um abração na mamãe, e me promete que você não vai mais dar bola para essas besteiras que falam.”

“Te amo, mamãe.” Sara abraçou a mãe com força, um sorriso brilhando em seu rosto.

“Eu também te amo, minha vida, muito, muito, muito mesmo.” Valéria observou Davi por cima do ombro da menina, vendo um pedido mudo de desculpas em seus olhos. Ela se afastou de Sara, a olhando com carinho. “Ainda tá doendo a barriguinha?”

“Não, não, mamãe, já passou. Assim, apidinho.”

“Ufa, achei que íamos ter que ficar em casa.” Elas ouviram Maria Joaquina e Cirilo descendo as escadas, várias sacolas nas mãos.

“Tem não, Majoca, tem não!” Sara saltitou até os braços da madrinha, que plantou um beijo em sua bochecha.

“Nunca achei que ia ouvir você sendo chamada de Majoca.” Comentou Davi, pigarreando para a voz voltar ao normal.

“O que minha bonequinha não me pede sorrindo que eu não faço com um sorriso maior ainda?”

“Maria, eu acho que vou trocar nossa roupa aqui. Essa roupa tá muito formal para um churrasco.” Valéria levantou e passou por Davi sem encará-lo, logo sumindo com a amiga para o segundo andar.

Davi encarou Cirilo e as sacolas por um bom tempo, esperando que ele fizesse algo.

“Essas sacolas não são para mim?”

“Ah, não, estão cheias de papel, era só para disfarçar.” O homem deu de ombros. “A verdade é que eu esqueci as coisas que você me pediu no hotel, e esqueci de te avisar. Aí a gente quis deixar vocês sozinhos e providenciamos isso.”

“Cara, to me sentindo um lixo.”

“O que foi, Davi? A Val te disse alguma coisa?” Ele sentou ao lado do amigo, colocando a mão em seu ombro.

“Minha filha tava passando mal porque alguma criança idiota disse que ela não é amada, porque o pai a abandonou. E esse pai sou eu, Cirilo. Minha filha sofre porque eu sou um covarde e a abandonei.”

“Mas você não tinha escolha, Davi. Era isso ou deixar seus pais tirarem a Sara de vocês!”

“Eu tinha uma escolha, Cirilo, só não quis fazê-la.”

“E você acha que se abrisse mão do judaísmo, seus pais te deixariam em paz? Não, cara, aí sim eles iriam pirar de vez. E mais, você ia sofrer. Todo mundo sabe o quão apegado você é as tradições, isso é sua vida!”

“Não, Cirilo, a Valéria e a Sara são a minha vida, a coisa mais importante do mundo para mim. E tem isso um tormento não poder ficar perto delas nesses últimos anos.” Davi virou para o amigo, os olhos cheios de água. “Eu preciso lutar por elas, cara... Custe o que custar.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, queridos e queridas!
Desejando as boas vindas para Paulo Amorim e Just a Girl! Espero que gostem de ficar por aqui.
Mais um capítulo com um pouco de Davi e Valéria. No próximo, mais conflito Paulicia, e então vamos começar a explorar um pouco mais a história de Cirilo e MJ. Mais algum casal que queiram que seja mais explorado em breve? Opinem.
Abraços!
WPKiria



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "20 anos depois - A salvação da Escola Mundial" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.