— Oi. – Kate fala comigo assim que entro no quarto, abrindo seu sorriso mais lindo para me receber.

Ela estava bem confortável na minha casa, recostada em um amontoado de travesseiros lendo um livro. Eu poderia falar no quanto ela está sexy com esses óculos no rosto e seus cabelos preso num coque alto. Usando uma das minhas camisas do Star Wars, deixando suas pernas a mostra e mexendo com minha imaginação. Essa mulher sabe como mexer comigo.

Agora era assim, ela usava minhas roupas como se fossem suas, e anda pela casa como se fosse a sua própria casa. Quantas vezes eu saí de casa e quando voltei ela estava no quarto da Alexis conservando sobre o novo namoradinho dela. Eu poderia sentir ciúmes por ela estar falando sobre esse assunto com minha filha, eu poderia sentir raiva por ela subir as escadas mesmo eu implorando para que ela não faça isso, eu poderia sentir várias coisas, mas a única coisa que eu senti foi amor. Era por elas que eu sempre voltava para casa, era por elas que eu acordava todos os dias.

Já era tarde e eu sei que ela estava me esperando chegar, lendo o livro para o tempo passar. Kate havia decidido reler todos os meus livros. Isso tudo era resultado de muito tempo livre e sem nada para fazer. Eu ainda não deixava ela fazer muita coisa, então só restavam os livros para entretê-la. O que não era um grande sacrifício, Kate era uma das minhas maiores fãs, se não a maior.

Me aproximo dela devagar e me inclino para beija-la, cumprimentando a única pessoa que me fez sorrir nas ultimas seis horas. Ela me companha com o olhar e retribui meu beijo com carinho.

— Você está bem? – ela pergunta analisando meu rosto, que tinha um sorriso fraco plantado, enquanto me sento ao seu lado na cama.

— Estou. – minto. – o que você está lendo?

Antes dela responder eu pego o livro em suas mãos. Ignoro a maneira desconfiada como ela me olha e continuo mudando de assunto. Não queria falar sobre o que me aconteceu agora.

— Boa escolha. – digo lhe devolvendo o “Flowers For Your Grave” que ela estava lendo.

— O autor é bom. – ela dá os ombros como não quer nada.

— Apenas bom?

— Não, ele é muito, muito, muito bom. – ela diz enquanto envolve meu pescoço com seus braços. – Além de muito gostoso.

Kate sorrir com a língua presa entre os dentes, e isso me faz sorrir mais. Esse era o sorriso mais lindo, inocente e ao mesmo tempo safado que ela tinha. Nossos rostos perto o bastante para sentir a respiração um do outro.

— Nossa, assim vou ficar com ciúmes. – passo minhas mãos em sua cintura.

— É bom mesmo, porque eu sou apaixonada por ele a muito tempo. Muuuito tempo mesmo.

— Muuuito tempo? – imito a maneira exagerada dela.

— É, muito tempo. Desde que ele lançou esse livro. – ela balança o livro em uma de suas mãos e depois volta a me abraçar, me puxando para mais perto dela. – ele entrou no meu coração com esse livro, cada palavra escrita fez com que eu me apaixonasse ainda mais por ele. Mas mais que isso, ela me ajudou com esse livro. Me ajudou no momento em que eu mais precisei.

— Nossa, ele é bom mesmo. – Kate está séria, eu tento quebrar o clima que se formou desde que ela começou a falar de mim, mas não adianta.

— Sim, ele é. Pena que não confia em mim.

— Eu confio em você meu amor. – digo acariciando seu rosto.

— Então me conta o que houve. – ela pede, olhando tão fundo nos meus olhos como se pudesse ver minha alma. – Eu conheço você, Rick. Eu sei que aconteceu alguma coisa só de te olhar, então fala comigo.

Ela estava certa. Tinha acontecido algo e eu não queria contar. Kate me conhece melhor do que eu mesmo, tenho que admitir. Mas mesmo assim eu não quero falar sobre isso agora.

— Eu vou tomar um banho. Já volto. – levanto e a beijo. Saio em direção ao banheiro deixando uma Kate confusa e, com certeza, com raiva.

Foi o melhor banho que já tomei na vida. Devo ter demorado mais de trinta minutos, mas valeu cada segundo. A cada gota de água quente que caia sobre meu corpo era como se levasse junto um pedaço dos problemas que carrego nas costas. Eu estava me sentindo mais leve, com mais forças de falar sobre o que me aconteceu hoje com a Kate. Eu não tinha saída, eu teria que falar com ela de um jeito ou de outro. Não adiantava mais tentar adiar nada.

Quando eu saio do banheiro a encontro andando de um lado para o outro com uma mão na boca e a outra na cintura. Sorrio e me encosto na parede e fico observando-a.

— Você fica linda nervosa assim. – ela me olha e anda em minha direção com os olhos estreitos pronta para a briga.

Eu cruzo meus braços em meu peito e a encaro com os olhos estreitos, tentando mudar o rumo de uma conversa tensa.

— Não me olha assim. – ela diz nervosa.

— Assim como?

— Assim... charmoso demais. – eu rio da maneira como ela fala. – você pode ir vestir uma roupa? Ficar olhando você só de toalha aqui não vai ajudar muito.

— Achei que você me achasse gostoso. – me aproximo lentamente dela.

A cada passo que eu dou em sua direção, ela dá um passo para trás. Mas não há mais espaço, ela esbarra na cama, mas antes que caia, eu a seguro em meus braços.

— Você está molhado, Castle.

— E daí?

— Está me deixando molhada também.

— Eu gosto assim. – sussurro. Ela para de tentar se soltar de mim e me olha séria por dois segundos até nós dois cairmos na gargalhada.

— Nossa, para um escritor você é péssimo com cantadas.

— Eu perdi a prática, você não é muito de cair em cantadas.

— Não, não sou. – ela rir e me beija. – mas você nunca precisou de cantadas para me conquistar.

— É verdade. Eu te conquistei com minhas habilidades de resolver os casos.

— Não, você me conquistou com seus cafés maravilhosos. – ela pisca e tenta escapar de meus braços, mas eu a seguro firme. – Castle, vai vestir uma roupa. A gente precisa conversar.

— Prefiro fazer outra coisa. – começo a mordiscar sua orelha e sinto ela se arrepiar em meus braços. Ela também preferia isso, mas ela está decidida. Nós iriamos conversar.

Kate se desfaz de meus braços e me encara com seus grandes olhos verdes.

— Eu vou trocar de roupa, já venho. – passo por ela e roubo um beijo, fazendo ela dar uma risada.

Quando volto para o quarto ela está sentada na cama apenas me esperando. Ela deveria vestir outra roupa, porque essa camiseta deixando suas pernas a mostra não me ajuda muito.

Seus olhos logo encontram os meus e eu sinto coragem para falar. Não é algo assustador e nem definitivo, mas pode ser um empecilho para nós. Ando até ela e sento a sua frente, olhando diretamente em seus olhos.

— Eu fui expulso da delegacia. – sou direto.

Kate arregala os olhos e abre a boca como se quisesse dizer algo, mas não sai nada.

— Você... como assim, Castle? – ela senta mais perto de mim. – O que você foi fazer lá? Como você pode ter sido expulso? Você não está investigando nada então... – ela para e me encara, sei no que está pensando.

Eram tantas perguntas e eu não conseguia responder nem a primeira. Eu não sei como falar que eu estava investigando sobre o primeiro atentado dela, sobre o sequestro e muito menos sobre a pessoa que a trouxe de volta para casa.

— Amor, calma. Eu vou te explicar tudo.

— Então explica. – ela levanta abruptamente. – Porque eu só posso pensar uma coisa nesse momento.

— Kate não precisa se alterar, ok? Não foi nada demais, a nova capitã só disse que não me queria por lá. E não faz sentindo se você não estiver lá, então tudo bem.

— E porque você não queria me contar?

— Porque eu não queria te preocupar. Só isso.

— Castle eu só vou perguntar uma vez e por favor, não minta para mim. – ela fecha os olhos e respira fundo. – o que você foi fazer na delegacia?

— Encontrar os meninos.

— Castle! – ela fala um pouco alto e abre os olhos me encarando.

Aquele mesmo olhar decidido de quando ela encara um suspeito com muita raiva. Eu conheço esse olhar. Eu já presenciei ele várias vezes. Mas nunca, nenhum deles foi direcionado para mim. Essa foi a primeira vez.

— Eu fui saber como anda as coisas com o seu caso.

— Então você não está investigando o meu caso?

Não falo nada. Eu não sou capaz de mentir, e se mentisse ela jamais me perdoaria. Eu também não sei como dizer que sim, eu estava investigando o seu caso enquanto você ficava em casa de repouso depois de prometermos que faríamos isso juntos. Então deixei que o silencio falasse por mim.

— MERDA! – ela grita. Se tivesse algo ali naquele momento ela teria batido nele, mas como não tinha, sua única ação foi jogar os braços para cima e andar pelo quarto. – o que você tem na cabeça?

— Kate eu estava tentando entender tudo antes de contar tudo a você.

— Ah, então você iria me contar? – seu tom sarcástico debocha de mim. – você não ia bancar o herói sozinho para salvar a donzela?

— Claro que eu ia te contar, Kate.

— Quando tudo tivesse resolvido?

— Não, Kate. Mas que droga! – levanto e ando em sua direção. – eu só queria te proteger, ok? Eu queria te deixar de fora disso até achar o desgraçado que tentou tirar você de mim duas vezes.

— Eu não preciso da sua proteção, ok? Eu sei me cuidar sozinha.

— MAS EU VOU TE PROTEGER MESMO ASSIM. – falo alto para ela entender de uma vez por todas que não importa o que ela diga, não importa o que ela faça, não importa nada, eu vou proteger ela para sempre.

Ela me encara. Seus olhos arregalados e brilhantes. Posso apostar que sejam lágrimas se formando ali, e eu não aguento vê-la chorar.

— Eu vou te proteger Kate porque eu te amo. – digo com a voz calma. – E não há nada no mundo que me faça bem como você me faz. Eu vou te proteger porque eu já experimentei como é te perder e eu não consigo. Eu vou te proteger com minha vida se for preciso, mas eu não quero passar pelo o que já passei de novo. E não importa o quanto eu diga isso, eu sei que você vai continuar achando que não é uma donzela que precisa ser salva ou de proteção, mas para mim, você vai sempre estar mais protegida em meus braços, com meus cuidados. Então não me pede para parar com isso porque eu simplesmente não consigo. Eu te amo demais para não me importar com você.

Ela me olha fixamente, com seus olhos agora cheios de lágrimas prontas para caírem.

— Porque você não me contou, Castle? Porque você não veio até mim e disse que estava investigando isso? Você sabe o que isso significa para mim.

— Porque você iria querer se envolver e eu não posso deixar. Não agora que você está se recuperando.

— Então porque você não esperou? Nós combinamos isso. Juntos, você lembra disso? Juntos.

— Eu lembro. Eu só queria saber o que estávamos enfrentando antes de te envolver nisso. – ela solta uma risada fraca.

— Eu já estou envolvida. Eu sou a mais envolvida nessa história.

— Kate você me entenderia se passasse pelo o que eu passei. Eu quase te perdi, você tem noção disso? – ela me analisa alguns segundos.

Sua feição muda e ela deixa a barreira que sempre está entre nós cair de vez. As lagrimas agora caiam livre pelo seu rosto. Kate tenta esconde-las, mas não adianta, eu já sei que elas estão ali. Vou até ela e a abraço, deixando que ela chore à vontade, mas nos meus braços.

Não importa o quanto ela chorasse, ela nunca pareceria fraca para mim. Pelo contrário, Kate é a mulher mais forte que eu conheço. Eu sei o quanto esse caso mexe com ela, e sei que todas as vezes que falamos sobre ele ela se deixa desmoronar, mas não é por isso que eu pensaria ao contrário disso. Apesar disso, ou por causa disso, ela ainda é a mulher mais forte do mundo aos meus olhos.

— Não, eu não tenho noção. – ela diz com a voz meio embargada. Se solta de meus braços apenas o suficiente para me olhar. – Eu não gosto nem de pensar em passar por isso porque eu não suportaria, Castle. Mas eu também não investigaria nada sem você porque eu sei que sou boa sozinha, mas eu também sei que eu sou muito melhor com você.

Meu coração quase para quando escuto as palavras dela. Kate estava certa, como sempre. Nós somos ótimos juntos, e eu sei disso. Mas quando se trata de nós dois juntos, ela sempre vai me proteger, é dever dela como policial. E eu, como namorado dela, só queria protege-la, e pelo menos uma vez não deixa-la na linha de frente novamente.

Não falo nada, e o silencio entre nós é quebrado pelo toque do celular dela. Kate hesita em atender, mas mesmo assim o faz.

— Beckett. – ela atende formal. Sua voz dura como se estivesse a trabalho. Quem quer que seja do outro lado da linha jamais imaginaria que há poucos segundos ela estava chorando e frágil em meus braços.

Fico analisando toda e qualquer mínima expressão em seu rosto. Não sei bem descrever, mas ela está ficando pálida aos poucos e seus olhos se abem lentamente a cada segundo que se passa. Alguma coisa aconteceu! Ela não fala nada, continua calada desde que atendeu, escutando apenas a pessoa do outro lado da linha. Meu corpo gela e minha mente viaja em mil possibilidades do que possa ser. Não quero mais nada nos atrapalhando, já chega de obstáculos no caminho para enfim encontrarmos o “Felizes Para Sempre” que tanto vemos nos filmes.

Quando finalmente o celular cai de suas mãos ela me encara, abre a boca para falar, mas, mais uma vez, não sai nada. Assim como eu, ela também está gelada, e posso jurar que está tremendo.

— Quem era? – ela não me responde, apenas me encara. – Kate, você está me assustando. Quem era?

— Eu.. eu não sei. – ela pisca algumas vezes e respira fundo, tentando se recompor. -  era o homem que me trouxe de volta. É a pessoa que está com os papeis do caso da minha mãe.