Batgirl - Sombras na Escuridão escrita por CaptainPhasma


Capítulo 4
A noite Cai


Notas iniciais do capítulo

Enfim Batgirl aparece.



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O busto de um centurião romano fazia a vigília, cuidava quem entrava ou saia do prédio. Na parede, O Centurião estava escrito em letras garrafais, a luz refletia um brilho fosco no aço escovado. Chloë admirava o letreiro pensando no que o nome significaria. Várias respostas surgiram nesse meio tempo vago. Algumas absurdas, outras nem tanto. A mais sensata das ideias apontava para que o nome tivesse surgido em alusão ao fato de um centurião na Roma antiga ser o líder de uma legião. Imporia a lembrança de liderança e coragem. Guerreiros com suas espadas, jornalistas com suas palavras. Ou talvez o fundador tivesse lido em algum lugar e gostado do nome.

— Chloë, queria falar comigo? – Um homem alto e careca aproximou-se dela.

— Sim, Sr. Sherwood. É a respeito do evento de inauguração do lar para crianças. É hoje à noite e eu queria cobri-lo.

Lorenzo Sherwood era o editor-chefe do O Centurião. Vestia um paletó escuro por cima de uma camisa cinza e sapatos marrons lustrosos. O homem era uma lenda na área, conhecido e admirado por todos que o conhecem. Um conhecido Workahollic que trabalha no jornal desde antes de Chloë pensar em nascer.

— Não é um pedido muito em cima da hora? E porque esse interesse repentino no evento?

— Lester Cumming vai estar lá e eu sou muito fã de seu trabalho. Eu adoraria entrevista-lo.

— Bem, eu já passei o evento para a Clary cobrir. Entretanto, se quiser tanto assim, talvez eu possa lhe dar autorização, para quem sabe, uma matéria apenas sobre o Sr. Cumming.

— Eu adoraria.

— Então, peça para o Joseph para ele conseguir as credenciais para você. Eu quero no mínimo duas páginas sobre Lester Cumming. Onde ele nasceu, como passou sua infância, a vida nos estudos e como conseguiu chegar no patamar atual. Vai entrar na edição online e servirá de complemento para o texto da Clary. Era só isso?

— Apenas isso. Muito obrigado.

...

O Silk Hall era um complexo gigantesco para os padrões da cidade. Usado para shows, peças, eventos esportivos e reuniões de figurantes extravagantes. O sol recém baixava no horizonte, mas as pessoas já começavam a chegar. As maiores celebridades da região estavam agrupadas naquele recinto. Seus ternos impecáveis, seus vestidos mais finos e as joias mais brilhantes faziam a alegria dos fotógrafos. Alguns agregados vinham atrás, com nem tanto alarde apareciam desfocados em uma outra foto ao fundo. Os carros grandes e luxuosos vinham desfilando, subindo um pequeno aclive até a entrada principal onde eram recebidos pelos guardadores de carros e por um tapete vermelho extenso. Aquilo tudo era meio cafona para Chloë. É sério isso? Hollywood?

O salão principal era todo branco. Janelas, portas, paredes. Tudo extremamente branco. O evento já começava. Chloë avistou Lester Cumming ao lado do prefeito que fazia um discurso de apresentação. Ela não ouviu sequer uma palavra que o prefeito falara, sua atenção estava voltada apenas para Lester. Ele um homem corpulento e jovem, uma cópia perfeita de seu pai. Chloë fizera uma breve pesquisa a tarde. Descobrira que Lester herdara a companhia de seu pai, Marius Cumming, um famoso empresário da região e fundador da SilkCO. Ao que parecia, um pouco da popularidade do pai havia passado para o filho. Lester foi apresentado abaixo de uma salva de palmas. Fez um discurso animado de pouco mais de dez minutos e se retirou enquanto um painel enorme ao fundo mostrava imagens da campanha do lar.

Chloë o alcançou alguns passos antes dele entrar em uma porta na lateral do palco.

— Sr. Cumming, é um prazer conhecê-lo. Sou Chloë Burnier do O Centurião. Poderia me conceder algumas palavras?

Os seguranças fizeram uma parede bloqueando o filantropo, mas um aceno de mão fez os corpos moverem-se criando uma brecha.

— Se não for ocupar muito de meu tempo, tudo bem. Você disse que era do O Centurião? É o jornal do Sherwood, não?

— Sim. Estamos fazendo uma reportagem sobre o senhor que será vinculada juntamente com o evento. Por que ajudar as crianças?

— Claro. O lar para crianças em vulnerabilidade sempre foi um sonho meu. Sabe, meu pai me contava histórias sobre sua infância dividindo uma cama entre oito irmãos e ainda sim existiam crianças que matariam para trocar de lugar com ele e ter uma cama para dividir. Acho que foi o melhor presente que ele me deu. Uma infância melhor que a dele e só quero compartilhar isso com outras crianças.

— É uma empreitada muito virtuosa.

— Obrigado. Eu espero que nenhuma criança passe pelo que meu pai passou.

— E o que o senhor tem a dizer sobre sete funcionários de empresas ligadas a SilkCO que foram encontrados mortos nas últimas semanas com supostos envolvimentos em crimes contra crianças?

— Não sei do que está falando. Mas, com certeza isso é uma lamentável coincidência senhorita Burnier.

— E, por acaso, o lar para crianças vulneráveis seria uma lamentável coincidência também? Levando em conta os casos de violência contra crianças pelos seus colaboradores.

— Acredito que seja para evitar que crimes hediondos como os que citastes sejam cometidos que criei essa instituição. A entrevista está encerrada.

— E as circunstâncias estranhas que os homens foram achados?

— Veja bem, senhorita Burnier. Você vem aqui, pedi algumas palavras minhas, que posso dizer, nem todos teriam acesso e lhe dou de bom grado. E, você começa a me perguntar sobre histórias fantasiosas sobre crimes os quais não tenho nenhuma ligação, a não ser a infeliz coincidência de que alguns homens trabalhavam em companhias ligadas a minha, o que seria muito provável, pois sou dono de grande parte da cidade. Escute bem, que tal em vez de criar boatos sobre mim para vender mais exemplares não vá escrever uma história de verdade. Boatos costumam acabar mal para que os inventa, não pensei que Sherwood ia se rebaixar a tanto.

— Sr. Cumming...

— Boa noite, Srta Burnier. – E a parede de seguranças se fechou a sua frente como o mar vermelho impedindo os egípcios de chegar aos judeus fugidos.

Chloë seguiu para o lado contrário em direção ao bar do evento. Voltava em sua mente o momento da entrevista. Ele ficara estranhamente alterado quando perguntei sobre os funcionários. Ela ficou sentada no bar, entre alguns drinques e conversas com quem sentava perto. Pensava em pescar alguma informação relevante de alguém no evento. No final, o saldo não fora positivo e ainda tinha uma reportagem de duas páginas para escrever. Começava a pensar que talvez o evento tivesse sido uma perda de tempo.

— Como eu consigo um táxi? – Perguntou ao garçom.

— Aqui na frente vai ser difícil, vai demorar um pouco. Se quiser chegar em casa mais rápido pode descer pela 34 até o final da outra quadra. Tem um ponto de táxi lá.

A Rua 34 era perto do Silk Hall, uma quadra apenas. Olhou para onde os táxis embarcavam na frente do evento. Uma fila de mais ou menos dez pessoas esperavam sua vez. Optou por ir até o outro ponto. Aquele bairro era seguro, as ruas iluminadas e bem movimentadas.

Chloë caminhava em direção ao ponto de taxi. A noite estava fria e o vento gelado, cortava a pele. Ainda bem que me lembrei de trazer um casaco. O ponto não era muito longe, cerca de duas quadras do bar. As ruas não estavam vazias, encontrava pessoas, geralmente casais abraços pelo frio voltando de algum jantar ou coisa parecida. O clima frio favorecia ações desse tipo. Dobrou a esquina na Rua 34, seguindo para baixo na Rua 32. Aquela era uma conhecida rua de lojas de roupas da cidade, algumas das grandes grifes tinham showrooms, mostrando seus últimos lançamentos para o grande público da redondeza. Chloë acompanhava, enquanto caminhava, as vitrines diversas pelo caminho. Um vestido chamou sua atenção, era um verde-floresta de alça com a cintura alta. Aquela peça de roupa era um sonho a ser consumido. Algo forjado pela própria Afrodite e abençoado pelas lágrimas das ninfas. Era como se visse seu reflexo encaixado no lugar do manequim, como uma típica cena clichê de uma comédia romântica qualquer. Mas, a etiqueta a assustou, despedaçando seus sonhos e perspectivas, jogando sua dignidade no mais fundo poço da tristeza, em uma comparação exagerada e sincera. Nem sabia que poderiam existir tantos zeros assim. Entretanto, se fosse apenas o preço que a assustara, estaria aliviada. O reflexo mostrava mais do que sua própria imagem. Pelo canto do olho, visualizou o mesmo homem do bar. Ele fingia, ou talvez não, falar ao celular. Talvez estivesse ligando para um comparsa. Ou poderia ser apenas uma ligação normal e o fato de estar ali fosse mais uma peça que a vida prega. Mil e uma possibilidade e finais (bons e ruins) passavam como flashes na mente de Chloë. Começou a caminhar, inicialmente lento, mas aos poucos apertava o passo, aumentando a velocidade. Olhou para trás, mas o homem havia desaparecido. Continuou em direção ao ponto de taxi. Fique calma. Fique calma. Dizia para si mesma, repetindo como um tipo de mantra. Atravessou a rua, o veículo já à vista na outra esquina. Agora corria, os pequenos saltos de seu calçado faziam barulho ao tocar no chão duro de pedra da calçada. Toc Toc Toc. Falta alguns metros. A silhueta do veículo a sua frente. Podia sentir o cheiro da gasolina, sentir o couro do assento em sua pele, ouvir o barulho do motor em exercício. Então, foi deslocada de sua trajetória. Puxada abruptamente para o lado, jogada contra uma parede de qualquer jeito. Suas costas doíam, tinha pequenas dificuldades em respirar. Estava agora em um beco lateral, poucos metros do ponto de táxi. O mesmo homem do bar estava a sua frente, fechando a saída para a rua com seu robusto corpo. Brincava com uma faca, passando seus dedos pelo lado sem fio da lâmina. Aproximava-se a passos muito lentos, parecia brincar com ela. Chloë se arrastou pelo chão, levantando-se e em seguida correndo para o outro lado do beco. Seu rosto bateu de frente com uma massa firme. Seu corpo cambaleou alguns passos para trás. Um segundo homem trancava seu caminho pelo outro lado. Ele sorria maliciosamente.

Estava acabado. Morreria ali naquele beco imundo e fedido. Seu corpo atirado nos lixões, ou partido em pedaços e espalhado por toda a cidade. Talvez a polícia a achasse um dia e ironicamente seria a notícia da vez estampada entre as páginas do O Centurião.

Bam!

O barulho veio forte e rápido como um tiro. O homem do bar gritava de dor. A faca jogada no chão banhava-se em um possa de sangue em companhia de três dedos. Na parede, uma pequena chapa de metal estava encrustada. O metal dourado brilhava na parca luz daquele beco. Um morcego. O segundo homem puxou uma arma, apontando-a para cima. Estava assustado e remexia-se procurando algo para atirar. Atirou uma, duas, três vezes para o céu. Ela caiu majestosamente, como se a gravidade não tivesse efeito nela, ficando às costas do homem. Ele virou com a arma em punho. O cano assoviou e soprou fumaça. A mulher desviou no último segundo. Pegou o braço dele, trazendo para o lado contrário do movimento normal. Com a outra mão, deu um tapa na altura do cotovelo. O membro do homem fez um movimento bizarro, ficando em um ângulo anormal. Ele urrava de dor, segurando seu braço que agora apontava para fora. O segundo homem irrompeu contra a mulher jogando socos no ar, sem se preocupar com o sangue que jorrava de seus cotocos. Ela movimentava-se graciosamente, dançando ao som do vento que saia a cada golpe desviado. Diversos socos no estomago do agressor o fizeram perder o ar. Seu corpo automaticamente reagiu curvando-se para dentro. Chloë assistia a tudo acuada no canto enquanto a mulher acertava um gancho certeiro no queixo do homem e logo em seguida já saltava com as mãos cruzadas em mais um golpe mortal na nuca. Ela usava um tipo de roupa como gomos que se assemelhava a uma armadura. Sua cor era o preto da noite e os detalhes eram dourados como um grande morcego decorando seu peito. Seu rosto escondia-se por debaixo de uma máscara, apenas os fios vermelhos como o fogo desfilavam fora de proteção caindo pela parte de trás. O corpo do homem caiu como um peso morto no chão. O segundo homem ainda estava agarrado ao braço molenga. A mascarada chegou perto, estava calma. Colocou as mãos com delicadeza na cabeça do homem e girou seu pescoço com força.

Chloë partiu para fora do beco antes do corpo sem vida cair ao chão. Sem olhar para trás, jogou-se no táxi. A respiração ofegante era vista na dificuldade nas palavras que saiam intercaladas. Palavra. Respiração. Palavra. Respiração.

— Avenida Salvation, 44. Rápido por favor. – Conseguiu dizer por fim.

O veículo cruzava a cidade em velocidade. Chloë apreensiva no banco de trás olhava as janelas. Direita, esquerda, trás e frente, diversas vezes. Podia imaginar a mulher pulando a qualquer momento no automóvel. Ela quebrava as janelas, puxava-a para fora e fazia sabe-se lá o que com ela. Fique calma, não vá ter um ataque aqui. Estamos quase chegando. Finalmente, a corrida chegou ao fim. Foram minutos intermináveis de tensão. Pagou nem se preocupando com o troco e correu para dentro de seu apartamento. Não pegou elevador, subiu as escadas correndo até o quarto andar. Parou em frente a sua porta, as chaves pulavam nas mãos que tremiam. Abriu a porta e se jogou para dentro sem nem se preocupar em ligar ou não a luz. Respirou fundo, recuperando o fôlego. Queria ficar naquele escuro por um tempo. A falta de luminosidade lhe concedia uma falsa segurança. Talvez pensasse que estivesse camuflada e ninguém a poderia encontrar no breu.

            - Por que aqueles homens a estavam seguindo? – A voz surgiu do nada, em meio ao invisível. A silhueta estava sentada no pé da janela, o único espaço por um a luz da lua transpassava para dentro do imóvel. Os pelos do corpo de Chloë se eriçaram e um arrepio subiu desde o seu dedão do pé, passando por toda a extensão da espinha até o mais comprido fio de cabelo de seu couro cabeludo.

Seria seu fim?


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