Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 2
A garota nova




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 PDV Selene

Sento-me na cadeira do canto, dando uma leve ajeitada na minha roupa, rindo comigo mesma ao ver os olhares não tão discretos dos garotos para o meu decote.

A professora entra logo em seguida, acompanhada por uma garota que a segue como uma sombra. A menina não é especialmente alta, e tem um corpo de formas arredondadas, embora seja magra. Ela usa um suéter bordô largo de gola alta, calças de moletom preto e tênis All Star da mesma cor.

Seus cabelos são longos e finos, cor de mel, mas estão presos em um rabo de cavalo bagunçado, obviamente feito às pressas sem a menor preocupação, o que não valoriza os traços delicados que noto em seu rosto, nem seus olhos, de um tom de âmbar incomum que nunca vi em mais ninguém. 

— Turma, essa é Katerina Sommers, nossa nova aluna. — A Srta. Honey diz. — Bem vinda, querida, e pode se sentar ali, do lado da Sel.

Emma Honey, apesar do sobrenome ridículo, é minha professora favorita. Ela leciona Literatura, e é a única entre os professores que me chama pelo meu apelido.

Katerina senta-se ao meu lado em silêncio, depositando delicadamente a mochila sobre a classe e me dirigindo um sorriso ao perceber que a observo.

 Oi. — Ela diz baixinho.

— Oi, novata. — Respondo. — Anel maneiro.

Ela ergue a mão direita e a balança levemente no ar, exibindo o belo anel de citrino em seu dedo anelar.

— Obrigada. — Seu tom é formal. — É uma relíquia de família.

Depois disso a aula começa e somos obrigadas a parar de conversar. A manhã segue, e quase todas as minhas aulas são com aquela garota. Logo percebo que, apesar de seu jeito quieto e formal, Katerina é inteligente. Muito inteligente. Talvez mais do que qualquer outro de nossa escola.

Antes mesmo do almoço, porém, decido que não gosto daquele seu jeito. É como se ela soubesse um segredo, algo que ninguém mais sabe. Aqueles olhos escuros olham rosto por rosto detidamente, com uma arrogância velada. Quando soa o sinal do almoço, vejo com surpresa que ela se aproxima de minha classe.

— O que foi? — Pergunto, me ocupando com minha mochila.

— Eu queria saber se você gostaria de almoçar comigo. — Seu tom agora é diferente do que ela usou a manhã inteira, de uma doçura quase hesitante. Tenho que admitir, ela é boa atriz. — É que não conheço mais ninguém na escola e ...

— E de quem é a culpa, hã? — Rebato ao me pôr de pé. — Já tenho companhia, novata. Vai ter que se virar sozinha.

Grace, minha melhor amiga desde o primário, já está me esperando na parte mais alta das arquibancadas junto ao campo de futebol. Alguns atletas estão aproveitando o tempo livre para treinar, como sempre, mas fora isso o lugar é vazio.

Nos sentamos juntas e dividimos nosso almoço habitual: hambúrguer, refrigerante e fritas. Pois é, os pais de minha amiga são donos de um restaurante fast-food.

— Viu a garota nova? — Comento, entre uma mordida e outra no meu cheeseburguer. — Uma baita esquisita.

Grace concorda com a cabeça, seus lábios se erguendo num sorrisinho de pura malícia.

— Esquisita é pouco, Sel. — Ela diz. — Ouvi dizer que ela se transferiu depois que uma garota da antiga escola desapareceu. Parece que a Aberração esteve envolvida no caso.

— Sério?! E encontraram a garota?

— Ah, claro. — Grace responde, seus olhos verde-água brilhando. — Numa cova rasa no bosque, dois meses depois.

— Ai, Grace, credo! — Exclamo, dando um tapa em sua perna. — Ainda estou comendo. Que nojo!

Minha melhor amiga joga a cabeça para trás, soltando aquela gargalhada escandalosa que já conheço tão bem.

— Diga o que quiser, Sel. — Ela zomba. — Mas eu vi a Esquisita secando você na aula de Espanhol. Ela nem tirava os olhos. Eu tomaria cuidado.

— Ah, vai se foder, sua vaca! — É a minha vez de rir. — Enfim, vamos esquecer aquela novata, ela não tem nada que valha a pena olhar. Já a Amy Brice, por outro lado ...

— Esquece. — Grace me interrompe. — Aquela lá não é pra você, Sel.

— Está querendo dizer que ela é boa demais pra mim?

— Nope. Estou querendo dizer que você é boa demais para ela. — Minha amiga rebate. — Aquela líder de torcida é uma vagabunda. Todo mundo sabe disso.

— Ah, fala sério!

— É verdade! Ouvi dizer que ela já pegou o time de futebol inteiro. E mais alguns outros depois.

Eu caio na risada com o exagero. Ficamos ali sentadas, conversando sobre tudo e nada, até eu sentir os olhos de alguém sobre mim. No começo é uma sensação quase imperceptível, mas vai se tornando mais forte até ser como um arrepio sob minha pele.

Olho em volta e vejo a aluna nova parada do outro lado do campo de futebol, com um livro nas mãos. É óbvio, porém, que ela não está lendo, pois posso ver seus olhos fixos em mim por cima das páginas. Quando sente que eu a estou observando, posso ver o brilho de seu breve sorriso mesmo de tão longe.

Aberração. Penso, irritada. O que essa esquisita quer comigo?

Um mês depois

Katerina

Eu a observo desde que cheguei. Desde a primeira vez que a vi, algo nela me atraiu e não consegui desviar os olhos. Selene, a garota que tem o nome da deusa da lua. Um nome que combina bem com ela.

Como se invocada por meus pensamentos, Selene passa por mim no corredor, deixando atrás de si um rastro de seu perfume característico, uma mistura de limão e jasmim. 

— Ei, mana! — Ouço uma voz infantil gritar.

Selene congela no lugar e momentos depois abre um enorme sorriso. Eu jamais a tinha visto sorrir daquele jeito, e o efeito é encantador.

— Oi, pestinha! — Ela cumprimenta animadamente. — A mamãe te deixou vir?

A menina que se aproxima de Selene e a abraça é sua irmã, isso está óbvio no porte esguio e nos cabelos negros, embora os dela sejam lisos.

— Aham. — A mais nova faz que sim com a cabeça. — Ela disse que não ia poder me buscar, então vim pegar carona com você.

— Veio sozinha? — Selene balança a cabeça em reprovação. — Caminhando?

— Não, eu peguei um pouco do dinheiro do pote de emergências antes de sair de casa hoje de manhã. — A menina explica. — Vim de ônibus.

— Você não tem jeito mesmo, garota. — A mais velha ri. — Anda, vamos logo pra casa.

Eu viro as costas para as duas irmãs, que ainda conversam animadamente, ponho meu capuz e me preparo para correr até o ponto de ônibus, amaldiçoando em pensamento Lennya, minha mãe adotiva, por esconder as chaves do meu carro.

— Ei, novata!

A voz me surpreende por um momento, me deixando sem reação. Em seguida, viro-me para Selene.

— Que foi?

— Vai mesmo caminhar para casa nessa chuva? — Ela pergunta enquanto se aproxima, sua irmãzinha seguindo-a como uma sombra, me olhando com curiosidade. — Vem, eu te dou uma carona.

— Pode ser. — Hesito por um momento antes de finalmente responder. — Obrigada, Selene.

— De nada.

Eu a sigo pelo estacionamento até um Aston Martin Vanquish prateado simplesmente lindo. Um modelo mais antigo, mas obviamente bem mantido.

— Uau. — Eu digo. — Belo carro.

— Valeu. — Ela sorri — Eu gosto.

As duas irmãs discutem rapidamente e, após alguns protestos, a mais nova se acomoda no banco de trás. Vou no banco do carona, ao lado de Selene. Ela liga o rádio e os acordes de uma guitarra enchem o carro. A música é familiar, e me pego fazendo coro quando Selene começa a cantar. Isso a faz rir.

É impossível não rir com ela. Mais ou menos dez minutos depois, paramos na frente de minha casa. Posso ver uma das cortinas no andar de cima se mover, sem dúvida obra de Lennya, verificando quem me trouxe em casa.

— Obrigada pela carona, Selene.

— De nada. — Ela responde. — E nada de Selene, ok? Esse nome é comprido demais. Me chame de Sel.

— Mesmo? Pois eu gosto de Selene. — Declaro sem pensar. — Combina com você.

— Sério? — Ela se mantém séria e parece ofendida, mas posso ver pela forma como ergue a sobrancelha que está apenas me provocando. — Pois saiba que acabou de me comparar indiretamente a uma vampira super esquisita.

— Qual é! — Sua irmã mais nova protesta. — Eu gosto da Selene. Ela é maneira.

— Ah, quieta, pirralha. — Selene rebate. — Você nem devia ter visto esse filme, lembra?

A garotinha simplesmente ri em resposta, sem se importar com a provocação de sua irmã mais velha.

— Tudo bem, como quiser. — Eu digo. — E pode me chamar de Kat, se preferir.

— Ok, Kat. — Selene relaxa e sorri. — Até segunda-feira.

— Até segunda-feira, Selene.

Fico parada na varanda da frente mais um momento, vendo seu carro desaparecer ao virar a esquina, me perguntando se realmente conheço a verdadeira Selene McClary.

Na escola ela sempre se mantinha fria e distante, apesar de ser normalmente o centro das atenções. Tinha uma faceta tirânica, quase cruel, e parecia se divertir em brincar com as pessoas, especialmente os garotos. Com sua irmã, porém, vi nela gentileza e uma confiança tranquila que me surpreenderam.

— Kat. — Lennya chama, arrancando-me de meus pensamentos. — Kat, querida, entre logo e feche essa porta. Está frio!

Obedeço quase por reflexo, ainda perdida em conjecturas sobre uma certa garota.


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