Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 1
Prólogo




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Katerina

2008

Quebrei o pescoço do cervo e enterrei meus caninos ali, drenando rapidamente seu sangue.

De repente ouvi uma risada ecoar pela floresta. Curiosa, larguei o cervo e fui verificar. Deparei-me com uma casa toda iluminada. Pude ver uma mulher na cozinha, lavando a louça, e, na sala, um homem olhando televisão.

Mas não foram eles que prenderam minha atenção. Quem realmente me cativou foi a garota. Subi em uma árvore para poder vê-la melhor e fiquei hipnotizada pela cena.

Em um quarto cor de rosa cheio de bonecas, a garota rodopiava, usando um vestido rosa. Não parecia ter mais de oito anos, e era muito bonita. Reparei nas sardas suaves em sua bochecha, no tom rosado de sua boca em forma de coração, no tom levemente mais claro de algumas mechas em seus cabelos escuros, cacheados e compridos, em seus olhos cor de jade emoldurados por longos cílios ... Em um segundo, minha mente absorveu todos esses detalhes.

Fiquei observando-a dançar e só me apercebi da outra garota quando a mais velha pegou-a pelas mãos e rodopiou com ela pelo quarto, pegando-a no colo e beijando sua bochecha em seguida. A mais nova riu e a mais velha apenas sorria. Aquele sorriso era tão bonito ... Tão doce e cheio de vida. A porta do quarto se abriu e a mulher que eu vira na cozinha entrou.

— Hora de dormir, meus anjinhos. — Anunciou, num tom tão carinhoso que lembrou-me da minha mãe, séculos atrás.

A saudade de minha antiga vida apertou meu peito com força, e senti as lágrimas arderem em meus olhos.

— Tá bem, mamãe. — A menina mais velha disse obedientemente. — Boa noite. Boa noite, Maggie.

Observei a mãe colocar as duas meninas na cama, acender a luz noturna e sair do quarto. Depois disso, decidi que era hora de voltar para casa. Ao correr pelo bosque, não conseguia esquecer a imagem de uma garotinha sorridente rodopiando em um quarto cheio de bonecas.

Todas as noites, durante um mês, eu ia ver as garotas, mas então fui obrigada a partir. Já havia ficado em Winterfall por tempo demais.

Selene

2015

Eu ainda estava meio dolorida. Tinha tido minha primeira vez na noite passada, e acabara de acordar. Estava em casa, obviamente. Meus pais jamais iriam me deixar dormir fora, até porque eu acabara de completar quinze anos.

Virei-me na cama e olhei para o relógio. Oito e meia. Ouvi passos no corredor e fingi estar dormindo. A porta de meu quarto se abriu e quase perdi o ar quando uma certa garota chata pulou em cima de mim.

— Lene, acorda! Feliz aniversário! — Margareth, minha irmãzinha, gritou. Ela completara nove anos no mês anterior.

Abri os olhos lentamente, fingindo um mau humor matinal.

— Ah, pestinha, nem no meu aniversário você me deixa dormir?

Ela riu, dando-me um beijo na bochecha e rolando para deitar-se ao meu lado.

— Nope. E é melhor descer. Mamãe e papai estão te esperando pro café.  Te vejo lá embaixo! — Disse, levantando-se e descendo a escada correndo.

Eu ri. Minha irmã não parava um segundo, sempre brincando, cantando, falando, inventando alguma coisa para fazer. Era como se estivesse eternamente ligada na tomada, em potência máxima.

Espreguicei-me, levantei e fui me olhar no espelho. Podia não ser a garota mais bonita do mundo, mas eu gostava da minha aparência. Cresci bastante, ficando bem alta para minha idade, e as aulas de dança modelaram meu corpo, dando-me uma aparência atlética. Meu rosto alongara e ficara mais fino, maduro. Meus cabelos continuavam compridos, abaixo da cintura, o que ajudava a amenizar as feições severas que eu herdara de meu pai.

Coloquei um vestido azul claro bem confortável, fiz um coque bagunçado no cabelo e desci para tomar café.

— Bom dia, gente!

— Bom dia, querida. Parabéns. — Disse minha mãe, Marie, dando-me um beijo na testa ao servir um chocolate quente e biscoitos para mim.

Era tradição eu comer isso no meu aniversário, e eu adorava essa parte do dia. Quase podia dizer que era minha preferida.

— Parabéns, mocinha. Ansiosa para a festa hoje à noite? — Indagou papai, bagunçando meus cabelos ao passar por mim para pegar uma xícara de café.

Como sempre, ele estava com o jornal em uma das mãos, aberto na página em que havia interrompido a leitura.

— Um pouco. — Admiti, com um meio sorriso.

Na verdade, eu estava muito ansiosa para a minha festa de quinze anos. Seria algo íntimo, apenas família e amigos, como eu gostava.

[...]

— Anda, Lene. Já está quase na hora. — Margareth chamou, parada na porta do meu quarto.

Coloquei os brincos e virei-me para ela, abrindo meu melhor sorriso.

— E aí, o que achou?

Ela me analisou por um segundo, depois sorriu, aprovando.

— Você está linda!

— Obrigada, pestinha. Agora vamos, senão não chegaremos na hora. — Falei, pegando a mão de minha irmã e descendo a escada aos pulos, apoiando-me no corrimão para não cair.

Mamãe e papai já estavam esperando na porta, prontos para sair. Nós fomos para o carro e papai me ajudou a entrar, uma vez que eu não estava me saindo muito bem com os sapatos de salto alto. Papai deu a partida no carro e eu segurei o impulso de gritar de animação. Logo, chegaria a hora.

[...]

A festa estava perfeita, exatamente como eu sonhara. Todo o cerimonial já fora cumprido, eu podia finalmente curtir com minhas amigas. Dançamos até ficarmos cansadas e depois sentamos em uma mesa para conversarmos. Meu namorado, Josh, subiu no palco e pegou o microfone.

— Eu prometi à aniversariante uma surpresa hoje. — Começou, interrompendo-se para dar um sorriso malicioso. — Bem, esta surpresa ela não esquecerá tão cedo. Espero que goste disso.

As luzes diminuíram e a tela branca se iluminou. De repente, os gemidos encheram a sala. Era uma gravação de quando Josh e eu transamos. O canalha gravara tudo!

Fiquei sem ação, vermelha como um tomate, enquanto todos riam de mim. Grace, minha melhor amiga, e Margareth, me ajudaram a levantar e ir para o banheiro.

— Calma, Se. Já está quase acabando. Só mais meia hora de festa, e então pode ir para casa descansar. — Grace disse, acariciando levemente minhas costas.

— Eu não vou aguentar mais meia hora! Quero ir para casa!

— Esquece ele, mana. O Josh é um bobão.

— É isso aí, pestinha. Dessa vez, você tem razão.

— Ok, ok. Eu acho que consigo aguentar mais meia hora, se garantirem que o Josh já foi.

— Certo. Eu cuido disso, e você ajeite sua maquiagem. Está um pouco borrada. — Disse, virando-se e me deixando a sós com Margareth.

Usei uma toalha de papel para tirar os borrões sob os olhos e ajeitei o cabelo. No final, nem se percebia que eu havia chorado. Grace entrou novamente.

— Ele já foi?

Ela assentiu.

— É hora de voltar para a festa. E aproveite. Afinal, é a sua noite. — Disse, enganchando o braço no meu.

Eu respirei fundo e saí do banheiro para encarar mais alguns minutos da pior tortura de minha vida.

[...]

Deixei a água quente escorrer pelo meu rosto, lavando a maquiagem e minhas lágrimas. Tinha conseguido contê-las durante a festa, mas, depois que entrei no carro com minha família, não consegui mais segurar e chorei como uma garotinha.

Agora, uma hora depois, a vergonha e a mágoa se misturavam em um só sentimento: vingança. Eu iria me vingar dele. Seria mais forte, mais bonita, mais fria. Seria aquela a quem todos desejam, mas ninguém pode ter.

Saí do banho e, ainda enrolada numa toalha, peguei uma velha tesoura que mamãe guardava na gaveta da pia. Com uma sensação de liberdade, comecei a cortar mecha por mecha meu longo cabelo escuro. E assim começava minha transformação.


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