Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 3
Minha protegida




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Selene

O jogo de queimada, que começou como mais uma atividade sem graça da aula de Educação Física, agora segue violento. Olho para Grace e ela assente num movimento quase imperceptível.

 Nós duas somos boas atrizes, fingindo nos distrair com o movimento dos adversários na quadra até trombarmos violentamente, caindo e escorregando no chão. Os outros riem, mas é um preço pequeno a pagar. 

A professora, uma velha ranzinza ridícula chamada Sra. Burns, vem até nós para ver se estamos bem. Conhecendo-a, eu sei que se respondermos um "sim" ela nos arrastará de volta para sua aula, sem nem se preocupar em averiguar nossas reais condições.

— Não, professora. — Minto, fazendo minha melhor cara de dor. — Acho que torci o pé.

— Ah, bem. — É óbvio que ela detesta minha resposta, e quase posso ver seu cérebro enrugado procurando maneiras de me arrastar de volta para a quadra. — Nesse caso ... Pode ficar assistindo, Srta. McClary.

Grace me ajuda a levantar e, exibindo um joelho propositalmente ralado como desculpa, me apoia e me leva até a arquibancada, onde sentamos lado a lado e ficamos conversando sobre bobagens. Isto é, até eu ver Lacey Barrymore e sua turminha perto do vestiário.

São três, todas com cabelos longos e loiros, usando quilos de maquiagem e paramentadas em suas roupas cor de rosa como um trio de Barbies dementes.

Elas parecem estar intimidando alguém, o que não me surpreende. Logo noto que a vítima da vez é Katerina. Para minha surpresa, ela não parece nem um pouco sem jeito. Parece, isso sim, estar revidando as provocações da Rainha Vadia. 

Observo aquele corpo esguio, vendo como os músculos se contraem e suas mãos se fecham em punhos. É a expressão em seus olhos, porém, que chama minha atenção. Não é o olhar tímido da garota que levei para casa naquele dia de chuva. Há algo ali, uma escuridão iminente que parece ser contida somente a muito custo. 

Posso sentir a tensão no ar em volta do pequeno grupo, mesmo de tão longe. É como um elástico e, quando se partir ... Antes que eu possa completar o pensamento, ou que as coisas fiquem feias, me levanto e vou até elas.

— Ei, vadias. — Eu digo em meu tom mais afiado, parando ao lado de Katerina e passando um braço por seus ombros. — O que é que 'tá acontecendo aqui?

A turminha de Barbies vadias congela na hora. Podem ser valentonas, mas confiança é uma arma poderosa. Elas só tentaram me intimidar uma vez e, depois que revidei, todas resolveram que era melhor me deixar em paz. Posso até dizer que, exceto Lacey, as outras tem medo de mim.

—Oi, Sel. — O tom de Lacey é enjoativamente doce, assim como o sorriso que ela me dirige. — Nada de mais, a novata aqui só precisava aprender uma lição.

— Pois por mim podem ferrar com quem quiserem, que eu não ligo. — Retruco. — Mas essa aqui não. 

— Ui, ficou nervosinha! — A garota mais baixa, Danika, provoca, rindo cinicamente. — Que foi, Se, ela é a sua puta da vez? 

— E se for? — Rebato com um sorriso safado. — Quer trocar de lugar, tampinha?

Sim, Danika e eu já ficamos. Foi apenas pegação em algumas festas e nós duas estávamos bêbadas, mas não hesito em usar isso como arma contra ela. A garota imediatamente fica vermelha e se esconde atrás de suas amigas como se elas fossem um escudo humano.

— Sua lésbica desgraçada! — Ela rosna. — Só porque já pegou a escola toda acha que manda em todo mundo?!

Eu não consigo evitar o riso. Somente agora, protegida atrás de suas amiguinhas, ela tem coragem de colocar as garras de fora.

— Se quiser falar alguma coisa, ratinha, venha aqui e me diga. — Declaro. — Caso contrário, é melhor ficar longe da minha garota.

Posso ver Danika esticar o pescoço ligeiramente, olhando para Katerina como se avaliasse. Na verdade, eu também olho, mas não tão descaradamente. 

Logo que a conheci, imediatamente a classifiquei como uma garota sem graça, comum em todos os sentidos. Depois, porém, fui percebendo detalhes sobre ela: seus olhos cor de âmbar, que por si só já chamam atenção, são emoldurados por longos cílios de um castanho tão claro que os faz parecer quase translúcidos, sua boca, de um bonito formato de coração, é naturalmente cheia e rosada, do tipo que qualquer garota mataria para ter e seus cabelos castanhos tem mechas de um loiro bem claro, quase prateado, que lhe dá um tom incomum. Posso apostar que, com o estilo certo, essa garota ficaria muito atraente.

— Ah, tá. — Dessa vez é Lacey quem ri. — Essa aberração? Ela não faz o seu tipo.

— Isso sou eu quem decido. — Respondo. — E, se mexerem com ela de novo, podem ter certeza de que vai ter consequências. Entendido?

O trio de Barbies retardadas simplesmente faz que sim com as cabeças e foge com os rabinhos entre as pernas magricelas. Eu rio alto, satisfeita.

— Obrigada, Selene. — Katerina diz assim que tem certeza de elas realmente se foram. — Foi na hora certa. Se você não interferisse ...

— Elas acabariam com você. — Eu digo, afastando-me dela, imaginando aquele corpo franzino numa briga. — Além do mais, foi bem mais divertido assim.

Apesar de minha declaração anterior, agora estou com raiva, e preciso de algo para me ajudar a descontar, então peço à Sra. Burns que me deixe entrar de novo no jogo de queimada. 

Ela não hesita em conceder meu pedido, e em pouco tempo todos estão evitando minhas boladas. Corro pela quadra como uma louca, e minha mira é fatal. Sei que estou atirando a bola com muito mais força do que deveria, mas não estou nem aí.

Depois da aula, vamos todas para o vestiário tomar banho. As garotas riem e conversam, mas eu vou direto para o chuveiro. Nem mesmo a água fria, porém, consegue amainar o calor apimentado da raiva que corre por minhas veias.

Ouço uma voz familiar chamar meu nome do chuveiro ao lado. Fico na ponta dos pés para espiar por sobre a parede que nos separa e, como esperava, vejo os cabelos castanhos de Katerina. Molhados, parecem mais escuros, ambarinos como seus olhos, e não o habitual tom suave de mel.

— Aqui. — Ela diz, estendo a mão aberta. Posso ver que algo descansa em sua palma, mas não me movo. — É um sabonete de lavanda e camomila. Minha mãe gosta de fazer essas coisas, diz que ajuda a acalmar.

Finalmente estendo a mão para pegar o sabonete, surpresa ao ver que a barra, ainda primorosamente embrulhada em um pequeno saquinho de plástico, foi feita na forma de uma rosa. É algo gracioso, e ao sentir o cheiro fico surpresa ao sentir uma onda de calma tomar conta de mim.

— Acho que sua mãe tem razão. — Digo. — Obrigada.

— De nada. — Katerina sorri. — E ... Não deixe elas provocarem você, está bem? A raiva nunca vale a pena.

Nossa conversa é interrompida depois disso mas, apenas de suas palavras, tenho quase certeza de que ela entende. Katerina entende a raiva, talvez tão bem quanto eu.


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