Dentro do Palácio escrita por sayuri1468


Capítulo 4
Aquele em que Sherlock toma sua decisão




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— Como assim não pode vir?

Sherlock não gritou, mas a ligação de John, cancelando o encontro dos dois havia sido uma surpresa.

— Sei que pegou um caso agora, mas Emma está com febre! Preciso ficar em casa!

Sherlock suspirou impaciente.  Ele sabia que com John criando uma família as coisas seriam diferentes, só não esperava não estar pronto pra isso. Ele detestava mudanças.

— Ok! Cuide da sua bolinha rosa! – falou em tom de despedida.

— Me ligue se tiver alguma emergência! – pediu o outro, desligando o telefone logo em seguida.

Sherlock andou impaciente pela sala.  Alguma coisa o incomodava profundamente, e ele sabia o que era. As coisas estavam diferentes, e isso o incomodava. Estava acostumado com as pessoas sempre na Baker Street, ao lado dele, correndo em volta dele, mas agora não estavam mais. John, que antes tinha Sherlock como prioridade, estava casado e com uma filha, e as duas haviam tomado o lugar do detetive. E Molly... seu cérebro o impediu de pensar nisso.  Sherlock respirou fundo. Ele sempre fora sozinho, sempre preferiu ficar sozinho, e muitas vezes, até a companhia de John o irritava, mas agora, ele sentia falta de companhia.

Foi quando o apito do celular o tirou de seus devaneios.

“ A Inglaterra precisa de você! L”

 

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— Lestrade! – cumprimentou Sherlock assim que entrou na sala do detetive na Scotland Yard, porém sua surpresa foi ver que não era Lestrade que estava na sala.

— Sherlock! Oi! – respondeu Molly.

— Molly?! O que você...

Mas antes que pudesse terminar, Lestrade adentrou a sala, passando por detrás dele.

— Você respondeu rápido! – comentou – Pensei que só viesse amanhã!

— Estou entediado! – esclareceu o outro – O que tem pra mim?

— Assassinato! Norte de Londres, dois homens!

— Já tem alguma suspeita?

— Sim, o assassino está morto! Cometeu suicídio depois!

— Interessante!

— Recebi esses corpos hoje de manhã! – interrompeu Molly.

— Perfeito! – disse Lestrade- Molly pode ir com você ao necrotério!

Sherlock hesitou. Por algum motivo ele não queria que Molly e ele ficassem sozinhos. Só de ver a garota na sala de Lestrade já o estava deixando incomodado. Sherlock sabia que se ele negasse ou simplesmente fosse embora, como fizera no hospital quando Molly e Lestrade anunciaram o namoro, isso chamaria novamente a atenção, por isso, apesar da sua vontade de fugir, Sherlock concordou.

— Bom, vamos!

Sherlock se virou em direção a porta, dando as costas para Molly e Lestrade. E fez muito bem, pensou, pois naquele momento Molly despedia-se do noivo com um selinho, e certamente, Sherlock não estava disposto a ver essa cena.  Só o barulho já o incomodou profundamente.

O detetive, percebendo que Molly já se postara ao seu lado, saiu sem dizer uma palavra. Molly andava rápido para tentar alcança-lo, porém a garota ainda continuava algumas passadas atrás de Sherlock.  Na hora de pedir o táxi, normalmente Sherlock segurava a porta para Molly, mas dessa vez ele entrou primeiro. Não falou nada durante a viagem, mesmo com a garota lhe perguntando algumas coisas. Sherlock respondeu a tudo de forma monossilábica e seca.

Se Sherlock fosse o tipo que costumava ser educado, com uma personalidade constante, Molly teria se incomodado com o tratamento que o detetive estava lhe dispensando. Porém Sherlock era inconstante e ela já estava acostumada com o pior tratamento vindo dele. Molly refletiu, com certa mágoa, que ela se surpreendia mais quando Sherlock lhe era gentil do que quando não era.

Quando chegaram ao hospital, Molly o levou até a sala do necrotério e abriu as gavetas onde os dois corpos estavam. Fez tudo em silêncio, já tinha desistido de conversar com Sherlock.

O detetive, por sua vez, pegou sua lupa e começou a examinar os ferimentos.  Também sequer dizia uma palavra. Notou a ansiedade em Molly, logo atrás dele. Ele sabia que ela queria lhe perguntar uma coisa. Uma coisa da qual ele vinha fugindo no último mês.

— Você não respondeu o convite! – falou a garota enfim.

— Hum, muito ocupado no momento! – respondeu secamente, sem retirar os olhos do corpo que examinava.

— Mas você vai..., não vai? – perguntou hesitante.

Sherlock  fez uma pausa e suspirou  impaciente. Não se virou para olha-la, não podia virar.

— Sempre me perguntei o motivo de você fazer isso! – falou uma segunda Molly.

— Você sabe porquê! – ele respondeu para a Molly em seu palácio.

— Não se magoe! Faça o que acha que deve ser feito, mas não se magoe!

— Ridículo! – falou Sherlock em voz alta, no momento em que a segunda Molly desaparecia.

— “Ridículo”? – repetiu Molly ao seu lado, sem entender.

Repentinamente, Sherlock passou a andar de um lado para outro.

— Todos esses sentimentos! Ridículos! Tudo isso é ridículo! – vociferou enquanto caminhava ansiosamente.

— Não estou entendendo... – disse a garota com a voz confusa.

Sherlock então parou e postou-se na frente de Molly. Seus olhos azuis encaravam com seriedade os olhos castanhos da legista. Ele se aproximou dela. Molly hesitou para trás. Aquele comportamento do detetive a deixava confusa, mas agora, com aquele olhar intenso e o detetive se aproximando dela, ela pode sentir sua respiração cedendo.

— Não posso ir ao seu casamento, Molly Hopper! – falou tão próximo do rosto dela que se um deles desse um passo a mais pra frente, seus lábios se encontrariam – E você sabe o porquê!

Por um momento, apenas por um momento, Sherlock encostou sua cabeça na cabeça de Molly. E durante alguns segundos, os dois ficaram em silêncio, de olhos fechados, ouvindo suas respirações.  Sherlock acariciou o rosto de Molly e afastou-se. Depositando um beijo na testa da garota, ele foi em direção à porta. Molly abriu os olhos.

— Mando a conclusão do caso por email! – avisou Sherlock indo embora e deixando uma Molly estarrecida para trás.

 

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Ele estava de volta naquele cenário. Aquele cenário sem chão e sem teto, onde parecia uma grande nada, no qual ele flutuava. Estava sentado, abraçando seus joelhos fortemente. Porém sua imagem não era mais a mesma. Ele não era mais o homem esbelto, mas sim um pequeno garotinho de oito anos, sentado no escuro, chorando.

— Você continua magoado! – falou Molly, se aproximando e o abraçando.

Sherlock não respondeu, Molly o afagou e depositou a cabeça daquela pequena criança em seu colo. Ele cedeu com facilidade.

— Você vai ficar comigo, não vai? Você não vai me abandonar também? – perguntou o menino agarrando-se as roupas de Molly com força.

Molly sorriu compreensiva.

— Vou ficar sempre por aqui! – respondeu enquanto afagava o cabelo cacheado do menino que repentinamente virou homem.  – Não vou a lugar nenhum, enquanto você não quiser que eu vá!

Sherlock levantou-se, deixando a cabeça na mesma altura que a de Molly. Sem hesitar, ele a beijou. Um beijo profundo e apaixonado.

— Se depender de mim, você nunca sai daqui, nem eu! – respondeu o detetive depois de se separar e dando outro beijo logo em seguida.

O cenário voltou a ser aquela bela praia com o cheiro de sal que ele tanto gostava. Mas o que ele mais amava, era que ela estava ali e estava com ele. Ele podia tocar nela, podia ficar com ela. Ali era o único lugar onde ele poderia beija-la o quanto quisesse. O único lugar onde ela, e nem ninguém, iria embora. Ali era o único lugar onde nada, nunca, mudaria.


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