Dentro do Palácio escrita por sayuri1468


Capítulo 5
Aquele em que Molly toma sua decisão




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Seria uma mentira se ela dissesse que não estava acostumada com os altos e baixos que Sherlock Holmes lhe proporcionava. Era uma montanha russa de emoções, onde apenas, em um único dia, ela era capaz de ir da tristeza para a alegria e da admiração para raiva em questão de segundos. Mas agora era diferente. A cena que havia se passado entre os dois no necrotério passava pela cabeça dela como um filme em um looping. Em sua cabeça, era como se ela estivesse sobrevoando a sala, e vendo de longe ela e Sherlock com os rostos colados.  Sempre que chegava na parte da cena em que ela achava que ele ia beijá-la, Molly se repreendia. Ela estava noiva, e noiva do seu melhor amigo. Estava noiva do homem que sempre que ela chorava, ia até ela consola-la.  Cansou das vezes em que Lestrade saia de noite, só para encontra-la. Várias vezes ele foi até ela, quando ela se sentia solitária e triste. E a pior parte é que ele sempre ia a socorro dela porque era Sherlock que a deixava naquele estado.  Como ela pode ter a coragem de quase ser beijada – e pior, querer ser beijada- pelo homem que sempre fora o responsável por seus momentos de dor e angústia. Porque, mesmo com um homem tão bom e gentil quanto Greg ao lado dela, ela ainda não conseguia parar de pensar em Sherlock?

“Burra!”, censurou-se, enquanto se olhava no espelho com o vestido de noiva.  Ela podia chorar a qualquer momento. Sentia uma mistura de raiva com vergonha, e sentia isso dela mesma.  As poucas lágrimas que rolaram involuntariamente do seu rosto foram enxugadas com rapidez. Ela deu graças a Deus por poder usar como desculpa a prova do seu vestido.

— Você está linda, Molly! – falou Mary com a pequena Emma no colo. – Greg vai ficar encantado!

— Oh, não chore, querida! - Sra. Hudson levantou-se e postou-se ao lado de Molly – Esse vestido é lindo demais! Você será uma noiva incrível!

Molly não pode suportar essas palavras. Ouvi-las foi terrivelmente doloroso. Ela desatou a chorar mais, ganhando um imediato abraço da Sra. Hudson e Mary, que correram para prestar consolo.

— O que houve, Molly? – O tom na voz de Mary era preocupação.  Ela sabia que aquelas lágrimas não eram de alegria.

Mas ela não respondeu. A única coisa que fez foi desabafar em lágrimas aquilo que não saia da garganta com palavras. Mary entregou Emma para a Sra. Hudson e envolveu a amiga em um abraço. Molly já estava no chão e Mary a ajudou a levantar. A essa altura os atendentes da loja já estavam preocupados e se reuniram em volta do grupo, prontos para prestar socorro a noiva.

— Estou bem! – disse Molly com a voz ainda embargada pelo choro – Foi só emoção, só isso!

Sentaram Molly no sofá e enquanto um atendente lhe entregava uma caixa de lenços de papel, outra vinha com um copo d’ agua.  Molly respirou fundo e tentou se acalmar. Enquanto os atendentes e a própria Sra. Hudson lhe confortavam, dizendo que realmente era uma emoção para a noiva achar o vestido certo, Mary observava atentamente à amiga.  Molly notou o olhar da amiga sobre ela, e abaixou os próprios olhos em culpa. Esse era o sinal que Mary precisava.

 

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— Então...- começou John, sentando em sua cadeira na Baker Street, enquanto observava o amigo à sua frente, com um jornal na mão.

— Então? – rebateu Sherlock, nem um pouco disposto a começar um assunto.

O detetive sabia porque John viera. Era o mesmo motivo pelo qual ele viera nos últimos dias.

— O casamento! Já se decidiu?

— Sim e já coloquei minha resolução em pauta desde a semana passada! – respondeu friamente.

— Tem certeza disso?!

Sherlock suspirou impaciente e depositou na mesa, de forma bruta, o jornal que estava em sua mão.

— Vamos ser simples, certo?! Não gosto de casamentos! Fui ao seu porque era o padrinho!

— Greg te chamou para ser o padrinho! – rebateu John.

Sherlock urrou e levantou-se repentinamente da poltrona.

— Não importa! Mesmo que eu quisesse ir, não posso! Estou em um caso muito complicado no momento! – vociferou enquanto andava pela sala.

— Que caso é esse? Não estou sabendo de nada! – perguntou o outro, duvidando totalmente das palavras do amigo.

— O fato de eu não ter te chamado, não quer dizer que não tenha! – respondeu o detetive, tentando parecer mais calmo. Ele sentou-se novamente na poltrona e respirou fundo – Agora, não tem nada mais útil pra fazer, como cuidar da sua pequena bolinha rosada?

— O nome dela é Emma! – informou John, levemente irritado.

— Bolinha rosa é muito mais apropriado!

Essa foi à deixa. John suspirou resignado, pegou sua jaqueta, pronto pra sair, mas deteve-se na porta.

— Posso te garantir Sherlock, que você nunca vai se perdoar se perder esse casamento!

E enquanto Sherlock digeria as últimas palavras amargas do amigo, John foi embora.

 

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— Bom, tudo certo para amanhã! – falou Sra. Hudson com animação na voz. – Eu me lembro de quando me casei com o Sr. Hudson! Meu vestido não era tão tradicional, mas mostrava bastante as minhas pernas! O Sr. Hudson adorava as minhas pernas! Ele só não arrancou a parte debaixo do meu vestido na festa porque eu mesma havia feito isso! Bebíamos muito naquela época!

Molly e Mary riram.

— Bem, vou indo pra casa! Ainda tenho que preparar minha roupa pra amanhã!

Molly assentiu.

— Muito obrigada pela companhia, Martha! – falou Molly – Nós vemos amanhã!

Sra. Hudson beijou o rosto de Molly.

— Você vai ser uma noiva incrivelmente linda! – disse Martha com um sorriso.

Ao ouvir essa frase, Molly sentiu-se sem graça, mas agradeceu. Mary, por sua vez, assim que Martha se fez distante das duas, iniciou o assunto que Molly sabia que ela iniciaria alguma hora. Afinal, ela foi a única que vira a verdade em seus olhos durante a prova do vestido.

— Vai mesmo seguir adiante com isso?

Molly suspirou.

— Vou, Mary!  Eu adoro Greg! Não seria capaz de fazer isso com ele!

— Mas...e com você, Molly? Você é capaz de fazer isso com você mesma?

A garota hesitou.

— Mary, olha, o que eu não posso continuar fazendo comigo mesma é achar que alguma coisa vai mudar! Não vai! Apesar do que ele fez...

Mary virou-se surpresa.

— O que ele fez?! – perguntou.

Molly então contou para a amiga o encontro que ela tivera com Sherlock no necrotério. Mary ouviu tudo passível de qualquer expressão. Somente quando Molly terminou sua narração que a amiga respirou fundo e deu sua opinião.

— Eu acho que você sabe muito bem o que isso significa, não sabe?!

Molly assentiu.

— Sim, e sei também que significa que apesar disso, ele prefere estar onde está! E eu quero seguir em frente, Mary!

A amiga a olhava preocupada. Apesar das palavras decididas, o tom na voz de Molly era triste e resignado.  Mary compreendia a amiga.

— Mas você acha que Sherlock que tenha que mudar mesmo, Molly? Não me responda agora- acrescentou após ver que a amiga protestaria – Eu vou pra casa ver Emma, e você tem um casamento amanhã! Mas pense nisso!

Mary abraçou a amiga, que retribuiu. Enquanto Mary se afastava, Molly parou para pensar por alguns segundos no que a amiga queria dizer com isso. Claro que Sherlock tinha que se decidir, e para isso, teria que mudar. Sherlock queria ficar parado. Queria ter Molly a disposição dele, mas sem realmente estar ao lado dela. A garota sabia que não poderia viver assim. Ela queria filhos, queria casar com alguém e envelhecer ao lado dessa pessoa. Passear aos domingos, ter um cachorro, discutir a cor da parede com alguém. Ela queria isso, ela sempre quis. Sherlock, por mais que ela o quisesse também, não era a pessoa que iria dar isso a ela.  Molly sabia que sua decisão era correta, e amanhã, estaria pronta para se tornar a Sra. Lestrade.

 

 

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O vento que soprava emaranhava seus cabelos. Ele estava de olhos fechados, sentindo a brisa gelada corta-lhe o rosto.  O cheiro de sal e o marulho inundavam os seus sentidos. Ele estava deitado. Um tapete de grama fresca lhe amaciava, e em sua opinião, era mais confortável que sua própria cama.  Sentiu uma pequena mão alisar seus cachos, carinhosamente. Um cafuné que ele se encolheu na direção de quem o digeria para receber mais.

— Patético! – falou uma voz distante, que ele tanto odiava – Essa é mesma a sua decisão, querido irmão?

Sherlock não respondeu. Apenas inclinou a cabeça para o colo da Molly que estava ao seu lado.

— Que seja!

Sherlock sentiu-a voz do irmão se afastar. Ele agradeceu por isso. Queria aproveitar o máximo de tempo que podia ali, naquele lugar.

 

 

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— Eu, Gregory Lestrade, aceito você Molly Hopper, como minha esposa! Irei amá-la e respeitá-la, sempre colocando suas vontades na frente das minhas, para todo o sempre!

Quando Lestrade colocou o anel em Molly, a Igreja inteira trocou olhares de expectativa.

— Eu, Molly Hopper, aceito você Gregory Lestrade, como meu esposo! Irei amá-lo e respeitá-lo, sempre colocando suas vontades na frente das minhas, para todo o sempre!

Sra. Hudson soltou um pequeno soluço, recebendo uma das mãos de Mary, que estava sentada ao seu lado. John segurava Emma, que dormia tranquilamente.

— Se a alguém aqui, que seja contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre! – anunciou o padre.

Todos olharam para os lados, principalmente Mary. Ela sim procurava alguém específico.  

— Sendo assim, eu os declaro marido e mulher! Pode beijar a noiva!

Lestrade, sem perder tempo, puxou Molly para um beijo apaixonado, fazendo a Igreja irromper em aplausos.  Greg e Molly se separaram, trocando olhares de cumplicidade. Sorriam, extremamente felizes, e ainda sob aplausos, saiam da Igreja agora como um casal.

 

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— Você vai perdê-los, Sherlock! Um por um!


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