Dentro do Palácio escrita por sayuri1468
Seria uma mentira se ela dissesse que não estava acostumada com os altos e baixos que Sherlock Holmes lhe proporcionava. Era uma montanha russa de emoções, onde apenas, em um único dia, ela era capaz de ir da tristeza para a alegria e da admiração para raiva em questão de segundos. Mas agora era diferente. A cena que havia se passado entre os dois no necrotério passava pela cabeça dela como um filme em um looping. Em sua cabeça, era como se ela estivesse sobrevoando a sala, e vendo de longe ela e Sherlock com os rostos colados. Sempre que chegava na parte da cena em que ela achava que ele ia beijá-la, Molly se repreendia. Ela estava noiva, e noiva do seu melhor amigo. Estava noiva do homem que sempre que ela chorava, ia até ela consola-la. Cansou das vezes em que Lestrade saia de noite, só para encontra-la. Várias vezes ele foi até ela, quando ela se sentia solitária e triste. E a pior parte é que ele sempre ia a socorro dela porque era Sherlock que a deixava naquele estado. Como ela pode ter a coragem de quase ser beijada – e pior, querer ser beijada- pelo homem que sempre fora o responsável por seus momentos de dor e angústia. Porque, mesmo com um homem tão bom e gentil quanto Greg ao lado dela, ela ainda não conseguia parar de pensar em Sherlock?
“Burra!”, censurou-se, enquanto se olhava no espelho com o vestido de noiva. Ela podia chorar a qualquer momento. Sentia uma mistura de raiva com vergonha, e sentia isso dela mesma. As poucas lágrimas que rolaram involuntariamente do seu rosto foram enxugadas com rapidez. Ela deu graças a Deus por poder usar como desculpa a prova do seu vestido.
— Você está linda, Molly! – falou Mary com a pequena Emma no colo. – Greg vai ficar encantado!
— Oh, não chore, querida! - Sra. Hudson levantou-se e postou-se ao lado de Molly – Esse vestido é lindo demais! Você será uma noiva incrível!
Molly não pode suportar essas palavras. Ouvi-las foi terrivelmente doloroso. Ela desatou a chorar mais, ganhando um imediato abraço da Sra. Hudson e Mary, que correram para prestar consolo.
— O que houve, Molly? – O tom na voz de Mary era preocupação. Ela sabia que aquelas lágrimas não eram de alegria.
Mas ela não respondeu. A única coisa que fez foi desabafar em lágrimas aquilo que não saia da garganta com palavras. Mary entregou Emma para a Sra. Hudson e envolveu a amiga em um abraço. Molly já estava no chão e Mary a ajudou a levantar. A essa altura os atendentes da loja já estavam preocupados e se reuniram em volta do grupo, prontos para prestar socorro a noiva.
— Estou bem! – disse Molly com a voz ainda embargada pelo choro – Foi só emoção, só isso!
Sentaram Molly no sofá e enquanto um atendente lhe entregava uma caixa de lenços de papel, outra vinha com um copo d’ agua. Molly respirou fundo e tentou se acalmar. Enquanto os atendentes e a própria Sra. Hudson lhe confortavam, dizendo que realmente era uma emoção para a noiva achar o vestido certo, Mary observava atentamente à amiga. Molly notou o olhar da amiga sobre ela, e abaixou os próprios olhos em culpa. Esse era o sinal que Mary precisava.
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— Então...- começou John, sentando em sua cadeira na Baker Street, enquanto observava o amigo à sua frente, com um jornal na mão.
— Então? – rebateu Sherlock, nem um pouco disposto a começar um assunto.
O detetive sabia porque John viera. Era o mesmo motivo pelo qual ele viera nos últimos dias.
— O casamento! Já se decidiu?
— Sim e já coloquei minha resolução em pauta desde a semana passada! – respondeu friamente.
— Tem certeza disso?!
Sherlock suspirou impaciente e depositou na mesa, de forma bruta, o jornal que estava em sua mão.
— Vamos ser simples, certo?! Não gosto de casamentos! Fui ao seu porque era o padrinho!
— Greg te chamou para ser o padrinho! – rebateu John.
Sherlock urrou e levantou-se repentinamente da poltrona.
— Não importa! Mesmo que eu quisesse ir, não posso! Estou em um caso muito complicado no momento! – vociferou enquanto andava pela sala.
— Que caso é esse? Não estou sabendo de nada! – perguntou o outro, duvidando totalmente das palavras do amigo.
— O fato de eu não ter te chamado, não quer dizer que não tenha! – respondeu o detetive, tentando parecer mais calmo. Ele sentou-se novamente na poltrona e respirou fundo – Agora, não tem nada mais útil pra fazer, como cuidar da sua pequena bolinha rosada?
— O nome dela é Emma! – informou John, levemente irritado.
— Bolinha rosa é muito mais apropriado!
Essa foi à deixa. John suspirou resignado, pegou sua jaqueta, pronto pra sair, mas deteve-se na porta.
— Posso te garantir Sherlock, que você nunca vai se perdoar se perder esse casamento!
E enquanto Sherlock digeria as últimas palavras amargas do amigo, John foi embora.
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— Bom, tudo certo para amanhã! – falou Sra. Hudson com animação na voz. – Eu me lembro de quando me casei com o Sr. Hudson! Meu vestido não era tão tradicional, mas mostrava bastante as minhas pernas! O Sr. Hudson adorava as minhas pernas! Ele só não arrancou a parte debaixo do meu vestido na festa porque eu mesma havia feito isso! Bebíamos muito naquela época!
Molly e Mary riram.
— Bem, vou indo pra casa! Ainda tenho que preparar minha roupa pra amanhã!
Molly assentiu.
— Muito obrigada pela companhia, Martha! – falou Molly – Nós vemos amanhã!
Sra. Hudson beijou o rosto de Molly.
— Você vai ser uma noiva incrivelmente linda! – disse Martha com um sorriso.
Ao ouvir essa frase, Molly sentiu-se sem graça, mas agradeceu. Mary, por sua vez, assim que Martha se fez distante das duas, iniciou o assunto que Molly sabia que ela iniciaria alguma hora. Afinal, ela foi a única que vira a verdade em seus olhos durante a prova do vestido.
— Vai mesmo seguir adiante com isso?
Molly suspirou.
— Vou, Mary! Eu adoro Greg! Não seria capaz de fazer isso com ele!
— Mas...e com você, Molly? Você é capaz de fazer isso com você mesma?
A garota hesitou.
— Mary, olha, o que eu não posso continuar fazendo comigo mesma é achar que alguma coisa vai mudar! Não vai! Apesar do que ele fez...
Mary virou-se surpresa.
— O que ele fez?! – perguntou.
Molly então contou para a amiga o encontro que ela tivera com Sherlock no necrotério. Mary ouviu tudo passível de qualquer expressão. Somente quando Molly terminou sua narração que a amiga respirou fundo e deu sua opinião.
— Eu acho que você sabe muito bem o que isso significa, não sabe?!
Molly assentiu.
— Sim, e sei também que significa que apesar disso, ele prefere estar onde está! E eu quero seguir em frente, Mary!
A amiga a olhava preocupada. Apesar das palavras decididas, o tom na voz de Molly era triste e resignado. Mary compreendia a amiga.
— Mas você acha que Sherlock que tenha que mudar mesmo, Molly? Não me responda agora- acrescentou após ver que a amiga protestaria – Eu vou pra casa ver Emma, e você tem um casamento amanhã! Mas pense nisso!
Mary abraçou a amiga, que retribuiu. Enquanto Mary se afastava, Molly parou para pensar por alguns segundos no que a amiga queria dizer com isso. Claro que Sherlock tinha que se decidir, e para isso, teria que mudar. Sherlock queria ficar parado. Queria ter Molly a disposição dele, mas sem realmente estar ao lado dela. A garota sabia que não poderia viver assim. Ela queria filhos, queria casar com alguém e envelhecer ao lado dessa pessoa. Passear aos domingos, ter um cachorro, discutir a cor da parede com alguém. Ela queria isso, ela sempre quis. Sherlock, por mais que ela o quisesse também, não era a pessoa que iria dar isso a ela. Molly sabia que sua decisão era correta, e amanhã, estaria pronta para se tornar a Sra. Lestrade.
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O vento que soprava emaranhava seus cabelos. Ele estava de olhos fechados, sentindo a brisa gelada corta-lhe o rosto. O cheiro de sal e o marulho inundavam os seus sentidos. Ele estava deitado. Um tapete de grama fresca lhe amaciava, e em sua opinião, era mais confortável que sua própria cama. Sentiu uma pequena mão alisar seus cachos, carinhosamente. Um cafuné que ele se encolheu na direção de quem o digeria para receber mais.
— Patético! – falou uma voz distante, que ele tanto odiava – Essa é mesma a sua decisão, querido irmão?
Sherlock não respondeu. Apenas inclinou a cabeça para o colo da Molly que estava ao seu lado.
— Que seja!
Sherlock sentiu-a voz do irmão se afastar. Ele agradeceu por isso. Queria aproveitar o máximo de tempo que podia ali, naquele lugar.
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— Eu, Gregory Lestrade, aceito você Molly Hopper, como minha esposa! Irei amá-la e respeitá-la, sempre colocando suas vontades na frente das minhas, para todo o sempre!
Quando Lestrade colocou o anel em Molly, a Igreja inteira trocou olhares de expectativa.
— Eu, Molly Hopper, aceito você Gregory Lestrade, como meu esposo! Irei amá-lo e respeitá-lo, sempre colocando suas vontades na frente das minhas, para todo o sempre!
Sra. Hudson soltou um pequeno soluço, recebendo uma das mãos de Mary, que estava sentada ao seu lado. John segurava Emma, que dormia tranquilamente.
— Se a alguém aqui, que seja contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre! – anunciou o padre.
Todos olharam para os lados, principalmente Mary. Ela sim procurava alguém específico.
— Sendo assim, eu os declaro marido e mulher! Pode beijar a noiva!
Lestrade, sem perder tempo, puxou Molly para um beijo apaixonado, fazendo a Igreja irromper em aplausos. Greg e Molly se separaram, trocando olhares de cumplicidade. Sorriam, extremamente felizes, e ainda sob aplausos, saiam da Igreja agora como um casal.
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— Você vai perdê-los, Sherlock! Um por um!
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