A Fronteira Maldita escrita por Dama do Poente
Notas iniciais do capítulo
Primeiramente, gostaria de agradecer a Lady Winchester, speedy, Linhas e vidas, MaryDiÂngelo e daughter of the sun pelos reviews deixados no prólogo.
Agora a história começa pra valer, e eu espero que gostem desse capítulo!!
P. O. V Catarina:
Nem sempre fui essa pessoa pessimista, que sai por aí fazendo juramentos a torto e a direito, muito menos sempre precisei salvar vidas... Até 12 dias atrás eu era o otimismo em pessoa, mas as coisas mudam quando menos esperamos. Eu, por exemplo, não esperava que meu décimo quinto aniversário fosse ser tão decisivo.
De onde eu vim, no Brasil, é costume fazer uma grande festa para se comemorar os 15 anos de uma garota, porém isso nunca se passou pela minha cabeça. Nada do que eu vivia condizia com o que eu realmente era, e isso me frustrava em níveis astronômicos. Então, após acordar de um pesadelo ― mais um na minha longa lista ―, tudo o que eu menos queria naquela manhã do dia 22 de janeiro de 2013 era me lembrar do meu aniversário... Mas não era como se eu pudesse optar por isso!
― Parabéns!! ― minha tutora/babá grita animadamente quando chego à sala do enorme apartamento em que vivíamos.
― Obrigada, Tália! ― finjo um bom humor inexistente e a abraço.
Eu sei, eu sei: eu disse que era o otimismo em pessoa, e sou ― ou pelo menos era ― mesmo, mas não é possível ter bom humor ao acordar cedo nas férias. Especialmente quando se é despertada de um pesadelo. Era janeiro: acordar cedo só se fosse pra virar pro outro lado e dormir mais!
― Mais um pesadelo? ― ela pergunta.
― Sim! ― e antes que ela possa pedir que a conte, eu já o faço.
Em meu sonho, eu corria sem destino pela neve, sentindo tanta dor, que parecia que algo morria dentro de mim; era um sentimento de pura angústia, de fazer lágrimas rolar e se congelarem por meu rosto, mas eu não ligava e continuava a fugir. Meus passos ecoavam pela superfície fofa, tornando-se mais lentos à medida que o aperto em meu peito aumentava; eu me engasgava em desespero e lamúrias, contudo continuava a correr, como se pudesse escapar do que me consumia, e fiquei nisso até ser parada por alguém que não pude ver o rosto, pois tudo começara a clarear naquele instante, praticamente me cegando.
―... Então, quando pude jurar que meus olhos queimariam, e eu sabia que teria que fechá-los, eu os abri e estava de volta a “normalidade” ― suspirei ao fim da curta narrativa.
Tália piscava incessantemente seus olhos castanho-dourados, e tudo indicava que não tinha o que dizer, então partiu logo para a parte que a interessava: os presentes. Para simplificar logo essa parte: não eram muitos presentes, mas eu ganhei CDs do Green Day, um conjunto suspeito de vestido + par de sapatos, uma coleção de óculos de sol, muitas coisas sobre Tom Jobim e Vinícius de Moraes, um par de brincos e uma tiara. Sem dúvida, de todos os presentes, esses últimos merecem atenção especial.
É preciso entender que, sim, eu tenho família, mas, não, eles não moram comigo! Meu tio e minhas primas se mudaram há 5 anos, primeiro para Paris, e então para Nova York ― tecnicamente é minha cidade Natal, mas eu moro no Rio de Janeiro desde sempre, então nunca me verão agindo como uma Yankee fanática ―, e o meu pai fazia parte do programa Médicos Sem Fronteiras... Deveria ser insensibilidade dele abandonar a própria filha depois que a mãe morreu no parto, mas a dor nos leva a fazer coisas absurdas como essas e eu jamais o culparia por isso, especialmente porque ele sempre tentou ser presente, visitando-me com freqüência, telefonando, mandando cartas, e-mail, Skype... Prova disso, sem dúvida, foi o bilhete que ele mandou com o presente.
“Querida filha,
Mal consigo expressar o quão feliz estou pelos seus quinze anos, apenas consigo pensar no quanto gostaria de estar aí. Peço que me desculpe e que saiba que eu a entendo muito mais do que pensa: sei que sua objeção por presentes é muito mais do que um sinal de sua profunda abnegação, e também sei que nenhum ouro jamais substituirá amor, mas pense nesse material como uma comparação: o ouro dessa jóia é tão valioso quanto meu amor por você, tão valioso quanto você é!
Você está destinada a maravilhas, Catarina de Lyra!
Sobre os brincos que estavam junto do diadema: eu não acho prata tão legal, mas você sabe como é sua tia... Ártemis acha a prata elegante e enviou os brincos (na verdade verdadeira, ela os implantou dentro da caixa e me ameaçou de morte caso eu os tirasse... Uma flor de formosura e fofura, não acha?)para você. Ela está ao meu lado, pedindo para mandar beijos e dizer que te ama como uma filha. (Sim, eu amo sua tia por isso, e ela sabe por que está lendo o que eu to escrevendo)
Lembre-se: Carpe Diem, Catarina! Carpe Diem!
Com amor,
Papai (e Titia)
P.S.: se possível, use esses presentes sempre. Em TODAS as ocasiões.”
Ali eu duvidei muito da sanidade de meu pai e de minha tia, porém, se tivessem me explicado ali o que os presentes realmente significavam, eu teria levado o aviso mais a sério!
—-------------------Ω--------------------
A verdade chegou até mim através do serviço de pombo correio. Mas nada de bilhetinho amarrado em patinha de pombos treinados: eu recebi foi um ataque em massa, como se eu fosse um delicioso miolo de pão francês!
Eu acordara tão cedo, mas tão cedo, que pude ter o prazer de sair da cobertura em que morava no Leblon ― não me julguem por minha moradia: eu herdara aquele elefante branco, e não poderia fazer nada com ele até completar 18 anos... Tinha planos de vendê-lo e doar todo o dinheiro arrecado e ir trabalhar com algo que eu gostasse... Dar aulas de música, ou balé, talvez... ―, e ir para a praia, aplaudir o nascer do sol junto dos universitários. O pessoal de humanas e biológicas já me conhecia de tanto que eu ia pra lá.
― E aí, Paris Hilton carioca, tudo bom? ― Jackson, um intercambista que estava no Brasil há quase um mês, fazendo o que eu não sei, já que as aulas de nenhuma faculdade haviam começado, eu achava, me cumprimenta.
― Vou bem, Garoto Hollywood, e você? ― devolvo em inglês, sabendo que ele não entenderia nada do que eu dissesse em português.
E ficamos lá, conversando, falando sobre ele e a namorada que sonhava em cursar arquitetura em Nova York, até que, do nada, o dia começou a escurecer.
― Será que vai chov...
― Cuidado! ― e sou jogada na areia por Jackson, antes que um pombo muito destrambelhado me atinja no rosto. ― Você está bem, Cathy?
― Acho que... Acho que sim! ― murmuro, sem ligar para a menção do apelido que eu não gostava. ― Mas o que foi...
E antes que eu pudesse perguntar o que acontecera, tudo se repetiu, mas dessa vez Jackson não conseguiu me tirar do caminho e eu levei uma bicada no braço que mais parecia um corte feito a faca: doía como o inferno.
Sequer tive tempo de me recuperar: apenas fui posta de pé e, logo em seguida, a correr por Jackson, que me seguia e gritava palavras que eu não entendia. Ninguém veio ao nosso socorro ― parecia que ninguém na praia enxergava o que estava acontecendo: eles continuavam a conversar, como se Jackson e eu estivéssemos jogando frescobol ―, exceto por uma menina e um rapaz bem mais velho que eu... Surpreendi-me quando, enfim conseguimos nos abrigar em um quiosque vazio, os ouvi confabulando com Jackson como se fossem velhos amigos.
― Percy, o que faremos agora? O plano não era colocá-la em risco! ― a menina resmunga, ofegante. Ela tinha traços que muito me lembravam os índios americanos, mas seus olhos mudavam de cor rápido demais para que eu pudesse descrevê-la corretamente.
― Só tem um jeito de se parar os Pássaros de Estinfália, Piper! ― Jackson responde.
― Música! ― o loiro que se juntara a nós completa.
Eu encarava aquela cena boquiaberta! Não sabia em que pensar primeiro!
O que eram Pássaros de Estinfália? Como assim o nome do Jackson não é Jackson? Quem era esse pessoal? Como se para pombos com música? Eu estava participando de alguma pegadinha, só podia!
Eles debatiam uma forma de se criar música ou qualquer “ruído sonoro”, e eu me debatia mentalmente sobre como ainda estava presa a um pesadelo, quando ouço um som horrível que antecede a abertura brusca da porta do quiosque.
Felizmente, era Tália quem nos observava; infelizmente, ela parecia furiosa.
― Vocês estão bastante encrencados! ― ela murmura.
E estávamos mesmo... Pelo menos eles estavam: aquilo ali era apenas o início de muita confusão para mim!
—-------------------Ω--------------------
― Vocês tinham ordens a serem cumpridas! Ordens! Ela não deveria se machucar ou ser exposta a nenhum perigo! Deveria ser levada em segurança, e só então lá, sob os cuidados de lorde Dionísio e Quíron, sua memória seria desbloqueada! ― Tália praticamente gritava para as três figuras sentadas no sofá.
Voltáramos para o apartamento depois do “Ataque dos Pombos Homicidas”, e eu fui jogada pra escanteio enquanto ela gritava com os três como se o assunto não fosse eu.
― Sentimos muito, Tália. ― a tal garota da praia murmura, e eu fui atingida por uma onda de arrependimento, como se tivesse feito algo errado naquele dia.
― Pare de usar seu charme em mim, filha de Afrodite! ― minha tutora ralha ― Como vou reverter tudo isso? Olhe para ela, veja como está assustada, a pobre criança...
― ‘Tá mais para como estou achando que ainda estou dormindo... ― me manifesto ― Será que alguém pode me contar o que está acontecendo?!
Vejo os quatro pares de olhos me encararem e se encararem, mostrando que não sabiam o que fazer. Jackson-que-não-se-chamava-Jackson-mas-sim-Percy abria e fechava a boca igual a um peixinho dourado fora do aquário. Menina-da-praia-que-aparentemente-se-chama-Piper ficou ali parada, mudando a cor de seus olhos e sendo linda na minha sala. Apenas o menino loiro e mais velho se aproximou, sob protestos de Tália.
― Viemos liberar a verdade que há em você! ― ele sorriu e tocou minha testa com o indicador.
Nenhum pesadelo que tive, ou sonho utópico, jamais se compararia a tudo o que se revelou diante de mim naquele momento.
Eu vi a mim mesma quando mais nova, talvez uns dois ou três anos antes, em algum lugar que nem de longe era o Brasil; minhas primas, Jasmyn e Claire, estavam ao meu lado enquanto parecíamos sofrer algum tipo de ataque.
“―Jasmyn, temos que sair daqui! Papai nos disse que... ― Claire, que sempre fora a que menos me agradou, se mantinha na minha frente de forma protetora.
― Eu sei! Ela não deve saber nada antes dos quinze anos, mas olhe ao nosso redor, Claire: precisamos dos poderes de Catarina! ― Jasmyn declara, lançando uma faca a sua frente.
Ouço algo como um grito seguido por um chiado, e logo ela se abaixa para escapar de uma sequência de flechas atiradas. Uma delas pousa a meu lado, mas nem tenho tempo de surtar, pois logo Claire a arranca do chão e a põe em minhas mãos.
― Não somos apenas humanas, Catarina! Nosso sangue é abençoado, mas também amaldiçoado: somos filhas de deuses, nascemos para lutar. E lutamos, principalmente, por nossas vidas! ― Claire diz com urgência, girando algo em mãos.
― O que... O que está acontecendo, Claire? ― eu chorava quando ela depositou um belíssimo arco em minhas mãos, sobre a flecha.
― Eu prometo que te explicaremos tudo, nos menores detalhes, depois, mas agora precisamos de você! Você sempre foi treinada para guerrear, Catarina: suas aulas de arquearia não foram em vão, muito menos porque achávamos bonito! Arquearia está em seu sangue, Catarina de Lyra: você é o último legado de Apolo! ― ela também chorava, e pela primeira vez parecíamos amigas.
― Atire essa flecha, Catarina! Atire-a, salve-nos, e talvez um dia saiba a verdade sobre nossa família! ― Jasmyn dissera.
Mesmo não tendo idéia do que estava fazendo, eu atirei, matando o que quer que quisesse nos matar naquele dia”.
E agora a verdade estava se revelando para mim.
“― Filhas de deuses, nascidas para lutar! Lutamos pela vida, Catarina! Salvamos vidas! ― Jasmyn explicara na ocasião ― Somos amaldiçoadas, você mais que qualquer um, mas ainda pode se salvar e salvar muita gente: é o seu destino!”
Tirei o diadema que ganhara naquela manhã e fiz um gesto que pareceria estranho, mas que me foi tão natural quanto respirar: o girei em minhas mãos, vendo-o se alongar até se tornar o arco que eu vira em minha mente. Nele estava escrito algo que, de alguma forma, eu reconhecia como grego antigo, mas que conseguia ler com perfeição: sôter.
― Salvador... ― murmurei estagnada, encarando aos olhos liláceos do loiro a minha frente ― Salvadora!
― No décimo quinto verão, a verdade se revelará. Três à salvadora devem guiar. ― o rapaz murmura, como se recitasse uma poesia ― A partir de então, o destino do mundo a ela pertencerá! ― senti a mão grande do garoto se apoiar na base de minha coluna, como se fosse me conduzir em uma valsa ― Você está destinada a grandes feitos, filha de Apolo! Mas primeiro, creio que precise descansar.
E o breu tomou conta de minha mente, levando-me para um descanso sem pesadelos ou sonhos, mas ainda assim tormentoso.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Muitas mudanças da primeira versão para essa, viram?! Fiquem tranquilos que até o quinto capítulo eu tenho tudo escrito, então por um tempo não teremos hiatus.
Que tal me contarem o que estão achando? Lembrem-se: reviews ajudam a dar ânimo e podem revelar muita coisa u.u
Beijos a todos!