Sekai no Sozokujin: Herdeiros de um mundo -revisão escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 33
Expulsa!


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores :)
Bem-vindos à 74° Edição dos Jogos Vorazes. Que a sorte esteja sempre ao favor de vocês e dos nossos personagens...
Ou não.
MUAHAHAHAHA
Prometo que não estou rindo feito uma maníaca aqui.
Mentira, não prometo não.
Boa leitura, amamos vocês ❤



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—Ah… Hinata. -A exclamação que saiu da garganta do Hokage assim que a ex-Hyuga atendeu à porta sem dúvidas não era das melhores. Seu tom de voz indicava uma certa melancolia, misturada talvez com algum tipo de constrangimento. Hinata o encarou de forma séria, porém também um pouco melancólica. Não era como se não soubesse os motivos que o haviam trazido até ali. -Hitomi está?

—Não. Ela saiu para treinar com o pai, já faz algum tempo. -Respondeu. Seu tom de voz continuava gentil, como sempre fora. Hinata, Naruto notou, quase não envelhecera, apesar de ter se tornando claramente mais madura. Tinha poucas marcas no rosto de pele alva, e, mesmo com as roupas pouco favoráveis que vestia, era bem visível que ainda tinha um belo corpo. Era uma mulher muito bonita, e isso era inegável.

O Hokage suspirou de forma chateada. -Sabe aonde eles estão?

—No campo de treinamento mais próximo, acho. A não ser que ele a tenha levado…-Ela não continuou a frase, apenas deixou-a morrer ali. Naruto, porém, não precisou de muito para entender, porém não teve fé de que fosse realmente aquilo. Sasuke era relutante sobre informações do clã Uchiha, e o amigo podia compreender o porquê.

Afinal, não era isso que também fazia? Ocultava informações dos filhos no intuito de protege-los?

—Certo, 'ttebayo. Vou procurar por eles, tenho assuntos importantes a tratar. Obrigado, Hinata. -Após uma leve saudação, ele se virou para ir embora, antes mesmo que a mulher pudesse terminar de balbuciar um culpado “De nada”, e se afastou lentamente. A matriarca Uchiha sabia que ele já fora, e que ela poderia voltar tranquilamente para dentro de casa, ou ao menos assim achava que deveria ser. Porém, ela continou ali, junto ao batente da porta, observando-o com seus olhos perolados até que não houvesse mais nenhum mínimo sinal de seus ombros largos e de sua capa branca e vermelha entre as pessoas que ali passavam.

Observou-o pelas costas até que sumisse de vista, sem que antes pudesse dizer ao menos uma palavra de despedida. Como sempre fizera.

Esgueirou-se novamente para dentro, fechando a porta e apoiando as costas nela. Levantou a mão esquerda e fitou-a com nostalgia.  Não sabia muito bem o porquê, e preferia pensar que era pela morte de Neji, mas ainda se lembrava bem daquele dia.

E, por um momento, ela teve dúvidas sobre o quanto realmente havia mudado desde aqueles anos.

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—Ela ainda não deve saber, e papai deve ter aproveitado o tempo que saímos para chamar ela! -Disse Hokuto, a poucos passos da casa dos Uchiha, e viu o irmão suspirar.

—Então não acha mais fácil a gente ir no escritório do Hokage, 'ttebane? -Questionou o menino.

—Não acho que eles estejam lá.

— Por quê não?

—Intuiçao, Bolt.

—Ahãm… E sua intuição diz que eles estão onde?

—Não sei, 'ttebane. - Admitiu, com um semblante preocupado passando por seu rosto. Realmente não sabia, e era difícil achar alguém específico no meio de uma vila como Konoha mesmo com a habilidade de seus olhos, ainda que fosse Hitomi.

Finalmente chegou à frente da casa de Hitomi, e bateu na porta de forma apressada. Não se importava se a tia iria pensar que era uma louca; precisava achar a amiga o mais rápido possível. Provavelmente a essa altura era possível que Naruto já estivesse dando aquela notícia a ela.

—Tia Hina!!! -Gritou, batendo novamente, agora com um pouco mais de força. Porquê Hinata, ou até Sasuke, ainda não haviam aparecido para atende-la?

Então, a porta estalou, e se abriu, revelando a face preocupada de Hinata.

—Bolt, Hoku, o que vo...

—Precisamos falar com a Himi, ela está? -Questionou a rosada, sabendo que falava tão apressadamente que praticamente se atropelava nas próprias palavras. Por um momento, sentiu medo de que a mulher não houvesse entendido bem a pergunta, porém logo Hinata balançou a cabeça negativamente.

—Foi treinar com o Sasuke. -Declarou. Hokuto suspirou, e apenas respondeu com um aceno de cabeça.

—O nosso pai passou por aqui? -Foi a vez de Boruto perguntar, e dessa vez, a matriarca deu uma resposta positiva, o que o fez lançar a irmã um olhar de urgência. Hokuto concordou mentalmente, sabendo que ele iria entendê-la igualmente pelo olhar, sabendo o que aquilo queria dizer; Talvez estivessem atrasados demais. -Tá, valeu tia Hina, tchau. -Agradeceu, de forma ríspida e que não soou tão educada quanto deveria. Hokuto pigarreou, e logo os dois corriam novamente, dessa vez em direção ao campo de treinamento.

—Acha que ele já falou? -Perguntou ao irmão. A verdade era que seu medo não era apenas em relação a reação de Hitomi ao ser despachada do time, o que já era algo bem grave, mas também de ter sua amiga afastada de si, e sabia que Boruto, embora o menino fosse demasiado orgulhoso para admitir, sentia o mesmo, talvez até numa escala ainda maior.

—Talvez, 'ttebane… -Seus olhos, que até ali haviam focado-se apenas no caminho à sua frente, deslocaram-se para a irmã, encarando-a de forma arrependida. -Sabe, Hoku, sobre as coisas que eu disse no jantar, eu não queria…

—Está tudo bem. -Afirmou, embora suspeitasse que seu rosto houvesse tomado uma expressão dura ao falar aquilo. -Algumas coisas que você disse… Não, várias coisas… Estão certas.

—O quê?! -Sua velocidade diminuiu um pouco, e sua voz apresentava tanto surpresa quanto indignação. -Não! É claro que não, 'ttebane… Você não é…

—Eu sei o que eu sou, 'ttebane. -Suspirou, também diminuindo um pouco o passo para que pudesse continuar o diálogo com Boruto. Sua voz, porém, não saía tão confiante quanto ela esperava sair. -Eu sei.

—Hokuto…

—Não é hora pra isso.

—Mas…

—É sério. -Reforçou, batendo de leve no braço do irmão e apontando para frente. Já haviam chegado ao campo de treinamento, e, dali, já era possível ver Hitomi, Sasuke e Naruto parados a alguns metros deles. Pela posição de Naruto, Hokuto poderia dizer que ele havia chegado a tão pouco tempo quanto ela mesma. Um certo alívio preencheu seu peito; Afinal,ainda poderia existir uma saída daquela situação.

Tarde demais… -Boruto murmurou, o que fez a irmã lançar a ele um olhar raivoso.

—Nunca é tarde demais. -Disse, de forma dura, desejando ardentemente poder se sentir tão firme quanto havia aparentado naquele momento. O menino a encarou, aparentemente admirado. -Vamos até lá.

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A situação estava crítica entre Uchiha e Uzumaki, e isso era claro a qualquer um que olhasse. Naruto e Sasuke haviam conversado seriamente muitas vezes após o segredo de Hitomi ser revelado. Naruto estava preocupado com os filhos, e Sasuke compreendia isso; Sabia o quanto havia feito o loiro sofrer com a maldição, mas também sabia que a filha não tomaria o mesmo caminho. Orochimaru agora não estava atrás da Uchiha com um interesse qualquer, assim como estivera com Sasuke antigamente, e isso havia sido comprovado após ambos, tanto o Hokage quanto o próprio Sasuke, terem ido até a Vila do Som exatamente com objetivo de interrogar o sannin, que afirmou não ter nada relacionado àquela história, e não fazia ideia de como alguém como Hitomi (cuja ele também alegava sequer saber da existência) poderia ter a marca da maldição. Após isso, Sasuke fez um acordo, depois de mais uma longa discussão com Naruto: iria mandar a filha para a Vila do Som para que pudesse aprender a conviver e usar a marca, ao passo que Orochimaru enviaria Mitsuki, seu filho, para trabalhar temporariamente como Shinobi da Folha, não apenas como uma correção de desfalque, mas também como um meio de garantir sua lealdade. Se não podiam impedir, iriam lidar com aquilo. Hitomi precisava saber controlar a marca, e, para isso, precisava ser treinada alguém que a tinha, e esse alguém trabalhava para Orochimaru. Era arriscado, sabia, mas também necessário. Além disso, não era como se aquele fosse o único motivo, ou como se aquela fosse a primeira vez que a hipótese de mandar Hitomi a outro lugar temporariamente fosse levantada.

Mitsuki já chegara. Faltava apenas dar a notícia a Hitomi, para que pudessem envia-la para a vila aliada o mais breve possível. E era isso que Naruto, mesmo com seus anos de experiência, temia. Era também o motivo que o fizera caminhar até Sasuke e Hitomi naquele dia, mantendo a postura mais séria que podia, e respirar fundo antes de chamar, com um certo peso no peito:

—Uchiha Hitomi. -Os olhos da menina, que já estavam sobre ele desde o momento em que entrara no campo, arregalaram-se levemente. Era fácil observar através da menina, e ver que, além da calma que aparentava, estava com medo do que viria a seguir. Não muito diferente do que o próprio Uzumaki sentia.

— Estou aqui. -Disse ela, dando um passo à frente e endireitando a própria postura. Sasuke mantinha-se calado e parado na mesma posição, observando a filha de forma curiosa. - Pode falar senhor.

—Hitomi... -Naruto encarou o olhar escuro e profundo que a garota Uchiha lançava a ele.Tentou não pensar nas vezes que ela o chamara de "Tio Naruto", ou na amizade que desenvolvera com Hokuto. Uma amizade tão unida e intensa, uma que cobiçara tantas vezes e que não pudera ter naquela idade com Sasuke. Ele se perguntou se estava sendo duro demais. 

"Não. Eu preciso fazer isso. Ela têm que aguentar, ao menos por um tempo" Pensou, repreendendo-se. Se estava fazendo aquilo, era para proteger não só Hitomi, como também seus filhos e também Toshiko. 

—Eu queria dizer que a partir de hoje, devido às circunstâncias atuais, você não será mais… -Repentinamente, o olhar de Sasuke pulou de Hitomi para algo atrás do Hokage, vindo da entrada do campo. Naruto nao pôde evitar de olhar também, o que interrompeu sua fala. Dali, Hokuto e Boruto vinham correndo, e o tempo pareceu passar alguns segundos mais devagar quando o olhar de Naruto flagrou os filhos vindo em sua direção. Aquilo não estava certo, e a presença deles apenas faria aquele momento se tornar ainda mais doloroso. -Hokuto, Boruto, o que vocês…

—Não damos a mínima para aquela missão ridícula que você nos deu apenas para que ficassemos fora desse assunto. -Declarou Boruto, com raiva no olhar. Naruto não podia negar; a missão realmente fora dada psra que eles não interferissem naquilo. Aparentemente, não havia adiantado muita coisa. 

—Senhor. -Hokuto se pôs á frente de Hitomi, como se tentasse proteger a garota, e possivelmente estava. Naruto levantou uma sobrancelha. Não é como se pudesse voltar atrás. -Eu peço... Não puna Hitomi por qualquer coisa feita por ela. Não a puna por ter medo do que o mundo poderia fazer com ela e o que tinha em seu corpo desde o início, e nem por esconder segredos. Se for assim, me puna ao invés dela. Afinal, eu fiz o mesmo, 'ttebane.

Teve que se segurar para não demonstrar o choque com a atitude da filha, ou com o que ela falara no fim. A pequena rosada parecia decidida a usar unhas e dentes (e força física brutal) para proteger a amiga. Ele quase soltou um sorriso orgulhoso. Afinal, ele mesmo não havia sido assim? Teimoso como uma mula, querendo proteger a todos? Ela havia puxado isso dele. Será que estava errado em fazer aquilo? Faria algumas das pessoas a quem mais amou sofrerem tanto? Era realmente necessário?  

"Sim"

— Continue, Usutonkachi. -Sasuke, que ficara calado durante todo aquele tempo, finalmente falou.Naruto limpou a garganta, e tentou afastar da mente os sentimentos que estava quase expondo ali. Tudo bem, iria fazer isso. Não era como se fosse tão difícil assim.
—Eu queria dizer a vocês, que Hitomi Uchiha, kunoichi de nível Chunnin da Vila da Folha, estará, a partir de hoje, definitivamente... -Ela parou, e olhou para os filhos, a sobrinha e o melhor amigo. A palavra Definitivamente pioraria as coisas de um jeito catastrófico, sem dúvidas. Hokuto parecia implorar com o olhar para que o pai não continuasse.- Quero dizer, temporariamente, expulsa do então chamado time 7. Não participará mais das missões, e seus relatórios e documentos que comprovam que um dia fez parte do time serão arquivados.

Hitomi parecia paralisada. Sasuke soltou um suspiro e fitou o chão, como se houvesse algo de muito interessante nele. Boruto e Hokuto fizeram expressões espantadas, não acreditando que aquilo realmente fora dito. Era pior do que o esperado. Hitomi não seria apenas mandada embora.

Ela não estava apenas sendo expulsa. 

Estava sendo excluída, como se o time como todos o conheciam nunca houvesse existido.

 - O que? Pai, você está brincando, não está? -Hokuto mantinha a expressão chocada no rosto, lágrimas de tristeza e raiva pareciam querer rolar de seus olhos. -Você... você não tomaria uma atitude tão extrema para algo desse tipo. 

—Depois de muito conversar com Sasuke, eu e ele decidimos que seria melhor... 

—Quem se importa com o que vocês acham melhor? O tio Sasuke concordou em fazer isso com a própria filha? -Boruto quase gritava, a raiva aparente na voz. Sasuke saiu de sua posição e caminhou até o lado do Hokage, e, encarando o aluno de forma rígida, soltou um “Sim”, sem o mínimo fragmento de arrependimento na voz. 

Hitomi continuava parada, num estado  estranho, como se estivesse apenas semi-consciente do que acontecia. Seu rosto não apresentava expressão alguma. Estava vazio e pálido, como uma folha em branco, e ela encarava o nada. 

—Boruto, entenda que estou fazendo isso pelo bem de todos aqui presentes...

—Bem? Pelo bem? De quem? Si mesmo? Que...Que tipo de atitude egoísta é essa, principalmente vinda de você? -Hokuto falava baixo, mas ainda assim audível. O som que soltava junto com as palavras parecia mais um rosnado feroz. Naruto poderia jurar que quando ela levantasse a cabeça, os olhos de Kurama estariam lá. -QUEM VOCÊ ACHA QUE É? DANE-SE O TITULO DE HOKAGE, VOCÊ É MEU PAI! É PRATICAMENTE O TIO DE HITOMI, E EU NÃO POSSO ACREDITAR QUE ESTEJA FAZENDO ISSO CONOSCO!

Dianre das palavras de Hokuto, Hitomi finalmente reagiu. Seus olhos retomaram foco, e, numa voz frágil, questionou: 

—Só está fazendo isso por causa da minha marca? 

—Não, Hitomi. Eu estou fazendo isso pelo seu bem. Eu...eu nunca te machucaria em circunstância alguma...Nem fisicamente nem emocionalmente... Sasuke e eu, nós apenas decidimos... 

—Fale a verdade,Naruto. -Hokuto não estava mais gritando, mas seu tom de transformava em algo rígido e cheio de raiva, e o rosnado feroz continuava vindo da garota. -Se fizer isso... Eu... Eu nunca mais... 

Naruto fechou os olhos por um momento. Era preciso, era preciso, era preciso. Voltar atrás nunca tinha sido uma opção para o ninja, e não seria agora. 

—Não é só por esse motivo. -Disse, finalmente.

 -Então qual é o outro motivo? -Hitomi fechou os olhos enquanto perguntava, talvez sentindo-se culpada pela situação.

—Existem coisas que não podem ser reveladas. E existem coisas que são necessárias. Às vezes é necessário se afastar de alguém. -Ele lança um olhar diretamente a Hokuto, não captado pela Uchiha.- Para que nada de ruim aconteça com você nem com essa pessoa Hitomi. Eu sinto muito que tenha que ser assim. Mas foi o que eu e seu pai decidimos, 'ttebayo.

—Tio Sasuke... Ele não faria... -Hokuto sentiu lágrimas quentes rolando por seu rosto. O pai a encarou. Não dava pra negar que aquilo também o afetava. Sasuke nao alterou sua expressão, mas tampouco confirmou. -Eu não acredito...

—Se queria ser livrar de mim, por quê não fez isso logo no começo? - A voz, embora ainda frágil, expressava raiva. Não era verdade. Não queria se livrar dela.

Não é?

—Eu não queria me livrar de você. Eu não quero me livrar de você, de forma alguma. -Naruto parecia estar a beira de um precipício, e era exatamente assim que também se sentia. Ele estava sufocando ao máximo a dor em sua voz.-Eu sempre tive um carinho enorme por você, Hitomi, sempre te considerei parte da família. Eu nunca iria querer uma coisa dessas. Eu quero apenas...Te proteger. Proteger e cuidar de todos. 

—Proteger? -Hokuto solta um ruído estranho, quase como uma risada irônica. -Cuidar? É isso que acha que está fazendo? Você não faz ideia... Você não faz a mínima, sequer a MINIMA, ideia do que está fazendo.

—Eu estou protegendo vocês.  -Respondeu, com firmeza.

—Você está nos destruindo. -As palavras saíram da boca da rosada tão gélidas e duras que o loiro não pode acreditar. O único que havia visto falar assim era Sasuke ou Itachi. Quem foi destruído, naquele momento, foi ele.

—Eu... 

—Seu monstro. -A última palavra parecia tanta mágoa e escuridão whe não era possível descrever. "Monstro". Ele já ouvira aquilo antes, inúmeras vezes. Mas nunca doera tanto. O ar escapou de seus pulmões.

— Sério? Está com medo da sua filha? -Existia sarcasmo na voz de Hitomi, quando questionou o padrinho. Seus olhos se abriram, o Byakuringan ativo.

Não era medo. Naruto nunca teria medo da própria filha. Ter medo dela e rejeitá-la por isso seria sujeitar a rosada a sofrer o que ele havia sofrido, e de maneira alguma ele desejava isso. Ele encarou a Uchiha, que o olhava curiosa e raivosa com os kekkei genkais, e então dirigiu o olhar para a filha, que mantinha a cabeça baixa.

—Você não pode fazer isso, 'ttebane. -Hokuto diz, a voz baixa.

—Eu posso. -Naruto engoliu em seco. -E eu já fiz. Foi uma decisão extremamente discutida e tomada em conjunto com Sasuke. Não me culpe.

—Como não? -Boruto, pela primeira vez, parecia à beira das lágrimas. Ele não se lembrava de qual fora a última vez que vira o menino chorar.

—Como não vamos te culpar? -Questiona Hitomi.

—Crianças, eu estou fazendo isso pelo bem de vocês! 

—Chega! Chega de falar que pelo nosso bem, pois não é! -Hokuto parecia querer gritar, mas aparentava estar se segurando. -Isso dói! E eu sei que você sabe o quanto! Sei que está com medo de passarmos o que você passou com Sasuke, mas tirando Hitomi do Time você só está concretizando isso! Está tentando nos livrar da dor nos trazendo mais dor. Que tipo de pessoa faz isso? A dor machuca, ela é a dor, então dói, ela não cura! PESSOAS NÃO SE SALVAM PELA DOR! NINGUÉM RESSUSCITA PELO SACRIFÍCIO DE ALGUÉM! - A garota agora estava soluçando. - Você está tentando evitar que o passado se repita. Mas está fazendo com que ele o faça.

Então era isso. Ela sabia. Sabia de algo, talvez não de tudo, mas sabia que ele e Sasuke haviam passado maus bocados no passado. Sabia que haviam muito mais motivos do que aquela marca.

Então porquê ela não entendia? 

—Já é o suficiente, Hokuto. Eu não posso voltar atrás. 

—E eu prometo que conseguirei  trazer a Hitomi de volta, mesmo que ela vá. E eu também não volto atrás, esse é meu destino. É minha conduta ninja. -A rosada fala, com uma determinação tirada de um lugar que nem ela sabia qual. Estava de pé, na frente de Hitomi, com um aspecto cansado e lágrimas nos olhos: parecia exausta, e ao mesmo tempo pronta pra batalha. Naruto viu a si mesmo na garota, naquele exato momento. 

—Então tudo bem, filha. Lembre-se que um Uzumaki sempre cumpre suas promessas. 

—E eu vou. -Hokuto responde, uma firmeza impressionante na voz. -E vão se arrepender de terem duvidado de mim. Eles são meus amigos. Ela é minha amiga. E eu... Vou fazer de tudo pra que ela fique bem e ao meu lado no fim dessa história, 'ttebane.

Naruto flagrou um sorriso de lado por parte de Sasuke. Afinal, não era apenas ele que pensava na semelhança que a filha tinha consigo quando mais novo.

—Eu preciso ir. Hitomi, hoje é seu último dia no time. - Isso fez com que as crianças finalmente terminassem de cair em si. -Me desculpem, dattebayo.

O loiro se virou para ir embora, e já estava andando quando a voz de Hokuto surgiu, se sobrepondo a qualquer outro som.

—ISSO NÃO É JUSTO! -Ele virou a cabeça, olhando a rosada, que havia caído de joelhos. Naruto lembrou-se novamente de tudo. De si mesmo, machucado por dentro e por fora, ignorado, maltratado, abandonado por quem havia chamado de amigo, obrigado a assistir a morte de companheiros, lutando para não tirarem o que ele já não tinha. Morte, sangue, traição, sacrifício... As memórias rodopiavam na mente do Hokage, e ele sequer percebeu que estava gritando quando falou:

—Nunca é!  -O loiro observou a cara espantada dos mais novos. Sem dúvidas não esperavam aquela reação. - Nunca...é…

Novamente se virou para ir embora, porém não antes de ouvir Hitomi, com a voz tão cheia de tristeza que até mesmo ele não podia deixar de se sentir tocado, despedir-se de Boruto com um “Se cuida, cabeça-oca”, e depois de Hokuto, “Obrigada por tudo. Cuida do Boruto por mim”. Seus passos se afrouxavam à medida que os ouvia falar. Santo Rikudou, porquê tinha de ser daquele jeito?

Ouviu passos aproximando-se rapidamente, e especulou ser Sasuke. Quando olhou para trás, entretanto, era Hitomi. A menina segurou com força sua capa, forçando-o a parar, e o encarou de forma fria.

—Já que me tirou do time, não preciso mais disso. - Disse, puxando do pescoço um cordão. Nele, pendurado, um pingente do número 7. Naruto conhecia aquele colar, sabia que era o que Hokuto havia dado de presente para Hitomi (juntamente com um urso de pelúcia gigante), e tinha conhecimento disso apenas pelo fato de que a de seus clones ajudava na loja onde a menina comprara os presentes. Hitomi jogou em sua direção e ele, por puro reflexo, o agarrou. A menina não diz mais nada. Apenas passa pelo Hokage, indo embora.

—---------------

—A culpa é sua. -Murmura a rosada, se encolhendo e chorando, mesmo sabendo que isso não adiantaria nada; era apenas uma forma de tentar aliviar a dor. Havia assistido toda a cena de Hitomi com o pingente, e agora apertava o seu próprio colar, igual àquele que a amiga carregava. Boruto também tinha um. Ela flagra o pai pondo o colar no bolso e então sair andando, mal sabendo o que pensar. Lágrimas escorriam no rosto dos dois naquele exato momento, quase pela mesma coisa: A diferença é que Naruto já havia se acostumado com a dor. Hokuto só estava realmente lidando com ela agora. 

Boruto não ousou se aproximar da irmã, tampouco Sasuke. E no fim da tarde, ela se dirigiu à academia. Era ela e sua dor, era ela e seu dom, era ela e seu fardo, assim como havia sido na geração passada de sua família. Sozinhos, tristes num tão habitual balanço, a imagem das duas gerações, pai e filha, ficaria marcada para sempre naquele exato lugar, naquele brinquedo tão inocente e infantil.Balanço onde Naruto havia crescido, e tomado conhecimento de si próprio como alguém desprezado e injustiçado.

Balanço onde Hokuto estava agora sentada, pensando nas atitudes de si mesma e de todos ao seu redor, novamente só, refletindo o passado do garoto loiro que um dia também estivera sentado ali, sentindo a mesma coisa; Sua dor interna sequer se comparava à dor que sentira naquele mesmo dia, por conta dos dedos na cadeira no escritório de seu pai, no que lhe pareciam dias antes, mas eram apenas algumas horas. Ela poderia gritar, se desesperar, se ajoelhar e chorar, mas ela jurou para si que não faria isso.

Ela apenas ficou lá, calada, o vento soprando suavemente e balançado seus cabelos.

Pai e filha nunca haviam sido tão parecidos.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Não nos matem!!!
Se preparem, viu? As coisas estão só "começando" :3
Beijão ❤
Ps: comprem lencinhos pro próximo capítulo.



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