Neji subia um lance de rua com a cabeça nos ares.

Poxa... nunca me senti assim. Aquela garota realmente mexeu comigo, sabe? Eu já saí com outras garotas, não que hoje tenha sido um encontro, mas... de um jeito que eu ainda não descobri, Tenten consegue me fazer sentir muito bem ao seu lado. Sempre sorridente, com ideias pra lá de diferentes...

Chegando em casa, Neji jogou a mochila de qualquer jeito no sofá e se dirigiu à cozinha.

—Tomara que tenha sobrado algo do almoço, estou faminto!

—Neji -chamou Hinata entrando na cozinha.

—Sim? -disse Neji com um pedaço de carne nas mãos.

—Aonde é que você estava? Disse que ia voltar à tempo do almoço, já são quase quatro horas! Papai está uma fera com você.

—Tá mesmo -disse Hanabi.- Ele ficou perguntando o tempo todo pra gente aonde você tinha ido e como somos legais, dissemos que ficou na biblioteca estudando, mas não sei se ele acreditou muito nisso.

—Gente, que drama. Eu só saí e me atrasei, a Terra não parou de girar por causa disso.

—Neji! -disse Hiashi em um tom sério, fazendo as filhas se afastarem um pouco do primo.

—É o meu nome -disse o garoto sorrindo.

—Não me venha com deboche. Sabe muito bem o que fez.

—Ótimo, assim não precisamos ficar remoendo o que aconteceu.

—Nem pensar! Eu disse que era para você estar em casa às uma em ponto!

—Mas não disse de que dia. Podia ter sido hoje, amanhã, daqui há um mês... depende muito das interpretações da sua frase.

—Não brinque comigo, eu não gosto dessa sua falta de respeito.

—Ah é? Então sai na rua e faz um protesto -disse o garoto em tom de deboche abocanhando outro pedaço de carne.

—Aonde é que você estava? -Hiashi perguntou em um tom rígido.- E nem tente a biblioteca porque essa desculpa não colou.

—Por aí.

—Neji -disse Hinata olhando para o primo querendo que a situação acabasse de uma vez.

A Hinata é assim. Sempre com medo de situações que envolvem brigas. Vejam só o olhar dela. Parece até que vai chorar! São raras as situações em que ela entra em uma discussão, mas quando acontece, fica vermelha e mal pode falar sem soluçar. Mesmo quando tinha razão, se visse que prolongar a conversa acabaria em discussão, ela cedia. Eu, por outro lado, adoro discussões. Nunca levo a culpa por algo que não fiz e também discuto quando faço algo que não devia. E se atentarmos bem para o assunto, em discussões, você sempre aprende mais com a opinião com quem se discute, então, adoro um bom bate-boca.

—Eu estava no colégio, saí um pouco mais tarde e quando estava voltando pra casa, me perdi.

Se esta história virasse um anime, a imagem de Hiashi que apareceria seria de uma enorme cabeça, vermelha e com as veias pulsantes, tamanha a raiva do homem.

—Você o que, Neji? 

—Eu me perdi -respondeu o garoto calmamente.

—Se perdeu no caminho do colégio pra casa, o qual você o faz há onze anos da sua vida?

—Essas coisas acontecem, sabe? Me conhece, sabe que às vezes eu mergulho no meu mundinho imaginário e fico fora da realidade. Eu realmente estava vindo pra cá, mas quando me dei conta, estava em outro lugar, por isso me atrasei para o almoço.

—Neji, irei perguntar pela última vez, aonde é que você estava? Sem brincadeira...

—Ou o quê? Vai me bater? Já vou avisando logo, se bater vai levar.

—Ele estava com a Tenten -disse Hinata por impulso.

Sua metida!

—Hinata -exclamou Neji com os olhos arregalados pela informação inconveniente da prima.

Devem estar se perguntando o porquê da minha reação. Bom, eu nunca fui lá a pessoa mais confiável do mundo, então, quando saía com alguma garota ou até mesmo com amigo, sempre rolava confusão. Não que eu procurasse por ela, mas parece até que eu atraio situações indesejáveis. Uma vez, estava em uma festa com o Naruto, a Ino e o Sasuke e rolou uma confusão tão grande, que nem em pensamento eu confesso o que realmente aconteceu. Depois disso, cheguei em casa machucado, não perguntem o porquê, e meu tio baixou a lei: de casa pra escola, da escola pra casa. Custou muito depois do acontecido ele me devolver meu celular. Foi nessa época que comecei a apreciar mais a escola, já que era meu único meio de comunicação com as pessoas que eu gostava. Depois disso tudo, resumindo, se meu tio descobrisse que estava saindo com uma garota, com certeza iria encrencar.

—Quem é Tenten, Neji? -indagou Hiashi.

—Ninguém -disse tentando despistar o tio.

—Então Hinata acabou de inventar esse nome?

—É característica de pessoas oprimidas fazerem isso. Conhece ela, nunca faz o que quer ou fala o que pensa, acumulando isso pode resultar em insanidade e acho que ela está mostrando claros índices de loucura.

—Para com isso Neji -disse Hinata se aproximando.

O que ela tá fazendo? Sempre que a situação fica feia, ela sempre se esconde ou se encolhe em um canto, agora deu pra ficar corajosa? Logo pra me prejudicar?

—Você não sabe de nada -disse Neji fuzilando a garota com o olhar.

—Sei sim. Papai, ele saiu com a Tenten do colégio e não sei para onde foram.

—Tudo bem, e quem é Tenten? -perguntou Hiashi.

—É uma garota que entrou esse ano na nossa sala e o Neji tá se engraçando pro lado dela.

Sua...

—Pelo menos vou morrer com a sensação de namorar alguém, diferente de você que perdeu o garoto que gostava porque não sabe falar o que sente! -gritou Neji para Hinata, que logo ficou avermelhada.

—Isso... não... não é verdade -argumentou Hinata gaguejando.

—É mesmo? Então por que está gaguejando? Hum? E está vermelha assim por quê? Você não sabe mentir e toda vida que tenta fica vermelha que nem pimentão, mais óbvio só uma seta gigante e piscante apontando pra você.

—Já chega vocês dois -disse Hiashi enquanto Hinata saía correndo da cozinha, logo seguida de Hanabi.

—Neji, eu só lhe perguntei onde você estava, bastava ter respondido e teria evitado essa discussão toda, por que é sempre assim?

—Porque não gosto que se metam na minha vida. E você só aguenta isso, não porque gosta de mim, mas porque se sente culpado de ter matado meu pai! 

—Isso não é verd... -disse o homem, mas sem sucesso, visto que o garoto já tinha saído apressado da cozinha.

Neji subiu as escadas correndo, entrou em seu quarto e quando fechou a porta, quase a arrancou tamanha a brutalidade.

—Quem aquele imbecil pensa que é? -disse Neji para si mesmo enquanto deitava na cama.- Ele acha que é meu dono, por acaso? Se ele tá pensando que eu...

O celular toca. Neji olha no visor e vê que uma mensagem chegou. Era de Tenten.

—Tudo bem?—dizia a mensagem da garota.

—Não muito —Neji respondeu a mensagem deitado na cama.

—Aconteceu alguma coisa?

—Nada demais, apenas o de sempre.

—Seu tio brigou com você, não foi? E por minha culpa...

—Não foi sua culpa. A discussão foi bem mais além do meu atraso.

—O que está fazendo agora?

—Só deitado.

—Quando eu fico triste, além de ir pro lago, às vezes olho pela janela o céu ou as pessoas passando na rua, por que não tenta isso?

—Eu não sei...

—Vamos lá, funciona, você fica olhando as pessoas passarem, os pássaros voarem, te deixa mais tranquilo.

—Você é cheia de soluções para o mau-estar, não?

—Rsrs. Tente.

—Tudo bem —digitou Neji e levantou da cama, abrindo a janela.

—Sentiu a brisa? Está bem ventilado, não está?

—Você é vidente também?

—Não, apenas estou sentindo.

—Como?

—Olha para baixo.

—O quê?

—Da janela, olhe para baixo.

Neji deixou o celular de lado e virou sua atenção para o chão abaixo de sua janela. Lá estava ela. Tenten sorria e acenava para o garoto com o celular na mão.

—Oi! Achei que estaria encrencado e vim ver se podia fazer algo -disse Tenten em baixo tom para que apenas Neji a ouvisse.