Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 9
O chamado de Áquila


Notas iniciais do capítulo

Quase atrasei a postagem desse capítulo, mas estou aqui, firme e forte, antes de bater meia noite, o que significa que ainda é sábado. Então, aí está!



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No dia seguinte à tentativa de roubo que ocorrera na casa de Kurt, de volta à Casa Grande, o dia parecia correr bem. A única pessoa que ainda estava emburrada era Carlos Magno. Mesmo depois de Adela lhe fazer outra torta, ele não parecia satisfeito.

— Aquela garota vai me pagar — ele resmungou. Ao seu lado, Leandro mal pode o riso, tão cômica era a situação. Quando Magno notou o divertimento do irmão, ficou ainda mais irritado.

Kurt e Elric jogavam uma partida de xadrez sem fazer caso da reclamação de Magno, enquanto Loui lia um livro num canto confortável.

De repente o telefone tocou. Adela atendeu e sua expressão, antes indiferente, ficou séria. Após uma curta conversa, ela aproximou-se dos irmãos e os avisou que Áquila queria vê-los.

***

Depois da floresta de Acádia, próximo a um desfiladeiro, já passada a fronteira entre o distrito de Áquila e a Federação de Grahan, havia um enorme castelo conhecido como Castelo da Águia. Esse era o centro da Ordem de Áquila.

De cima, a vista do lugar era maravilhosa. A montanha coberta de árvores, algumas com folhas majoritariamente alaranjadas ou acastanhadas, o que conferia um toque delicado à paisagem.

O castelo imponente, realçado pela natureza que o cercava, era gigante, e apesar de sua aparência medieval, fora construído um século atrás. Era branco com várias torres e uma entrada magnífica. Havia uma cidadela em seu interior e pelo desfiladeiro abaixo se via suas escarpas angulosas e a folhagem que caia montanha abaixo.

Era a primeira vez que Christophe visitava o castelo e estava impressionado com a visão. Seu interior não era menos chamativo que o exterior. As paredes eram grandes e suntuosas, e o teto parecia muito distante do chão. A decoração também era chamativa e extraordinária, com suas tapeçarias e louças expostas.

A sala do conselho, para onde os Raimann se dirigiram, era grande e iluminada. Havia uma mesa em meia lua e, no centro um trono onde estava sentada a princesa e, à mesa, os anciões. Sentados ali, todos impunham um respeito que Christophe admirou. Estavam sérios e os viam com atenção.

A princesa Samanta aparentava ser bem mais jovem do que realmente era. Sua idade não condizia com sua aparência de mulher de trinta anos. Sua pele negra certamente cooperava e seus cabelos pretos e lisos não tinham um fio branco sequer. Os olhos claros e penetrantes exigiam um respeito que Christophe não ousaria não lhe dirigir.

— Família Raimann — a princesa pôs-se a falar. Sua voz era grave e melodiosa, ao mesmo tempo em que ficava no ar, como um eco. — É bom vê-los novamente, embora nessas circunstâncias. É um prazer conhecê-lo, jovem Christophe — disse a princesa, dirigindo um olhar significativo para Christophe. — Já ouvi falar muito bem de você. Também é bom vê-lo, Carlos Magno. — Ela olhou para o outro, sem mudar o tom de voz ou a expressão. — Há muito tempo que não aparece diante dessa Ordem.

Os Raimann acenaram com a cabeça e aguardaram. Christophe olhou de soslaio para Carlos Magno, imaginando o que a Princesa quis dizer com ele ter aparecido diante da Ordem. Ele sabia que Carlos Magno tivera uma história bem complicada e muito de seu passado era um mistério para ele, mas garantiu a si mesmo que perguntaria ao primo.

— Então — a Princesa prosseguiu —, onde está Marcos Raimann?

— Não sabemos ao certo, alteza — Adela confessou. — Ele apareceu há uns três dias. Nos contou de seu envolvimento com os rebeldes.

— E imagino que foi apenas isso — a princesa afirmou.

— Sim, alteza.

— E você, Carlos Magno? Descobriu o que ele pretende?

— Tenho noção, mas não sei exatamente o que ele quer. Pretendo descobrir o mais rápido que puder.

— É preciso — um dos anciãos falou. — Soubemos que ele tem o auxílio de um lobo metamorfo chamado Jason.

— Sim.

— Nesse caso, não podemos fazer nada. Se um lobo está auxiliando os Óligos, não poderemos ignorar esse fato. Se ele atacar, revidaremos sem piedade — o ancião disse como se declarasse uma sentença contra um réu.

— Pode nos dizer o que mais sabem sobre os Óligos? — Christophe perguntou.

— Anarquismo! — a princesa falou bruscamente. — É tudo o que eles buscam. A destruição de Áquila, o agir como bem entender. Apenas isso.

— Liberdade para utilizar seus poderes deliberadamente. — Christophe falou para si mesmo.

— Muitos deles viviam aqui em Áquila, outros, assim como vocês, conviviam entre os humanos. Nenhum deles gosta de ter que esconder quem são realmente. Vocês devem ter ouvido fatos recentes de explosões em prisões, destruições de prédios, assassinatos inexplicáveis. São os Óligos. Eles têm se exposto, e nós fazemos o que podemos para minimizar os danos causados, mas tem se tornado muito difícil contê-los. E, agora, eles têm nos atacado com mais frequência.

Kurt se lembrou das várias vezes que vira notícias nos jornais sobre prédios que desabaram do nada, corpos que apareceram cuja causa da morte era estranha e por vezes inexplicável. Uma vez ele vira falar sobre um corpo que fora encontrado no rio. Os olhos da pessoa haviam entrado em combustão, de dentro pra fora, mas apenas os olhos. Ninguém sabia explicar o ocorrido, e já acreditavam na existência de pessoas como eles.

— O que devemos fazer? — Elric perguntou.

— Vocês devem encontrar Marcos e descobrir qual o plano dos Óligos. — A Princesa foi incisiva. — Os nossos soldados procurarão e destruirão esses rebeldes sem piedade. Se não quiserem o mesmo destino para seu irmão, convençam-no a parar e entregar os planos. Se nossos soldados o encontrarem antes, têm ordens para destruí-lo como os outros serão destruídos. Essa é a sentença para os que estão contra nós.

Os Raimann se entreolharam com preocupação. Apesar da tomada de decisão de Marcos e de ele saber exatamente quais as consequências de suas ações, nenhum deles queria que as coisas terminassem de forma fatídica.

Magno era o único que pareceu não se importar com o destino de seu tio e isso Christophe percebeu ao olhar para aquele único olho.

— Raimann — um dos anciãos chamou a atenção deles —, vocês são uma das poucas famílias que ainda conseguem viver em paz com os humanos. Por isso temos tantos sobre-humanos vivendo aqui, em Áquila. Os demais países não ignoram nosso povo, e nos reconhecem como país. Se vocês querem continuar a viver bem entre os humanos em Grahan, se esforcem para que seu irmão seja convencido do erro que está cometendo. A salvação dele depende de vocês, mas não menos dele.

Aquela era a decisão da Ordem, e aquela última sentença fora a palavra final e a deixa para que os Raimann se retirassem, o que eles fizeram. Caminharam pelos corredores do castelo em um silêncio que parecia pesar nos ombros de cada um. Agora a situação acabara de piorar para todos eles.

***

— Quando esteve diante da Ordem? — Christophe perguntou para Magno quando eles já estavam na casa de Kurt.

— Eu era pequeno — o primo começou a falar enquanto limpava o cano de uma arma. — Tinha nove anos. Estive diante da Ordem para falar que o que está acontecendo hoje, aconteceria mais cedo ou mais tarde.

— O que quer dizer? — Christophe demonstrou surpresa.

Magno se sentou no sofá e esticou as pernas sobre a mesa de centro, jogando a cabeça pesadamente para trás. Suspirou profundamente e ficou a olhar para o teto. Então falou:

— Marcos já tinha ligação com os Óligos naquela época, mas não necessariamente era membro. Ele mantinha contato com um membro ativo mas só juntou-se a eles recentemente. Eu relatei isso para a Ordem depois de flagrá-lo numa conversa pelo telefone, mas ninguém acreditou em mim. Era de se esperar que uma criança de nove anos desse um alarme falso. Só que agora pudemos perceber que não era falso.

— Mas se você tinha nove anos... isso tem treze anos — Christophe falou um tanto espantado. 

— Pois é — Magno falou, voltando seu olho para o primo, as sobrancelhas arqueadas numa expressão de ironia. — E agora ele é oficialmente um dos rebeldes.

— Isso teve haver com você se tornar soldado?

— Ter me tornado um soldado da Ordem me permitiu investigar melhor os assuntos de Marcos e eu descobri tudo. Só não sei o que ele pretende agora.

Christophe olhou para o chão e meditou em tudo o que estava acontecendo. O desentendimento entre Carlos Magno e Marcos era antigo, mas Christophe não lembrava ao certo, pois há treze anos era só uma criança de seis anos e não tinha noção das coisas como Magno já tinha com seus nove anos.

A rivalidade entre um homem de vinte e cinco e uma criança de nove era algo que divertiria Christophe se a situação não fosse tão delicada. Carlos Magno havia sido muito adulto para sua idade. Mas as coisas pioraram depois que ele cresceu. Agora, com vinte e dois anos, ele ainda tinha problemas não resolvidos com Marcos.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!



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