Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 8
Tentativa de Roubo


Notas iniciais do capítulo

Olá, eventuais leitores. Mais um capítulo, espero que gostem.



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Depois de conseguir pular o muro da casa de Kurt com pouca dificuldade, Alessandra entrou na casa pelos fundos, esgueirou-se atrás de alguns arbustos e alcançou a parede, encostando-se a ela. Ouviu várias vozes e, ao espiar o quintal, ficou surpresa ao ver tantas pessoas. Não contava com aquela quantidade de gente e pensou consigo que precisaria agir rapidamente.

A casa era grande e Alessandra não fazia ideia de por onde começar a procura pelo livro. Como houvesse muita gente, entrar pela porta da frente ou mesmo dos fundos estava fora de cogitação, por isso resolveu escalar a parede até o quarto de cima. Por ser hora do jantar, julgava que não devia haver ninguém nos quartos, então seu caminho estaria livre por hora.

Com ajuda uma corda presa numa ponta saliente na mureta de um terraço, Alessandra escalou e entrou num quarto. Era um bonito espaço, com uma grande cama de solteiro no centro, um piso claro, e paredes cor champanhe. Logo ela notou estantes flutuantes que circundavam uma escrivaninha bem organizada encostada a uma grande parede.

— Uau. Que quarto maneiro, hein! — falou a garota, caminhando a passos lentos e rodando em seu próprio eixo para poder admirar tudo ao seu redor. — Imagino com devem ser os outros quartos.

Num closet, várias roupas masculinas e alguns pares de sapatos estavam muito bem organizados. Sobre a escrivaninha, havia um álbum de fotografias de família. Alessandra, curiosa, folheou o álbum. Havia fotos de um garoto de lindos olhos violetas e cabelos pretos e compridos. Também havia fotos do mesmo garoto ao lado de dois idênticos a ele, e outro dos três cercados por duas garotas idênticas. Alessandra lembrou-se de ter visto as duas garotas no jardim. Provavelmente eram parentes, primos talvez.

Voltando ao foco, Alessandra fechou o álbum e pôs-se a procurar pelo livro. Havia muitos livros ali, mas poucos tinham capa preta. Ela revirou as gavetas, tomando cuidado para nada ficar fora do lugar. Olhou nas estantes, mas depois de alguns minutos procurando, não encontrou nada.

Alessandra começou a ficar impaciente, mas antes que desistisse e resolvesse ir para outro quarto, olhar para a cabeceira da cama, onde havia algumas revistas. Debaixo delas estava um livro que batia com a descrição que Marcos fizera. Capa preta, com arabescos e “diário” grafado com caligrafia artística.

— Até que foi fácil. Adoro grana fácil.

Pegou o livro e foi até o terraço, mas se deteve ao perceber que havia duas garotas conversando logo abaixo. Não poderia fugir pelo mesmo lugar que entrara. Então ela abriu a porta do quarto e, ao sair, deparou-se com um rapaz de cabelos longos e castanhos.

Michael olhou para a garota e, sorridente, acenou para ela. Sem entender, Alessandra acenou de volta e fez menção de entrar no quarto à frente, quando, de repente, Christophe apareceu.

— Mick... Quem é essa? — perguntou o rapaz, alarmado. 

— ... Não sei! — Michael respondeu sem desfazer o sorriso inocente que estava estampado em seu rosto.  

Quando Christophe se deu conta do que acontecia, a garota já adentrava o quarto à frente e corria em direção à janela.

— Espera! — ele gritou, mas ela já havia saltado precipitadamente a janela.

***

Adela deu a Magno um prato com um pedaço de torta de limão. Fazia muito tempo que ele não comia um dos doces que sua mãe sabia fazer tão bem, e sentia falta disso. Antes que pudesse tocar no doce, um corpo caiu em cima da mesa, bem próximo a ele e, consequentemente, em cima da torta.

Todos ficaram pasmos. Heitor, que também havia descido para jantar, notou nas mãos da intrusa o livro e, sobressaltado, o pegou rapidamente, pressionando-o contra o peito.

Alessandra balançou a cabeça e olhou em volta. Todos a olhavam, alguns preocupados e outros zangados. Ela sorriu sem saber o que fazer e, ao olhar para o lado, tomou um susto ao ver a face irritada, aquele único olho flamejante de chamas azuladas.

— Ca-Carlos Ma-Magno? O-Oi — gaguejou Alessandra, enquanto acenava e tremia com uma expressão tão assustada que era cômica de se ver.

— Você acabou com minha torta — o homem falou com gravidade, e a garota pode sentir uma aura negra de raiva envolvê-lo. — Eu queria muito aquela torta.

— De-Desculpe. Hehe M-Mas e aí? Como vai? Hehehe hehe.

Magno continuava a encará-la e parecia a ponto de lhe enforcar, quando ela se levantou de um pulo e pôs-se a correr em direção ao muro, lançou sua corda, escalou e pulou, tudo isso com extrema rapidez. Fábio olhou para Heitor e lhe fez um sinal discreto ao qual ele aquiesceu, voltando para dentro da casa com o livro.

— O que foi aquilo? — Amélia perguntou, ainda surpresa.

— Aquilo nas mãos dela era um livro? — Kurt perguntou, confuso. — Quem tenta roubar um livro?

— Bem, ela não saiu com nada, então... vamos arrumar essa bagunça e voltar a jantar! — Loui conclui, já que a garota havia fugido e eles não sabiam ao certo o que fazer. 

Da janela do segundo andar, Christophe observara toda a cena e ainda tinha uma expressão estupefata em seu rosto. Sem poder agir, no entanto, ele voltou para o corredor, tentando achar uma explicação lógica para ao que acontecera.  

Carlos Magno ainda olhava para o chão irritado. Queria muito aquele pedaço de torta de limão. Adela desculpou-se com o filho, pois aquele era o último.

***

Alessandra parou próxima a uma árvore e deixou-se cair no chão. Correra bastante naquela noite. A visão de Carlos Magno a assustou e ela temeu ser morta ali mesmo. Além de tudo, estava toda suja de frango, arroz, molho e em seu traseiro um pedaço de torta de limão amassado.

— Parece que a grana não é tão fácil assim. Droga! — Alessandra praguejou, lançando para longe um pedaço de carne que estava em sua roupa. — E eu deixei aquele moleque pegar o livro. E agora? Terei que bolar outro plano pra pegar aquela porcaria. Droga!

Alessandra olhou para cima. Sobre ela pairava uma enorme e bela águia de asa redonda. O animal pousou num galho de uma árvore em frente a ela e ficou a observá-la. Ela estranhou quando notou que um dos olhos da águia era amarelo, enquanto o outro olhou era azul.  

— Bem, terei que dar um jeito — ela falou para si mesma, deixando aquela peculiaridade da ave de lado. 

Ainda cansada, demorou-se ali um pouco para tomar fôlego e pensar em outra estratégia para recuperar o livro. Subitamente, ouviu uma voz atrás de si.

— Ora, ora. Não é bonito invadir a casa dos outros e nem pegar o que não é seu.

Assustada, Alessandra pulou e, ao se voltar, deu com um garoto de cabelos pretos e olhos violetas se aproximando. Lembrou-se de tê-lo visto entre os membros da casa. Junto a ele, aproximavam-se duas garotas gêmeas.

— Vo-Você? Co-Como...?

— Águias! — falou Fábio, apontando para a águia em cima da árvore. O animal abriu as enormes asas e alcançou voo, ao que Alessandra acompanhou sem compreender bem o que ele queria dizer. — Então, por que tentou roubar o livro? O que sabe sobre ele? Quem te mandou aqui?

— Eu não posso dedurar meus clientes, é antiético. — Ela cruzou os braços, decidida. 

— É antiético roubar também — Preta falou, irônica.

— Pois é, mas há erros que eu não cometo. Não sou dedo-duro.

Fábio ficou estressado. Avaliou a garota à sua frente e soube imediatamente que ela era difícil, mas não inquebrável.

— Pois bem! Se não por bem, vai por mal. Preta, ela é toda sua.

Mal Alessandra reagiu quando notou que Preta estava cara a cara com ela. Olhou para o chão e se atemorizou ao perceber que algo como plantas totalmente negras brotavam do chão. Eles tomavam forma, como galhos, mas não pareciam sólidos, e sim moles e estranhos. 

Uma escuridão mais profunda que a da noite a cercou e ela se viu só com Preta. Ao olhar para o rosto da garota, Alessandra gritou de pavor, pois o rosto já não era o de uma pessoa comum, mas terrivelmente pálido, como uma máscara teatral feliz, cujos olhos são totalmente pretos, e a boca se escancara num sorriso de orelha a orelha, tão medonho quanto se pode imaginar. 

— Ok, ok. Eu falo, eu falo. Me tira daqui, por favor. Isso não é desse mundo, caras! — a garota gritou em desespero. 

Quando Alessandra abriu os olhos novamente, tudo estava o normal. A lua brilhava no céu, as luzes das lâmpadas na rua clareavam tudo e Preta a encarava com um sorriso de escárnio no rosto. Seus olhos também haviam voltado ao normal.

— Então? — Fábio se adiantou, aproximando-se da ladra, que se sentou no chão, ofegante e decepcionada.

— Foi um cara... Senhor Raimann... Me pediu pra roubar um livro de capa preta. Eu não sei pra quê.

— Marcos Raimann! — Branca falou sem surpresa. 

— Sei lá qual o nome dele. Era um cara bonitão de cabelo longo e castanho-escuro.

— Ele mesmo! — Fábio falou entre dentes. — Quanto ele te pagou pra fazer isso?

— Me ofereceu um rubi. Claro que eu tava a fim do trabalho. Um rubi por um livro é um negócio que não se faz todo dia. E vocês me atrapalharam. Agora eu não vou receber nada! — Ela choramingou.

Fábio olhava para Alessandra com descaso. Lembrou-se do dia anterior, da conversa que tivera com o tio, e de ter notado o interesse dele no livro. Obviamente Marcos percebeu que ele não entregaria o livro tão facilmente e, àquela altura, sabia também que Fábio tinha conhecimento da história. A mentira que contara sobre o livro ter sido emprestado foi um tiro no pé. Marcos sabia bem da importância deste, e estava atrás do carbúnculo também. 

— Você disse que ele te ofereceu um rubi em troca do livro, certo? — Fábio se agachou próximo a Alessandra.

— É. Ele ia me dar o rubi, né! Agora, nem sombra de rubi eu vou ver! — ela respondeu, irritada. 

— E se eu te oferecer algo mais valioso que um rubi?

Alessandra levantou o rosto, desconfiada. Olhou para Fábio e tentou encontrar nele algum indício de uma pegadinha, mas ele não parecia estar brincando.

— Tipo o quê? — Ela demonstrou interesse. 

— Tipo, mais que um rubi. Várias joias. E ainda te dou uma garantia. O que acha?

A garota passou a mão no queixo interessada, os olhos semicerrados. Sorriu ao perceber que tinha a chance de mudar sua sorte.

— E o que eu tenho que fazer?

— Você conseguiria entrar num banco? Digamos o Branco Central de Kendrich?

— Claro que sim.

— Há um cofre, o cofre da família Raimann, número 552. No cofre há várias gavetas etiquetadas. A que estiver escrita cartas, é essa que você deve abrir. Pegue todas as cartas e me traga.

— E aí eu recebo as tais joias?

— Não imediatamente. Olha, levante-se daí e eu te explico tudo. Dar-te-ei uma garantia, então nada de mudar de lado. Acompanhe-nos.

Fábio pegou um celular em seu bolso e ligou para Heitor, avisando-o que iriam para sua casa, já que estavam mais próximos. Heitor garantiu que chegaria lá o mais rápido possível.

***

Alessandra estava impressionada com a casa, e mais impressionada ainda com a cor de um dos olhos de Heitor. Pensou consigo que não era todos os dias que se via uma pessoa com um olho genuinamente amarelo, até que sua expressão demonstrou uma curiosidade; lembrou-se da águia com olhos de cores diferentes, exatamente como Heitor. Apesar da estranha coincidência, não falou nada. 

— Antes de qualquer coisa, qual seu nome? — Fábio perguntou à garota.

— Alessandra.

— Sou Fábio. Aquelas são minhas primas, Preta e Branca. Esse é meu outro primo, Heitor. Meu pai é Kurt, o dono da casa que você tão desastradamente tentou roubar.

— Sim, sim. Olha, foi mal. Não é nada pessoal, você já sabe.

— Sim, eu sei.

— Aí, seu pai sabe onde você tá?

— E o seu, sabe? — Preta perguntou, sorridente. O sorriso dela, no entanto, assustava Alessandra.

— Bem... Eu não tenho pai, e isso não vem ao caso. Você todos, quantos anos têm? Como me encontraram? Ninguém me seguiu.

— O Heitor te seguiu — Branca falou, sorrindo também. — Sabe a águia? Então!

— Então o quê? A águia é de vocês?

— É minha — Heitor falou enquanto se esticava no sofá preguiçosamente. — E eu te segui.

— Sei... Me seguiu... com a águia? — Ela soou irônica. 

— É verdade — Fábio falou. — Você pode não acreditar, mas aquela águia vê pelo Heitor. Ou melhor, o Heitor vê tudo por aquela águia. Digamos que os olhos dela são os olhos dele, com todas as vantagens que os olhos de uma águia podem oferecer como captar um ratinho num matagal mesmo a quilômetros de distância dele.

— Acha que vou acreditar nisso? Olha pra vocês, são crianças.

— E você é muito adulta — Preta replicou. — A questão aqui não é idade. Aparentemente somos todos crianças, mas vamos ao que interessa.

— Espera! — Alessandra gesticulou, parando no meio da sala. — Se você pode mesmo ver por meio dos olhos de uma águia, isso é...

— Sim, sim — Fábio interrompeu, impaciente. — Acredita em super-heróis? Bem, não é o nosso caso. Mas fazemos coisas como alguns deles. Você viu o que a Preta fez contigo, é só uma amostra. Alguns da minha família podem voar, outros podem atirar raio laser dos olhos... Enfim!

— Então era disso que o tal Marcos estava falando?! — Alessandra falou para si mesma, lembrando-se do último aviso de Marcos. — Foi por isso que ele me disse tanto para tomar cuidado com vocês. E provavelmente é por isso que me ofereceu um pagamento tão alto. Por que se vocês me pegassem... Podiam, tipo, cortar minha cabeça ou me dar tiros de laser, ou mesmo...

—É, é! — Fábio falou, mais impaciente ainda. — Mas não vamos fazer isso. Não é assim que os membros na minha família se comportam. Só o Marcos, aparentemente. Então, sente-se aí e ouça.

A ladra se sentou e Preta sentou-se ao seu lado, o que a incomodou. Depois da experiência que tivera com a garota, a sensação de se aproximar dela era medonha.

Sem demora, Preta lhe contou a história por trás do livro e o motivo pelo qual eles tanto queriam as cartas que ela precisava pegar. Alessandra ouvia tudo atentamente e se surpreendeu na maior parte da narração. Tudo aquilo era surreal para ela.

— Pera, pera. Você disse que seu nome é Fábio Raimann — disse e apontou para o garoto. — Então o tal cofre que eu tenho que entrar é da tua família. Se é assim, por que você mesmo não vai lá pegar as cartas?

— Eu iria, mas não tenho a permissão do meu tio. Por isso preciso que você pegue para mim.

— Nossa, sua família é estranha. Um tentando roubar o outro — ela caçoou. — Bem, tenho contatos que trabalham no banco. São pessoas que me devem favores. Posso entrar lá tranquilamente.

— Em quanto tempo consegue isso?

— Amanhã cedo você terá o que pediu em mãos. Mas diz aí, é parte do tal tesouro que ela mencionou que eu vou receber?

— Isso mesmo. Aqui. — Fábio pegou algo no bolso de sua jaqueta. Era uma caixinha vermelha e bonita que ele abriu e revelou um colar de esmeralda. — Eu te darei essa esmeralda como garantia. Você me ajuda, encontramos o carbúnculo e o tesouro. Nós queremos apenas a pedra, então você pode ficar com o tesouro. O que acha?

— Se essa lenda for mesmo verdade, trato feito. Mas, e se, por acaso, você não encontrar o tal tesouro?

— Então lhe darei outras joias como pagamento. De qualquer jeito, você vai lucrar mais conosco do que com Marcos.

— Cara, gostei disso. — Alessandra gargalhou. — Trato feito. Então, vou trabalhar. Te garanto que você vai ter o que pediu até a noite de amanhã. Depois de ver um pouco como você se relaciona com sua família, acho que é melhor eu não dar bobeira, né? Mas relaxa!

***

Fábio, Branca, Preta e Heitor voltaram para a casa de Kurt a tempo de terminar o jantar. Ninguém questionou onde eles estiveram, já que Fábio dissera, antes de sair, que precisava pegar o celular que esquecera na casa Heitor.

Num cochicho, Branca perguntou à Fábio onde ele conseguira a esmeralda que deu à ladra. 

— Minha mãe tem uma caixinha de joia. Ela deixou algumas aqui, mas relaxa, ela está fora há tanto tempo, nem vai notar o sumiço de uma esmeralda quando voltar. 

Branca olhou desconfiada para o primo, mas como ele parecia despreocupado, ela ficou mais calma também. 

Cássio, Adriano e os gêmeos Jack e Jackson já se preparavam para retornar à Casa Grande, que felizmente ficava a um quarteirão da casa de Kurt. Anjo, que reclamara de uma indisposição, não estava lá. As meninas, por outro lado, não estavam dispostas a voltar, e nem Amélia quis que elas fossem embora. Ao invés disso, resolveu convidá-las para passar a noite ali, o que todas aceitaram e Kurt deu seu aval.

Enquanto todos se preparavam, as quatro ficaram na sala conversando. Magno passou por elas para ir até a cozinha se despedir de Kurt. Quando ele sumiu atrás da porta, Michele suspirou e sorriu embasbacada.

— Você gosta dele? — Christine perguntou, cutucando a amiga. Michele se sobressaltou e tentou disfarçar, mas era possível perceber a confusão dela e isso divertir suas amigas.

— A Michele já gostava do Magno desde que ela o viu aqui já faz um tempo — falou Amélia, abraçando a amiga.

— Sério? Que lindo, um amor platônico. Ele sempre distante, e ela a suspirar, pensando nele todos os dias — Lady falou como se narrasse um drama e fazendo gestos exageradamente teatrais.

— Para, gente! — Michele falou, empurrando Lady. — Tá, eu gosto dele. Mas só tinha visto ele uma vez.

— Eu sei. Ele é bonito e aquele tapa-olho dá um ar mais misterioso nele, embora seja estranho um homem de tapa-olho.

— Pois é, Ladyzinha — Michele falou e suspirou novamente. — Eu quero tanto falar com ele... Mas, falando nisso, e a carta, Amélia? — inquiriu, voltando-se para a amiga. — Já entregou?

— Eu não criei coragem ainda — confessou Amélia e mordeu os lábios, já esperando a repreensão das amigas, que veio com força total.

— Miga, você se esforçou tanto pra escrever a carta, tá esperando o quê? — Christine ralhou. — Vai lá, entrega agora. O Chris ainda tá aí. Entrega pra ele.

— Ai, gente, eu tenho vergonha — Amélia murmurou.

— Você nunca conseguirá entregar essa carta se continuar com isso. Vai logo!

— Tá, tá, eu vou!

Amélia se levantou e procurou por Christophe. As amigas estavam todas atrás dela para garantir que a carta fosse entregue.

Sentada na escada, que ficava perto da entrada da sala de estar, Preta ouvira toda a conversa. Seus olhos ficaram totalmente pretos por um momento.

No quintal, Christophe conversava com Michael, ambos em pé, próximos a uma árvore. Michael tinha uma coroa de flores na cabeça, o que, se fosse num mangá, faria o nariz de cada uma das meninas sangrar, pois o enfeite realçava e muito a beleza natural do rapaz.

Christophe se virou quando percebeu que Amélia caminhava na direção dele e sorriu amavelmente. Ela, por sua vez, ficava mais ruborizada à medida que se aproximava dele. Então, ela parou subitamente e ficou a olhar para o chão, se sentindo embaraçada.

— Você precisa de alguma coisa, Amélia? — Christophe perguntou sem notar o embaraço da prima. Então ela subitamente esticou a carta na direção dele, ainda olhando para o chão. Christophe pegou a carta e ficou a olhar para a prima. — O que é isso? Você que fez? É algum presente?

Amélia fez que sim com a cabeça e saiu correndo. Christophe não entendeu a reação dela, mas deu de ombros e se concentrou na carta. Michael o olhava com seu sorriso costumeiro costurado em seu rosto.

— Que bonito envelope. Não parece que ele sairá voando?

— Você acha, Mick? — Christophe sorriu ao imaginar a cena.

— Acho. E combina com essas flores na minha cabeça.

— Onde você arrumou essa coroa de flores?

— Talvez... Eu não sei. — Michael falou, meditativo. — Achou que um sheepdog me deu, mas sei que... isso não é muito recorrente. 

Christophe sorriu. Não sabia onde Michael conseguira a coroa, mas um cão lhe ter dado certamente seria mais uma das alucinações de seu irmão. Devia ter encontrado em algum lugar ou feito ele mesmo, pensava.

O rapaz olhou novamente para a carta e depois na direção da casa. Só agora, pensando melhor, ele se deu conta de como Amélia pareceu confusa e envergonhada.

Ainda na escada, Preta rangia os dentes de raiva, e ao redor de seus olhos escuros surgiam veios completamente pretos.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.



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