Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 11
Vítimas


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo antecipado, conforme dito ontem. Espero que gostem.



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O parque central da cidade era sempre movimentado. Muitas pessoas gostavam de passear, fazer exercícios físicos ou simplesmente aproveitar os fracos raios de sol. Muitas crianças corriam e brincavam, e os donos passeavam com seus cães.

Fábio cochilava sentado a uma mesa de piquenique, assim como Heitor, enquanto Preta e Branca jogavam frisbee com um sheepdog de coleira prateada que passava por ali. Os três aproveitaram a ausência de seus pais e saíram para esperar pelas boas notícias que não tardaram.

Alessandra aproximou-se do grupo trazendo uma bolsa. Seu sorriso de satisfação fez com que os outros sorrissem também, pois era um sinal de que tivera êxito em sua empreitada. Preta sacudiu o primo que abriu os olhos lentamente e sorriu. Alessandra sentou-se de frente para ele e falou:

— É fofo vocês dormindo. Mas é hora de acordar. Tá aí o que você pediu.

Fábio abriu a bolsa que Alessandra jogou com satisfação sobre a mesa e retirou as cartas. Estavam todas organizadas e perfeitamente conservadas. Algumas estavam dentro de sacos plásticos, pois seu estado de conservação não era tão bom e elas corriam o risco de rasgar.

Sem perder tempo, todos se sentaram à mesa e passaram a examinar as cartas na tentativa de encontrar as palavras-chave que indicariam a suposta localização do que eles buscavam.

Cada um deles possuía consigo um bloco de notas para anotar as palavras que mais apareciam nas muitas cartas que tinham que ler. Após quase três horas, eles reuniram as anotações que cada um fez de acordo com o que leu, e cruzaram os dados a fim de encontrar as pistas. 

— Ponte, colina, casa e o nome Overtoun — Preta listou aquelas palavras depois de olhar para as anotações finais. Elas apareciam nas cartas exatamente o mesmo número de vezes cada uma.

— Então... a localização é a Mansão de Overtoun — disse Heitor após fazer uma busca na internet utilizando o termo Overtoun. — Fica um pouco distante daqui. Está localizada na colina de Overtoun e é atualmente propriedade da cantora em ascensão, Victória Montserrat. Ela tem ganhado notoriedade e a notícia mais recente sobre ela foi a compra dessa mansão.

— Essa mansão pertenceu a nossa família, mas foi vendida pelo nosso avô — Branca falou.

— Como você sabe disso? — Fábio perguntou com interesse.

— Porque meu pai me disse isso uma vez. Só agora associei ao nome Overtoun — a prima falou, orgulhosa de si mesma. 

— Então como chegaremos lá? — Preta perguntou.

— Teremos que arrumar um jeito. Como Heitor disse, fica um pouco distante daqui. Teremos que bolar um plano — Fábio concluiu.

***

Neil ouviu alguém subir as escadas do prédio com rapidez, como se corresse. Subitamente a porta se abriu e Marcos entrou ofegando e encolerizado. Aproximou-se da mesa e bateu nela com as duas mãos, o que assustou Neil.

— Onde está a pirralha? — Marcos gritou. 

— O que houve? — Neil perguntou, assutado. 

— Ela ficou de fazer o serviço e até agora nada.

— Calma, ela deve ter tido algum imprevisto ou está vindo pra cá. A Sandra nunca falha numa missão.

— Tem certeza disso? Se bem que, para o serviço que há incumbi, havia um risco um pouco maior.

— Bobagem, ela é boa — assegurou Neil. — Não vai te deixar na mão. Espere só mais um pouco.

— Infelizmente, para você, hoje estou de mau humor.

Mau Neil teve tempo de responder, Marcos esticou sua mão. Na palma dela se formou uma esfera roxa que foi disparada com um movimento para frente. Neil se abaixou e a esfera de energia acertou a parede atrás dele, explodindo-a.

Assustado, Neil correu e escapou de mais duas esferas disparadas contra ele. Desceu as escadas apressadamente e correu para a rua. O carro ao seu lado explodiu e ele não foi atingido pela porta por pouco.

Atrás do homem, Marcos caminhava, o braço direito estendido e a mão disparando uma esfera de energia atrás da outra. Neil apenas corria desesperadamente.

Alguns homens que estavam por ali se alvoroçaram ao presenciar a cena, e correram para se proteger da destruição que aquelas esferas causavam. 

***

A rua estava movimentada enquanto Michael caminhava. Sem destino, ele apenas andava, olhando tudo a sua volta. As caminhadas regulares de Michael eram as responsáveis pelo conhecimento que tinha de vários lugares da cidade, principalmente do centro. Mas, um pouco distante, era a primeira vez que via aquele conjunto de prédios mais a frente. Eram prédios feios, pichados, destruídos como num filme de guerra.

Michael, ao olhar para o lado, notou que uma das casas parecia estar se desfazendo. A tinta vermelha em sua parede escorria, se desgrudando, e o teto também escorria. A calha pingava, como se fosse óleo, e toda a estrutura da casa se desfazia em líquido. 

Michael virou o rosto e viu tudo turvo ao seu redor. As imagens ficaram borradas, e alguns desses borrões se moviam. O rapaz, então, se lembrou de pinturas abstratas, formadas por borrões, cujas imagens só se podiam ver quando se aproximavam do quadro.

O rapaz deu mais alguns passos, mas não conseguiu seguir, pois não sabia mais onde estava o chão. Ele começou a entrar em certo desespero, e se apoiou no que achou ser uma parede.  Fechou os olhos com força e, quando os abriu novamente, tudo estava normal. Pessoas caminhavam, as casas estavam em seus devidos lugares, tudo nitidamente visível. Então ele respirou fundo, aliviado. 

Atrás de Michael, sua irmã, Branca, aproximava-se correndo. Quando Christophe, em sua casa, se deu conta de que Michael não estava, pediu às irmãs que saíssem para procurá-lo. Os três se dividiram e lá estava Branca, correndo atrás do irmão mais velho. Imaginava que a situação deveria ser contrária. 

— Ei, Mick. Está indo pra onde? — ela perguntou quando alcançou o irmão, arfando por conta da corrida.

— Eu... estou apenas caminhando... — falou, virando-se para a irmã que notou seu  abatimento. 

— Há algo de errado, Mick? — ela pareceu preocupada.

— Tudo aqui... E-Era um grande borrão... e se desfazia... — o rapaz gaguejou. 

 — Não era real, Mick — Branca passou a mão no braço do irmão, tentando acalmá-lo. — O Chris tá louco procurando com você. Melhor voltarmos, o carro dele tá parado lá perto da pracinha.

Michael concordou, resignado. De longe, Christophe avistou seus dois irmãos e ficou aliviado. Preta, ao seu lado, ficou satisfeita, pois queria voltar logo para casa.

Subitamente ocorreu uma explosão. Uma parede do prédio próximo a Michael e Branca explodiu, e o prédio desabou. No impacto, os dois foram brutalmente arremessados para trás e envolvidos numa nuvem de poeira e concreto.

Christophe e Preta assistiram à cena, chocados. Quando se deram conta, seus dois irmãos já tinham sido engolidos pela poeira. Várias pessoas que estavam por perto também foram atingidas.

Preta e Christophe correram até seus irmãos. Branca abriu os olhos, mas não conseguia se mover, pois estava em choque e sentia o impacto da queda. Michael estava desmaiado, todo sujo de concreto, pois grandes pedaços da parede caíra sobre ele e sobre a irmã. 

Enquanto tentavam socorrê-los, Christophe olhou ao redor e viu ao longe a figura de Marcos parado diante do prédio em ruínas. Em suas mãos pairavam uma esfera de cor roxa que ele logo desfez. Então, afastou-se como se nada tivesse acontecido. Naquele momento, Christophe se encheu de ódio.

***

Alessandra desceu do ônibus, trazendo consigo uma mala de viagens, e não pode acreditar na cena que viu. Vários bombeiros, policiais, paramédicos e corpos estendidos no chão. Atrás deles, um prédio em ruínas. Ela caminhou atônita, olhando ao redor para o que mais parecia uma cena de guerra.

Havia pelo menos cinco corpos cobertos por lonas no chão. Muitas pessoas estavam sendo atendidas, com várias escoriações no corpo e outras sangrando muito. Numa das ambulâncias, ela viu Branca sendo examinada, mas consciente, e Preta ao seu lado. Também viu Christophe, que embora ela não conhecesse, lembrava-se de tê-lo visto na Casa Grande.  Também Michael estava lá, aparentemente muito desorientado, mas vivo. 

Mais à frente, dois policiais conversavam e, nas mãos de um deles, ela viu uma capa e um chapéu parcialmente queimados. De longe percebeu a quem pertenciam aquelas roupas.

— Neil — Alessandra sussurrou. Ela então se dirigiu a um prédio pequeno e relativamente distante daquela zona de guerra e entrou. Subiu as escadas rapidamente e entrou no escritório. — Pobre Neil. Será que ele está morto?

Alessandra abriu um dos armários da sala. Estava repleto de armas, algumas desmontadas. Havia um lança foguetes, metralhadoras, e outras armas pesadas. No outro armário havia espadas com cimitarras, gládios, wakizashis e outras. Nos baús havia pistolas e revolveres, além de balas de todos os calibres.

— Nesse caso, não vou desperdiçar mercadoria! — Ela sorriu consigo, abriu sua mala de viagens e pôs-se a enchê-la com armas e munição. Apenas imaginava como transportaria as armas maiores.

Enquanto guardava as armas, Alessandra imaginava consigo quem teria feito aquilo e nada mais lhe vinha à mente a não ser Marcos. Se ele era membro da família Raimann, também devia ter poderes como Fábio havia mencionado.

— No que eu fui me meter? — se perguntou em voz alta. Olhou pela janela e viu os policiais e bombeiros que se dirigiam ao prédio onde ela estava — Droga! Lá se vai essa maravilhosa mercadoria! Bem... Não posso fazer nada.

Alessandra pegou o que pode e saiu do prédio sem ser notada. Olhou uma última vez para o lugar.

— Adeus, Neil, velho amigo. Sinto muito, cara, mas eu ainda tenho que tentar sobreviver.

***

— Tem certeza que você o viu? — Kurt perguntou para Christophe que estava sentado com uma expressão séria no rosto. Era a primeira vez em muito tempo que Kurt via o sobrinho daquele jeito.

— Tenho sim. Ele estava lá. Ele usou seu poder, só não sei por que.

Elric estava pensativo e todos os irmãos pareciam alarmados com a situação. Felizmente, Michael e Branca sofreram apenas escoriações e arranhões. Mas dez pessoas foram mortas e várias ficaram feridas devido à explosão.

— Se eu cruzar com aquele cara de novo, esmago a cabeça dele. — Christophe rosnou entre dentes e se levantou.

Ninguém naquela casa nunca ouvira ameça tão mortífera sair da boca do rapaz. Sua expressão assustou até mesmo ao seu pai. Kurt estava mais alarmado do que nunca, ainda mais por não entender a situação e não ver o menor menor sentido na ação de Marcos. 

— Por que ele destruiu aquele prédio? — Loui perguntou.

— Não faz sentido — Magno falou, meditativo. — Acho que ele estava perseguindo alguém, mas quem? E por quê? Ele esteve tão silencioso e agora isso? Há algo errado!

— Mas agora eu sei que ele não vai mudar de ideia. — Kurt suspirou. — Não podemos fazer nada. Marcos acabará morto!

***

Fábio estava atrás da porta e ouviu toda a conversa. Só não estava preocupado com Branca e com Michael porque sabia que os dois estavam bem, apesar de estarem internados para observação, mas aquela tragédia fazia tanto sentido para ele quanto para seus tios e pai.

O rapaz olhou para o livro que ele tinha em mãos. Teria aquele pequeno item causado tudo aquilo? Seria ele o motivo de tamanha desgraça? Fábio teve certeza de que Marcos não podia conseguir aquele livro e garantiu a si mesmo que não o deixaria pegá-lo. 

***

Horas depois, na cozinha da Casa Grande, Adela preparava doces. Sobre a mesa havia uma deliciosa torta de maracujá e alguns brigadeiros. Também havia pudim e canoles feitos recentemente. Na geladeira havia mais e mais doces, algo que agradava aos jovens moradores, no entanto, não era para eles que ela cozinhava naquele momento.

Alegre, Michele entrou na cozinha acompanhada de Amélia e de Christine. As três beliscaram alguns doces na geladeira e se regalavam nos chocolates recém preparados. Adela não se incomodou, pelo contrário, ficou feliz por ser tão apreciada apesar de não ser de fato confeiteira.

Num prato, a mulher colocou um pedaço considerável de torta de maçã e, ao lado, um pouco de salada de frutas e sorvete de creme.

— Michele, me faça um favor? — Adela estendeu um prato para a garota. — Leve isso ao Carlos? Ele está no quarto número dez, o de hóspedes.

— Pode deixar, eu levo sim.

Michele pegou o prato, fez um sinal de alegria para as amigas que lhe retribuíram um “joia” e correu escada acima. Sorriu consigo ao pensar que tinha uma boa desculpa para ver Carlos Magno.

Bateu na porta do quarto e ouviu uma voz grave de homem pedindo que entrasse. Respirou fundo e entrou com um largo sorriso no rosto. A primeira coisa que viu foi a imagem de Carlos Magno sentado numa poltrona, os cabelos pretos úmidos e livres a cair por seus ombros largos.

O suspiro foi inevitável. Michele sorria toda abobalhada enquanto encarava o homem. Ele por sua vez a olhava com certa impaciência.

— Pra que esses doces? — perguntou ele, quebrando o silêncio que se fizera. Ela, então, se lembrou dos doces e sorriu, jogando algumas mechas dos cabelos lisos pra trás da orelha.

— Foi sua mãe quem fez. São pra você.

Magno aproximou-se da garota, pegou o prato e o colocou sobre uma mesa, murmurando um muito obrigado em seguida. Então, sentou-se numa cadeira e, com uma toalha passou a secar os cabelos. Só depois se deu conta de que Michelle ainda permanecia na porta a olhar para ele.

— Mais alguma coisa? — Ele mostrou irritação.  

— Ah! Não, não, era só isso.

— Então saia feche a porta, por favor.

As sobrancelhas de Michele se levantaram e então ela se deu conta de que ainda estava ali no quarto de Magno. Atrapalhou-se por um momento, mas pensou consigo que aquele era o momento pelo qual tanto esperava. Era hora de falar com ele.

— Magno, eu... estive pensando... — ela começou a falar. — Faz muito tempo desde a última vez que nos vimos... e você... quero dizer, eu... eu queria dizer que...

Michele respirou fundo, corando ainda mais. Soltou o ar e então olhou para Magno que a encarava com impaciência.

— Diga logo o que você quer — ele falou, tentando não parecer tão ríspido, tentativa esta que foi um fracasso.

— É que... é que... eu gosto mesmo... Muito, digo... muito mesmo...

De repente Magno se levantou e se afastou, caminhando até a janela. Apoiou-se na parede e cruzou os braços, suspirando, estressado. Estava claro que não estava muito disposto a ouvir confissões de uma menina apaixonada naquele momento, mas ela também não queria mais segurar aquilo. Precisava falar de uma vez.

— Eu gosto de você e preciso saber o que você sente de verdade. — Michele falou num fôlego só. Após inspirar e expirar várias vezes, ela finalmente tomou coragem e olhou para Magno com um sorriso fraco no rosto, mas a decepção tomou conta quando percebeu que ele sequer parecia impressionado com a situação. Estava sério, como de costume, e olhava para a estante de livros do outro lado do quarto.

Depois de um silêncio que durou alguns segundo, mas para Michele pareceu durar uma eternidade, Magno falou:

— Acho melhor você esquecer isso. Agora, por favor, saia e feche a porta.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Comentem!! ^.^



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