Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 56
Um Plano em Potencial


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, saudades. Sim, ando sumida, mas em um mês a faculdade já drenou todas as minhas forças --' Esse capítulo demorou mas finalmente eu sentei e consegui terminar. Pelo menos ele ficou grandinho, pra compensar o atraso. Boa noite e boa leitura ^~^



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Assim que eu estava chegando em casa, lembrei do castigo indeterminado dos meus pais. Eu acabaria enfrentando os dois leões depois, porque agora eu realmente precisava do meu anjo e melhor amigo comigo. Abri o portão e enquanto subia para o apartamento mandei uma mensagem dizendo que ele já poderia vir. Foi uma questão de vinte minutos, só o suficiente para eu tomar um banho e me enfiar num blusão.

— Oi, lindo.

— Eu trouxe sorvete de flocos, seu favorito. Também trouxe uns salgadinhos e um refrigerante. Posso entrar?

— Não precisa nem perguntar, vem.

Ele entrou, indo direto para a cozinha deixar suas sacolas lá. Levei sua mochila para o meu quarto enquanto isso. Voltei para a sala com alguns dvds nas mãos e um sorriso. Ele já tinha me pegado um copo de refrigerante. Agradeci, deixando os filmes na mesinha de centro.

— E então, o que foi?

— Ele não consegue se lembrar de mim.

— Nada?

— Como se a gente nem se conhecesse. E você sabe como essas coisas me pegam.

— Vai passar, ok? Mesmo que Lysandre não se lembre agora, vai passar. E ele vai voltar a te adorar.

— Por que adorar?

— Porque só sendo muito idiota para não te adorar. – Revirei os olhos, fazendo o rir e me dar um abraço apertado, daqueles que só ele sabia me dar. Deixei meu corpo relaxar naquele calorzinho familiar. – E então, o que a gente vai ver?

— Temos animações da Disney, filmes antigos, comédias baratas...

— Vamos com a Disney.

— Irmão urso?

— Não é como se você fosse ouvir um não. – Sorri, me soltando para colocar o dvd no aparelho. Ele já parecia sofrer por antecipação, sabendo que eu ia berrar cada música do filme no ouvido dele. No fundo ele sabia que ia acabar cantando junto. Ele já sabia todas as letras do meu filme preferido.

Nos primeiros minutos de filme, a gente ficou sentado comendo e se entupindo de bobagem. O sorvete incluso. Lá pela metade do filme, eu comecei a usar o peito dele de apoio e quase no final ele já estava me abraçando, deitado no sofá comigo. Foi mais ou menos nesse horário que meus pais chegaram.

— Meu bem, nós vamos pedir uma pizza para o jan...Nathaniel, oi. – Minha mãe continuou tranquila, mas meu pai ficou incomodado com nossa pose. Ou pela forma como minha blusa tinha subido um pouco com a mudança de posição e deixado uma parte imensa das minhas pernas de fora. Fiquei de pé e ajeitei a roupa enquanto ele cumprimentava meus pais. – Pizza de milho e bacon?

— Claro. – Concordei, Nathaniel me imitando. Peguei a bagunça que tínhamos feito e fui levar para a cozinha. Minha mãe se apressou em me alcançar e me prender no outro cômodo.

— Você sabe o que é um castigo? – Ela perguntou em voz baixa, mas naquele tom de quem podia explodir a cada segundo.

— Eu deixo vocês dobrarem o tempo, mas por favor, deixa ele passar a noite aqui.

— Sorte sua que já estávamos considerando encerrar sua pena. Mas só por nos desacatar, vai ganhar uma semana a mais.

— Obrigada, mãe. – Ela me dispensou com um movimento da mão e eu levei meu amigo lá para cima, os olhos do meu pai quase furando as costas do Nathaniel.

— Seu pai não é mais tão amigável comigo.

— O ciúmes dele ainda vai causar um infarto. Não adianta nada falar que a gente não tem nada.

— Dá para entender o ponto dele, vai. Você é bonitona.

— Chega de elogio barato, Casanova. Senta ai. – Ele assumiu minha cadeira e eu deixei meu corpo cair na cama, exausta. – Hospitais continuam sendo um dos lugares que eu mais odeio.

— Você tem ido bastante para lá. – Ele comentou, sem questionar de onde a observação tinha vindo. Ele sempre sabia que mais cedo ou mais tarde a conversa ia virar algo pessoal. – Algo aconteceu dessa vez? Além do Lysandre estar lá, óbvio.

— Não, na verdade. Eu acho que é realmente só o excesso de visitas.

— Pelo menos, só um foi um caso de risco. O seu, infelizmente.

— É, pode ser. De todo jeito, eu espero que pare logo. – Voltei a me sentar e troquei de assunto, vendo que ele ainda ficou preocupado por mais alguns minutos.

Foi bom para deixar minha cabeça ocupada. Eu tinha dito que ele ia dormir no sofá, mas lá para as onze da noite minha mãe passou e nos desejou boa noite. Agradeci, dividindo meu colchão com o loiro. A gente falou de nada por mais uma hora, até que o cansaço me tomou. Imagino que eu dormi antes que ele, porque antes de apagar por completo ainda senti o peso do braço dele na minha cintura.

Quando acordei, estava praticamente deitada em Nathaniel, que só tinha o rosto virado para o lado da parede, ainda apagado. Esfreguei os olhos, tirando minha perna do meio das dele. Se Lysandre ainda se lembrasse e visse aquilo provavelmente ficaria irritado comigo.

— Bom dia. – Ele resmungou, dando uma espreguiçada, mas ainda de olhos fechados.

— Oi. – Resmunguei, ficando de pé. Imaginei que minha blusa provavelmente subira durante a noite, mas Nathaniel não deveria ter visto nada. – Dormiu bem?

— Bastante. Se importa se eu for embora cedo? Tenho que ir cuidar da Branca.

— Tudo bem. Toma um café e vai. – Ele concordou, descendo comigo para a mesa de café. Não demorou e ele foi embora, mochila nas costas e o cabelo ainda meio desgrenhado. Até que tinha ficado bem nele.

O resto do dia foi bem calmo, e no dia seguinte eu me forcei a ir para a escola. Seria péssimo ir para a escola sem ver os olhares cúmplices de Lysandre na minha direção, sabendo que ele nem sabia quem eu era naquele minuto.

A aula de Patrick já tinha começado quando eu cheguei, então assumi o lugar com Bia, já que era o único disponível. Ela revirou os olhos, mas eu nem me interessei em imitar o ato. Ela não valia nem minha pena, muito menos minha paciência. Sentei e voltei a minha atenção ao professor.

Eu tinha gostado da ideia de terem contratado Patrick para a escola. Ele era o artista que sabia ver além da própria obra, e incentivar a arte em todos os grupos. Ele tinha sido uma grande aquisição.

A aula do dia era sobre cores e as sensações a elas associadas. Por mais que eu quisesse me concentrar, minha mente acabava viajando um pouco para o hospital. Rosalya tinha ficado de me avisar caso algo mudasse, mas ainda não tínhamos conversado.

— Com toda essa conversa sobre cores, podemos pensar em telas como uma poesia. – Achei que meus olhos iam cair olhando para Bia. Ela tinha me surpreendido com toda aquela percepção artística das coisas. Confesso que inteligência não é algo que a gente espera de alguém que anda com a Ambre. – Que foi?

— Nada. – Patrick deu uma risadinha, concordando com o ponto de vista da menininha. Ele retomou sua aula e logo em seguida nos deu nossa tarefa. Montar uma paleta de cores seguindo os tons. Peguei o meu e olhei as tintas.

Não parecia difícil. Com um pouco de paciência e uma ideia básica era feito em poucos minutos. Entreguei o meu e Patrick me deixou sair de sala. Agradeci, precisando de um pouco de ar fresco. Rosalya não demorou a me alcançar.

— Bom dia. Como está?

— Oi, Rosa. Olha, desculpa pelo outro dia no hospital, é só que...

— Anna, esquece isso. Eu sei que você ficou chateada, não é culpa sua. A não ser que você ainda queira ficar sozinha...

— Claro que não. Eu te convidaria para dormir lá em casa, mas estenderam uma semana do meu castigo.

— Por que?

— Eu meio que convidei Nathaniel para ir lá.

— Ah, eu não tenho chance mesmo contra esse garoto. – Ela suspirou, sentando do meu lado. Ri, ajeitando a mochila no meu colo.

— E Lysandre?

— Ah, ele está se recuperando. A parte física mais que a outra, mas não deve demorar muito mais. O médico disse que seria bom para ele ter estímulos, mas nada muito impactante. Ou seja, sem escola.

— Estímulo? Tipo, contar algo que aconteceu ou mostrar...

— Uma foto, é. Que cara é essa?

— Rosa, o bloco de notas dele. Ele escrevia o dia inteiro naquilo.

— Você acha que pode ajudar?

— É o melhor palpite.

— Faz sentido, mas tenta não criar muita expectativa. O Leigh tem tentado com algumas músicas, mas não estão tendo muito efeito. – Ela suspirou. – E além disso, não sabemos onde está o bendito bloco.

— Eu acho, pode deixar. Aquele treco vem em mim como se eu tivesse um imã.

— Bom, eu não vou te impedir, mas não empolga.

— Fica tranquila, eu já aprendi a não confiar na minha sorte. – Ela deu um sorriso sem graça quando eu falei isso, mas não falou mais. Eu não tinha mentido afinal. Se algo podia dar errado para mim, daria.

A gente conversou mais um pouco antes de decidir que eu tinha que começar minha caça ao bendito bloquinho. E quem melhor para ter essa informação que Castiel? Eu botei a mochila nas costas e fui atrás dele.

Encontrei algumas das meninas no corredor, mas mal conversei com elas. Iris disse que iria visitar Lysandre e eu apenas concordei que seria bom para ele. Dela ele lembraria.

Porão, como eu devia imaginar. Ele estava de costas para a escada, com os fones ligados, a cabeça tombada para trás e um belo dum cigarro aceso entre os dedos. Revirei os olhos e limpei a garganta, fazendo-o virar, alarmado.

— Se é pra fazer isso, não dorme no ponto.

— Não veio me dar lição?

— Você sabe de você. Não concordo, mas o problema também não é meu. – Dei de ombros, cruzando os braços logo em seguida. Para minha surpresa, ele mesmo apagou o cigarro pegou uma bala no bolso.

— Aceita?

— Não. – Toda aquela educação vinda dele estava me deixando um pouco tensa. Era como se de um tempo para cá ele estivesse pensando antes de falar comigo. E por algum motivo aquilo me incomodava. – Eu vim te perguntar algo.

— Diz ai.

— Você sabe do bloco de notas do Lysandre?

— Bloco do Lysandre? Como eu vou saber?

— Você é o melhor amigo dele, deve saber onde ele guarda as coisas dele.

— Mulher aprende essas coisas? Eu sei da chave reserva dele de casa, porque ele me pediu para guardar.

— Alguma ideia?

— Por que você quer saber isso? Acha que vai ajudar?

— É nossa esperança.

— Não sei, mas sugiro o armário. É o único lugar fora de casa.

— Valeu. – Eu esperei para ver se ele ia falar algo, mas ele só deu de ombros e voltou a mexer no celular. Saí, sem me preocupar em falar mais nada também. O sinal iniciando os próximos horários e depois disso eu não tinha mais tempo de ficar rodando o corredor.

As meninas queriam ir comprar uma lembrancinha para a Priya no centro, e eu não tinha a menor ideia de qual seria a combinação do armário. Então aceitei ir junto, tentando não pensar demais nisso. A gente deu uma bela volta e acabou achando uma pulseira linda para nossa amiga. Ajudei a pagar e aproveitei para comprar umas balinhas na lojinha da frente. A ansiedade ia acabar fazendo eu morder minha própria língua.

Depois que eu cheguei em casa, voltei a pensar no armário de Lysandre. Nossos poucos dias de relacionamento não tinham me proporcionado aquele conhecimento, nem acho que eu perguntaria aquilo. Abri uma caderneta, tentando pensar em combinações.

— Vamos por partes, Anna. – Falei, pernas cruzadas e caneta na mão. Coloquei o cabelo atrás das orelhas e tentei fazer um brainstorm. – Lysandre tem a memória de um peixinho de aquário, então não deve ser nada muito complicado. Por outro lado, as senhas triviais parecem muito idiotas também. Descartamos algumas ideias. O que tem quatro dígitos e Lysandre nunca esqueceria?

Olhei pensativa pro meu celular, até reparar na data acesa abaixo do relógio. Datas. Alguma em especial. Algo dele com datas…

— Aniversário. Será? Ele é de 22 de novembro. 2211. Nem tão trivial, mas bastante fácil.

Satisfeita comigo mesma, fechei meu caderninho e guardei minha caneta. Eu teria que esperar até o dia seguinte mesmo para testar, então era melhor me distrair. Mandei uma mensagem para Rosalya, mas ela me respondeu no nosso grupo com Alexy. E pelo tom, parecia sério.

“Ok, preciso de ajuda.”

“O que foi?” Enviei, deixando meu assunto de lado.

“Eu estou indo passar a noite no apartamento com o Leigh.” Até ali, tudo normal. “Ele anda meio para baixo com o caso do Lys.”

“Rosa, corta pro assunto!” Alexy deveria estar quase explodindo de curiosidade.

“A mãe dele vai ficar no hospital.”

“E dai?” Minha vez de começar a ficar ansiosa. Ela tinha que soltar logo o problema se ela queria ajuda.

“Alô, 2+2. Eu pensei em ajudar ele, a gente come algo, vê um filme, dá uma relaxada...”

“...” Eu não ia nem gastar meu teclado mais. Esperei.

“E se rolar algo a mais?”

“Espera ai. Vocês não fizeram ainda? Há um tempão você veio me falar que achava que ele ia dar o próximo passo na relação de vocês.” Lembrei da ocasião onde eu tinha me machucado inteira na corrida de orientação e ela viera me visitar, aquilo na cabeça.

“Eu arreguei no dia, ok? Sei lá, eu passei o dia inteiro lendo umas coisas horríveis na internet, fiquei com medo.”

“Rosa, para tudo. Você ficou com medo??”

“Não ri, Alexy, é sério.”

“Eu fiquei foi chocado.”

Desisti de acompanhar os dois e iniciei a chamada em grupo. Os dois atenderam quase juntos. Rosa estava radiante como sempre, apesar da preocupação evidente. E Alexy tinha aquele sorrisinho ordinário de canto. Acabei rindo junto.

— Dá pra ajudar?

— Rosa, ele levou na boa na última vez, não foi? — Perguntei, tentando ficar séria. Ela deu de ombros.

— Eu não sei, não. Ele concordou em esperar o tempo que eu quisesse, mas desde então não falou mais nada.

— Claro que não. Amiga, homem nenhum quer ficar sendo rejeitado. Ainda mais o Leigh sendo o cavalheiro que é, ele vai ficar com medo de te pressionar e vai esperar você tomar a iniciativa. — Alexy soltou de uma vez só, como se fosse o assunto mais trivial do mundo. Talvez até fosse, mas eu entendia o ponto de Rosalya.

Não é neles que dói. Pelo menos, nenhum homem reclama disso nos fóruns online.

— Acha mesmo, Alexy?

— Tenho certeza. Era capaz do Leigh morrer virgem se você não quiser nunca.

— Acha que ele é? — Questionei, nas minhas indagações inoportunas de sempre.

— Eu vou saber? A Rosa quem sabe. — Ele rebateu, esperando ela se manifestar.

— Eu não sei também, mas é capaz de ser. A gente já é um casal há um tempo, e antes disso ele não saia com ninguém. Pelo menos, não que eu saiba.

— Melhor ainda. Sinal que ninguém vai ter experiência e vocês dois podem se conhecer ainda mais. — Ele sorriu, sincero dessa vez. Ela ainda não parecia convencida.

— Rosa, se você estiver confortável na hora...Isso é algo seu, de vocês, na verdade. Talvez nem pelo ato em si, mas pelo significado.

— Pensando assim, Anna, a coisa parece bem mais fofa. E romântica. Ah, você sempre romantiza tudo.

— Funciona para mim. E você me deu razão.

— É, acho que por esse lado a gente não poderia estar mais próximo. Valeu, gente.

— Sempre que precisar, linda. — Alexy mandou um beijo para a tela, sorridente. — Mas eu quero um relatório completo se rolar.

— Alexy!

— Eu não vou nem reclamar porque vou querer também. — Adicionei, vendo-a ficando toda envergonhada. Aquilo era quase uma conquista na vida, deixar Rosalya vermelha. Ri e mudei o assunto, voltando-o para Lysandre.

— Vamos saber amanhã se eu consigo o bloco. Depois, só nos resta ser otimista.

— Eu confio total no seu plano. — Alexy sorriu, finalmente se afastando um pouco da tela e nos deixando vê-lo sem camisa. Naquelas horas eu não conseguia deixar de pensar se o físico de Armin era parecido. Se fosse, ele era bem interessante. Não que me servisse para nada. — Adoraria que ele lembrasse de mim também.

— Bem, boa sorte. Amanhã lançamos os dados. — Rosalya resmungou e mudou mais uma vez de assunto. Agradeci, com aquele 2211 ainda voando pelos meus pensamentos, mas meio esquecido.

 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Bjs