Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 57
Surpresas


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada, queridos. Demorei, mas consegui(era para estudar cálculo, mas eu já tava exausta daquele monte de contas) Espero que gostem ♥



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    Na manhã seguinte, eu tinha acordado pouco antes do despertador por causa da minha ansiedade, então acabei me ajeitando um pouco mais para ir para a escola compensando os minutos a mais. Minha mãe ficou contente em me ver mais alegre depois do acidente.

    A escola já começava a encher, mas ainda dava para passar tranquilamente pelos corredores. Fui para a sala, achando Alexy e Armin na costumeira discussão de irmãos perto da minha carteira.

    – Bom dia, meninos. – Falei, jogando a mochila na cadeira. Alexy virou, sorridente. Só então reparei que os dois estavam diferentes. Principalmente Armin. Ele com certeza não estava elegante como costumava andar, mas o moletom e os tênis lhe caíram bem. – Uau, estamos bonitos, hoje.

    – Ainda bem que você usou a primeira pessoa do plural, porque realmente nós três estamos arrasando. – Armin me puxou para perto dele naqueles abraços desajeitados dele. Ri. E pensar que no início ele travava só de eu apertar o braço dele.

    – Anna, você já pensou no código? – Alexy comentou, ao que eu respondi com a cabeça. Armin parecia meio confuso, mas não tentou se meter no assunto.

   – Sobre o que vocês estavam brigando, por falar nisso?

   – O de sempre. Ele me xingou por não ouvir seus belos conselhos de moda.

   – Al, faz mais o tipo do seu irmão, não vou mentir.

   – Já vimos que a madame tem um gêmeo preferido. – Alexy era a coisa mais fofa com as bochechas infladas e o drama absurdo. Ri, me soltando de Armin e me jogando nele.

   – Chega de drama que ainda é cedo. Eu vou dar uma volta, vejo vocês depois.

   Deixei os dois e, com a colinha da senha no bolso só por precaução, fui para o corredor. O sinal não ia demorar a tocar, então as salas já iam se enchendo e deixando o espaço dos armários vazios. Disfarcei que estava fuçando no escaninho dos outros e parei de frente para a portinha com o nome dele.

   – Bem, cá estou. – Respirei fundo, chequei se ninguém estava me olhando e abri a portinha. 2-2-1-1. Quando escutei o click, meu coração disparou. Tinha funcionado. Abri a porta e olhei o armário. Alguns livros, papéis soltos e se Deus quisesse, o bloquinho. Tive que levantar algumas folhas, mas o encontrei. Quando eu estiquei a mão para apanhá-lo, o som no armário ao lado me fez tremer toda e jogar uma meia dúzia de coisas no chão.

   – Não acho que seja seu armário. – A vozinha debochada. Suspirei, recuperando o bloco no chão e finalmente olhando para ele.

   – Eu te odeio.

   – Parece que eu estava certo. Como sempre.

   – Cala a boca, Castiel. Quem adivinhou a senha fui eu.

   – Alguma coisa você tinha que fazer. – Abri o sorriso mais falso do mundo e bati a porta do armário de Lysandre.

   – Reza para dar certo, ridículo. – Bati o bloquinho na testa dele, mas ele só riu e me arrastou com ele para a sala de aula, no exato momento em que o sinal tocou. Entramos antes do professor, mas a mão dele no meu braço ainda atraiu olhares. Principalmente o do par de gêmeos loiros da sala.

   Fui para o meu lugar, fugindo dos olhares curiosos e com o bloco escondido por baixo da camisa, preso na calça. Alexy me olhou de lado, mas peguei meu caderno e nem deixei o assunto começar, anotando o início da matéria.

   No almoço eu fui questionada sobre o novo romance com o guitarrista mais gostoso da escola, mas eu só ri das meninas. Rosalya quem reassumiu o controle e disse que nós nem estávamos tão colados. Agradeci.

   – Eu preciso ir ao banheiro antes da aula. Anna, você vem? – Ela completou, pegando sua bolsa. Concordei, vendo o olhar de quem estava precisando falar. Alexy reparou e usou a mesma desculpa que ela.

   – Eu também. Vamos, meninas, eu vou com vocês pelo corredor.

   Deixamos o refeitório, checando se ninguém nos seguia. Como saímos bem mais cedo, estávamos sozinhos. Olhei para Rosa, esperando ela soltar o verbo. Ela deu uma risadinha antes de começar.

   – Rolou.

   – Com o Leigh? Vocês...

   – Acho que é o que ela quis dizer com rolou, Alexy.

   – Ai, garota, me deixa.

   – Dá para prestarem atenção? – Rosalya resmungou e nós dois calamos a boca na hora. – Você tinha razão, Anna. Foi super fofo.

   – Que bom, Rosa. Agora você desencana disso duma vez. – Alexy comentou, cruzando os braços e esperando ela narrar o ato.

   – A gente já tinha jantado, começamos a ver um filme mas logo perdi o interesse e a gente ficou na cama, conversando e eu tomei coragem. Ele estava tão lindo, a camisa meio aberto, o olhar perdido em mim...

   – E ai você pediu para...?

   – Bom, não tão direta. Eu simplesmente comentei que eu estava pronta para dar um passo adiante no nosso relacionamento e ele entendeu o recado.

   – Surpreendente. – Soltei, sabendo o quão lerdo Leigh conseguia ser. Ela me deu um olhar reprovador e eu pedi desculpa.

   – Vamos ao que interessa? Foi bom? – Alexy soltou, conferindo de novo o corredor. Rosa deu um sorriso de lado.

   – Foi. Doeu, mas compensou. Ele foi um anjo. Carinhoso, cuidadoso, ele fez questão de me dizer que me amava.

   – Ai, que lindos. Usaram proteção, né?

   – Óbvio, Alexy, eu não sou idiota. Eu comprei antes de ir para a casa dele. Aliás, Anna, se você e Lysandre precisarem um dia, ficou na gaveta do banheiro.

   – Rosalya, ficou doida? A gente mal se deu um beijo.

   – Acredite, na hora a coisa desenvolve mais rápido que a gente pensa.

   – Anotei, obrigada pela dica.

   – De nada. Vamos, logo eles vão começar a sair do refeitório. – Fomos para a sala, encerrando o assunto, eu ainda sem graça.

    A aula passou arrastada, e eu comecei a ficar ansiosa. De novo. O bloco estava ali, comigo, e eu só tinha que levá-lo ao hospital. Rosa tinha me dito que eles levariam Lysandre para a fazenda dos pais, mas só depois de receber alta. Quando o sinal tocou, eu saí feito um rojão para o ponto de ônibus.

    A primeira linha passou e eu me sentei com os fones de ouvido e a mochila nos braços. Suspirei. Eu nem sabia se tinha algo sobre mim ali. Eu achava que sim, pelas vezes que já o pegara distraído e conseguira espiar por meros segundos. Mas não era certeza.

    Eu podia conferir, mas ele nunca quis me mostrar. Só porque ele havia esquecido, eu não ganhava esse direito magicamente. Vi o hospital e dei o sinal, descendo até meio trêmula, sentindo as pernas caminhando sozinhas.

    – Boa tarde, eu queria visitar o Lysandre. – Falei na recepção, dando o número do quarto. A enfermeira me fez esperar até o médico deixar o quarto e só então eu entrei.

   Ele continuava com os machucados, mas pareciam melhores. E o olhar confuso na janela, que me lembrou do porquê eu estava ali. Suspirei, sem saber como olhá-lo naqueles olhos heterocromáticos lindos sem pensar no drama da última visita.

   – Toc toc. – Ele me olhou finalmente, dando um sorriso gentil. Não era o sorriso que eu estava acostumada, mas ainda me aqueceu o peito. – Como se sente? Eu estava preocupada com você.

   – Ah, desculpe. Eu me sinto melhor, obrigado.

   – Que bom. Parece que vai sair logo daqui. – Sorri, cruzando os braços. Minha vontade era me sentar com ele na cama e acariciar os cabelos brancos, mas me contive.

   – Eu espero que sim. O hospital já ficou cansativo. Uma visita diferente me faz bem.

   – Bom, fico lisonjeada de ser de tamanha ajuda. – Pelo menos ele parecia familiarizado com minha forma de falar. Ele deu uma risadinha antes de abaixar os olhos de novo.

   – Você parece bastante especial. O que me faz pensar que eu não sei nada sobre você.

   – Eu te disse o que importava. Éramos amigos, eu estava com você no dia do acidente. Você me ajudou bastante.

   – Você deve ter sido importante, então. – Ele comentou, chateado. Descruzei os braços, arriscando encostar nele. Pus a mão em seu ombro e ele não fugiu.

   – Talvez não a mais importante, era bem recente. – Nem tanto, mas deixei de lado e peguei o bloquinho na mochila, sem mostrar para ele ainda. – Eu trouxe algo para você. Rosa me disse que estão tentando te estimular...

   – Não funcionou muito.

   – Talvez esse funcione, um pouco. – Ele finalmente viu o caderninho e esticou a mão para pegá-lo. Eu sabia que não devia criar expectativas, mas a esperança estava berrando dentro de mim.

   – Com o que eu te ajudei para você se preocupar tanto em me ajudar também?

   – A lista é comprida. E eu te ajudaria de toda forma.

   – É, parece familiar. Até certo ponto. Estou um pouco receoso.

   – Quer que eu te deixe sozinho?

   – Não, pelo contrário. Senta aqui. – Ele abriu um pequeno espaço para mim na cama e eu não tive como negar o pedido. Ele respirou fundo e finalmente levantou a capa. Tentei não olhar muito, sem querer ler nada que não fosse pros meus olhos.

   Fiquei sentindo o sol nas minhas costas enquanto ele lia, a expressão concentrada. Não ia demorar a escurecer. E a cada minuto eu esperava mais nervosa para ele dizer algo.

   – Hum. – Foi a primeira reação. Olhei para ele, vendo uma sombra de decepção no rosto dele. – Nada. Digo, eu reconheço minha escrita, e até tem coisas que eu lembro, mas depois de certo ponto...Parece que não sou mais eu escrevendo.

   – Oh. Eu...sinto muito. Se eu te dei esperanças e...

   – Eu quem peço desculpas, Anna. Você parecia confiante do seu plano.

   – Nem tanto. Desculpa te incomodar.

   Olhei o relógio no criado da cama. Sete da noite. O horário de visita tinha acabado. Fiquei de pé e peguei minha mochila no chão, pronta para sair e sofrer sozinha, mas ele me chamou e acabou dando uma esbarrada na mochila antes que eu tivesse a colocado nas costas.

   – Eu tenho certeza de que vou me lembrar de você. Seu sorriso é familiar. E eu tenho certeza que eu gostava dele. – Sorri, meio que por reflexo. Ele deu um sorriso sem graça e eu me despedi.

   Desci pelas escadas do hospital e corri para o ponto de ônibus. Estava mexendo nos bolsos, caçando as moedas para pagar a passagem, quando eu reparei na falta do barulho no bolso. Minhas chaves. Suspirei, olhando pelo chão afora e só então lembrando do esbarrão.

   – Merda. – Tive que voltar correndo ao hospital, pegando as escadas de novo depois de dar a sorte de encontrar a recepção vazia. Suspirei, vendo o corredor escuro. Como a grande amante de filmes de terror asiáticos que eu era, um corredor de hospital escuro era meu pior pesadelo. Fui até o quarto, vendo-o vazio. – Cadê as chaves?

   Não quis acender a luz para não chamar a atenção, então sai tateando com a ponta do sapato pelas chaves. A luz suave que passava pela janela deixava tudo meio azul e me fazia arrepiar.

   Finalmente encontrei as chaves e me abaixei para pegá-las, mas assim que fiquei de pé, a sombra surgiu no corredor e eu acabei dando um gritinho. Virei-me, Lysandre com a mesma cara de susto que eu. Não, susto não. Choque.

   – Anna, quando nos conhecemos...Fantasma. Você cismou que eu era um fantasma. – Ele sorriu, reconhecendo a cena. Infelizmente, antes que eu tomasse qualquer atitude, a enfermeira rabugenta do outro dia veio checar o grito e me enxotou do quarto, alegando que eu estava interrompendo o descanso dos pacientes.

   Aquilo doeu mais do que o fracasso do bloquinho. Sentei no ponto de ônibus, brincando com o chaveiro das chaves. Ele tinha se lembrado de mim, eu tinha certeza absoluta. Só que eu não tinha como falar com ele. Rosa tinha me avisado que na noite seguinte ele receberia alta e que depois disso viajaria. Eu não tinha tempo para falar com ele, não tão cedo.

   – Ele lembrou. – Eu não chorava de alegria já tinha muito tempo, então os traços molhados nas minhas bochechas me fez rir mais ainda. E chorar mais também. – Ele lembrou de mim.

   Ainda com a vista embaçada peguei meu ônibus e voltei para casa, rindo e chorando observando pela janela.


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Notas finais do capítulo

Bjs ^~^