Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 54
Mais Uma Visita Hospitalar


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas, saudades. Eu estou precisando atualizar as fics, mas com o episódio novo eu quis passar aqui antes ♥ Bjs



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Suspirei pela milésima vez. Eu estava cansada de mim mesma naquele estado deprimente, mas eu simplesmente não conseguia parar de me preocupar. Rosalya tinha me despachado do hospital depois de duas horas de tensão. Quando começou a ficar tarde, ela literalmente me arrastou até o lado de fora e me enfiou num táxi, jurando que me chamava quando ele estivesse fora de perigo.

   Eu só tinha dormido alguns minutos antes de acordar assustada com o celular vibrando. Mensagem de Rosalya.

   “Ele está descansando. Vai ficar tudo bem.”

   Soltei o ar, aliviada. O céu ainda estava escuro, mas o relógio me denunciou que não ia demorar a amanhecer. Fiquei de pé e fui ao banheiro, tentando me preparar para dormir pelo menos um pouco. Eu tinha que estar bem se quisesse vê-lo no dia seguinte.

   Minha mãe reparou que minha noite tinha sido péssima, mas não disse nada. Tomei meu café e subi pro meu quarto, querendo escolher uma roupa para ir visitar Lysandre. Parei, vendo a gaveta especial.

   Por menos pior que esse cenário fosse, eu me via jogada na direção da memória de Viktor o tempo todo. Ou melhor, a memória do enterro. O velório, a dor, até aquele tipo de coisa que deveria ser boba, escolher uma roupa. Aquilo tudo doía no coração, até hoje.        

   Peguei o celular em cima da cama e pesquisei o contato, rezando para ele já estar de pé. Eram oito da manhã de um sábado, afinal de contas. Chamou, chamou, e quando eu já ia desligar, ouvi a voz rouca de quem acabava de levantar.

   – Alô.

   Travei. O que exatamente eu ia pedir mesmo? Algo que ele provavelmente já estava pensando em fazer. Suspirei, fazendo-o repetir o alô. Respondi, finalmente.

   – Oi, Castiel.

   – O que foi? 

   – Tem notícias dele?

   – Tanto quanto você, ou menos.

   – Rosa me mandou mensagem que ele só precisava de descanso. Você vai fazer uma visita?

   – Óbvio, assim que meu cachorro parar de morder meu tênis. Dragon. – Fui obrigada a dar uma risadinha com o resmungo que ele deu direcionado ao cachorro. Esperei ele pegar o tênis e me responder de novo. – Você vai?

   – Vou. Eu estava com ele, acho que preciso ter certeza que está tudo bem.

   – Por falar em bem… – O tom de voz dele mudou. Ficou mais baixo, mais hesitante. Era quando ele começava a demonstrar um pingo de preocupação comigo e fazia minha cabeça dar um nó total. – Como você está?

   – Eu? Normal.

   – Não parece. Andou chorando?

   – Não, na verdade não. Olha, deixa, eu te explico no hospital se for o caso. – Resmunguei em resposta. Ele concordou, xingando o cachorro de novo. – Vou te deixar brigando com seu amigo e vou me arrumar. Até mais tarde.

   – Tchau. – E desligou. Suspirei. A situação parecia estar pior do que eu acreditava para mim mesma. Fiquei de pé mais uma vez e voltei ao guarda roupa, olhando meus vestidos. Eu ainda queria estar bonitinha, nem que fosse só para mostrar que eu me importava.

   Deixei a casa sem muito alarde, indo para as lojas ali perto. Parei numa floricultura e, depois de olhar alguns arranjos, peguei um buquê de lírios brancos. Não eram meus preferidos, mas me pareciam os mais harmônicos ao ambiente. Paguei e fui para o ponto de ônibus.

   Eu estava tão tensa que minhas costas chegavam a doer. Girei os ombros, querendo me tranquilizar, mas parecia que não funcionava muito bem. Acabei descendo um ponto antes do meu e acabei de caminhar o resto do trajeto, aproveitando a brisa suave.

   O saguão estava vazio, a não ser pelos funcionários. Bem, nem isso. O enfermeiro que estava lá saiu rapidamente e eu fiquei sozinha. Parei na recepção, esperando um minuto, mas ninguém apareceu. Suspirei. 

   Esperei em pé, até uma mulher sisuda aparecer com uma prancheta e quase me matar com um olhar. Limpei a garganta, pedindo informações de Lysandre.

   – Família?

   – Amiga. Uma amiga minha disse que eu podia vir.

   – Sim, claro, só assine aqui. – Não me incomodei com a falta de um “por favor”. Só peguei a caneta e assinei, pegando a pulseirinha de papel azul.

   Ela me disse o quarto e me deixou pegar o elevador sozinha. Quase sozinha, pelo menos. No último minuto, um sujeito de meia idade e jaleco segurou a porta e pediu licença. Sorri fraco, por pura educação. 

   Descemos no mesmo andar. Não vi nenhum parente de Lysandre, então bati na porta do quarto que a enfermeira tinha me dito e entrei. Uma outra enfermeira estava lá, arrumando a cama e com um saco com os lençóis antigos. Franzi o cenho.

   – Ah, bom dia. Posso ajudar? Esqueceram algo que pertencesse à paciente?

   – O que? Hum, não, eu vim visitar alguém. Um rapaz, cabelo estranho...

   – Ah, ele está no quarto vizinho.

   – Obrigada. – Fechei a porta e fui até o quarto seguinte. O médico talvez estivesse ali. Decidi esperar do lado de fora, com o buquê já até meio amassado da viagem. Endireitei-o com os dedos meio trêmulos.

   – Anna, oi. Tudo bom? – Rosalya me deu um susto ao passar um braço ao redor dos meus ombros, claramente tomando conta das flores também.

   – Não. Como ele está?

   – Bem. A gente pode conversar enquanto o médico está aí? Eu quis deixá-los mais em família, sabe?

   – Claro. Quer ir para outro lugar?

   – Sim, eu quero um café. Vem. – Ela me puxou com ela até o elevador, sem tentar puxar assunto. Até porque, eu provavelmente não estava respondendo muito bem. Ela sabia que Lysandre era mais que só um amigo. Ela me deixou numa mesa e foi comprar seu lanche. Eu aceitei só um copo d’água.

   – E então? Qual a novidade?

   – O que? De onde tirou isso?

   – Do jeito que você está me olhando sem parar e a cautela com o que fala. Manda, Rosa.

   – Ai, ok. Eu tentei ser sutil. Ele teve alguns ferimentos leves, mas ainda estão bem recentes, então assusta um pouco vê-lo todo remendado. – Sorri, meio tristonha. Ainda tinha mais naquela paulada, só esperando para mirar bem no meio da minha testa. – O problema maior foi a concussão. Foi bem ruim.

   – Ele está confuso? Tipo, quando eu tive meu pequeno acidente há um tempo atrás?

   – Quase. Ele está meio...inseguro sobre uma certa fase da vida dele.

   – Rosalya, você é péssima sendo sutil. Me dá a porrada de uma vez ao invés disso.

   – Ok, ok. Ele não lembra de nada. Bem, não de nada. Na verdade, ele não se lembra do último ano, ou quase isso. O médico disse que ainda se enquadra na parte de memória recente, então essa parte foi a mais afetada.

   – Ano? Nada? – Meus olhos deviam estar do tamanho da lua, porque ela suspirou e tomou um gole do seu café antes de concordar.

   – Algumas coisas soam familiares, mas o médico nos disse para não forçar nada. De todo jeito...

   – Isso me inclui. – A realização me atingiu que nem um raio, gelando meu sangue inteiro. Ainda assim, eu parecia estar mais tranquila que o esperado. Ela concordou, esticando a mão sobre a mesa. Meio sem perceber, não retribui o ato.

   – Ele vai melhorar, é questão de tempo. Você melhorou em uma semana. O dele só deve demorar mais.

   Concordei, sem querer descontar em Rosalya. Eu estava frustrada, mas eu só precisava ficar tranquila. Com o tempo algo chegaria nele e ele se lembraria. Mesmo que justo agora estivéssemos nos entendendo tão bem. Nada ia mudar. Ele ia voltar ao mesmo ponto.

   – Leigh me disse que ele e a mãe precisam sair rapidinho. Algo sobre o pai dele. Podemos subir, que tal?

   – É, vamos. – Ah, a cereja do bolo. Eu estava quase me esquecendo do pai dele. Os dois hospitalizados, mas um longe do outro. Peguei as flores e fiquei de pé, esperando minha amiga me acompanhar.

   Encontramos Leigh no corredor, com o celular na mão. Às vezes dava para esquecer que ele ainda vivia no século XXI. Ele me acenou, meio travado e falou algo com Rosa. Ela sussurrou em resposta e deixou ele ir embora antes de me segurar pelo braço e abrir a porta do quarto.

   Ela tinha razão, era péssimo vê-lo todo remendando, com gaze e curativos por todo canto. Ele tinha um na mão, outro na testa, um meio escondido pela camisola hospitalar, no peito. Contive o suspiro, tentando me manter otimista. Pelo menos para ele.

   – Ei, você voltou.

   – Oi, Lys-fofo. Eu te disse que voltaria. – Ela tinha o tom tão doce que eu quase queria ir embora e deixá-los lá, em família. – E eu te trouxe alguém.

   – Oi. – Ele falou, meio sem graça. Sorri de volta para ele, tentando mostrar que estava tudo bem. A última coisa que eu queria era deixa-lo nervoso sobre seu próprio estado. – Hum, quem é...

   – Anna. – Respondi por conta própria, ganhando um sorriso discreto de Rosalya. Ele digeriu a informação e acenou, ainda desconfortável. Mostrei o buquê. – São pra você.

   – Ah, obrigado. – Ele se esticou um pouco para receber o buquê. Entreguei-o, vendo Rosalya pegar o vaso que tinha no criado e estendendo para ele. Ela ficou de pé em seguida e falou com ele diretamente.

   – Eu preciso ir ver seu irmão um minuto, ok? Anna vai te fazer companhia até eu voltar, ok? Anna?

   – Ah, claro. Pode ir tranquila. Se tem algo que eu entendo é de hospital. – Acho que ele ouviu a última parte do comentário, mesmo que eu tenha dito mais para mim mesma. Ela sorriu e deixou o quarto. E eu fiquei sem saber o que fazer.

   – Por que não se senta? – Ele comentou de repente, apontando a poltrona. Concordei, arrumando a saia debaixo de mim antes de me sentar, bem na beirada. E ainda sem saber o que dizer. Pelo menos, a curiosidade dele parecia estar levando a melhor. – Quem...bem, desculpa a indelicadeza, mas de onde nos conhecemos?

   – Escola. Estudamos juntos.

   – Então, somos amigos? Colegas?

   – Acho que sim. Você me apoiou em muita coisa que aconteceu, momentos difíceis.

   – Hospital. Você disse que entendia bem...

   – É, isso também, você ajudava bastante minha pobre alma. – Ele riu, esperando eu elaborar sore o hospital. – Tive um acidente há um certo tempo atrás. Também foi me visitar.

   – Foi ruim?

   – Um pouco melhor que o seu. – Ele concordou, parecendo até...não sei, aliviado. Sorri. Mesmo sem saber quem eu era, ele ainda se preocupava. Era isso que me lembrava o quão amável ele era.

   Depois disso, mais silêncio. Eu queria falar com ele, qualquer coisa que fosse, mas parecia que tinha um muro gigante entre nós. A muralha da China seria mais preciso. De repente, a ideia de estar ali por si me parecia bobagem. Ele não ia lembrar de repente, começar a me dizer que estava bem e que eu não tinha que me preocupar, que ele logo iria me encontrar na escola cheio de sorrisos doces e beijos secretos.

   O nó na minha garganta parecia mais uma pedra que eu estava tentando engolir. Ele provavelmente reparou nos meus olhos brilhando cheios de lágrimas, mas eu não queria dar aquele amargor para ele. Fiquei de pé, pronta para pedir licença, mas Rosalya abriu a porta, sorridente. E o sorriso dele voltou. Resmunguei qualquer bobagem e sai do quarto, correndo.

    – Anna? – Não sei quem me chamou, mas ignorei o chamado, correndo para o elevador. Eu não podia ficar ali, me torturando e torturando-o junto. Sai do hospital e fui para o lugar mais distante que eu encontrei. O ponto de ônibus.

    O nó se dissolveu numa torrente de lágrimas assim que eu me sentei, o vento soprando a barra do meu vestido. Eu odiava tudo ali. Lysandre estar passando por aquilo me machucava, ter sido esquecida me machucava, não saber lidar com isso me machucava.

    Eu finalmente tinha virado o fantasma que tanto tinha medo de ser.

    – Sua egoísta infeliz, volta lá. – Resmunguei, secando o rosto com raiva, só pra desabar de novo. Eu só queria que tudo não passasse de um pesadelo idiota.

    – Anna? Puta merda, ele... Anna! – Ergui o rosto, meio alarmada com o tom de voz extremamente preocupado que me chamava. Castiel estava até meio pálido, mas simplesmente sacudi a cabeça e ele respirou fundo. – O que foi, garota? Quer me matar?

    – Foi mal.

    – Não era para você pedir desculpa. O que foi?

    – Ele não se lembra do último ano.

    – Só? Bem, pelo menos ele... Ah, isso te inclui.

    – É, isso me inclui no pacote.

    – E você está nesse choro todo por isso? Por que seu amigo não lembra de você? Não devia estar mais preocupada com o bem estar dele?

    Silêncio. Eu não sabia se pedia desculpa de novo por estar sendo ridícula ou se respondia com a maior ponta de sarcasmo possível. Como meu humor não estava do melhor, eu acabei dando de ombros e abaixando a cabeça de novo.

    – Me ajuda a te ajudar, vai. Era pra você me mandar ir cagar.

    Ri, limpando o nariz. Ele se sentou ao meu lado, esperando uma resposta decente. Tive que respirar fundo antes de pensar o que responder.

    – Eu já vi que ele está bem, só fiquei chateada de ter virado...nada.

    – Não é porque ele não se lembra agora que você vai sumir para sempre. E mesmo que ele nunca fosse se lembrar, sejamos francos, você daria um jeito. Você não desiste nunca de ninguém.

    – De repente a discussão mudou de foco. – Comentei, sorrindo de lado. Ele bufou, fingindo que ele não tinha entendido nada. – Ainda bem que sabe que eu não desisto.

    – Você já deixou bem claro. Relaxa, ok? – Olhei de lado para a mão dele no meu ombro. Eu sempre dizia o quão confusa Castiel sempre me deixava, mas acho que no fundo ele tinha um pouco do mesmo sentimento que ele. Parecia vir naturalmente, mas ele não entendia bem porque se preocupar.  

    Depois de ter certeza de que eu estava me recuperando, ele pediu licença e disse que queria ver o que tinha sobrado de Lysandre. Deixei ele ir, esperando que o tempo fosse desinchar um pouco meus olhos. Só depois de alguns minutos eu decidi voltar para o saguão.

    De volta no elevador, eu me sentia melhor. Abri a porta do quarto depois de bater e fui recebida na atmosfera amigável entre os dois garotos e Rosalya. Ela sorriu, me estendendo o braço. Encostei a porta e me aproximei.

    – Da próxima vez pula mais cedo na rua. Ou pede o motorista pra jogar pra direita.

    – Claro, vai ser minha prioridade.

    – Sério, agora, precisa prestar mais atenção, Velho. – Ele deu aqueles tapas firmes e totalmente másculos num dos ombros de Lysandre, recebendo um sorriso satisfeito em resposta. Rosa ficou de pé e enlaçou seu braço no meu, puxando Castiel.

    – O médico quer leva-lo para fazer um exame. Que tal se formos lanchar enquanto isso? Já é quase hora do almoço.

    – Vamos. – Concordei também, segurando Castiel. Ele nem se incomodou em me afastar. Estranhei, para logo em seguida perceber que ele provavelmente estava tentando me mostrar para Lysandre como alguém do grupo. Sorri, agradecida.

    O elevador estava bastante quieto. Afinal de contas, Rosalya não era exatamente amiga de Castiel, e eu já tinha tido meu momento com ele. Ajeitei o cabelo, sem saber o que mais fazer, até a porta se abrir. Descemos, vendo o médico subindo com uma das enfermeiras.

    Castiel acabou pagando pelo meu almoço. Quer dizer, ele teve certeza de que Rosalya não reparou na atitude, mas fez mesmo assim. Agradeci, comendo pela primeira vez no dia. Digo, comendo bem. Como eu comi menos, acabei antes e pedi pra ir dar uma volta.

    Passei no quarto vazio de novo, sabendo que Lysandre não estava no dele, e mexi na gaveta. É, curiosidade matou o gato, já ouvi isso tudo. Era um defeito terrível, já tinha me metido em muitos problemas, mas parecia fazer parte da minha natureza. Achei um cordão com uma pedrinha colorida na ponta.

    – Hum, ela deve ter esquecido. – Peguei o colar, pensando em devolvê-lo para uma das enfermeiras, de preferência a de bom humor. Sai do quarto e dei de cara com a porta de Lysandre fechando. De novo, sem pensar muito, abri a porta. – Nina?

    – Que bom te ver, meu amor. – Meu queixo caiu, sério. Eu estava pasma. O médico sorriu, finalmente me vendo. Lysandre disfarçou o olhar confuso, mas eu reparei.

    – Nina, precisa deixa-lo descansar, ok? Evite ficar muito em cima.

    – Sim, senhor. Eu estava tão preocupada.

    – Nina, o que você está fazendo aqui? – Soltei, ainda meio irritada. Não me entenda mal, eu nunca a culparia pelo estado de Lysandre, fora um acidente, mas vir visita-lo?

    – Eu vim ver meu namorado. – E aquela cara irritante dela de quem ganhara algo. Agora meu sangue ferveu. Eu quis dar um troço e gritar com a menina, mas todo mundo parecia feliz em ver o casal reunido. – Vocês podem nos deixar a sós?

    – Nina, a gente pode conversar? – Perguntei, ainda querendo dar um grito frustrado. – Agora?

    – Não pode deixar para depois, Anna? Eu preciso dela aqui, nesse minuto. – Lysandre pediu, o olhar meio perdido. Nina sorriu para ele, carinhosa. Concordei, saindo do quarto de hospital quase batendo pé. Quase.

    De volta ao banco do ponto de ônibus. Na verdade meu plano era ir pra lá, chorar as pitangas sozinha, mas a mãe dele estava lá. Até pensei em fugir, mas ela me viu antes. Sorri fraco, sentando ao seu lado.

    – Oh, olá querida. Você é a Anna, sim?

    – Oi, dona Josiane. Hum, eu acho que a senhora queria ficar sozinha...

    – Não, tudo bem. Eu estava falando com a enfermeira de George.

    – Oh. Deve ser difícil passar por isso.

    – Meu George não quis vir para cá se tratar, mas ele está melhor. E no fim, nós já tivemos nosso tempo para criar memórias. Vivemos bem.  

    Aquilo me fez pensar no real estado do pai de Lysandre. E saber que ele provavelmente nem sabia que o pai estava naquela situação não melhorava em nada. Suspirei. Mais uma vez, tudo que eu sentia parecia tão bobo e sem sentido comparado àquilo.

    Voltei para a recepção, deixando-a sozinha com seus botões.

    – Eu não vou pra lugar nenhum. A culpa não é minha se a senhora tem os ouvidos sensíveis. – Castiel discutia com a enfermeira rabugenta que me ajudara no início da manhã, e pelo assunto me parecia que ela não o queria ali.

    – Reconheça seus erros, mocinho, e deixe esse hospital logo.

    – Se tem algo que eu sei é ser direto. Dá licença.

    – Castiel, o que foi?

    – Ah, a madame confusão. Já não cansaram de estar aqui, importunando?

    – Se eu bem me lembro eu só te pedi informações pela manhã. E eu tenho certeza que o Castiel tem educação o suficiente para estar aqui. Licença. – Peguei-o pela mão e sai arrastando-o para a cantina, bufando.

    – Mal amada. – Ri do comentário, finalmente livres daquela maluca. Ele sorriu, parecendo sem graça com toda a situação.

    – Ah, desculpa. – Percebi que estava segurando a mão dele, mas ele não fez menção de soltar. Olhei, confusa. Depois de um segundo pensando ele me soltou, e resmungou apontando para a recepção. – O que você fez, afinal?

    – Eu achei aquela maluca no quarto dele. Qual o problema daquela garota?

    – A Nina? Eu ia comentar com vocês, mas fui tomar um ar antes.

    – Bom, ela deve ter feito a mesma coisa. Garota sem noção.

    – Você despachou o demônio loiro?

    – Bem isso. Aliás, ele deve estar lá, pensando na situação.

    – Eu vou checar. É melhor ficar aqui enquanto a bruxa não acalma.

    Ele concordou e me deixou subir.


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Notas finais do capítulo

Até mais :3